FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“DOS JESUITAS AOS TUBARÕES” . 5
Por
Roeland Emiel Steylaerts
Todos foram bem servidos, e daquele dia e por seis anos, a casa estava diariamente cheia, não só com aqueles diplomatas, mas toda a alta sociedade de Brasília. Naquele tempo ninguém tinha casa, as embaixadas, só tinham o terreno, enquanto o restaurante Xadrezinho tinha a fama. Lembro-me que todos os anos fechávamos por uns 15 dias para gozar férias, e para fazer reformas. Naquela noite dormi no meio do salão escuro, quando senti passar por cima de minha cabeça uma aranha caranguejeira. Fiquei apavorado, mas... relativamente controlado e quieto, até que ela passou de meus cabelos… Uff!... Dei um pulo gritado procurando a luz. O aracnídeo continuava seu caminho mas, resolvi mata-la. Com ela viva rondando por ali, não poderia dormir tranquilo. Deitei-me de novo, agora com a luz acesa. Naquele tempo, Brasília ainda estava grudada na mata do cerrado, e quando menos se esperava apareceriam bichezas, umas inofensivas, outras perigosas.
Porque tinhamos 250 lugares, acabamos por fazer as festas das embaixadas ainda sem edifício próprio no Restaurante . Às embaixadas já prontas deslocávamo-nos até elas. Cheguei a fazer a reinauguração da embaixada da Holanda para 2.000 pessoas. Fazíamos festas de casamento entre outros eventos por encomenda. O dinheiro entrava e, cumprindo meu grande sonho, comprei meu primeiro avião (o único particular de Brasília), um velho Stinson 1948. Servimos os presidentes da república por 30 anos, desde Juscelino Kubitschek a Tancredo Neves que era freguês de todas as tardes. Sei que o finalzinho de Tancredo Neves foi num ai de trombose; entrou já morto no hospital, mas foi mantido vivo por questões politicas; João Batista Figueiredo, só tomava água mineral; De todos os fregueses deputados, Ulysses Guimarães, era o menos simpático. Tivemos também como cliente o presidente Castelo Branco, O Garrastazu Médici, o Costa e Silva que veio a ter um derrame no avião por motivo de fofocas; O Ernesto Geisel; o Fernando Collor... Enfim!
Recordo também o ministro Delfim Netto, os vários embaixadores, quase todos! Quanto a artistas, por ali passaram Elis Regina e Secos e Molhados. Posso dizer sentir muita honra por termos servido os presidentes da república durante 30 anos fazendo do restaurante Xadresinho uma referência comparada aos melhores do mundo. A minha mãe sempre dirigiu a cozinha, inventando novidades culinárias a cada dia com mão de fada. Sempre com a cobertura da imprensa, terminamos tendo três fogões industriais, sete pessoas trabalhando na cozinha, maitre e garçons no salão. Eu fiz durante anos o trabalho de disque jóquei, com discos LP e fitas K7, sempre em local obscuro, usando caixas de som grandes bem ao meu lado. Preparava as festas que fazíamos para fora, e foram centenas, e tratava do relacionamento com a imprensa. Acabamos por comprar a casa e o lote da Terracap. Meu irmão, que tratou dessa compra, acabou por ser o dono do local. Depois da morte de meu pai tratamos de vender o espaço que quase ficou para o Wagner Canhedo da Vasp mas, que ao fazer suas exigências, não podendo ser cumpridas, o negócio ficou em nada. O clube ASBAC ao lado, criou caso, não querendo fechar a sua saída de emergência, que gentilmente foi cedido por nós.
(Continua...)
Ilustrações: - Lasar Segall . Br
Nota: Esta é a estória vulgar de um emigrante Belga fugido da guerra que se aventurou em terra estranha do outro lado do Oceâno. Os tempos mudaram, as agruras são outras mas a vida é assim mesmo, um rodopio de acontecimentos que parecendo nada, mudam o rumo.
Compilado com correcções ortográficas e arranjo ao texto original pelo
O Soba T´Chingange
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