Terça-feira, 28 de Outubro de 2008
Ainda sobre moedas de ANGOLA

 

Handa – O nome que o autor atribui aos lingotes de cobre que corriam do Catanga à
Monomotapa e ao planalto de Luanda, ref. Octávio de Oliveira no [periódico?] Notícia
(1966) da província do Natal, África do Sul:
Handas de cobre, numária monomotápica, ensaio
numismático-arqueológico
. Note-se que a palavra banta handa significa clã entre os
ovimbundo e outros povos de Angola; por outro lado, o autor refere que Leo Frobenius, o
incansável explorador e fundador da etnografia belga, chamava aos mesmos objectos “handacreuse”,
que poderá ser heterografia da palavra flamenga handelkruis, ‘cruzeta de comércio’, de
onde, possivelmente este termo. Seria preferível, portanto, falar-se de cruzetas e lingotes.

Jimbamba – Palavra crioula, referida pelo autor, formada de jimbo, o nome dado em
Quimbundo à cíprea angolana [o zimbo, que corria até ao Catanga como moeda]; quantidade de
zimbos, coisa de valor. Acrescente-se que o termo perdura no Português angolano como ‘embamba’,
os pertences de alguém.

Jimbo – Quim. yimbu, do Quic. nzimbu, moeda; palavra que deu origem a
jimbamba.

Lerali – O lingote dos Pedi, uma barra cilíndrica de 45 cm de comprimento com um
cone de 160º (?) numa extremidade e decorações protuberantes, em forma de chifres (o autor não
dá gravura do objecto).

Libongo – Nome que veio a ser dado em Quimbundo ao ‘paninho’ tecido no Loango, semelhante
ao ‘paninho do congo’ ou likutu; acrescente-se que é palavra do Quimbundo calunda
lu
mbongu
, ‘moeda – mbonge – irrisória, numerosa, como o nó do caniço’, já que um
libongo valia 5 réis em 1695, quando o governador Henrique Jaques de Magalhães fez circular esta
primeira moeda divisionária em Angola – já ali havendo moeda de 20 e 10 reis – dando assim origem
a um motim entre a soldadesca brasileira da guarnição de Luanda.

Lingote – Forma manejável em que é vertido um metal pesado, monetário ou não. Depreende-se
do trabalho em referência que o lingote de cobre africano ocorre em três formas: a barra
cilíndrica, o ‘H longo’ em forma de astrágalo – o ‘jogo das pedrinhas’ – o objecto monomotápico
assim denominado por Theodore Bent em The Ruined Cities of Mashonaland, e a cruzeta.

A forma cilíndrica, ou vergalhão, é a mais espalhada pela África austral, tanto como material
para a confecção de manilhas, como na forma de mutsuku, os “cilindros rectangulares com
fileiras de tachas no topo”, cada uma equivalente a 133 g de metal, o preço de uma enxada de
ferro. As extremidades de um lingote monomotápico – de que a forma mais antiga foi encontrada
na margem do r. Mpofu, Lomagundi – lembram, nos tamanhos mais pequenos, as orelhas de um martelo:
foi Bent que primeiro descreveu o objecto, encontrado pela sua escavação das ruinas do Zimbabué
de Fort Victoria, de que Hall and Neal em 1903 encontraram o molde, em talco xistoso, na estação
de u’Mununkwaba, juntamente com gongos duplos e “um jogo de bolinhas de talco xistoso”; outros 12
moldes conhecem-se de Elizabethville e da Zambia; 21 espécimes foram encontradas por António
Joaquim da Rocha “em Guengue, junto ao r. Búzi, na propriedade do Sr. Clemente da Silva”, prov.
Manica e (?) Sofala, Moçambique. A cruzeta trata-se separadamente.

Os mutsuku já eram fundidos pelos Lemba, autóctones do Transvaal setentrional quando os
Venda bantos ali chegaram no século XVIII. A origem do lingote monomotápico, e portanto o da
cruzeta, dele provavelmente derivado, é obscura: Diodoro Sículo descreveu lingotes da Dalmácia,
que o arqueólogo Sir John Evans comparou ao lingote africano (re. James Walton,
The African
Village
); poderá ser o objecto dálmata o que aparece reproduzido pelo autor na segunda figura
da p. 35: um lingote em ‘H’, convexo – enquanto o monomotápico é côncavo – forma estilizada
reminescente da do antigo lingote mediterrânico, no feitio e tamanho de um couro de carneiro; em
África, pensa-se que a indústria tivera origem entre os Macaranga. Veja-se também Cameron (1877)
e Aurora Ferreira.

Os lingotes africanos mais semelhantes ao objecto moderno foram produzidos pelos Kwena – mineiros
do estanho do Rooiberg, distrito de Waterberg, Transvaal – em moldes cavados em areia ou talco
xistoso.

Lombongo – De libongo, nome dado em Angola ao ‘paninho’ tecido no Loango, que
corria como moeda no reino do Congo e em Angola. O termo parece ter começado a aplicar-se às
moedinhas de cinco reis que circularam neste reino a partir de 1695; segundo o autor [o termo é
crioulo], derivado do Quimbundo m’ilambongo, ‘uma quantidade de imbonge’ (sing.
mbonge, ou ‘bongue’) coisa de contar, como o nó do caniço. Significa hoje, simplesmente,
‘dinheiro’.

Macuta – Quim. makuta, pl. de likuta, o nome quicongo dos célebres ‘panos’,
tecidos de fibras vegetais que correram como moeda em Angola até 1694. A partir deste ano,
correram principalmente moedas de 10 reis produzidas para “o Brasil e Guiné”, querendo ‘Guiné’
dizer todas as possessões portuguesas na costa ocidental de África. As ‘macutas’, com o dístico
“África Portuguesa”, só vieram a ser cunhadas em 1762, no tempo do marquês de Pombal. Conheceram,
porém, uma grande distribuição no reinado de sua filha D. Maria I: houve emissões em 1783 (12,
10, 8, 6, 4 e 2 macutas, em prata; 1 macuta, em cobre), 1784 (6 e 4 macutas, em prata), 1785 (1,
½ e ¼ macuta, em cobre), 1786 (1 e ½ macuta, em cobre), 1789 (12, 8, 6 e 4 macutas, em prata;
1, ½ e ¼ macuta, em bronze) e 1796 (12, 10, 8, 6, 4 e 2 macutas, em prata). Foram desvalorizadas
50% sob o regente D. João, em 1814 (foram carimbadas nas missões até 1816), e não tiveram novas
emissões no reinado de D. Miguel. No reinado de D. Maria foram de novo desvalorizadas em 20%, mas
houve novas emissões em 1848-51 e em 1853. Sob D. Pedro V houve emissões das moedas de ½ macuta
(1858) e de 1 e de ½ macuta (1860). No reinado de D. Luís I houve um ensaio de nova moeda para
Angola: as moedas de 20, 10 e 5 reis de 1886 substituiriam as macutas, mas nunca foram produzidas.
Assim, as macutas correram em Angola até à implantação da República em 1910, durante, portanto,
148 anos e 9 reinados.
.
Moeda angolana – A primeira sugestão de cunhagem de moeda privativa para Angola pertenceu
ao senado da Câmara da cidade de São Paulo da Assunção em 1649, sendo governador Salvador Correia,
que também assinou o auto respectivo, de 31.03: as moedas seriam de cobre, com os pesos de duas
oitavas e dois terços [2,66×3,586 g ou seja, 9,539 g]... que se chamaria meio pano e valeria 25
reis, e de uma oitava e um terço [metade do peso anterior], que se chamaria libongo e valeria,
naturalmente, 12,5 reis.

 

 

VISCONDE DO MUSSULO

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:24
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1 comentário:
De kimbolagoa a 2 de Novembro de 2008 às 23:36
Além do N´zimbo havia os caurins, mais pequenos e muito usados nas missangas que embelezavam os reis e, mais tarde as rainhas
Ir à Web e introduzir caurins. Abrem-se outras estórias interessantes do Togo e Benim mas que, se tornaram populares entre os Fiotes.
Mais tarde a moda das missangas chegou aos reinos de N´dongo e N´gola.
Segue um extrato
"Ao contrário, o urucongo e o bujamé despedem sons festivos. Cada matrona e cada rapariga se enastrou do melhor que pôde. Colares e manilhas de missangas de coral e vidrilho com caurins entremeados ou pendentes lhe cingem a garganta e os pulsos, fazendo ao reflexo variegado realçar o ébano da cútis. O candombe deslaçado em meneios lascivos, o canto de diapasão áspero e monótono formam o cortejo mortuário em roda do cadáver.
Presidia a festa, que simulava estranha macabra de vampiros ou bruxas, Maria a Conga, a quem a senzala venerava como rainha ou fetiche de um culto profundo"

Afinal aquela Maria a Conga noutros tempos era a mulher do T´chingange
O Soba T´chingange


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