CABINDA - Morte na picada
Por
T´Chingange
Em minhas madrugadas carregadas de insónias, volto a conviver com a ideia de regressar a África. À medida que vou conquistando a confiança de certos segredos, a paz e o sossego, vêm lamber com ternura as minhas feridas, trazendo-me inevitáveis estórias que nunca tiveram tempo de se sarar. Com uma luz perturbadora a iluminar-me certos detalhes, a intimidade de uma tarde chuvosa acaba por me bulir com trovões. Dependendo do tempo ou da minha preguiça fico olhando as nuvens e na brisa do vento apercebo-me que as pessoas na minha faixa de idade costumam povoar suas existências com uma infinidade de pequenos gestos ou trejeitos que parecendo inúteis são em realidade o tactear de suas próprias vidas. Os comportamentos, em realidade diferem conforme a idade.
Um direito sagrado que conquistei com a idade foi o desejo de nada fazer mas, presenteando-me de surpresas, a memória prodigaliza-me com peripécias do passado sem mágoas ou comoções excessivas. Quando se é jovem, o que acontece no mundo à nossa volta, não passa de algo secundário comparada ao que imaginamos realmente interessar; o que irá fazer mudar os nossos destinos, em geral, não é percebido com total plenitude. Essas revelações chegam muitos anos depois e, muitas vezes acompanhadas por um sabor de desencanto.
As fronteiras entre o bem e o mal no vaivém dos anos, dissipam confusos ressentimentos que em uma guerra legítima se tornam mais pessoais. Ardendo em meus infernos, ruminei minhas batalhas de consciência de quando dei ordens para se armadilhar o carreiro fiote com uma granada ofensiva presa por um fio em dois tufos de capim num lugar infestado de guerrilheiros de Holden Roberto; sucedeu num lugar chamado Cácata (Catata), perto de Tando N´Zinze entre Cabinda e o Zaire, o então Congo de Mobutu. Da explosão ouvida no quartel, resultou morrerem dois civis zairenses que simplesmente faziam candonga de mercadorias; até que podia ter dado ordens ao cabo sapador para diminuir as espirais de aço mas, tal não fiz e, daí aquelas mortes de quando em vez, sussurram-me torpeza. E, para quê tive de fazer isto em terra alheia que ainda luta por sua liberdade transcorridos que são 45 anos.
Kissanji: - Instrumento musical - tábua de forma rectangular, onde se fixam umas palhetas de metal que accionadas transmitem sons (Angola); Fiote: - carreiro de pé posto na mata do Mayombe, indígena Cabinda (semântica pejorativa)
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