DESANOITECI EM ZANZIBAR - VI
Verdade ficcionada
Por
T´Chingange
Aquela Associação da Reforma do Congo tendo exposto abusos arbitrários e selvagens da força de trabalho pelo Rei Leopoldo II da Bélgica no Estado Livre do Congo, deu encaminhamento à anexação do Congo pela Bélgica o que se veio a verificar no ano de 1908. Eu, uma Kianda, portadora da crença de Camões, das suas Ninfas e Tágides do Puto Luso, entre matumbolas kwangiadas mais bitcaias adquiridas em pântanos insalubres do Kwanza, e kalungas do N´gunza, Queve e Bero, indignava-me da falácia dos povos europeus. Não tendo os Belgas feito algo de grandioso e sendo prevaricadores por desvios na conduta humana exterminando milhões de seres, tiveram no entanto como prémio, tomar conta dum tão vasto território chamado de Congo ou Zaire, banindo sarcasticamente o arrojo de gentes do Puto comprovadamente fixados àqueles sertões africanos.
Como se justifica que as nações europeias desse então tenham relegado o Puto ao desprezo, povo que se esgotou enviando levas de gente, ano após ano, a partir do ano de 1480; Como não levaram em consideração a implantação de gente que já ali labutava à mais de quatrocentos anos a partir da chegada de Diogo Cão à foz daquele grande rio Zaire. E, quantos, entretanto, morreram missionando os matos infestados de malária e tzé-tzé; morrendo sem glória, dando de bandeja aos Belgas um território tão vasto como o Congo. Leopoldo ofereceu uma reforma em seu regime, mas poucos levaram isso a sério. Todas as nações estavam de acordo que o domínio do Rei deveria ser extinto o mais rápido possível, mas nenhuma nação estava desejosa de assumir a responsabilidade, e nunca foi sugerido que as terras em questão fossem devolvidas ao povo da região. A Bélgica era a forte candidata à administração do Congo, mas os belgas não estavam ainda dispostos a isso. Por dois anos a Bélgica debateu a questão e foi às urnas decidir. Entretanto, Leopoldo, aumentava o “Domínio da Coroa” para com isso espremer a última gota de lucro.
Da minha fazenda podia ouvir o barulho dos rápidos de Boyoma Cataratas no rio Lualaba; lançando ao ar nuvens de partículas de água, amenizavam o tórrido clima inundando humidade no verde da roça com milhares de cacaueiros. Pouco a pouco fui-me afastando das lidas de gestão dos interesses do rei Leopoldo com a compreensão de Richard Mohun e o comprometimento da kianda Januário Pieter*. A fazenda ocupava-me já quase em absoluto; para espairecer, amiudadamente ia até aos rápidos com o cipaio fiel mustafá T´shiluba refrescar-me e pescar. Enquanto pescava, o cipaio fumava ervas mal cheirosas de adocicada liamba. Entretia-me vendo os pescadores tradicionais com suas engenhosas tarrafas encastradas nas rochas, juntar forças pela comunidade a qual amiudadamente eu era chamado a fazer justiça ou esclarecer assuntos que eles não dominavam. Decididamente a “era da borracha” estava acabada; O pai branco, decidiu por isso fazer um plantio de milhares de pés de cacau.
(Continua…)
Glossário: kianda : - fantasma das águas, espírito da Kalunga; Liamba: - droga de fumo, que leva a delírio; cipaio: - guarda indígena; segurança; Puto: - Portugal; matumbolas:- mortos vivos; kwangiadas: - Ninfas do rio Kwanza; bitacais: - bicho de pé
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos que tem no seu ADN a picardia cutucada de malária.
O Soba T´Chingange
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