DESANOITECI EM ZANZIBAR - V
Verdade ficcionada
Por
T´Chingange
Telepáticamente entrei em contacto com Januário Pieter, a kianda mwata que nesse momento estava demasiado ocupado em terras de França, Vallée de la Loire. Recomendou que me alheasse da situação de mutilação do estado Livre, mas que no entanto elaborasse um relatório que mais tarde o faria encaminhar a Edmund Morel um jornalista de investigação; Este Edmund, fiquei a saber mais tarde, empenhava-se em acabar com os métodos desumanos do monopólio secreto de Leopoldo do Estado Livre do Congo. O contacto com o mato e muitos animais ferozes já naquele início do século XX, era para mim uma forma de liberdade, adrenalina do viver entre incertezas e perigos naquelas vastas regiões por explorar, longe dos interesses costumeiros e das coisas de vida civilizada. Continuava ali amarrado á rígida noção de dever de cavalheiro que me impedia de abandonar Richard Mohun, elaborando em surdina o prometido relatório de atrocidades.
A partir de certo momento senti-me o pai branco e, não raras vezes e à revelia das ordens de cima, reunia-me no jango com os macololos de fala Swahili a conversar sobre coisas comuns sentindo-me vagamente acompanhado; com o tempo e convivência situava as fisionomias distinguindo os mais amigos; quase todos faziam soltar de seus cachimbos um cheiro adocicado de liamba. Amiudadamente surgiam mulheres cafecos (novas e virgens) a recarregar seus cachimbos com mais erva. Junto às barricas de aguardente de palma, marufo, ensaiava vontade de fumaça e, nessa tentativa sublimava o inebriante fumo: “As cestas de mão cerradas, postas aos pés dos chefe de posto europeus, tornaram-se o símbolo do Estado Livre do Congo... A colecção de mãos tornou-se um fim em si mesmo. Os soldados da Força Pública traziam-nas em vez da borracha; eles, até mesmo iam colhê-las em lugar de borrachas... Os soldados dos Força Pública tinham seu bónus pagos de acordo com quantas mãos eles colectavam”.
Edmund Morel faiscou a notícia que em 1902, resultou no romance de Joseph Conrad intitulado “O Coração das Trevas”. Foi publicado com base na sua breve experiência como capitão de um navio a vapor no Congo, dez anos antes. Este livro encapsulava o pavor crescente do público, e em 1904, Sir Roger Casament, o cônsul britânico, entregou um longo e detalhado relatório testemunhal o qual tornara público. A Associação Britânica de Reforma do Congo, fundada por Edmund Morel, em considerandos de varias fontes incluindo o meu relatório fornecido por Januário Pieter, exigia acção. O Parlamento Inglês clamou por uma reunião das 14 potências signatárias a rever a Conferência de Berlim. O Parlamento Belga forçou Leopoldo a organizar uma comissão independente de inquérito, e apesar dos esforços desesperados do Rei, em 1905 foi confirmado o relatório de Casement em sórdidos detalhes.
(Continua…)
Glossário: kianda mwata: - O fantasma chefe, Espírito maior da Kalunga; Jango: - Casa assembleia, lugar de reunião dos mais-velhos. Macololos: - chefes, macotas, tribo;marufo: - vinho de palma cassoneira ou outra; Liamba: - droga de fumo, que leva a delírio; gweta: - branco; cipaio: -guarda indígena, polícia de 2ª linha; mwata: - guru, chefe carismático, Senhor dos senhores.
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
O Soba T´Chingange
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