DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
T´Chingange
Januário Pieter, a kianda itinerante, surgiu-me de supetão estando eu refastelado em minha cadeira de praia e á sombra de um chapéu de riscas brancas e pretas debotadas entre manchas de ferrugem. Logo, logo, ficou difuso, meio gelatinoso, tapando-me a firmeza do sol e, foi quando se definiu em firmes contornos que reparei na outra figura a seu lado, uma outra kalunga já gasta pelo tempo. Pieter levantou a mão seguindo-se-lhe um olá profundo de cavernoso e, apontando seu vizinho carcomido nos contornos holográficos de cor violeta, falou: -T´Chingange, apresento-te este mais-velho de nome Ngoli Bbondi o régulo de Matamba, irmão de N´Zinga, matumbola desde o ano de 1618 que vem visitar o lugar da serra da Barriga, sossego de um seu sobrinho Ganazumba.
Ngoli Bbondi irmão de Aqualtune vinha como um romeiro prestar vénias a Ganazumba e, dar-lhe o reconhecimento devido como um verdadeiro diplomata na senda de protecção ao povo saído de N´Gola. Ganazumba foi decapitado por seu sobrinho Zumbi que se tornou o rei do Morro dos Macacos. Ngoli andou estes milénios todos roendo angústias por não poder tomar sentido nesse desencontro de gente escrava saída do seu povo por ter sido derrotado na lonjura do tempo pelas forças comandadas por Luís Mendes de Vasconcelos.
Tenho de explicar que Ngoli veio lá de trás, do tempo em que as pessoas eram vendidas como coisas trocadas por n´zimbos e caurins para e, como escravos trabalharem para seus senhores, donos de engenhos de açúcar ou cacau. Ngoli, apresentava-se um pobre-diabo carcomido na desilusão, pendurado em peles e, cheio de hemorróides. Via-se totalmente desprovido de recursos e vegetava longevidade gravitada à sombra de Januário Pieter, meu velho amigo de há mais de trezentos anos. Devorado na implacável amargura perguntou-me se sabia do acontecido a Ganazumba. Antes mesmo de eu começar a falar, Ngoli explicou-se de que este dia vinte de Novembro era o escolhido por romeiros do além e de África visitarem os espíritos de seus antepassados.
Espíritos irrequietos por terem sido trocados por seus próprios sobas, por quinquilharias e missangas a negreiros. Já todos sentados com as unhas a amolecer no verde-mar da minha praia, abreviaram a pressa e, como chegaram assim se foram enfunados no vento de bolina, o mesmo que moveu as caravelas dos negreiros. Sem rasto, nem fumo poluente, seguiram o rumo dos antepassados lá para o Morro dos Macacos. Eu, fui somente um interposto informativo, cumprindo regras de soberania, pró-formes modernos.
Kianda (Quimbundo de N´gola): Espírito, sereia, kalunga de contos africanos, miragem das águas, visão das lagoas
Januário Pieter*: Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
O Soba T´Chingange
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