DESANOITECI EM ZANZIBAR - VII
Verdade ficcionada
Por
T´Chingange
No intuito de estabelecer uma rota segura para o cacau de minha roça, desloquei-me a Kisangani, aonde o Rio Lualaba dá lugar ao caudaloso Rio Congo; falei com o mustafá Joshua Naili, que se mostrou muito gentil dando boa aceitação às minhas pretensões. Foi bem interessante o contacto com este comerciante com quem mantive uma longa conversa entrecortada com sorvos de chá menta e biscoitos bizantinos como ele referia. Tendo este, uma frota de barcos e contactos com comerciantes holandeses de Antuérpia e outras praças europeias, propôs-me colocar os produtos da roça, nomeadamente o cacau, ganhando ele uma comissão de 30 %, o que me pareceu justa. Na minha fazenda de Boyoma, eu só teria de secar as amêndoas de cacau e mantê-las em lugar seco e arejado, ensacadas em ráfia ou sisal até que as barcaças chegassem ao cais de Ubundu; no destino estas amêndoas seriam moídas e distribuídas para vários fins como fazer sumos, geleia, destilados finos e o tão desejado chocolate.
O produto chocolate, era conhecido desde o início da colonização da América. Em função das necessidades climáticas para o cultivo do cacau, não é possível o seu plantio na Europa e por isso as colónias americanas de clima tropical húmido forneciam a matéria-prima. Tendo a África Ocidental um clima quente e húmido com solo argilo-arenoso, e sendo uma planta umbrófila, foi só propagar as sementes nos sub-bosques e matas rareadas por lonjuras a perder de vista. Pouco mecanizada, tive de juntar muita gente em kimbos para o amanho deste fruto e o contracto de Kabila Kasavubu um negro forro fugido nem sei como, das terras da Bahia em Brasil, foi crucial. Kasabuvu, tinha uma larga experiência pois que enquanto escravo, era esse o seu trabalho, limpeza, uso de fumos e protectores a fungos que não raro surgiam nos pés de cacau; conhecedor desse processo e sistema de secagem foi em verdade este meu auxiliar, que promovi a capataz.
::::::::::::::::::::
Nas manhas de cacimbo intenso, sentava-me na sacada da casa colonial tomando café com chocolate quente. A minha mucamba Charllôtte, ao longo do tempo foi aprimorando sua arte de culinária e doçaria e fazia questão de presentear seu amo T´Chingange com tortas, biscoitos, mousses e bombons, muito antes de ser um hábito nos cafés europeus de Paris, Londres ou Lisboa. Nas meditações da vida amiudadamente recordava o quanto era bafejado pela sorte em terras de canibais; em outro lugar longínquo chamado de México, um outro continente, os nativos consumiam o cacau na forma duma bebida quente e amarga, de uso exclusivo da nobreza. Naquela roça grande de Boyoma no rio Lualaba, inalando a brisa em nuvem de cacimbo das cataratas próximas, eu era ali, também, além de pai branco, um verdadeiro nobre.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA