O MEU CÃO É INTELECTUAL! - Inventações do Soba
Por
T´CHINGANGE
Deitado em minha rede na varanda ventosa do encontro do mar, ao ler “Vinhas da Ira” de… John Steinbec em voz alta, (às vezes tenho de ler em voz alta para me concentrar), reparo que meu cão Raíy, um misto de dobermann com rafeiro, chorava copiosamente. Fiquei estupefeito por tal facto e, chamando por ele afaguei-lhe a cabeça; fica tranquila Raíy que estas agruras são só coisas de gente. Tu só tens de esperar tua ração depois do passeio lá pelas cinco da tarde. Não continuei a ler por via da tristeza do cachorro e também do meu frágil compartilhar com este estado de crise; sempre o puto!... Já não chegava carregar permanentemente com um embondeiro às costas desde que saí de Angola. Claro que fiquei matutando neste irregular comportamento. Acabei por levantar-me confuso, circundar o casarão a dissipar o mudo e tristonho estado de espírito, observar os gansos perseguindo o galo granize e a pedrês que ciscava o chão húmido bem por debaixo do sape-sape / graviola enquanto formulava o informulável: - como é possível este cão ficar sensível às misérias humanas?
Pelas cinco e quinze minutos da tarde, com o sol esfriando na lonjura da serra do mar, saio com Raíy dobermann e o ainda jovem mestiço de lavrador a dar a volta pelo mato do pequeno pantanal. Sentado bem lá no alto da duna de areia branca observava a lua cheia grande e amarela que começava a sair do horizonte norte, e bem por detrás da selva de coqueiros. Em voz alta pedia ao meu anjo Akasha Kundalini que ajudasse minha família espalhada pela diáspora e eis que Raíy postou-se a meu lado e de focinho ao lado parecia absorver tudo o que eu falava; com a pata fazia arranhadas festas á perna por alturas do joelho desnudo; parecia querer contentar-me e, de rabo a dar a dar tentava dizer-me que tudo isso iria passar; tem calma dizia ele com um surdo rosnado. Ambos fitávamos aquela lua cheia, amarela e grande que subia lentamente às alturas.
No dia seguinte, depois de almoço, tomei o habitual café e enquanto balouçava naquela rede, lia em voz alta um novo livro: o Óbvio que Ignoramos, e lia: “ Se as convicções que temos sobre nós mesmos são inapropriadas, não importa o esforço, a disciplina e outras virtudes, nossos resultados nunca irão além dessas convicções”. Foi aqui que Raíy, começou a ladrar-me de forma inusitada, como a dizer-me: É isso, meu! Toca p´ra frente! De novo fiquei confuso com este comportamento ao qual lhe perguntei: - Mas tu entendes isto? Sem esperar a resposta, tendo algo mais que fazer, fui tratar disso pelo que deixei o livro em cima da mesa de jaqueira e, por ali permaneceu esquecido. Qual foi o meu espanto no outro dia, vejo algo no chão da varanda e aproximando-me desesperei-me: o livro estava parcialmente destroçado; Raíy, literalmente, parecia ter ganas de comer o livro. Não sei se por raiva do que li de desespero, se no intuito de adquirir os conhecimentos em forma de letras comíveis. Como vêem, o meu cão não é analfabeto; é mesmo um intelectual. Ele não lê, come livros! A não ser que lá na outra encarnação tenha sido um inimigo de Jacob Pétry, o autor do Óbvio de ascendência judia. Continuo a ler o livro com a capa e algumas folhas coladas. É em verdade o livro múmia.
Paracuca: - jinguba mal pisada com açúcar na forma de bolacha
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