DESANOITECI EM ZANZIBAR - III
Por
T´Chingange
Richard Mohun, o expedicionário soldado da fortuna com quem a kianda Januário Pieter*, fez o achamento do Lago Tanganica, veio efectivamente a ser nomeado cônsul dos EUA para Zanzibar a 25 de Maio de 1895, mantendo-se nesse cargo até fins de 1897. Por morte do Conde do Lavradio no ano de 1870, e após ter feito espólio fiz entrega de todo o património composto de porcelanas e marfim, ao comandante do vapor Mindello, o Capitão José Bernardo, que ali aportou em uma viagem de soberania a terras de Diu, Damão e Goa. Na condição de kianda interina, eu, tinha agora todo o tempo do mundo para me lançar em aventuras expedicionárias, desbravar terras gentias e viver experiências com o extravagante amigo Richard Mohun. Por via das indicações da kianda Pieter e seus segredos de kimbanda, a minha saúde era invejável; o uso de seus chás e mezinhas como o sulfato de virtude, cloreto de magnésio, soda de malvadez, citrato de sildenafila, baba de quiabos e estrato de quinino, mantinham-me um saudável e estável comerciante de cerâmica, marfim e curtumes.
Richard Mohun, tendo-se envolvido na Guerra Anglo-Zanzibar , entre o Sultão de Zanzibar e as autoridades britânicas, acabou por servir de intermediário entre estes e, pelo seu tacto diplomático em troca de serviços, acabou por se envolver como expedicionário na feitura de uma linha de telégrafo do Lago Tanganyika ao nascimento do rio Nilo, área já vasculhada por David Livingstone. Foi através do padre Bernardo do forte português que tive notícias desta expedição e, foi deste que recebi o recado em me aviar a falar com o ex-consul Richard. Ele estava a contar comigo para tal empreita. Eu, fiquei em pulgas, pois que alinhar numa dessas campanhas, era o meu maior sonho. Convite feito e aceite ajudo-o a seleccionar cem homens para acompanhá-lo e, foi entre os Askari de Zanzibar que recaiu a nossa escolha; a quinta parte destes já o havia servido numa outra expedição no ano de 1894. O expansionismo britânico não podia perder pontos nesta braveza pela posse de África e destinou-lhes uma escolta numerosa sob o comando do capitão Verhellen.
Andamos a pé, de tipóia, em carros de boi e em canoas. Nas aldeias, tratávamos os doentes, conquistando assim a amizade dos nativos podendo negociar com a população local ao longo do percurso. Mohun apetrechou-se de 100 caixas de bugigangas comerciais compostas de sinos, facas, trincos, espelhos, caixas de música, relógios, barretes, pentes e coisas para outros fins. A expedição incluía carregadores para levar rolos de fios de cobre e demais equipamento para a linha telegráfica. Para alegrar os ânimos entre expedicionários e indígenas faziam-se espectáculos com mágicas árabes trocando favores por panos, trastes e incenso; para aquelas gentes estas novidades eram a tecnologia de ponta. Mal sabiam eles que iria dali sair a matéria-prima para desenvolver o ocidente como o cobre, coltan e diamantes. O navio Sir Harry Johnson, entretanto fazia a ligação por cabo submarino entre a ilha de zanzibar e o continente africano na colónia alemã de Tanganica desde o recente acordo de Berlim de 1885. Cecil Rhodes desta forma, firmava estruturas para levar avante o seu sonho de unir o Cabo ao Cairo por via-férrea. Eu, desconhecia então que estava a ajudar a realização desse sonho alheio.
(Continua…)
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
O Soba T´Chingange
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