FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“DOS JESUITAS AOS TUBARÕES” . 12
Por
Roeland Emiel Steylaerts
No dia seguinte tentou ligar-me varias vezes, só que eu não estava. Finalmente encontrou-me à noite, dizendo que havia um mal entendido, pedindo para esquecer o conteúdo da carta, e não mandar a cópia para a Bélgica. Faria uma recepção na semana seguinte, e pediu-me que sugerisse a quem convidar. Fiz uma pequena lista, e todos foram chamados. Na vida social eu gostava das coisas correctas e muitas das vezes isto não sucedia; quando deparava com hipocrisia, ou falsidade simplesmente, afastava-me. Sucede que em uma recepção da embaixada da Bélgica, vejo uma pessoa que não conhecia, e me apresentei antes de uma amostra de desenhos; em resposta ele, respondeu-me friamente: “ C´est moi qui paie la fête monsieur” (sou eu que pago a festa, senhor)” e, acto continuo virou-se e foi embora. Era o Grão-duque do Luxemburgo, um verdadeiro dono do mundo, como ele deve ter pensado que era, coitado.
Todos os anos, a seis de Dezembro, se realizava festa de São Nicolau sendo eu o homem Santo das barbas brancas (logo eu, um ateu). Saia da residência da embaixada da Holanda com dois batedores da Policia Militar na frente em um carro aberto; ia saudando o povo para voltar do outro lado da imensa quadra, entrando oficialmente na parte diplomática da embaixada. O embaixador esperava-me, tendo um bom lote de crianças pequenas à espera dos seus presentes. Eu falava várias línguas, e pelo “livrão” que a gente tinha feito antes, com o staff da embaixada, já se sabia a língua dos meninos que viriam na ordem certa; Dava os presentes que os pais tinham comprado, e referia o que eles tinham feito de bem ou mal durante o ano que findava. No grande livro, estava tudo conforme o relatório dos pais e, dava gozo ver o espanto das crianças. Depois da festa recebia do embaixador uma garrafa de Genebra holandesa e um monte de doces típicos da época. Fiz isto por umas cinco vezes, uma das quais pela embaixada da Bélgica.
Na verdade quem começou com isto foi meu pai, só que duma vez teve uma distensão na perna, e eu, contra a vontade, tive que assumir. Anos depois, voltei a ser “Papai Noel” no Pontal do Peba, em Piaçabuçu para as crianças, tudo feito sob um sol impossível. Mas, tudo isso foi gratificante para mim. Minha mãe depois que decidimos ir para Alagoas, vendeu a casa, muito contra a vontade... mas não tinha outro jeito. À última hora antes de embarcar no táxi que nos levaria para o aeroporto, ainda fez a volta no local, olhando cada quarto, cada canto... numa despedida real e triste. Uma parte da vida dela, ficaria ali para sempre...
(Continua...)
Piaçabuçu: Cidade situada na foz do São Francisco. Brasil
Nota: Esta é a estória vulgar de um emigrante Belga fugido da guerra que se aventurou em terra estranha do outro lado do Oceano. Os tempos mudaram, as agruras são outras mas a vida é assim mesmo, um rodopio de acontecimentos com carrapatos que parecendo nada, mudam o rumo.
Compilado com correcções ortográficas e arranjo ao texto original por
O Soba T´Chingange
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