FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Foi no dia da Mulher,...
Eram grilos, cigarras ou tensão desmedidamente descontrolada, zunindo insistentemente nos ouvidos; será vento será chuva e, … o cão, uivando, a rã coaxando, até que o dia chegou. Ás seis da manhã as cores são mais azuis e as nuvens mancham o mar de escuras sombras.
As cadeiras, chapéus e mesas iam surgindo ao longo daquela língua de areia que crescia conforme secava a maré na “Beach do Francês”.
Uma senhora gorda, idosa, furava a areia, contorcendo o suporte da sombrinha num vai vem de vice-versa até completar a correcta fundura. A verticalidade mais o vento teimoso, exigia fundura apropriada.
A senhora, tinha uma perna branca e outra preta; isto não podia ser,… fugia das características habituais,... não era tão normal assim. Com curiosidade, fui-me acercando até que pude definir uma prótese, branca e mais fina, desajustada na forma e estrutura; o sapato também desdizia com o resto e, fiquei com muita admiração. Desejei que as suas bóias fossem todas alugadas p´ra suprir carências tão óbvias.
Não havia dúvidas, a senhora não tinha uma perna e sobrevivia alugando inflados pneus de carro, a baleia às riscas e o golfinho azul, aos pivetes que surgiam pela mão de seus pais.
A vida não é fácil neste paraíso, esfregam-se ternuras com prótese, para encanto de tantos que nem dão por isso; aquela perna branca e fina era tão parte integrante da senhora que a vi coçar como se um mosquito a tivesse picado; como é possível, tanta familiaridade no apego àquilo que é nosso.
Já sentado no patamar do “Tarrafas bar”, acarinhado na sombra dum coqueiro de folhas, podia ouvir a cantoria dum sabiá misturada numa insistente sinfonia de um bem-te-vi; estes e o mar conjugavam-se numa melodia com ondas sonoras chocando o recife e, logo depois, beijando a areia em suave batimento.
Era a música da vida, um arrastar de cadeiras, um estalar de dedos tamborilados, um encher de bóia a sopro arrepiado; era um novo dia que começava para a Malu, o seu acarajé quentinho e, uma leva de gente a embarcar no Massunim I, barco de recreio e passeio. O ladrar do cão não condizia com o lugar mas este, lambuzava-se na água, de rabo a dar a dar, gania para o dono e, peneirando o corpo, salpicava o ar com vaidade de cão finório.
Chapéus, mesas e cadeiras de todas as cores surgem preenchendo o branco da areia, tornando a vista multicolor com salpicos de tralhas e tarecos, caixas de isopor do coco frio, e caixas rolantes com ananases balouçando, outras com música de forró e o sempre presente” picolé caseiro caicó”. Um coco flutuava na borda de água e, no descer e subir dava piruetas de natural mestria, mais à frente um pescador atento às aguas lançava a rede que, depois de fazer círculo e penetrar na água, quase sempre trazia uns peixes agulhinhas.
As sete mulheres deitadas ou sentadas iam-se rebolando para o bronze ideal, lambuzando-se com movimentos provocatórios ou talvez não, mas parecia sê-lo, naquele sol das dez horas; uma delas já dentro de água adorava o sol de mãos espalmadas para o céu; impregnada de Iemanjá fazia reluzir o brilho das mortiças ondas.
O capitão tanguinha do, “mar e céu”, descrevia feito um raizeiro, perito quimbanda, as virtudes do chá doutorzinho e uma catrefa de técnicas de embelezamento com unguentos da tradição índia; falava dos seus inventos voadores, pois um dia, lá no sítio, observou uma folha de amendoeira (figueira da Índia) caindo fazendo rocambolescos desenhos o que, o levou a inventar um pássaro que movia as asas e subia, subia como só ele sabia fazer. Vendeu a patente a um português que surgiu na praia que após uns entretantos e, alguns reais, levou o seu “isopor” voador para Lisboa.
Nesta praia funcionam as regras de “entre amigos” alugando os barcos em rodízio. Parados no curto horizonte estão os barcos Corais bar, o Maiara e o Massunim II.
Como é bom curtir a vida de três peixinhos, no dia a dia. As sete mulheres entrelaçadas em suspiros e ai-ais foram ao “Restaurante Pato” da Massagueira festejar o seu dia.
Uma nuvem prometendo chuva alçou-se comigo no instante de abalar.
Coisas do brasil, pelo soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA