Dita língua falada pelos nativos de Cabinda - não é nada mais senão um dos produtos da máquina colonial portuguesa.
Na verdade, o termo aportuguesado "fiote" proveio da palavra Cabindesa "m'fiôte", que significa "negro", pessoa de raça negra".
Estando aquém da etnografia, os portugueses instalados no protectorado de Cabinda deram-se ao desplante de chamar "fiote" não só o autóctone de Cabinda, como também e mormente tudo o que por eles fosse considerado de qualidade inferior (?).
Por consequência, era "fiote" o nativo de Cabinda e tudo o que estivesse inerente aos usos e costumes do Povo de Cabinda.
Noutros termos, os valores da cultura Cabindesa, inclusive a língua, passaram a ser "fiote", isto é, coisas vis. Ilustremo-lo com um exemplo: o atalho ou carreiro, que também era frequente encontrar no "Puto" (i.e. Metrópole, Portugal), em Cabinda passou a ser chamado "caminho fiote" caminho do negro, contrastando à estrada, obra dos brancos.
As verdadeiras "máquinas" construtoras de estradas eram os negros do Belize, Caio- Guembo, Buco Zau,Tando zinze ou do Bumelambuto.
Tomemos um exemplo: à galinha criada pelo, nativos na aldeia chamou-se de "galinha fiote", por ser criada na "sanzala"; naturalmente menos desenvolvida que a dos aviários do branco.
Ninguém esquece, contudo, que era o Negro quem criava as galinhas nos aviários em troca de um salário (se o houvesse) numa atmosfera de insultos de toda a natureza; fuba podre, peixe podre, cinquenta angolares, porrada se refilares.
E bem se sabe que a menosprezada "galinha fiote" era, uma vez em chorrasco, a mais apreciada pelo branco.
Outro exemplo: o rito "fiote" da casa-de-tinta contou sempre com a sôfrega concorrência de brancos sem escrúpulos e ávidos em desflorar raparigas "fiotes" em cabanas e camas "fiotes", não obstante a abissal diferença etária entre o verdugo e a vítima aterrorizada e infeliz. Uns panos com a esfinge de Mobutu eram a troca por alambamento.
Em suma, tudo o que não fosse de origem europeia foi etiquetado "fiote": mamão fiote, manga fiote, batata fiote, etc..., e só faltou designar “peixe fiote”, pescado no rio Chiloango ou no mar de Lândana.
Voltemos à expressão "Língua Fiote".
É do conhecimento de todos que nunca houve ser humano cuja língua fosse designada pelo mesmo termo que exprime a cor da sua pele, isto é, a sua raça. Se assim não fosse, haveria no mundo muito poucas línguas. entre outras, a língua branca, língua negra, língua mestiça. Desse modo, facilmente se compreende que não é intendivel a existência de uma língua Fiote.
Três factos estiveram, certamente, na base da mais fabulosa descoberta portuguesa em terras de além-mar, a "Língua Fiote":
"Como se diz (ou se pode traduzir) - por exemplo o ditado "Tal pai, tal filho" na vossa língua"?
A essa questão o ancião interpelado respondia simplesmente: "Mu ifiôte tchítu (buau kuábu): ..." ou, traduzindo à letra, "No nosso ifiote diz-se (assim): ...Ora, "Mu ifiôte tchítu" não significava, nem significa, "no nosso ifiote", nem tão pouco "na nossa língua fiote".
Aquela expressão quer, antes, dizer "na nossa cultura", i.e. segundo a nossa cultura negro africana de Cabinda.
E note-se que, em qualquer dos dialectos de Cabinda, a referida expressão era similar: "mu ifiôte tchítu"; "mu tchifiôte tchítu"; "mu kifíôte kietu"; etc... Assim, é de presumir que o colono se tenha cingido à tradução literal dos seus inculpáveis intérpretes para deduzir que a língua dos nativos de Cabinda era o (i)fiote.
- Em contacto com os autóctones, o português apercebeu-se, indubitavelmente, de que em Cabinda não havia senão uma língua, e que o "iwóyo", "ikuákongo", "ikótchi", "ilínji", "iyómbe", "isúndi" e "ivili" não passavam de meros dialectos. É também de esperar que a mais vulgar definição de "dialecto" (uma linguagem particular de uma região derivada da língua principal) não lhe era estranha. Neste caso, uma pergunta pertinente era inevitável: "Como se chama, então, a língua principal dos habitantes de Cabinda"? Esta pergunta requeria uma resposta plausível e ponderada na época, o que não sucedeu.
Poupando-se ao esforço de busca e desmedido complexo de superioridade, o colono não hesitou em denominá-la Fiote, porquanto seu locutor nativo era negro, preto - "m'fiôte". Esqueceu-se, porém, de que ele próprio não falava "branco", já que era de raça branca, mas, sim, português.
De mais a mais, sabe-se que muitos foram os brancos que passaram por Cabinda e nenhum deles se exprimia em branco. Uns falavam francês outros holandês, inglês, etc... O mais interessante é que jamais ocorreu ao nativo de Cabinda chamar à língua de qualquer branco - `´MÚNDELE". (i.e. branco, homem ou pessoa de raça branca), visto que era impensável que alguém se exprimisse numa língua que se designasse pelo nome da raça de quem a falava.
- Muito antes de conviver com os nativos de Cabinda, o colono teve o azo de verificar que os Negros dos Reinos Loango Kakongo e N'Goyo de outrora não falavam Fiote, mas línguas em conformidade com as designações das suas respectivas tribos (ou povos): Kissolongo, Kikongo, Kimbundu, Umbundu, Cokwe, Nganguela e Kwanyama.
Foi nada mais do que um erro etnográfico cometido por maliciosa intenção, o facto de o mesmo colono ter encontrado somente em Cabinda negros cuja língua era o Negros, i.e. o (i)Fiote.
Com efeito, não precisamos da celebridade de sermos os locutores da língua Negra (Fiote), os Negro-africanos que se exprimem em Negro. Se admitimos, por exemplo, que o portugues tenha chamado "gorila" ao nosso "mpungu", não assentimos que o termo por ele usado pejorativamente não só para designar a nossa língua, mas também como atributo da nossa cultura, persista no léxico de quem quer que seja.
Ibinda é a nossa língua. Português o ideoma que nos une ao Mundo!
Por isso, "língua Fiote" não passa de uma aberração, um vestígio que urge ser expurgado no tempo. Estamos plenamente certos de que nunca será demais continuarmos unidos na defesa e preservação dos valores culturais legados, salvaguardando a nossa identidade.
Atitude contraria seria, em nossa opinião absurda a quantos insinuam que a língua dos Cabindeses é o Kíkongo, queremos somente recordar que "porvir de" não significa reproduzir, procriar ou gerar.
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