DESANOITECI EM ZANZIBAR
Por
T´Chingange
O navio D. Maria II acabou por não receber passageiros em Zanzibar; tinha uma epidemia a bordo e estavam todos viajando em regime de quarentena. Uma barca de capotagem trouxe essa informação até ao cais, pelo que só foi embarcado correio e pequenas caixas de produtos de degradação rápida. Januário Pieter deveria ficar em terras de Zanzibar por mais três meses até à passagem da última nau de linha da Marinha Portuguesa com o nome de Vasco da Gama. O relatório para o Conde de Lavradio seguiu em um pacote com pequenas peças trabalhadas em marfim, coisa pequena de modo a poder ser desimpedida das restrições vindas de bordo da D. Maria II. Januário Pieter habituado aos contratempos das andanças, não se mostrou assim tão insatisfeito pois até vinha a calhar fazer uma caçada sempre adiada em terras da Tanzânia, pelo que reservou lugar em uma lancha que sairia no outro dia com destino a Bagamoyo. A sua cabeça girava já em torno de emboscadas a hipopótamos e elefantes ao redor de Ngorongoro do Sereingueti e Lago Tanganica, lugares que os mais velhos diziam existir.
Já acostumado às mudanças bruscas de Januário, não me surpreendeu tal atitude. Eu desconhecia que esta kianda viajante do tempo e espaço era um exímio caçador segundo suas descrições carregadas de místicas passagens e laivos excrescestes; tinha a euforia na ponta da língua como qualquer fantasioso caçador o que me surpreendeu por descrença. Enquanto este preparava suas mochilas, alforges, peças de roupa e balas de caça grossa, pois o tempo urgia, fui-lhe fazendo o pedido de me trazer um corno de rinoceronte para juntar às peças do Conde de Lavradio; de todo o espólio, ainda não constava tal corno e, na minha lista de coisas prioritárias, tinha tal em lugar cimeiro. Com muita pena de não poder ir com ele, trocamos impressões acerca das potencialidades da Tanzânia, da minha vontade em conhecer as quedas de água de Kalambo junto ao Lago Tanganica que se ouvia falar entre os kotas. Januário iria tentar satisfazer o meu pedido mas, só poderia ter a certeza quando se encontrasse com um velho amigo residente em Bagamoyo, o sultão Mwalimu Josué Nyerere.
Januário, foi-se entusiasmado e, assim regressou passados que foram uns oitenta dias. Quatro escravos traziam seus troféus, peles de zebra, dentes de elefante e o tal corno de rinoceronte. Januário após dois dias de descanso dormido, alargou-se em suas descrições que me deixaram fascinado; viu muita caça e ajudou entretanto um explorador de nome Richard Dorsey Mohun que encontrou bivacado e perdido bem perto do Largo Tanganica; Ele que tinha sido um agente comercial em Angola e que após comandar uma unidade expedicionária de artilharia belga no Estado Livre do Congo, viu dispersas as suas forças após expulsar escravistas árabes. Com uns quantos escravos meus, diz Januário, acabamos por explorar as tais quedas de Kalambo, acontecimento que ficou gravado em mapa pelo seu fiel mustafá cartógrafo mas, é a David Livingstone que coube ter os louros de ser o primeiro branco a ali chegar. Ao despedir-me de Januário, pediu-me que desse todo o apoio ao mercenário explorador dos EUA Richard. Ele que tinha o condão de ler o futuro na qualidade de Kianda, afirmou convicto que esse homem viria a ser nomeado cônsul para Zanzibar. Assim veio a suceder, estando eu longe de supor que este Mohum era americano dos USA. Em verdade nem sabia aonde é que isso ficava.
(Continua…)
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
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