FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O Pieter tomou conta de mim
Ufa!!! A kianda feito gente assombrada de nome Januário fazia-se aparecer vindo do nada. Refastelou-se no bote, andava eu ao longo do “Rio Loir” descobrindo Bonneval, um vilarejo no meio de vastas áreas de cultivo. Mais uma vez a adrenalina escorreu-me para os olhos, nas faces, nas pernas, abanando os sentidos da cagufa. Aquele surgimento, um quase relâmpago mexia comigo.
- Découvrez Bonneval en bateu, disse ele num fluído francês.
Após o susto do caraças e para desentorpecer o impacto, o mais velho que a Sé-de-Braga Pieter, dizendo recordar coisas recentes, num repentemente começou a cantar:
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo,
O esplendor de Portugal.
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Fiquei embasbacado daquele cafuzo, feito branco pelo tempo com 384 anos cantar com todos os decibeis do seu timbre grosso o hino dum povo que nem era seu.
Sabes, disse ele: - Tenho um fraco pelos hinos porque enaltecem os revoltosos, o amor pela liberdade, a Marcelhesa e, repentinamente ficou de voz travada, emocionado, sentia-se no queixo repleto de branca barba. E eu, verdadeiramente quero mostrar-te a gratidão por me suportares.
Fiquei convencido que ele me considerava um Tuga mas, em realidade eu só me sentia cidadão do mundo. O meu hino é o cantar dos pássaros, a pega que palra, o cacarejar da galinha, o grasnar do pato, o grito da hiena, o urro do leão e um sem fim de seres mais o barulho das ondas; só pensei,... nada lhe disse.
No meio desta emoção descompassada, mal entendida, continuou:
- sabes, este hino foi provocado pelo ultimato de 1890 que os inglêses lançaram ao Puto quando estes queriam unir Angola a Moçambique fazendo o tal Mapa-Côr-de-Rosa; governava então D. Carlos de Bragança.
Tinha de ser,... Angola estava metida nisto. Aqui entendi melhor aonde o mais-velho queria chegar; era daqui que lhe vinha o ímpeto. E continuou:- recordo-me que uma onda de cólera percorria o Puto de Sul a Norte e, nesse periodo de emoções e ânimos mal contidos um tal Henrique Lopes de Mendonça foi procurado por um seu amigo Alfredo Keil. Este agita nas mãos uma pauta de música: era uma marcha própria para que a alma Portuga desabafasse a sua revolta perante tal humilhação recebida dos inglêses. Henrique de Mendonça fez o librete.
Entendida a mensagem, acabo por trocar impressões com Pieter.
- A fonte da inspiração para esta música foi o fado, a Marselhesa e a Maria da Fonte; o fado , a canção do povo e a revolta contra o despotismo enaltecido na Marselhesa, a vibração e amor pela liberdade com Maria da Fonte.
E acrescento: - O povo Tuga aprendeu a letra e tomou-a como seu hino chamando-lhe “A Portuguêsa”. Angola que foi uma razão forte para a execução deste hino, a primeira coisa que fêz foi partir a estátua da Maria da Fonte no Quinaxixe e em seu lugar colocar um tanque de guerra. O peso da consciência dos novos governantes, talvez, com sérias duvidas, levou a que o tal tanque da guerra fosse substituido por uma quitandeira. O remendo tapou o erro. Os Tugas é que deveriam agora mudar o hino pois já não conjuga com as novas politicas de roubo e despilfarro nas grandesas dos antigos.
- E, também já não existe o cazumbi e kianda daquela lagoa do Quinaxixe.
Pieter pós-se de pé desequilibrando o barco e bateu palmas efusivamente. Quase iamos para o charco e, falou: - Meu, é por isso que te apareço quando me dá a saudade, tu falas o meu linguajar e, de novo bateu palmas. Mazé, os Tugas têm mesmo de mudar o hino! Contra os cazucuteiros, marchar, marchar!
Este mano Kota de Cabo Ledo está a surpreender-me,... Háka!
Claro que fiquei embasbacado no meio do Loir. A vida tem destas coisas!...
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