FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MEMÓRIAS PETREFICADAS – 2ª parte
Aqueles m´fumos, eram emissários da rainha N´Zinga M´Bandi da Matamba e do rei do Kongo Garcia II que, embora sendo cristianizado pelos Portugueses, com eles se desentendeu após a chegada dos Olandêses pois que, estes lhes prometeram mundos e fundos. Eram preparativos duma união para fazerem o grande e final assalto a Massangano. Naquela fortaleza os Tugas resistiam aos Olandêses tapando-lhes as vias de comunicação ao mercado de escravos lá do interior, o mato de que estes Mafulos tinham tanto medo.
Os Mafulos, a todo o custo, queriam manter o negócio das peças m´bikas pois que Pernambuco estava carente de braços para fazer o cultivo da cana de açúcar e fazer andar os engenhos, por isto, mantinham com os Portugueses um quase pacto de negócio mantendo-os como principais fornecedores de peças. Eram as ordens que vinham do Conde Maurício de Nassau a partir de Olinda. A política comercial da Companhia das Índias Ocidentais... o lucro.
Interrogando-me de como era possível aquele velho manter-se tão lucido, agora, um pouco mais refeito da surpresa, resolvi perguntar-lhe como é que seu pai estando do lado dos Olandêses se dava tão bem com os Tugas ao qual, me deu resposta.
- Em verdade, o meu pai que já era tenente (isto já o tinha dito,... uma repetição admissível para um kota tão velho) para além de militar mantinha um negócio de venda, peles, mel, fabrico de cal e peixe seco em salga própria. Por tudo isto não via com bom jeito estrangular o negócio dos Tugas que como ele eram cristãos n´gwetas e parceiros já com algum tempo. Minha mãe N´ga Maria Káfutila de linhagem nobre do reino do Kongo ajudava meu pai na quinda do mercado da paliça vendendo malavo e quitoto ou permutando com os indígenas ou n´gwetas produtos da terra como ginguba e fuba de mandioca. A fuba originava um prato apetecível chamado de funge, um preparo a partir da mandioca. Mais tarde começaram a fazer uso das folhas do pau de mandioca que era passada por cinco fervuras para anular o veneno da coisa e a isto chamaram Saka-saka que impregnada de azeite de palma deu origem ao prato mais típico dos Kaluandas, a moamba. Foram os Portugueses que a levaram do Brasil mas além de tudo isto, havia espelhos, jinguba, catanas, tesouras, ancinhos em ferro e muitas outras bugigangas e utilidades modernas que chegavam do Puto, da Bahia, Pernambuco ou Antuérpia. Os Libongos, uns panos garridos eram os mais apetecidos pois permitia vestirem-se, uma coisa quase inusitada e a que os sobas recorreram como moeda de troca em substituição das conchas de n´zimbos, moeda já de pouca utilidade prática.
- Uma grande novidade era o uso de sapatos feitos em couro de tiras entrelaçadas, e que mereceu atenção especial por parte dos kamondongos alforriados que passaram a proteger seus gretados pés.
- Os Portugueses e Jagas dos Dembos, Kissama e Manhanga eram os principais clientes da família Pieter conferindo-nos um afecto especial de amizade
- No decorrer do tempo, fui ficando mais kota e meu pai ordenou-me que ficasse a tomar conta da salga e seca de peixe seco ajudando nas contas o capataz, cafuzo da Mazenga de nome Beto Feliz mas, um pouco matumbo. Os pescadores saíam nos n´dongos a pescar, dia sim dia não; apanhavam kimbijis, carapaus e caxuxos que eram depois escalados em mesas compridas feitas de paus espetados na areia e ligados com ataduras de mateba; depois passavam para umas celhas de salmoura aonde ficavam algum tempo sendo depois levadas em quindas para outras mesas aonde permaneciam ao sol até ficarem com alguma dureza. Após todo aquele processo, uma parte era posto à venda na loja da mãe Maria e uma outra, era enfardado com atilhos de mateba ou piteira e guardadas em uma casa até que os pombeiros e suas tropas o levassem. De tempos a tempos organizavam saídas ao mato formando filas enormes com m´bikas transportando à cabeça esses fardos pesados além de outras mercancias como panos libongos e aguardente do Puto a serem trocados por escravos.
......Continua – 3ªParte ......
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