Evitar uma crise global, a prioridade | ||
A 20 de Fevereiro deste ano escrevi um artigo intitulado 'Economia norte-americana à beira de um ataque de nervos', com base na sua análise dos '12 passos para a catástrofe'. Lamentavelmente, os EUA não só deram esses passos como arrastaram o mundo consigo, ainda que com a ajuda de terceiros, como o Reino Unido. O Prof. Roubini referiu mais recentemente que prevê um cenário onde se combinam estagnação e deflação. E fá-lo com um certo regozijo, visando a mais recente análise do JP Morgan Chase sobre as perspectivas globais, em tempos um dos bancos de investimento mais pessimistas do mercado. Actualmente, sob a rubrica 'Uma má semana no Inferno', o JP Morgan afirma: 'As previsões de crescimento foram, uma vez mais, revistas em baixa para os países desenvolvidos e as referentes às economias emergentes deverão, nas próximas semanas, ser alvo de idêntica revisão. Neste momento, as nossas previsões indicam que o PIB global deverá sofrer uma contracção próxima de 1% ao ano' no quarto trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009. O JP Morgan aponta para uma redução de 4% na taxa média anual para os EUA, de 3% para o Reino Unido e de 2% para a zona euro este trimestre, e estima que a taxa de crescimento global ronde, em 2009, os 0,4%, com os países desenvolvidos a sofrer uma contracção de 0,5% e as economias emergentes a crescer 4,2%. Se pensarmos que a quase desintegração do sistema bancário do mundo ocidental desencadeou uma corrida aos activos seguros, restringiu o crédito à economia real, provocou a queda dos preços das acções, uma forte turbulência nos mercados monetários, uma quebra acentuada nos preços imobiliários, a rápida retirada de fundos de 'hedge funds' e que precipitou a queda do chamado 'sistema bancário sombra', as previsões do JP Morgan até são relativamente optimistas. Com efeito, os resultados no próximo ano poderiam ser muito piores. Se os governos ocidentais não tivessem actuado para garantir e recapitalizar os sistemas bancários, a situação seria seguramente mais dramática. No entanto, também não bastou para amainar a tempestade. Analisemos duas estatísticas: a capitalização dos mercados de acções mundiais caiu para metade; e, segundo o mais recente Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Inglaterra (BoI) as perdas 'mark-to-market' de instrumentos de dívida vulneráveis ascendem hoje a uns avultados 2.800 mil milhões de dólares (2.240 mil milhões de euros). Que deve ser feito? Há quem defenda que não se deve fazer nada. Esta opinião é amplamente partilhada, especialmente nos EUA, e assenta na ideia de que o mundo precisa de purgar os excessos cometidos no passado. Por esta ordem de ideias, as recessões são vistas como algo positivo. Os defensores desta visão dizem ainda que foram os governos que estiveram na origem dos erros cometidos, sublinhando que o mercado seria incapaz de cometer os erros a que temos vindo a assistir. Para eles, a confissão de Alan Greenspan na semana passada – 'Cometi um erro ao presumir que os interesses pessoais das organizações, em particular dos bancos e outros, bastariam para protegerem os seus accionistas' – foi tão dolorosa quanto a dor que César sentiu quando Brutus o apunhalou. O mais intrigante é que o Relatório de Estabilidade Financeira do BoI sustenta parcialmente esta visão: em 1900, os bancos norte-americanos tinham quatro vezes mais capital, relativamente aos activos, do que têm hoje. O mesmo se pode dizer da liquidez dos activos detidos pelos bancos britânicos, que caiu drasticamente nos últimos 50 anos. As garantias implícitas e explícitas dos governos tornaram o sistema financeiro mais perigoso. E a combinação dessas garantias com a desregulação, mais do que perigosa, tem sido letal. O 'moral hazard' não deixa, pois, de ser pertinente. A ideia de que uma recessão rápida expurgaria o mundo dos excessos passados é perfeitamente ridícula. Espera-nos, sim, uma crise em que a 'montanha' de dívida privada – nos EUA corresponde actualmente a três vezes o PIB – se irá abater sobre nós sob a forma de falências em massa. A espiral descendente começaria com um novo processo de deterioração dos sistemas financeiros e evoluiria depois para uma subtil desconfiança marcada pelo desaparecimento do crédito, pelo encerramento de um vasto número de empresas, pela escalada do desemprego, pela queda dos preços das matérias-primas e, mais acentuadamente, dos preços dos activos, e pela multiplicação das recuperações. Em suma, a globalização disseminaria a catástrofe por todo o mundo. Muitas das vítimas estariam inocentes no que aos excessos passados diz respeito, mas os verdadeiramente culpados, esses, reteriam grande parte dos ganhos que obtiveram. Esta receita não iria reeditar a lógica do 'laisser faire' do século XIX. Iria, isso sim, atiçar a xenofobia, o nacionalismo e a revolução. Um cenário perfeitamente plausível no estado em que as coisas estão actualmente.Escolher este cenário seria o mesmo que deixar uma cidade arder apenas para punir uma pessoa que resolveu fumar na cama. Correr o risco de suportar hoje elevados danos na esperança de reduzir o 'moral hazard' no futuro é, no mínimo, uma loucura. Devemos, por isso, fazer o possível e impossível para evitar que a inevitável recessão se transforme em algo ainda pior. Jeffrey Sachs, professor na Universidade de Columbia, citou muitas das medidas a tomar num artigo publicado esta terça-feira no Financial Times. Gostaria de realçar cinco delas. Primeiro, a deflação é um perigo real, como bem sublinha John Muellbauer, professor em Oxford. Diria que é mais do que isso. A deflação é letal para as economias endividadas. As taxas de juro a curto prazo estão hoje demasiado elevadas na zona euro e no Reino Unido. Os bancos centrais têm que repensar as respectivas economias e cortar as taxas em pelo menos um ponto percentual, embora o ideal fosse uma redução de dois pontos. Segundo, a única maneira de desalavancar o sector privado sem incorrer numa vaga de falências em massa e numa queda acentuada do poder de compra é substituindo os activos que todos querem, isto é, a dívida pública. Contrariamente ao Prof. Sachs, sou daqueles que acredita que os cortes nas taxas de juro são parte da solução. Terceiro, é fundamental sustentar o crédito nas e entre as economias. Os governos, depois de se terem dado ao trabalho de recapitalizar os bancos, devem agora insistir que o seu dinheiro sirva para sustentar linhas de crédito àqueles que estejam em condições de manter a sua solvência. Se os bancos se recusarem a fazê-lo, os bancos centrais terão de substituí-los, à imagem do que já faz a Reserva federal norte-americana. Quarto, os países com elevado rendimento afectados pela actual situação devem, para proteger os seus interesses, ajudar as economias emergentes mais fragilizadas pela crise a não aumentarem a sua dívida. Por último, é mais do que óbvio que o mundo não vai recuperar o seu equilíbrio se os países com fortes posições financeiras não expandirem a procura interna. Os dias das bolhas imobiliárias e dos elevados défices na balança de transacções correntes nos países com rendimentos mais elevados e maior poder de compra chegaram ao fim. Aqueles que acreditam que os excedentes na balança de transacções correntes ajudam a sustentar a procura devem repensar a sua convicção. As decisões que forem tomadas nos próximos meses irão moldar o mundo durante toda uma geração, sendo que pode estar em causa a própria legitimidade da economia de livre mercado. Aqueles que vêem na liquidação dos excessos do passado a solução para a crise actual pecam por não ver os riscos, tal como os que sonham com uma nova ordem global. Primeiro há que sobreviver à crise. Os perigos são muitos e o tempo escasseia.
Autor: Martim Wolf Artigo selecionado pelo nosso Engenheiro Financeiro M´Bica Kailogo ZF Lido pelo leigo O Soba T´chingange |
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