DESANOITECI EM ZAMZIBAR
Por
T´Chingange
Desanoiteci num dia claro como quando Deus fez o mundo, no ano de 1841. Com línguas de catanas curvas do género do Sandokan o sultão Said Ibn mudava as bikuatas de sua corte de Omã para Zanzibar cortando o romantismo da pimenta do império Português que por ali manteve entrepostos comerciais por duzentos anos. Vasco da Gama, o primeiro europeu a visitar a ilha em 1499 e, que por ali deixou raízes, acabou por concentrar seus impulsos para a Índia, 342 anos antes. O curioso é que nesse então eu falava suaile numa mistura crioula com a língua Lusa. Nessa altura, Zanzibar importava cerâmica do golfo pérsico e a minha tarefa de comerciante, seria a de manter uma boa relação mercantil com os mercadores árabes representando a rainha D. MariaII. Era nesse então um diplomata de segunda linha incumbido pelo Sr. Conde do Lavradio, um admirador das cerâmicas orientais.
A lgures em um lugar da exótica ilha, serpenteava entre os cheiros intensos do mercado, quindas a transbordar bagas e frutos de um vermelho incandescente. Àquela hora matinal as moscas zuniam contornando a carne pendurada em uns chinguiços firmes nos extremos com cipós a outros retorcidos paus. Naquele dia apetecia-me comer galinha-da-índia ao jeito de cabidela com pequenos pedaços de mandioca. Normalmente comprava duas capotas mas, de tão fracas, pouco extraía de entre tanta pena; resolvi por isso optar pela galinha dos monhês que sempre tinha mais chicha. Retirei do meu saco de sisal seis n´zimbos e três caurins e, dei ao mustafá que me agradeceu em suave vénia de cortesia.
Mais adiante comprei uma razoável porção de dendem e um montículo de jindungo por dois n´zimbos. Já desafogado daquela catrefada e fora dela, paro por momentos à sombra de uma mafumeira; eis que, num repente, deparo com a figura kianda do meu amigo Januário Pieter*; Januário deveria ter neste então seus 129 anos e apresentava-se jovem, uma barbicha preta, vestido de zuarte cor de terra e um comprido rifle pendendo de seu ombro direito. Demos um forte e prolongado abraço; segurando meus ombros com suas duas mãos riu para mim num jeito de hiena perturbando leão e, disparou a pergunta: - Tomaste a bolunga de que te falei?
Sim, tomei! Respondi de imediato. Olhou-me de manha surpreendida e ambos, dando volta, rumamos para o kimbo falando de mais que muitas coisas que estavam suspensas no tempo. Terei de explicar a quem me lê que aquelas bolunga em realidade, foram várias mezinhas que Pieter me receitou a fim de me tornar uma kianda interina: sulfato de virtude com cloreto de magnésio com uma pitada de soda de malvadez mais uma pitada de vicio; numa segunda fase adicionei sulfureto de saudade com leite light de adrenalina e, aconteceu que a partir daí vuzumunei encantos retorcidos viajando olográficamente no tempo e espaço da frente para trás. Uma kianda interina só viaja mesmo de tardos. À noite e á luz de um xipefo, elaborei um relatório a dar contas ao Conde de Lavradio a ser levado por Januário no navio D. Maria II que iria sair no outro dia de Zanzibar com destino a Lisboa.
(Continua…)
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
O Soba T´Chingange
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