FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“DOS JESUITAS AOS TUBARÕES” . 14
Por
Roeland Emiel Steylaerts
O médico olhou-me, e disse que não tinha material para fazer esta operação. Disse-lhe que eu tinha isso em casa, mas ele me aconselhou ir para Brasília e fazer uma operação plástica bem feita; Brasília estava a a pouco mais de trinta quilómetros. Foi assim que eu fiz, e hoje não tenho nenhuma cicatriz. Regressei à chácara já de noite o que me levou a proceder com cuidado na chegada; tinha por lá uns macacos grandes, quatro araras e um cachorro pastor alemão; eu sempre descia de arma em punho (com registo e porte de armas) e nunca tive nenhum problema com a polícia, ao menos não, quando eu estava presente. A chácara já tinha sido assaltada doze vezes e, por isso vi-me obrigado a colocar alarme com cerca electrónica. Um dia roubaram-me 14 armas antigas da minha colecção. Fiz queixa à polícia, e coloquei um prémio em cima dos ladrões; espalhei propaganda nas redondezas mencionando que teria dinheiro para quem me indicasse algo. No dia seguinte recebi telefonema de um açougueiro, ao qual haviam apresentado as armas; ele não comprou, mas ficou conhecedor das pessoas envolvidas no roubo.
Marcamos encontro às oito horas da noite em frente do supermercado Valparaíso. Informei que iria numa camioneta F-1000. Já parado no local, um carro encostou perto, olhando com jeito de dúvida para mim. Eu estava dentro do carro, com um revólver 38 na mão e uma cartucheira 12 de dois canos no colo. O homem aproximou-se, ar medroso, e repetiu o relatório dando nomes aos bois. Ele estava com bastante medo por denunciar o caso; para não levantar suspeita, queria ser preso junto, para eles, os ladrões, não suspeitarem dele. Fui direito à polícia, dei-lhes os nomes e forneci gasolina mais munições. Já tarde na noite vieram com um preso amarrado com arame farpado, jogado no carro. Vi-os empenhados em mostrar serviço para mim e todos nós seguimos para a Delegacia. Chegamos lá exactamente no momento em que faltou a energia. Acenderam velas, e pediram-me para ficar do lado de fora da delegacia. Seguiram-se gritos e mais gritos; o homem preso e amarrado delatou todos os seus comparsas. A polícia tinha simplesmente enfiado uma vela acesa no ânus dele, e ele abriu o jogo. Os outros comparsas foram presos na mesma noite; recuperei assim as onze peças. Três ficariam com a polícia como recompensa.
Era esta a lei de Goiás, e assim a gente sobrevivia. Só que minha fama começou a crescer; virei perigoso, e todos começavam a me respeitar... provavelmente de medo, isto sem eu fazer nada para isso. Um dia, um novo vizinho compra uma chácara em frente à minha já com uma casa no terreno. Era dono de uma boite, ou melhor de um puteiro, e por costume, chegava a casa lá pelas quatro ou cinco da manhã, buzinando alto, até o caseiro abrir o portão, buzinão que demorava uns 15 minutos. Na primeira noite não reclamei de nada. A minha casa ficava a uns escassos 150 metros da dele. Na segunda noite, repetiu-se a mesma coisa, os 15 minutos de buzinão. Peguei uma espingarda, e mirei no seu farol que com um só tiro, se apagou; o silêncio passou a reinar! Nunca mais ouvi buzinão e, nunca fiquei a saber quem era, pois se mandou de lá.
(Continua...)
Piaçabuçu: Cidade situada na foz do Rio São Francisco - Brasil
Nota: Esta é a estória vulgar de um emigrante Belga fugido da guerra e que se aventurou em terra estranha do outro lado do Oceano. Os tempos mudaram, as agruras são outras mas a vida é assim mesmo, um rodopio de acontecimentos com carrapatos que parecendo nada, mudam o rumo.
Compilado com correcções ortográficas e arranjo ao texto original por
O Soba T´Chingange
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