Sábado, 2 de Junho de 2018
A CHUVA E O BOM TEMPO . LXXXV

DESCOLONIZAÇÃO DO IMPÉRIO  DO M´PUTO . SINTESE – II

DESCOLONIZAÇÃO - (Continuação)

kimbo 0.jpg As escolhas de T´Chingange

Porcanhot1.jpg António José Canhoto...  Um polémico cronista saído da Luua, que tem o diabo à perna...

Quando escrevi o texto (Síntese.I) sobre o titulo em epigrafe escalpelizando o papel de Mário Soares no processo de descolonização não pretendi ilibar todos aqueles que no palco deram a cara, mas sim acusar todos aqueles que permaneceram por detrás da cortina puxando os cordelinhos ou fazendo o papel de “PONTO” que é aquele que escondido num alçapão do palco lembra aos artistas as suas falas e deixas do texto ou guião da peça.

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No caso da descolonização a peça deveria ter tido pelo menos 3 actos, mas infelizmente tudo se resumiu a um só, tendo os artistas sofrido uma enorme pateada e insultos vendo-se obrigados a abandonar o teatro pela porta do cavalo tendo sido ao longo de 40 anos vituperados pelo seu catastrófico desempenho. Não me compete a mim escrever a história sobre essa mancha negra que ensombra o período politico que Portugal atravessou entre 1974 e 1975, contudo quem já o fez de forma isenta foi-lhe fácil encontrar os responsáveis.

vasco gonç.0.jpg Quando iniciei a feitura do texto, já pressentia que iria abrir uma “Caixa de Pandora” e muita gente se iria atirar a mim como gato a bofe. Surpreendentemente o texto foi bem aceite pela grande maioria, mas houve pessoas que o descontextualizaram sem terem tido a capacidade de separar a missão politica de que Mário Soares foi incumbido de realizar atribuindo a este senhor todos os problemas pessoais que afectaram os “colonos” na sua generalidade.

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A minha crónica foi feita depois de muita reflexão e pesquiza e para quem não saiba o processo de descolonização foi desenhado pelo ideólogo do grupo dos 9 o major Melo Antunes que foi a eminência parda marxista do Movimento das Forças Armadas (MFA). Óbvio que a grande maioria dos retornados teve de encontrar alguém para descarregar as suas frustrações e Mário Soares foi o homem escolhido como ministro dos negócios estrangeiros do governo provisório bem como António de Almeida Santos ministro da Coordenação interterritorial, para darem a cara como forcados e pegarem os 2 touros mais perigosos de nome Angola e Moçambique.

spi0.jpg Em consequência de os touros terem sido mal lidados e estarem ainda cheios de energia ambas as pegas falharam e os touros desembolados ficaram incontroláveis. Os pegadores viram-se forçados a arcar com todas as responsabilidades de uma “corrida” programada em cima do joelho e a martelo sem acautelar a integridade física dos aficionados. Em 22 de Fevereiro de 1974 O general António de Spínola publica o livro "Portugal e o Futuro" pouco mais de um mês depois de ter sido empossado como vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

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As páginas do livro abriram um fosso de incompatibilidade com o primeiro ministro da altura Marcelo Caetano que afirmou tratar-se de um verdadeiro "manifesto de oposição" ao regime e de um golpe militar anunciado o que efectivamente veio a acontecer semanas depois. Na sequência da publicação do "Portugal e o Futuro", e perante a recusa dos generais Francisco da Costa Gomes e António de Spínola, os dois principais chefes militares do país em prestar vassalagem a Marcelo Caetano, tanto Spínola como Costa Gomes são demitidos a 14 de Março.

soares1.jpg A 25 de Abril de 1974 os capitães do Movimento das Forças Armadas levam a cabo o golpe militar que liquidou o regime do Estado Novo tendo escolhido uma Junta de Salvação Nacional para preparar a transição do país para um regime democrático. Na madrugada de 26 de Abril de 1974 Spínola é anunciado como chefe da Junta Militar e, a 15 de Maio, toma posse como primeiro Presidente da República do pós-25 de Abril.

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A História e o movimento revolucionário avançaram muito rápido para uma esquerda marxista radical contra a qual Mário Soares ferozmente lutou. O livro publicado por Spínola constituía um poderoso repto ao regime do Estado Novo. Basicamente afirmava que as guerras coloniais, que duravam desde 1961, não tinham solução militar, sendo imperativo que a Nação debatesse o problema. Spínola tinha ideias muito concretas de como o processo de descolonização se deveria processar as quais dissecou pormenorizadamente no seu livro.

rev8.jpg Spínola acaba mais tarde por se demitir como Presidente da Republicam quando se sente atraiçoado pelos seus camaradas de armas e pela forma de como o processo revolucionário e de descolonização que tinha sido esquematizado por Melo Antunes o qual o grupo dos 9 pretendia implementar. O traidor não foi Soares, mas sim a Junta Militar e o governo provisória infestado de esquerdistas comunistas, que governaram Portugal a seu belo prazer tendo em Vasco Gonçalves o seu expoente máximo.

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A situação só começou a mudar quando a feitura da nova Constituição Portuguesa deu origem às primeiras eleições livres em Portugal, as quais só aconteceram em 25 de Abril de 1975 para a eleição dos deputados para a Assembleia Constituinte. Conforme disse no meu texto (Sintese.I) todo o processo de descolonização foi uma aberração e as consequências do mesmo devastadoras e traumáticas, mas esse não foi o objectivo do meu texto, mas sim desvendar quem puxou os cordelinhos fazendo de Mário Soares e os seus pares os peões de brega, aos quais foi incumbida a triste sina de levar a cabo uma tarefa odiosa que todos sabíamos pelo andar da carruagem que iria acabar mal.

rev7.jpg Os verdadeiros traidores de Portugal não aparecem nas fotos de Argel, Lusaca ou Alvor, por ocasião das assinaturas dos acordos ou tratados de independência. Sejamos honestos e não assaquemos culpas nem manchemos com o labéu de traidores ou ladrões todos aqueles como Almeida Santos, Costa Gomes, Mário Soares e outros que pelas funções governativas que ocupavam ao tempo personificaram a função de carrascos no processo de descolonização.

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Todos os países com impérios coloniais Inglaterra, França, Holanda e Bélgica concederam as suas independências no principio dos anos 60 e hoje têm óptimas relações com os países que colonizaram, infelizmente os nossos políticos não tiveram a mesma visão e prolongaram no tempo e no espaço um desfecho que a partir de 15 de Março de 1961 passou a ter os dias contados.

António Canhoto 12-1-2017



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:21
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Quarta-feira, 30 de Maio de 2018
A CHUVA E O BOM TEMPO . LXXXIV

DESCOLONIZAÇÃO DO IMPÉRIO  DO M´PUTO . SINTESE - I

::As escolhas de T´Chingange

Por

canhot1.jpgAntónio José Canhoto...  Um polémico cronista saido da Luua, que tem o diabo à perna...

Todos os portugueses, onde me incluo, que viveram nas ex-colónias portuguesas e que sofreram na pele o processo de descolonização, atribuíram as culpas ao ministro dos negócios estrangeiros da altura Mário Soares que se finou há um ano, para gaudio de muitos dos retornados e para pesar de muitos democratas. Foi Mário Soares pelo cargo que ocupava na altura que carregou e conduziu o referido e complicado dossier do processo de descolonização que ficará como uma das mais tristes nódoas na história de Portugal.

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As tendências ideológicas marxistas que o processo revolucionário em Portugal atravessou não auguravam um desfecho feliz para os residentes nas províncias ultramarinas. A pressa era muita e, de modo que Mário Soares foi encarregue de atalhar e encurtar caminhos e forçado a abreviar o calendário das independências para o ano de 1975.

áfrica19.jpg As conversações para esse desiderato começaram de imediato com os líderes dos movimentos independentistas das colónias Portuguesas em Africa, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola tendo como interlocutores Luís Cabral, Samora Machel, Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi. A independência das colónias portuguesa em África iniciou-se em 1973 com a declaração unilateral da República da Guiné-Bissau pelo PAIGC que foi reconhecida pela comunidade internacional, mas não pela potência colonizadora o que só aconteceu nas negociações de Argel em 25 de agosto de 1974, seguido de Moçambique em Lusaca a 7-9-1974 e do Angola no Alvor a 15-1-1975.

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Logo que Angola e Moçambique obtiveram oficialmente as suas independências instauraram um regime de partido político único pró-soviético, enquanto em Portugal, o modelo socialista pós-revolução era progressivamente abandonado, dando lugar a um regime democrático. Só um tolo ou imbecil poderia pensar que seria possível a manutenção de uma guerra colonial em 3 frentes até aos dias de hoje, para assegurarmos a continuidade dos privilégios de alguns em África intemporalmente.

ama3.jpg Os grandes coveiros e responsáveis da repatriação dos mais de 750 mil portugueses naturais e colonos que ao tempo residiam em Moçambique e Angola não foi Mário Soares, mas sim, Salazar e Marcelo Caetano, pois a descolonização das nossas colónias deveria ter sido iniciada nos finais dos anos 50 antes de se ter iniciado o terrorismo em 15 de Março de 1961 em Angola pela UPA, em 24 e 25 do mesmo ano em Setembro pela Frelimo em Moçambique e finalmente em 23 de janeiro de 1963 na Guiné.

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Se o processo de descolonização tem sido feito atempadamente de forma ordeira cívica e civilizada assegurando a permanência dos europeus nas colonias, a revolução do 25 de abril de 1974 apenas tinha tido efeitos práticos ou visíveis em Portugal continental. Mário Soares estava manietado e limitado pelas directrizes imanadas pelo Conselho da Revolução e pelo desejo que os militares tinham em baixar as armas o mais depressa possível e abandonar África á sua sorte.

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O governo provisório da altura em Portugal estava em conluio com os líderes independentistas uma vez que defendiam a mesma ideologia politica, portanto Mário Soares muito pouco poderia ter feito para alterar o “status quo” dos eventos catastróficos que o processo de descolonização atravessou. Mário Soares foi um intermediário facilitador que seguiu um programa que lhe foi imposto, mas não o ideólogo do mesmo.

dyo2.jpg Eu sei e compreendo que a grande maioria dos retornados atribuem a Mário Soares toda a culpa da descolonização, pois acabou sendo o bode expiatório e o alvo mais fácil para arcar com as culpas devido a sua liderança nas negociações. Do contexto político vivido em Portugal destaca-se a divergência entre o então Presidente da República (PR), António de Spínola, e a Comissão Coordenadora (CC) do MFA em relação ao modelo de descolonização a seguir e que teve repercussões negativas nos processos de negociação e nos posteriores acordos de independência com os movimentos independentistas.

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A descolonização portuguesa dos territórios ultramarinos em África constituiu um dos aspectos centrais da política portuguesa após o 25 de Abril, tendo tido consequências sociais profundas em Portugal. Quando Mário Soares entabulou negociações com os líderes nacionalistas de Angola e Moçambique com vista á independência dessas colónias fazia parte como ministro dos negócios estrangeiros de um Governo de Transição empossado pelo MFA sem a legitimidade do povo português, pois ainda não tinham havido eleições gerais em Portugal nem sequer tínhamos uma nova Constituição aprovada que lhe outorgassem a legitimidade para assumir essa decisão histórica particularmente nos moldes em que foi feita.

spi3.jpgMARIO1.jpg Não tenho a veleidade, ousadia ou arrogância de colocar Mário Soares sozinho no banco dos réus, nada me move pessoal ou particularmente contra a sua pessoa, muito embora tenha deixado em África terra onde nasci tudo o que construí com o suor do meu rosto. Tenho a capacidade de separar o trigo do joio e fazer uma análise lucida e racional dos acontecimentos sem cegueiras ou fanatismos e atribuir as responsabilidades históricas a quem de facto as teve 20 anos antes de 1975, bem como no período pós-revolucionário. Se Portugal tem tido líderes com visão estratégica e politica para terem iniciado o processo de descolonização na época adequada teriam preservado a permanência e a continuidade de todos os colonos suas famílias e descendentes nesses territórios.

(Continua…)

António Canhoto 11-01-2017



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:22
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Sexta-feira, 27 de Abril de 2018
MUXIMA . LXX

UMA ANTIGA MUKANDA

Ando desmilinguido nas falas – 27.04.2018

Por

soba0.jpeg T´Chingange - No Nordeste brasileiro

Subjugado à nobreza do acaso processei um mar de sensações, novas amizades. Adão, lá no paraíso, comeu a maçã da árvore da tentação; Eva deu-lhe a maçã, o fruto proibido do jardim celestial e, desse pecado original, ficou-lhe um caroço no pescoço que o distingue da mulher na sua anatómica forma. Até hoje ninguém sabe ao certo se era branco ou preto. A Eva sai maltratada coitada! Dizem que foi o assédio de Adão que transtornou o Mundo…

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Os conceitos do mundo actual, valores, crenças e as histórias da avozinha, não são mais as mesmas; o ontem fica cada vez mais distante e, o que então era proibido, hoje já o não é mais. Agora temos o FB - É a evolução! Hoje mesmo, bem cedo, disse que a partir de agora não sou mais branco! Branco é a cal do muro da frente! Andam com coisas e leis enviesadas de que chamar preto é ofensivo. Ai é!? E, branco não?

himba1.jpeg Inventaram que o preto agora e, para não ofender vai ser de Afrobrasileiro, Afroportuguês, Afrocantonês; tudo por causa do preconceito. Pois então quero que se refiram a mim e meus filhos como aqueles afrobrancos! Não somos nenhum monte de cal! Quero os meus direitos, talqualmente! Andam para aí a inventar coisas de negatividade porque negro é um monte de carvão e edecéteras muito estapafúrdios. Que nas escolas vão ficar reservados xis lugares para afros e, porque, coisa e tal… Será melhor então no mínimo chamarem-me de euroafricano.

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Sem amigos, é um céu sem andorinhas. Estes governantes andam a chamar nomes ao Adão! Mas, vamos ao que interessa; convosco, exploro os recantos da amizade para fazer da vida um espectáculo. Querendo extrair alegria das pequenas coisas da vida, recusei várias armadilhas duma efémera fama. Fugindo sempre dessa escravidão, mantive a auto estima elevada recusando ser um modelo doentio de snobe imagem dum reflexo petulante.

colo1.jpg Em criança sofria pela timidez exacerbada que tinha; levou muitos anos a sair dessa claustrofobia dizendo a mim mesmo que o pior inimigo que tinha, era eu próprio! Deveria gerir os meus pensamentos de forma a não ter medos mas, nada disso acontecia até conhecer as agruras de se ser emigrante. Falando portunhol e coisas caricatas como gestos os dias correram. Podem imaginar-me fazendo caretas com a língua de fora a espetar dois dedos como cornichos e dizer muuhmuuuhm para pedir um bife de vaca lá nos esteites (EUA).

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No decorrer dos anos, fui dominando a timidez, rindo dos meus anseios e outros absurdos obstáculos, aprendendo sempre coisas novas com uma curiosidade libertadora. O saber não ocupa lugar e, adquirindo isso, soltava a depressiva visão de mim próprio encorajando-me: Tu não és besta! Isto muitas vezes repetido foi ficando verdadeiro…

mutopa2.jpg Que ninguém tenha a veleidade de pensar que pode controlar o ciclo da vida, e muito menos sair vencedor das batalhas que com ela temos desde que somos trazidos ao mundo. Podemos sim, ganhar algumas delas, mas a guerra final, essa sempre a perdemos na hora em que nos finalizamos! Aprendi isto com Canhoto, um tipo a viver no Algarve assim a dar pró anarquista e ateu até ás raízes mais profundas da sua coexistência.

paiva5.jpg Lutar sempre contra qualquer medo, contrariando-o, adquiri tranquilidade no meu registo de memória e emoções. Convosco tenho compartilhado o passado que não se desvia do meu caminho, os sonhos e metas duma simples vida. Rejeito a teoria do esquecimento! Aliás já nem acredito em teorias! Uns querem que seja santo, outros que me faça escritor e outros ainda andam a tapear-me com palavras do um de maio… Encarquilhado num feitiço louco, aproprio-me do vento num qualquer arraial para viver a Kizomba! Estamosjunto!

O Soba T´chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:52
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Quinta-feira, 15 de Março de 2018
MALAMBAS . CC

NAS FRINCHAS DO KALAHÁRI - KIMBELEY –  2ª de IV Partes

- EM VIAGEM NO XOXOLOSA TREM - 28.08.2018Nas frinchas do tempo e atravessando o Karoo, olho o deserto pela janela do mukifo…

Por

soba15.jpg T´Chingange - No Nordeste brasileiro

Estamos a 15 de Março de 2018. Passando a limpo meus gatafunhos do baú do Karoo, revejo o Karoo National Park da janela e, do lado direito do trem. Viajar neste trem é um restolhar de vivências diferenciadas de outras. Beanfort West deve ser a cidade aonde os farmeiros destas vastas zonas do grande deserto Calahári se abastecem. Poço ver de quando em vez, avestruzes livres correndo, como que fazendo competição com o trem.

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Os semblantes de gente negra daqui têm perfil de hereros, quase brancos há mistura com os khoisans, bushmens magrinhos, baixos e secos de carnes encortiçadas pelo agressivo ar quente do Karoo quando dia e frio de queimar pestanas de noite. Ontem à noite, ao despedir-me dos auxiliares do Rust camp Alfa One de Warrengton, o Mandla chofer sul-africano e do pedreiro Fabiano moçambicano; como agradecimento dei a cada um, uma gasosa de 150 rands (10 Euros).

xoxolosa1.jpg O agradecimento deles foi bem rasgado e o dinheiro foi posto na mão estendida com os dois braços esticados; o esquerdo suportando com a mão, a parte inferior do direito no antebraço. Quem nunca saiu da europa não entende este propósito; isto significa na cultura dos povos bantus respeito e gratidão por quem lhes dá atenção ou admiram. Só por isto, senti-me abençoado…

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Fiquei contente por regirem assim pois que sempre passamos dez dias em proximidade, suportando o frio da noite, a água gelada nos tubos pela manhã, o pôr a trabalhar o gerador entre outras sensações de ouvir os chacais a rir, salvar patos-reais vindo do capim nas bordas dum rio afluente do Orange River. Africanos pretos tendo um patrão também africano, um branco nascido no mato de nome Lourenço, lá nos arredores de Benguela de Angola. Um entre muitos que saíram de sua terra na altura do TUNDAMUNJILA. Até agora nenhum dos mwangolés os convidou a regressar… Gente de túji mesmo!

IMG_20170823_114812.jpg Momentaneamente e por curto espaço de tempo, T´Chingange descendente dos Celtas Lusitanos e Turdetanos, Niassalês por opção, candengue camundongo, Maianguista de bairro na Luua, brasileiro por escolha e Tuga por condição, foi o patrão interino de Mandla e Fabiano.  Via telefone recebi um recado SMS da empresa estatal dos Xoxolosa Trem a dizer que nosso manager da carruagem 9 era o Senhor Silas N´Goiana; o mesmo que nos indicou o mukifo com a letra F.

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Na europa estes procedimentos são abreviados com talões previamente furados antes de entrar na carruagem que depois serão observados pelo revisor. Pois volto atrás para descrever que ontem e faltando quinze minutos para as dez horas da noite, estando vários grupos de pessoas na sala para embarque a senhora do guichet saiu dele para avisar grupo por grupo que o comboio estava nesse momento em Warrengton que fica a uns sessenta quilómetros, região de onde saímos – isso, do  Rust Camp Alfa One.

IMG_20170823_140827.jpg A funcionária fardada a rigor e com chapeu de oficila dos Caminhos de Ferro acrescentou que o Bleu Trem iria demorar uma hora até esta estação de Kimberley; assim aconteceu! Mas estivemos aqui parados uns cerca de 25 minutos pelo que só saiu às 11.20 horas PM ou seja, duas horas mais tarde do que estava assinalado, This is áfrica! Copiaram!

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Aqui tudo é possível e, ninguém reclama; isto confunde qualquer um, até mesmo um cristão da Mauritânia ou testemunha de jeová da Ilhas Maurícias! É mesmo a passividade de quem vive um dia a seguir ao outro, num seja o que Deus quiser. Naquela sala de embarque, eu, Ibib e Ritinha eramos os únicos brancos na cor; Nos dentes eramos todos, aleluia!  Haja Deus, ámen!

IMG_20170823_134528.jpg Isto era-me estranho e, até comentei porque, que se saiba Kimberley nos primórdios e com a descoberta do maior diamante do mundo esta cidade só tinha brancos; claro,  gente vinda de todo o mundo – aventureiros americanos, ingleses, escoceses e até brasileiros. Gente habituada a fuçar a terra com o fito de ficar ricos; a maior parte trocava sua fortuna por uma noite prendada com mulheres que tinham antes do coração duas volumosas mamas a protege-lo…

IMG_20170823_123725.jpg Tal como o Xoxolosa Bleu Trem, tenho de andar lento na descrição da viagem porque se falhar alguns pormenores, ninguém irá achar graça ou interessante. Lá atrás na cidade de Kimberley percorri a cidade de então construída em fins do século XIX ao redor do grande buraco Big Holl. Bem ao jeito do faroeste americano vi saloons, bancos, sapatarias e oficinas com carros e ferradores co mais uma catrefada de coisas que o tempo eliminou. No restaurante pude comer tortilha com Tiboon (bife de boi tendo um boi de grandes cornos a olhar-me insistentemente. O conhecer do mundo, suas coisas e bizarrias dão-me um prazer infindo…

(continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:58
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Segunda-feira, 11 de Dezembro de 2017
MALAMBAS CLXXXIII

MOKANDA DO DIA – 10.12.2017Tukya I . Peixe da chana - Apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo . É o nosso pensamento que cria a nossa realidade…

Por

t´chingange2.jpgT´Chingange

Na voragem dinâmica da vida, procuro actualizar-me no dia-a-dia e, ao longo da minha vida registei em meus arquivos de memória muitas notas, alguma que nem quereria registar mas, nem sempre as borrachas do tempo e da singularidade do facto se destroem com um estalar de dedos. Em África também há rios que se apagam na terra, nunca chegam ao mar como o Cuando e o Cubango que formam o Delta do Okavango ou o Etosha Pan e outros que desaguam em desertos de areia fina e, que em tempos foram pântanos ou lagos rasos.

etosha4.jpg O Etosha Pan, é um lago seco de 120 quilómetros formando o chamado Parque Nacional Etosha, um dos maiores parques da vida selvagem da Namíbia. A vasta área é principalmente seca, mas após uma chuva forte, ela adquirirá uma fina camada de água, que é fortemente salgada pelos depósitos minerais na superfície desta grande panela. O Etosha Pan é principalmente lama de barro seco dividida em formas hexagonais que à medida que seca, racha, e raramente é vista com uma fina camada de água cobrindo-a.

etosha6.jpg Foi no Etosha que vi a maior diversidade de animais. Supõe-se que o rio Cunene alimentasse o lago em idos tempos, mas os movimentos tectónicos da placa ao longo do tempo causaram uma mudança na sua direcção, resultando em um lago seco e deixando a referida panela salgada. Agora, o rio Ekuma, o rio Oshigambo e o rio Omurambo Ovambo são a única fonte sazonal de água para o lago.

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Tipicamente, pequenas águas do rio ou sedimentos atingem o lago seco porque a água penetra no leito do rio ao longo de seu curso de 250 quilómetros, reduzindo a descarga ao longo do caminho. Estas vastas zonas de poucos declives formam as chamadas planícies africanas, chanas ou anharas de clima extremamente seco. E, o curioso é de que a esta mesma latitude e para o lado poente temos os desertos junto a costa do Sul de Angola e Norte da Namíbia que são banhadas pela corrente fria de Benguela.

etosha2.jpg Refiro a corrente fria de Benguela porque constitui um dos mais importantes factores de moderação climática desta zona de África com introdução na fauna as focas e pinguins transportados em icebergues que vindos da Antártida aqui são largados. No Namibe, Tômbua, Baia dos Tigres e a Costa dos Esqueletos. Pode até verificar-se famílias de golfinhos na Angra dos Negros a actual Moçâmedes, lugar aonde os albatrozes ou alcatrazes voam baixinho junto aos barcos pesqueiros.

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Cabe qui referir que ante da independência de Angola, em 1975, a pesca tinha importância no mundo porque chegou a ocupar o segundo lugar na escala dos maiores produtores, logo a seguir à República do Perú. Vasculhando minha memória recordo os muitos contadores de estórias de caça e pesca e, até dum amigo meu de nome Araújo ter andado a passear uma pacaça em pleno centro de Luanda; em plena Mutamba. Era muito vulgar entre 1950 e 1960 comprarmos carne de caça a vizinhos que se internavam pelo mato em aventura de caça.

etosha0.jpg Para milhões de pessoas que vivem no mato e nunca viram o mar, o mar não passa de um mistério longínquo e insondável naqueles idos tempos mas no entanto, estes comiam peixe seco saído do mar. Na era colonial e a partir da costa eram enviadas “malas” de peixe para o interior; estas malas iam por comboio ou levadas por camionistas praticando no seu dia-a-dia uma aventura. O peixe sem cabeça, fosse corvina ou carapau, depois de seco e salgado era acomodado em camadas sobrepostas e em zig-zag simétrico, cabeça com rabo – rabo com cabeça.

etosha5.jpg Formavam blocos compactos atados e contidos em esteiras feitas com fibras de grossa mateba. Estas malas de peixe tinham tanta popularidade e valor comercial no interior de Angola que a partir dos anos cinquenta se transformaram no principal produto de candonga no interior do território. E, por que razão se contrabandeava o peixe seco? Vais ser assunto da próxima mokanda cujas falas vão incidir sopre o peixe capim nascido do pântano …

Nota: Alguns dados, foram retirados das Crónicas de Kandimba de Sebastião Coelho

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:05
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Sexta-feira, 17 de Novembro de 2017
CAZUMBI . XXXIII

O CHOQUE DO PRESENTE - 16.08.2017 - “O PRIMEIRO BRANCO” e a Higiene racial…

- O que se vê hoje em Portugal é o resultado de uma mistura não selectiva e uniforme de 10 por cento de pretos e 90 por cento de brancos, um todo homogéneo.

Por

soba0.jpeg T´Chingange

Li em tempos em uma entrevista com Mia Couto na qual este se referia que o jornal National Vanguard Tabloid, afirmava em publicação oficial, que uma organização inglesa defendia a “pureza da raça branca”. E dizia este, ser curioso que o editorial da publicação tivesse escolhido Portugal como o exemplo dos malefícios na contribuição do “sangue negro” para as sociedades europeias e americanas. Racismo assim, às claras, é muito pouco frequente poder-se ler em um jornal e, muito menos em um, assim tão conceituado nas referências políticas hodiernas (digo eu).

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Esta notícia é reportada ao ano de 2011, uma data muito recente e que reascende as afirmações do pastor anglicano Thomas Malthus na sua visão religiosa de ver o mundo a nuo e, na qual teve inúmeros seguidores políticos tais como Hitler em Alemanha e as técnicas segregacionistas do Apartheid na África do sul para não falar dos próprios americanos e, os seus primos. E esse jornal afirmava que os portugueses teriam de ser vistos de facto como uma nova raça - uma raça que estagnou na apatia nada produzindo de novo nos últimos 400 anos na História do Mundo.

lobo1.jpgNo meu olhar de xicululu, assim um olhar de esguelha ou olho gordo, martelei por cima do meu sobrolho a frase de que “Os portugueses são o povo mais atrasado da Europa porque há séculos que se misturam com os negros” e fiquei assim um pouco a remoer muxoxos asneirentos por o caso ter raspas melindrosas e, também por ser raro, vale a pena revisitá-lo.

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O jornal assenta a sua argumentação em “factos históricos”. Portugal recebeu os primeiros escravos negros em meados do século XV. Dezenas de anos depois, os negros já eram 10 por cento do total da população lisboeta. Essa percentagem viria a crescer para 13 por cento no século seguinte. A pergunta imediata é a seguinte: Que destino tiveram estes africanos? Regressaram a África? A resposta é não!

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Eles foram absorvidos, misturaram-se do ponto de vista genético, social e cultural. Eles ajudaram a construir a Portugalidade introduzindo valores e dados culturais novos. A palavra minhoca é apenas uma de dezenas de outras marcas no domínio linguístico. No Ribatejo havia aldeias cuja população era maioritariamente negra. Nossa amiga Maria Carapinha tem este nome porque seus trisavôs eram negros retintos e, hoje já nem os traços negróides têm.

dia142.jpg Basta ir beber uma ginjinha ao largo S. Domingos em Lisboa para termos esta sensação; no Cais do Sodré já não resta nenhum sinal das negras que ali vendiam mexilhões. Podemos descobrir testemunhos dessa presença em quadros, azulejos e cerâmicas variadas. Falando com meus amigos em comezainas de cachupa, amigos cabo-verdianos confirmam do “porquê haver tantos africanos em Lisboa e Algarve”.

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Eles referem-me haver confrarias negras da Nossa Senhora do Rosário e “os negros no Coração do império”. Que viram isso quando da exposição nos Jerónimos no ano 2000. Os Negros em Portugal têm sido de uma presença silenciosa e aonde só os investigadores nos mostram os negros não só como braços de trabalho, mas legando á sociedade expressões de nossa vida quotidiana.

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Pois assim é! Influência na cultura, na religião, tourada e até o fado, a canção dita nacional. Tudo isto se reveste de uma crítica à manipulação e branqueamento da história que tem servido para a anulação do contributo africano em nosso país! O autor de tal prosa racista do tal tablóide inglês não tem dúvida em identificar nesta mistura de raças e de culturas a razão daquilo que eles chamam de “declínio da sociedade portuguesa”.

kunene.jpgPasso a citar: Os portugueses eram, até então, uma raça altamente civilizada, imaginativa, inteligente e corajosa. Mas devido ao rápido crescimento da população negra e o correspondente declínio dos brancos (cujos machos estavam em viagem para longe da Europa) todo esse património de pureza foi adulterado. Reconhece-se neste caso uma forma de conceber preconceitos rácicos com múltiplas facetas.

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O mundo não obedece a uma fronteira simples que divide os racistas dos não racistas e que separa vítimas e culpados. Vale a pena, pois, continuar a citar as razões invocadas pelo “National Vanguard”, para a chamada degradação da cultura e enfraquecimento da raça: O que se vê hoje em Portugal é o resultado de uma mistura não selectiva e uniforme de 10 por cento de pretos e 90 por cento de brancos um todo homogéneo. Trata-se de, facto, de uma nova raça – uma raça que estagnou na apatia e nada produziu de novo em 400 anos de História (estou citando).

(Continua…)

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:24
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Quinta-feira, 19 de Outubro de 2017
MUXOXO

t´chingange 0.jpgMUXOXO DESTE DIA - 19.10.2017

Muxoxo é um clique sonoro! Cole a língua dobrada ao palato (céu da boca) e num repentemente abra a boca. Isto é um muxoxo!
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Desde Agosto de 2017 que ando  às voltas com o meu ADN de T´Chingange perdido no buraco de kimberley lá nesse misterioso deserto do Calahári. Só hoje, num encontro com N´Dalatando, meu bruxo kimbanda, reencontrei meu enfeitiçado vulto! De novo brilhou o diamante entre os búzios atirados com mestria. Como numa galáxia surgiu brilhando de novo.Terei agora de recolher os dados, os ossinhos antigos, moldar o kota soba  e repor minhas verdades e inventaçõs no lugar.

IMG_20170823_123725.jpg Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, sem a métrica do fado, uma emergência confusa deste tempo, sem a rima versejada, a metáfora triste e saudosa e, de alma torturada retornei no meio de labareas colando  tristezas minha e alheias no meu coração.

 

adiafa1.jpeg Sem pátria idolatrada, jogando búzios na zuela do feitiço, sem algum esforço intelectual, remexendo panelas de sarapatel e cozido português de forma encarquilhada amolei-me com estas tiçadas de negro. Muito me convenço da inutilidade das bagatelas que nos preenchem o dia. Sem ser convocado, assisti pela televisão à queimada do M´Puto. Tristeza! E, acerca disto, tenho até medo de comentar disparates pelo que só posso responder sem entusiasmo, refugiando-me atrás do balcão de minha modesta venda de precariedades. 

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Fazer trocadilhos, cortar toucinho, metê-lo num pão, acompanhar isto com uma cerveja e ficar no silêncio das falas porque, não posso mentir a mim mesmo! Algo anda mal neste mundo cão. E, se calhar todos temos culpas a começar pelo D. Diniz.

Araujo116.jpgIrá chegar o tempo em que não mais me preocuparei com as parvoíces da terra mas, por agora, terei de ouvir os mexericos, os muxoxos dos críticos, das alfinetadas de comentadores, devaneios e futilidades consumindo a gente.

fogo2.jpgHoras a fio - gente que pendura em seu ego piadas de engasgo, gesticulando até coisas com rezas insólitas nas redes sociais. Será! Será que a marreta que atormenta a cavilha com pancadas, o fará mais seguro e mais forte? Termino assim com uma hodierna interrogação, vulgarizando-me na coragem da metáfora, porque nem de tudo podemos ter resposta, nem a tudo podemos responder. Sei de antemão que as lágrimas não se cristalizam, quando sempre lamuriamos. Fica o muxoxo!

Em terras de Cruzios...

A mensagem chegou assim da galáxia: Grande Soba, já afinei a máquina e acertei o relógio, parece que está tudo a funcionar, grande abraço! N´Dalatando - Foi o recomeço...

O Soba T´Chingange 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:24
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Terça-feira, 1 de Agosto de 2017
MUJIMBO . CVII
NAS FRINCHAS DO MEU BAÚ . 01.08.2017 - Guetos, somos todos nós, brancos e pretos - José Eduardo dos Santos é um homem banal. Não provoca a ninguém um virar de pescoço quando entra num salão...
Frincha : É a ranhura do tempo...
Por

soba10.jpgT´Chingange

Entre dúvidas escondidas no pormenor de factos conhecidos, dou-me conta que as frinchas, mostram versões velhas a que eu não forço ao pormenor para não suscitar ranhuras com os gigabites alheios, referindo tão-somente o que me parece ter lógica porque, por mais que nos esforcemos, há coisas que sempre ficam na charneira do mujimbo, do boato.

okakau1.jpgAgora que vai haver eleições em Angola, recordo que Jonas Savimbi, sempre recusou o abandono da luta pelo que achava certo, não escolhendo cenários de exílio dourado como outros o fizeram e, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou no seio de sua terra, sua pátria,digo eu num propósito de dialogar com as duvidas de muitos.

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A ela, Angola, tudo deu sem nada tirar, ao contrário de outros com contas, palácios e mansões no exterior e o desperdício de gastos, assim como a compra de um relógio de 500 mil euros por um filho do Edu, o plenipotenciário presidente. Um filho que só se baba de prepotência sem nunca ter trabalhado em algo visível; que nada fez em prol do povo! Fisicamente Savimbi morreu mas, seu espírito está em toda a parte, mesmo fora de Angola! Alguém em seu nome continuará a ter quem defenda essa cultura, esse povo, essa forma de ser e de estar! Li algures que está enterrado em um humilde cemitério de Luena.

brig4.jpg Um amigo meu do Okavango no seu jeito enigmático de sempre deixa uma prega solta na minha costura frinchada disse: -Ele está vivo! Algures num lugar palaciano e bem protegido; aquilo de sua morte foi uma farsa muito bem engendrada pelas grandes potências. Vejam só o que a mente humana pode arquitectar (penso eu)? O que viram em fotos é uma tramóia muito bem-feita, um sócio de Savimbi e, não é certo saberem aonde ele foi enterrado para evitar um rodopio de peregrinos, disse este meu kamba. Desacreditei disto com um muxoxo fingido de consentimento.

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Não acredito nesta sua versão, disse eu por fim, não tem lógica porque mostraram o corpo dele em várias posições e eu até pude referir em tempos que ele se teria matado pois que na foto de Grande Reportagem do M´Puto podia ver-se um furo em seu queixo do lado direito. Era ele sim! Ele era destro! Rematei em termo definitivo! Meu amigo, deu de ombros assim como dizendo que cada qual ficava com a sua opinião. Não forcei a nota mas, ando matutando em sua fricção; acontece hoje tanta coisa estranha!?

kunene1.jpg As nossas conversas rebrilhando nas águas do Kubango vespertinavam com a kúkia (pôr-do-sol) bem no horizonte angolano e, por detrás de seus brilhos Andamos para trás ou para a frente de forma aleatória e por serem já coisas diluídas nos cacimbos e kiangalas, podemos ornamentar os factos com ausência de espanto; de só mesmo matando o tempo, de só falar ! Recordamos a muita diplomacia lodosa, de quando Jonas Savimbi chamou «garoto» ao então ministro Durão Barroso Esse que esteve no comando da UE.

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Por seu turno, também recordamos quando João Soares, numa entrevista ao semanário Expresso, classificou os dirigentes angolanos como «um bando de cleptócratas»; talvez ele mantenha essa opinião, só que agora com mais fortes razões de o serem! E, as relações escondidas, que o Dr. Soares seu pai já defuntado, manteve confidenciais durante muito tempo, em virtude de «não querer que isso fosse do conhecimento da Internacional Socialista e, onde o movimento da UNITA não era reconhecido».

kunene.jpg Esclarecedor! De quando Mário Soares de visita às Seychelles, em 1995, em conversa informal com os jornalistas, após o jantar, falou de Angola (que visitaria oficialmente no ano seguinte) e sobre os líderes em confronto, emitindo esta opinião: «José Eduardo dos Santos é um homem banal. Não provoca a ninguém um virar de pescoço quando entra num salão. Enquanto que Jonas Savimbi tem uma presença esmagadora! É um verdadeiro líder africano!». Tarde piaste, digo de mim para mim mas, e aqui corroboro com ele! Disse eu ao meu amigo Mac Guiver de faz-de-cota, que me olhou sem espanto!

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Da minha conversa com Mac Guiver, nunca pretendi recolher dados comprometedores com ele e, sempre o vi como um bigfive que nada mais fez do que dar continuidade à sua vida, tal como o fazia na Chibia, do outro lado do Kubango mas, sempre me pareceu ser um profundo conhecedor de todos estes relacionamentos de fronteira.

kunene2.jpg Estava escrito nesta frinchas que a Jamba era o centro nevrálgico alfa no tráfico de marfim, diamantes e madeiras preciosas. Savimbi teve de recorrer a este património mas, o governo mwnagolé da Luua, despilfarrou muito mais em proveito seu, dos filhos e de toda a nomenclatura. Agora, mais kota, recordo que as interrogações ente eu e Mac Guiver faz-de-conta, sucumbiram em sorrisos, um indício de quem sabe, mas desconhece, perpetuando uma amizade de cavandelas...

O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:57
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Segunda-feira, 31 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXVIII

NAS FRINCHAS DO TEMPO - 19.07.2017 - (Parte 2 de 3) - Aqui no Limpopo de África, apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo …

Por

soba10.jpgT´Chingange

Ao sol do Calahári e em sítios chamados de Gauteng e Limpopo, limito-me a ver e a ouvir a transpiração do medo, de como será quando a mancha negra querer suplantar-se á mancha branca fazendo ruir as filosóficas teses de eugenia importadas da bretanha puritana. Durante os tempos, pastores e ideólogos seguidores de suas verdades tentaram mudar por selecção o arco-iris das gentes transtornando a sustentabilidade social da África. Surgiu assim a política do apartheid que tornou a África do Sul, num lugar de difícil conciliação entre as diferentes cores de pele; prática de difícil harmonia com os padrões da natureza.

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Surgiram as lutas entre Ingleses, Bóeres e Zulus envoltas em teorias de submissão com místicas que se fizeram prevalecer entre soluços africânderes, saltos de guerra Zulus, nenhures Khoisans e a pré-potência colonial britânica. Vi centenas, senão milhares de campas em cemitérios cobertos de capim por entre fragas esquecidas de África; gente que se entregou à luta por uma fatia de independência e sempre perseguidos pela incompreensão do mundo. 

boher3.jpg Para compreender a turbulência das mentes, teremos forçosamente de entrar no mundo do paratrás, relembrar aqueles velhos ditos das profecias duma tal sexta trombeta a soar alarme em dó maior; da guerra que se avizinha com as previsões do homem das batatas e, também pelos exemplos sociais africanos do Cairo a Kape Town gravados na política de países a tons deslavados, como as pinturas de batique do género de Xipamanine que mostram caveiras entre ossos amolgados com talas de falas espiritualmente supersticiosas.… 

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Aos velhos, será cruel deixá-los privados de respostas e será de bom senso até, não se lhes fazer perguntas de passados não amistosos porque dos muitos dias, das muitas noites, das muitas injustiças pode sem se querer saírem à luz do tempo a mostrar as gigantescas presenças de feridas mortais. Angola, Zimbabwé, Togo, Nigéria, Senegal, Burquina, Moçambique e tantos outros. E, o preto que mata branco, que lhe rouba a fazenda, do branco que mata preto porque é turra; daí abrirem-se gavetões, com ossários feitos pó pelo tempo. Que importância terá, saber-se agora se a mulher de Lot em Sodoma, ao olhar para trás se transformou em sal-gema ou sal marinho.

boher6.jpg Ou, até saber se a embriaguez de Noé, foi de vinho branco ou de vinho tinto se neste agora sabemos poder estar a ser tramados até os tornozelos. Afinal a cor de Noé era indistintamente um albino! Ninguém tem condições de desmentir esta suposta mentira, porque os escritos não faziam menção desta particularidade tão cheia de superstições. Tudo misturado com profecias de despertar duendes sem sexo ou kiandas sem nexo, tudo a provocar adrenalina. Crer ou não, sempre serão preocupantes por se manterem coladas aos cerebelos.

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Em 1916 Johanna Brandt recebeu uma visão de um anjo que lhe mostrou uma terrível cena de horrores e males que se aguardavam em Johannesburg. Os negros estavam-se organizando em segredo cortando o poder por dentro e ao redor da cidade. E, tudo aconteceu inesperadamente. Nisto, ela os viu espalhar-se pelas áreas residenciais matando brancos. Milhares e milhares morrerão durante a "Noite Egípcia" que descerá sobre a cidade! Disse o anjo….

boher7.jpg Ela, a Johanna disse: Quando vi todos os corpos mutilados à minha volta na visão, eu gritei: Isso não pode ser, porque não há tantas pessoas em Joanesburgo! Ela estava no ano de 1916, cento e um anos atrás. Sentado em umas velhas e reaproveitadas solipas grosas de ferrocarril, escrevo isto sem saber se correr para norte ou para oeste, sem plano de fuga certo, incrédulo até. Só de mente transtornada lá fui correndo para Sul, terra de Paul Kruger junto ao Orange River refugiando-me no buraco de Kimberley assim como fazem as suricatas, como o fizeram eles em tempos - os veteranos bóeres fugidos dos ingleses.

boher8.jpg A vida é uma odisseia neste mundo global; estas nuvens negras que em nada ajudam a compreenderem o belo que a vida realmente tem. Hoje e depois de dar a volta à reserva de Pilanesberg ao lado de Sun City e, já no final do roteiro, depois de ver vários animais, desanimado por não ver o elefante, um dos big five, qual o meu espanto ver este enorme paquiderme, cortando pela raiz pequenos arbustos junto à vedação do Bakgatla, minha ocasional residência…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:14
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Quinta-feira, 27 de Julho de 2017
MONANGAMBA . XLVI

BAKGATLA DE PILANESBERG - 22.07.2017- Com sorte amaciaremos leite coalhado …Viemos ver leões cientes de que não podemos sobreviver à traição gerada dentro de nós...

Por

soba10.jpgT´Chingange

Nas frinchas de meu tempo e muitas vezes, lembro-me aqui no mato de coisas infectas com mais de quarenta anos. Ficou-me bem ciente que podemos sobreviver aos idiotas e até gananciosos que nos governaram nesse lapso de tempo e aqui, longe dos novelos do M´Puto retempero-me com biltong e heineken lager beer. Um retempero de engano, táseaver! Misturando ideias no amaciar de leite coalhado de zebra do Pilanesberg, revejo a promiscua simbiose dos políticos do M´Puto com militares e afins, como coisa infecta.

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A vaca voadora chamada de geringonça, uma estranha simbiose de animal com muitas patas, muitas tetas e asas secretas, também com lambebotas, engraxam-nos os dias com pomada retirada das nossas próprias gorduras. Com a benevolência de Marcelo presidente, com quem simpatizo, enfeitam os gráficos de crescimento económico engodando-nos o olho sem questionarem a subida dum tal de endividamento para uma vida; a coisa mais essencial desta periclitante estória da crise, vista do lo nefasto…

vacas voadoras.jpg Não sei se o povo é tonto ou se simplesmente anda mareado ou marinado numa mistura de leite de hiena. Nós, velhos resistentes, retemperando ideias de balouçadas agruras do tempo em que os militares vendiam armas ao inimigo comprimimo-nos em delicadezas; um misto de descrença sem aprofundar delicadas falas. Já chega de tibiezas! Roubaram arma em Tancos! Será que roubaram, ou já o tinham sido desviadas?

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Isto, há quarenta e três anos, na Luua da Mutamba e arredores da N´Gola, era o dia-a-dia; roubavam até chaimites, paióis inteiros para entregar ao MPLA. Agora Tancos, é coisa pouca! Só um esboço de antigas passagens da estória, de nossas vivências em África com saída abrupta como a água que sai pelo tubo ladrão. Também nesse então nos enfeitavam as mentes com cravos vermelhos e seitoiras miniatura da Catarina Eufémia. Prá-frente camarada, avante!

araujo86.jpg Ando neste morro ou mato, vendo uma fauna bem mais interessante do que esses abutres de há quarenta e três anos atrás mechiam livremente dentro dum governo de tuji que também se dizia nosso. Primeiro com Spinola do monócolo, do pengalim e luvas de couro preto, depois com Costa Gomes, o rolha. Governos que nos entorpeceram com melífluos sussurros ouvidos por todos no vestíbulo do CR  (leia-se Concelho da Revolução) do Estado Português. Fomos salvos pelo Ramalho Eanes e pelo Comandos a quem sempre prestarei homenagem com respeito e orgulho.

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Naquele então ecoavam falsidade nos propósitos; tal como agora, nós muito descansados, muito inocentes; a maioria nada disto fala, pois para quê, já passou!... Mansamente enfiam-nos no curral como se fôramos gnus aqui do Bakagatla Pilansberg. Esta gente não o parecendo ser ambiciosa, falam-nos com familiaridade, que usam sua força e suas ambições em apelo a sentimentos que infantilmente se alojam no coração de todos nós, mais os albinos, os verdadeiros m´puteiros.

REPU6.jpg Naquele então foram muitos a arruinar as raízes da sociedade, a trabalhar até em segredo com a justiça, ocultos na noite para demolir nossas fundações; minar também os alicerces da nação portuguesa, coisa infecta num corpo, simbiose de militar com político, um promíscuo MFA que nos sucumbia a mando de outras potências.

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Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo, de esquecer as tropas passando armas ao inimigo, velhaquices de todo o tamanho vendendo-nos ao desbarato, pior que numa feira da ladra. Isto do roubo em Tancos deve ser uma manobra de diversão! Tem muito esturro e nunca se irá saber o busilis do ferúculo...

PAPAL6.jpg O meu dia aqui  entre as espinheiras do Pilansberg,  termina com um adeus aos hipopótamos na lagoa do mankwe, deitados feitos pedras com a kúkia do sol poente rebrilhando em seu dorso, uma visão deslumbrante. E já noite, as luzes do acampamento do Gate Bakgatla, bem ao lado do meu sonho, tremelicam ao chacal que salta para agarrar borboletas ofuscadas na luz. Sempre fugindo, porque neste mato ou morro, não quero ser borboleta !

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 03:15
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Sexta-feira, 30 de Junho de 2017
MOKANDA DO SOBA . CXXVIII

TEMPOS PARA ESQUECER - 30.06.2017 - ANGOLA DA LUUA XXXIII. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. “Vai para a tua terra, branco” era o que mais se ouvia na Luua de 74/75… Os heróis de tuji afectos ao MPLA também deram à sola – dissimulados, claro! Faziam falta no IARN….

Por     

t´chingange.jpeg T´Chingange - (Otchingandji)

Naquele então, na segunda metade do ano de 1975, Gonçalves Ribeiro, o pai da “ponte Luualix” fazia alarde ao mundo da periclitante situação em retirar todos os deslocados por via da descolonização, entenda-se uma anárquica guerra com vários intervenientes, movimentos emancipalistas impreparados para se governarem a si próprios. Ainda faltava ir buscar algumas pessoas a áreas aonde não havia qualquer segurança (…). Confirmo que assim era porque estando eu destacado como adido no Palácio do Governo da Cidade Alta da Luua, podia vivificar o que por ali se passava.

cabo ledo4.jpg Tinha por missão dar a conhecer a gente deslocada de seus sítios tais como Administradores, Chefes de Posto entre outros funcionários que fugidos dos movimentos, mais propriamente do MPLA se encontravam confinados em hotéis, pensões e afins. Via telefone dava-lhes a conhecer qual a sua hora de embarque na ponte “Luualix”; para ultimarem sua presença no aeroporto ou esperar transporte ido do Palácio que os levaria ao aeroporto de Craveiro Lopes, também conhecido por Belas.

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Alguns daqueles funcionários administrativos por estarem escondidos, por assim dizer, em casas de familiares eram recolhidos por um autocarro do Alto Comissariado que os transportava ao dito aeroporto. Havia promessas de morte, vinganças avulsas. Já neste início de Agosto podia ver-se milhares de famílias pernoitando de qualquer jeito junto aos seus haveres no largo frontal da zona do check-in e jardins do aeroporto, malas, caixotes e bugigangas. Ali permaneciam dia e noite cobertos com lonas presas a caixotes usando como banheiro áreas improvisadas ou as bissapas circundantes; o cheiro era nauseabundo.

araujo95.jpg Em meados de Outubro, o terminal aéreo de Nova Lisboa (Huambo) encerrava, e Luanda passou a receber entre quinze a vinte aviões por dia. Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!

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Na vinda ou ida dos refugiados de um para outro lado (como kissondes) mas e, principalmente para os lugares de embarque da Luua, praticamente não havia triagem; não havia tempo para decidir de quem estava ou não nas condições de perseguido, refugiado ou o que quer que fosse. Não importava ser-se quem era e de onde vinha ou do porquê de estar ali. Era tudo ao monte e seja o que Deus quiser, aos magotes com o natural berreiro e choros de adultos e crianças, ordens e contra ordens desencontradas ou nem tanto.

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Cães, gatos e outros animais de estimação foram largados ao descaso! É confrangedor só de pensar em estas turbas de gente que às pressas colocaram umas peças de roupa, uns agasalhos, umas fotos de recordação e aí vão ao encontro dum desconhecido maior que o mundo. E, as despedidas de gente serviçal ou amiga, até mesmo um vizinho que por ali iam ficando; toma lá a chave do meu carro, da minha casa, cuida do gado meu amigo porque não sei quando voltarei nem se volte. Olha pelo meu cão, a aspirina mais o tarzan que ficam presos lá junto ao gerador e perto do galinheiro.

guerra13.jpg Era um Adeus dado aos trambolhões às coisas, ao motor da GMC a fazer de gerador, dos gansos guardadores mais o pavão. Ele, Deus, era só uma questão de fé interior, a vontade de querer e acreditar mas Ele, não surgiu a muitos; a lei da vida e da morte era um traço disforme, desfeito em cotão a confirmar que só somos enquanto somos, uma ilusão! Desde sempre e, que me lembre de ser gente, observei que as leis foram inventadas pelos fortes para dominarem os fracos que são muito mais; mas aqui não havia fracos ou fortes, só deprimidos…

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Sempre observei amizades incipientes desde o tempo em que os cuspidores de prata eram usuais e era admissível ou sem reparo; cuspir-se em público era feio e anti-higiénico mas agora e ali nem escarradores havia, era no barrento da terra, nosso infortúnio; cada qual cuspia para onde quer que fosse. E entre estes, surgiam os rufias catadores de desaconchegos, gente do MPLA usando prepotência com um extremo desprezo, pedindo relógios ou valores para ficar sem dissabores nesta hora de partir; uma forma de pressionar o medo ou resquícios deste.

zeka15.jpg Havia uma restea de ordem por alguns militares, Nossas Tropas mais conscientes! Valha-nos isso porque nem todos viam este desmando na forma do PREC, dos guedelhudos do M´Puto às ordens do diabo. As leis, as atitudes, o MFA, nossos patrícios do M´Puto, os generais de aviário, mesmo que absurdas, tornavam o impossível em admissível e hoje que penso muito e rezo pouco recordo isto, procedimentos sem que ninguém averiguasse as diferenças aturdidos por pudor. Pudor, palavra complicada de entender - qual pudor qual quê!?

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Nesse então, nós gente desavinda, podíamos ver já a força da crise com roubos subtraídos pela lei dos homens, pelas nossos guardiões militares com seus amigos, nossos inimigos – o MPLA, sem lei - nem velha nem nova ou tampouco ordinária ou arbitrária, nenhuma! Um salve-se quem puder! Era um acaso feito lei ali e a frio, ora marcial ora uma prepotente aberração feita de coisa feito gente, drogados no cérebro, nas kinambas ou nas matubas…

nito01.jpeg E, muitos daqueles ali ao nosso lado a fugir do caos, tinham estado dias ou meses antes, também a fiscalizar nossas bagagens, a escolher os cristais, a parti-los num desdém e isto sim e isto não; Este ouro é nosso, do governo! Mas qual governo - do MPLA diziam… sim! Ao serviço do por eles chamado de glorioso MPLA… Agora, eram camuflados companheiros de viagem, de infortúnio e, já ninguém queria retaliar o que quer que fosse; uma entrega sem jeito nas mãos dum Nosso Senhor…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:19
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Sábado, 20 de Maio de 2017
FRATERNIDADES . CXV

A DESCOLONIZAÇÃO (Parte 2) – 12.01.2017… A independência das colónias portuguesa em África iniciou-se em 1973 com a declaração unilateral da República da Guiné-Bissau pelo PAIGC…

soba k.jpg As escolhas de T´Chingange***

Por

canhot1.jpgAntónio José Canhoto

Todos os portugueses, onde me incluo, que viveram nas ex-colónias portuguesas e que sofreram na pele o processo de descolonização, atribuíram as culpas ao ministro dos negócios estrangeiros da altura Mário Soares que se finou a 7 de Janeiro e 2017, para gaudio de muitos dos retornados e para pesar de muitos democratas. Foi Mário Soares pelo cargo que ocupava na altura que carregou e conduziu o referido e complicado dossier do processo de descolonização que ficará como uma das mais tristes nódoas na história de Portugal.

step6.jpg As tendências ideológicas marxistas que o processo revolucionário em Portugal atravessou não auguravam um desfecho feliz para os residentes nas províncias ultramarinas. A pressa era muita de modo que Mário Soares foi encarregue de atalhar e encurtar caminhos e forçado a abreviar o calendário das independências para o ano de 1975.

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As conversações para esse desiderato começaram de imediato com os líderes dos movimentos independentistas das colónias Portuguesas em Africa, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola tendo como interlocutores Luís Cabral, Samora Machel, Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi.

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A independência das colónias portuguesa em África iniciou-se em 1973 com a declaração unilateral da República da Guiné-Bissau pelo PAIGC que foi reconhecida pela comunidade internacional, mas não pela potência colonizadora o que só aconteceu nas negociações de Argel em 25 de agosto de 1974, seguido de Moçambique em Lusaca a 7-9-1974 e do Angola no Alvor a 15-1-1975.

spi3.jpg Logo que Angola e Moçambique obtiveram oficialmente as suas independências instauraram um regime de partido político único pró-soviético, enquanto em Portugal, o modelo socialista pós-revolução era progressivamente abandonado, dando lugar a um regime democrático. Só um tolo ou imbecil poderia pensar que seria possível a manutenção de uma guerra colonial em 3 frentes até aos dias de hoje, para assegurarmos a continuidade dos nossos privilégios em África intemporalmente.

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Os grandes coveiros e responsáveis da repatriação dos mais de 750 mil portugueses naturais e colonos que ao tempo residiam em Moçambique e Angola não foi Mário Soares, mas sim, Salazar e Marcelo Caetano, pois a descolonização das nossas colónias deveria ter sido iniciada nos finais dos anos 50 antes de se ter iniciado o terrorismo em 15 de Março de 1961 em Angola pela UPA, em 24 e 25 do mesmo ano em Setembro pela Frelimo em Moçambique e finalmente em 23 de janeiro de 1963 na Guiné.

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Se o processo de descolonização tem sido feito atempadamente de forma ordeira cívica e civilizada assegurando a permanência dos europeus nas colonias, a revolução do 25 de abril de 1974 apenas tinha tido efeitos práticos ou visíveis em Portugal continental. Mário Soares estava manietado e limitado pelas directrizes imanadas pelo Conselho da Revolução e pelo desejo que os militares tinham em baixar as armas o mais depressa possível e abandonar África á sua sorte.

selo10.jpgO governo provisório da altura em Portugal estava em conluio com os líderes independentistas uma vez que defendiam a mesma ideologia politica, portanto Mário Soares muito pouco poderia ter feito para alterar o “status quo” dos eventos catastróficos que o processo de descolonização atravessou. Mário Soares foi um intermediário facilitador que seguiu um programa que lhe foi imposto, mas não o ideólogo do mesmo.

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Eu sei e compreendo que a grande maioria dos retornados atribuem a Mário Soares toda a culpa da descolonização, pois acabou sendo o bode expiatório e o alvo mais fácil para arcar com as culpas devido a sua liderança nas negociações. Do contexto político vivido em Portugal destaca-se a divergência entre o então Presidente da República (PR), António de Spínola, e a Comissão Coordenadora (CC) do MFA em relação ao modelo de descolonização a seguir e que teve repercussões negativas nos processos de negociação e nos posteriores acordos de independência com os movimentos independentistas.

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A descolonização portuguesa dos territórios ultramarinos em África constituiu um dos aspectos centrais da política portuguesa após o 25 de Abril, tendo tido consequências sociais profundas em Portugal. Quando Mário Soares entabulou negociações com os líderes nacionalistas de Angola e Moçambique com vista á independência dessas colónias fazia parte como ministro dos negócios estrangeiros de um Governo de Transição empossado pelo MFA sem a legitimidade do povo português.

luis17.jpg Sem a legitimidade pois que, ainda não tinham havido eleições gerais em Portugal nem sequer tínhamos uma nova Constituição aprovada que lhe outorgassem a legitimidade para assumir essa decisão histórica particularmente nos moldes em que foi feita.

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Não tenho a veleidade, ousadia ou arrogância de colocar Mário Soares sozinho no banco dos réus, nada me move pessoal ou particularmente contra a sua pessoa, muito embora tenha deixado em África terra onde nasci tudo o que construí com o suor do meu rosto.

diogo6.jpg Tenho a capacidade de separar o trigo do joio e fazer uma análise lucida e racional dos acontecimentos sem cegueiras ou fanatismos e atribuir as responsabilidades históricas a quem de facto as teve 20 anos antes de 1975, bem como no período pós-revolucionário. Se Portugal tem tido líderes com visão estratégica e politica para terem iniciado o processo de descolonização na época adequada teriam preservado a permanência e a continuidade de todos os colonos suas famílias e descendentes nesses territórios.

FIM

António José Canhoto …11-1-2017

***Nota: A escolha de T´Chingange refere-se ao todo pensamento descritivo, subscrevendo-o por homologação... Descrição sem Prólogo, Prefácio, Epílogo ou Posfácio porque é o resumo dum conteúdo periclitante causador duma quase tragédia. Um prefácio eventualmente, conteria algumas impressões de terceiros sobre a obra. Neste texto excelente, o que fica é a incrédula faceta da política sem brio, irresponsável e, persistente denúncia com ar de curiosidade…

Nota 2: - Este texto deveria ter sido publicado como Parte 1, mas  ainda bem que a justificação surge antes dos atropelos – desta forma aceitar-se-á  melhor  as realidades



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:56
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Sábado, 13 de Maio de 2017
MOKANDA DO SOBA . CXXIII

TEMPOS PARA ESQUECER - 13.05.2017 - ANGOLA DA LUUA XXXI. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. “Vai para a tua terra, branco” era o que mais se ouvia na Luua de 74/75…

Por     

t´chingange 0.jpg T´Chingange - (Otchingandji)

(…) Eu estive com muitos desses tais “angolanos de gema” nos Adidos e na Cova da Moura que amavam Angola, terra de que nunca sairiam, blá-blá-blá. Esses mesmos que faziam rusgas e revistavam nossas bagagens quando daquela confusão de fugir, de sair de qualquer maneira daquela terra, gente que cantava o MPLA da vitória ou morte, gente que se dizia vanguardista. Enfim! Eles tinham essa ilusão e, assim vendiam seus préstimos como urubus ao serviço do MPLA atrapalhando ainda mais o desespero entranhado em muitos de nós.

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Muitos destes, ainda andam por aí, como reformados, retorcendo suas consciências porque afinal cometeram um injusto procedimento! Estes, traíram-se a si mesmos! Outros voltaram à sua querida Angola, sua tão apregoada terra de que eu, tanto gosto; a maioria regressou de novo ao M´Puto acabando por dizer que não encoberto num sim frustrado! Afinal aquela terra já só era deles, dos pretos! Falo assim porque senti na pele o tratamento rancoroso, eu que brincava com eles pelos musseques, que também eram meus, pensava assim mas só isso; coisas do pensamento! A estória estará sempre muito repleta deste tipo de gente que se vende por três tostões.

moka31.jpg E, Portugal, o tal de M´Puto, acabaria por dar guarida a carrascos e fujões (desculpem-me a expressão) que de forma enrolada, misturada se foi acomodando aqui e ali, salvando os hotéis e concebendo arranjinhos de safadeza, explorando os refugiados, ditos retornados como eu. No aeroporto as senhoras prestimosas das Caritas e Cruz vermelha (não todas, felizmente), iam despejando desaforos como muxoxos soprados subtilmente ou não: “Só nos faltavam estes ranhosos”. Eramos nós, despidos de preceitos, ouvindo calados o desaforo de irmãos, de patrícios, de gente com nosso sangue! Isso doeu muito! Só não se lembra disto quem não quer lembrar!

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Os heróis de tuji foram-se misturando com os demais, as estórias sucediam-se engravidadas de medalhas, gente que revistou, impediu, prendeu, gente que pintou e bordou a manta em acontecimentos tristes! A 17 de Agosto, Lúcio Lara, um mulato raivoso do MPLA solicitava ao embaixador Russo em Brazaville o envio de peritos soviéticos Para o Estado-maior das FAPLA em Lunda. E, afirmou nesse então: O Comando do MPLA necessita de conselheiros qualificados em questões de estratégia militar.

moka32.jpg Não lhes chegavam os altos mandatários portugueses e cubanos! É que no dia 18 de Agosto de 75, coisa bem concertada, Rosa Coutinho, chega a Cuba tendo dado garantias e sua palavra que era tal e de tanta força que… Que não seriam colocados entraves à entrada de militares, oficiais cubanos. E, assim foi! Logo no dia 21 de Agosto daquele ano, somente dois dias depois daquelas afirmações, desembarcou em Luanda uma Missão Militar Cubana (MMCA – Missão militar Cubana - Angola). E, surgiram os CIR (Centro de Instrução Revolucionária) em todos os lugares já sob controlo do MPLA.

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Esses lugares podem enumerar-se como sendo: Cabinda, Benguela, Henrique de Carvalho, e N´Dalatando. Foi garantido por Cuba na pessoa do oficial Humberto Arguelles que antes de Novembro (1975), os recrutas estariam prontos para combater. Ainda Leonel Cardoso não tinha chegado a Luanda na qualidade de Alto-Comissário e já os membros do MMCA tinham começado a chegar – finais de Agosto e início de Setembro de 1975.

moka33.jpg A infelicidade de tudo isto é a de que os “genuínos angolanos” como eles diziam e dizem, gente do MPLA, foram e ainda o são, uns refinados mentirosos, astutos, traiçoeiros e ladinos em toda a linha. Enfim, cazucutas! A 19 de Agosto e em vistas de uma proclamação unilateral de independência por parte do MPLA, a UNITA e FNLA, já congeminavam em conversações mais ou menos secretas, também e em seguida, proclamar a independência nas suas zonas de influência.

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A 22 de Agosto de 1975, Portugal suspende a vigência do Acordo de Alvor sem o denunciar. A 25 de Agosto a posição do MPLA é cada vez mais forte; com um grande contingente de homens, armas soviéticas e portuguesas e um melhor comando operacional com assessores cubanos e sempre os disfarçados portugueses, que sem querer, iam querendo, traindo-se entre eles.

moka34.jpg Os portugueses encontram-se agora em um dilema impossível porque já não tinham tropas suficientes nem vontade de lutar; tinha-se assim esgotado a estratégia de dialogar entre os Movimentos. Já ninguém confiava em ninguém! Entretanto, a ponte “LUALIX “ ia-se fazendo aos tropeções, caixotes e imbambas amontoados nos quintais esperando transporte. Durante as noites só se ouvia o matraquear de martelos fazendo caixotes mas, também rajadas um pouco por todo o lado nos bairros da Luua. Os Tugas brancos eram já coisa moribunda, cada um por si pregava seus caixões com recuerdos e tralha mais fotos a enviar para o Cais de Sodré. O cheiro da traição era doloroso e tinha agora sonoridade em toque de dó, sem rê nem mi e sol intervalado com tiros e rebentamentos…

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Neste entretanto, em terras ribatejanas via pela TV o esbracejar do louco primeiro ministro português Vasco Gonçalves, ora espumando ora lançando cravos ao povo; o desentendimento entre os quarteis eram mais que muitos entre guedelhudos revolucionários feitos à pressa e às ordens de oficiais bandalhos, cagões generais de aviário da qual só saiam disparates. Os mais sóbrios estavam a dar-se conta dos erros cometidos. Isso de dar jinguba a macacos sem os ter enjaulados, levantava celeumas.; tarde piaram!

moka38.jpg O conselho dos assessores portugueses, segundo um relatório oficial, o MPLA deveria usar uma estratégia discreta no uso de navios que transportavam suas armas, seus carros de combate, tanques e canhões sem recuo. Por via deste arranjo, não se poderia imaginar tanta petulância e arrogância dos mwangolés mijando nos seus parceiros tugas disfarçados de Ché Guerra (só para a foto). E, também uma desfaçatez no sequente trato dado aos Tugas portando-se como uns refinados mentirosos. Agora tudo surgia com suavidade falaciosa. Em finais de Agosto de 75 a nova Brigada das FAPLA comandada por N´Dozi, treinada na URSS, recebia dez blindados BRDD-2, morteiros d 82 mm, pistolas e baterias antiaéreas.

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Tudo aquilo foi descarregado a 75 Km de Luanda por um navio soviético. Leonel Cardoso é por fim nomeado Alto-Comissário como Almirante, junto com o Comandante-Chefe adjunto General Heitor Almendra. Para Savimbi firmar trégua com Neto, seria necessário o MPLA evacuar todas as zonas de influência dos outros dois Movimentos e que Luanda fosse declarada “zona neutra”, o que nunca viria a acontecer.

moka37.jpgNo M´Puto a crise político-militar arrasta-se perigosamente (vozes comunistas). Existe o perigo real de um avanço reaccionário e da formação de um governo de direita que, no imediato ou a médio prazo, irá pôr em causa as liberdades e as outras conquistas fundamentais da revolução, como as nacionalizações e a reforma agrária... O embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, faz uma viagem pelo norte do país, que se prolonga em mais dias visitando Porto, Braga, Viseu, Vila Real, Chaves, Viana do Castelo. Que andaria ele a fazer?

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As coisas iam mudar! Os americanos metiam o bedelho decidindo novas trajectórias. Nós, retornados estávamos a ser moeda de troca. Frank Carlucci manteve conversações com os governadores civis de Viseu, Vila Real e Chaves e com os bispos de Viseu, Vila Real e o representante do Arcebispo de Braga. Carlucci estava em todas as frentes… O PPD revelava-se numa directa responsabilidade nas violações da ordem democrática imposta pelo CR-MFA de mãos dadas com os comunistas. A provocação surgia na forma de violentos conflitos de rua, assaltos a instituições, embaixadas, e outros aparelhos de Estado.  

moka22.jpg O Estado estava periclitante! As comissões de trabalhador mais sindicatos levantavam seus punhos decidindo tudo de braço no ar! E, eu aqui no meio disto olhando, ouvindo, vociferando silêncio, com vontade de fugir sem saber para onde! Parecia estar-se à beira de uma guerra civil; havia movimentos de tanques para Tancos. As máquinas de guerra rolavam pela minha rua perto do rio Almonda. Seu barulho ecoava nos aposentos vazios de minha casa, despida de património; despida de haveres. O eco era O PPD fazia esforços para conduzir a tentação de confrontos armados entre militares, para tapar o caminho à guerra civil...Assim parecia ser!

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:32
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Sexta-feira, 14 de Abril de 2017
CAFUFUTILA . CXXII

ONGWEVA DO TEMPO - KIANDA ROXO - 18ª parte

 Kiandas e calungas com alguma ficção! O tempo, na mística espiritual de N´Gola vem de MUNTU, que significa homem em língua Bantu! A história do povo Bantu só começou a ser decifrada a partir do século XIX. O futuro dos povos bantus ainda anda a ser fabricado…

Por

t´chingange 0.jpg T´Chingange

cafu32.jpg Como a sombra, a história dos novos donos de África, ainda sobrevive e se reproduz fantasmagoricamente, nos seus sempre novos poderes; os mesmos que que eles próprios instituíram como vigentes para conduzir seus novos escravos, seu povo preto. E, este povo está disseminado por N´Gola com vários grupos tais como os Bakongos, Lunda-Ckokwel, M´bundu, Ovibundu, Ambós e, outro pequenos subgrupos. Pelo que se observa o branco sempre estará desconsiderado como uma excrescência em sua  história, um erro crasso que os vai fazer retroceder até um futuro visto no passado; uma perfeita miragem.

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E, foi entre a bacia do rio Kwanza e do Rio N´Zaire que se desenvolveram as etnias preponderantes do reino, os Manikongos com Matamba e N´Gola destacando-se entre eles outros reinos tais como N´Goyo, Kakongo e Luango situados a norte do estuário do N´Zaire e, o reino de n´Dongo que incluía quase toda a parte central de Angola e de ambos os lados o rio Kwanza, o verdadeiro Rio da Identidade de N´Gola.

cafu15.jpg Falar das kiandas é uma necessária superstição para encaixar as surtidas febris de contos, mussendos e missossos que os mais velhos iam contando aos jovens que apreendiam o que a imaginação depois forjava, sempre muito cheia de engravidadas inverdades com outras carregadas a canhangulos de guerra. Nessas estórias de pubeiros sobrepõe-se a do grande jaga N´Gola Quitumba com a ajuda de Quitequi Cabenguela de quem com orgulho falam os  N´Zingas.

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Nessas guerras de invasões, os sobas dos reinos dominantes iniciaram uma série de revoltas. As mais importantes ocorreram nos sobados da Kissama e dos Dembos por protegerem os grupos de escravos fugidos de n´Dongo da Matamba, do Kongo, de Kassanje do Kuvale e de todo o planalto central de Angola. A extensa capitânia de Paulo Dias De Novais vivia em permanente convulsão! Depois de muitas batalhas com os Tugas, do lado do Rei do Kongo e, com grande dificuldade lá conseguiram eliminar o carismático Bula Matadi.

cafu14.jpg Esta descrição de forma sucinta tem o fim de dar a entender o turbilhão de reinos e sobas e os interesses que moviam os Tugas e mais tarde os Mafulos. Teremos de fazer um interregno à estória pitoresca das kiandas do Kwanza, ora kwangiades, para entender esse turbulento tempo. Convém referir que Paulo Dias de Novais esteve preso durante cinco anos no lugar de Kabassa (sendo verdade, até parece lenda!). Depois de solto, voltou ao m´Puto e dali retornou mais tarde com uma armada mais poderosa instalando-se em Luanda aonde construiu a fortaleza de São Miguel nessa então São Paulo de Assunção de Loanda.

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Os reinos de n´Dongo foram enfraquecendo e quase abandonaram a luta depois da morte do seu Rei N´Gola Kilwanje Kia Samba. Assim os Tugas puderam instalar-se em Muxima, Massangano e Kambambe aonde foram construídos fortes. Tribos e chefes, sujeitaram-se a pagar tributos ou fornecendo escravos aos capitães do m´Puto mas, outros houve que continuaram a lutar refugiando-se nas protegidas ilhas do Rio Kwanza.

cafu35.jpg Voltando a Massangano, terei que adicionar ao que se sabe das lendas, que houve muitas contrariedades e, como tal, uma derrota com o mesmo n’Gola Kilwanje já aqui citado. Isto aconteceu em uma batalha no ano de 1582 em que a forte resistência obrigou à construção do forte de Massangano no ano de 1583. Não obstante, não impediu que as forças da rainha n’Zinga o atacassem, em 1640 que, apesar do saldo negativo pelo aprisionamento das suas duas irmãs Kambu e Funji, que levou a que esta última fosse executada.

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De fazer notar que do lado de fora dessas fortificações se realizavam feiras de compras e vendas de escravos. Estas feiras estavam coordenadas pelo pai da Kianda Roxo, Morgan Tsvangirai. A ele, se devem as posturas de trato comercial e da recolha dum percentual na venda individual ou lotes de peças; diga-se em verdade que era um homem bem experiente nesta labuta e trato de escravos… Custa-me agora dizer isto mas ela, a Kianda Roxo, de nada se lembra desses etéreos tempos; ainda bem! Talvez por isso e agora, ela a Kianda viva, seja tão generosa nas palavras e tão comedida nas periclitãncias…

cafu34.jpg N´Zinga m´Bandi foi o maior símbolo de resistência. Esta rainha para além da resistência contra os Tugas de então, conseguiu aliar os povos já mencionados de, entre os Rios n´Zaire e Kwanza. Foi a 6 de Setembro de 1683 que n´Zinga aceitou vassalagem obedecendo a oito condições estipuladas por João da Silva e Sousa, Governador e Capitão-General. E, tudo foi elaborado ou aceite pelos protectores da soberania tribal. Como em tudo a ambição cega a visão por usura de alguém que detém o sim e o não ou uma incipiente matumbice….

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A Rainha n´Zinga é assim obrigada a não impedir os pombeiros de chegarem ao sertão africano e também não impedir àqueles em sua actividade comercial com os potentados do reino do Songo, Quiacar, Punamujinga, Sund, Cacem e Damba. Aquela rainha teria de abrir caminhos para que os negreiros alcançassem seus destinos. Bom! Os pombeiros trabalhavam por conta de grandes chefes, sobas ou militares Tugas.

chai4.jpg Durante um ou dois anos, internavam-se nos matos, trocavam escravos por tecidos, vinho, quimbombo, aguardente, quinquilharia, sal ou pólvora. Os acordos de vassalagem foram extremamente desiguais com a aceitação na base de imposição militar. Passados vários séculos da morte da rainha n´Zinga a ideia de unidade do povo Angolano ainda não se configura vencida na luta contra os Tugas nos finais do século XX permanecendo em disputas internas pelo poder até o actual ano de 2017 aonde a corrupção roí os governantes até os tornozelos…

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Com ideologias marcadas pelo rancor entre eles e contra o branco, ícone aglutinador e culpado de todos os males em sua justificada fábrica de criar maka, os diferentes grupos étnicos saídos do povo Bantu, ainda continuam na contramão da história e progresso ditando leis absurdas e, sem um objectivo de sucesso para sua debilitada situação financeira. Segundo Cadornega em 1629, as irmãs de n´Zinga foram baptizadas Funji, como Graça Ferreira, e Cambo n´Zumba como Bárbara da Silva.

cafu33.jpg No ano de 1646, ao tomar posse da sanzala de n´Zinga no rio Dande, os Tugas encontraram cartas de Funji, escritas de quando era prisioneira e dirigidas a sua irmã n´Zinga. No ano de 1647, no cerco da rainha junto com 500 holandeses a Massangano, o sargento-mor Pedro Barreiros decidiu, por conta própria, lançar Funji no rio Kwanza, e por pouco, não fez o mesmo com Cambo n´Zumba.

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É aqui que um negreiro mazombo de nome Jeremias T´Chitunda a troco de umas quantas moedas dadas a Morgan Tsvangirai, pai de Roxo, consegue introduzi-la em um lote de peças com destino a Olinda de Pernambuco! Nasce aqui uma outra lenda, a do Kilombo dos Macacos na Serra dos Palmares…. E ela, por decisão de seu novo dono toma o nome de Aqualtune.

cafu39.jpg Aqualtune, não podia ser interpretada como gente nobre do reino de n´Ggola; os acordos não previam o uso de gente nobre descendente do rei Kilwanje. E, ai de quem murmurasse tal conhecimento! É ainda um fenómeno mal contado nos missossos mas, tudo leva em crer que seu rosto esteve tapado ou coberto de argila branca nas festas de rebaptizar a ela, e a todos outros escravos. Este procedimento não era nesse então tão invulgar mas, na qualidade de T´Chingange posso afirmar ser isto verdadeiro…

(Continua… Cambo  n´Zumba ou Barbara da Silva foi como escrava para o Brasil…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:23
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Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2017
CAFUFUTILA . CXVIII

ONGWEVA DO TEMPO - 05.01.2017 – KIANDA ROXO  - 15ª parte

Com Zachaf Pigafetta Roxo, Januário Pieter irmão desta e tetravós de Roxo mais o Conde de San German...

Ongweva é saudade

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

Ian Smith e a sua Frente Rodesiana mourejaram para levar o novo país na trilha do progresso, enquanto negociavam com os líderes negros contrários ao uso da violência, mas as fórmulas prudentes e justas pensadas, a 11 de Novembro 1965 levam Smith a declarar a independência da Rodésia. As nações do mundo não se vincularam a esta iniciativa prescrevendo em 1979 com a entrada do bispo Abel Muzorewa que se torna chefe do governo e, constituindo a primeira administração bi-racial (uma utopia africana).

niassa5.jpg Os polícias planetários dos primos de Londres e dos Estados Unidos da América, acharam que um governo responsável composto por brancos e negros não tinha serventia, abrindo caminho aos terroristas que até então estavam afastados do processo no sistema oficial. O governo de Muzorewa não logra durar muito e novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe.

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Naturalmente, com o beneplácito dos areópagos internacionais, a 2 de Dezembro de 1987, Robert Mugabe, o marxista e seus bandoleiros do famigerado “processo político” é nomeado como o primeiro chefe executivo. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido é a população branca, fazendeiros e os negros que não “aderiram” prontamente à “revolução”.

ngoi2.jpgUm território outrora pacífico e em franco desenvolvimento, é transformado num espaço de opressão e violência, corrupção e ruína económica. Tal como em Angola, uma boa limpeza étnica só o é, desde que feita por negros contra brancos, que é sempre vista com os olhos húmidos de compreensão. A farsa da que constitui a obra-prima das ONUs e dos senhores deste planeta vai, desgraçadamente, continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue de inocentes (um mundo cão).

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Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores - “exemplares”, com certeza. Tive de descrever este panorama para chegar às kiandas: o Conde de San German, um destacado embaixador itinerante que vira uma normal figura de gente quando necessário, Zachaf Pigafetta e o irmão Januário Pieter, ambos procedentes do lago Niassa e a tetravós da  Sereia Roxo Socorro e Oxor, sua  figura gémea que por ali permaneciam em uma ONG e, que tiveram de dar o fora dali! Não havia condições nem para assombrações!

roxomania1.jpg Eu estava por saber que uma sereia tem de ter sempre uma irmã gémea porque convêm de vez em quanto baralhar os espíritos malévolos; esses que serpenteiam entre difusas brumas como ácaros do facebook. Brumas que por via de uma arte ficam acrilicamente voláteis, belas e disformes, misto de sonho com pesadelos tidos em luar longínquo parecendo duma outra galáxia. Depois de tudo isto entendo as formas e contornos reluzindo-se em perfumadas ondas de quem pinta sem pincéis. Isto só mesmo de bruxas, kiandas ou calungas…

PAPAL4.jpg Zachaf Pigafetta a tetravó, desta vez falou comigo sem aquela reverência de kianda superior e, descendo à terra barrenta, à sombra de uma mafumeira quase que só me segredou ter sido em Harare que nasceu sua Neta de última geração Assunção Roxo. E, foram exactamente nas coordenadas de 17° 50' S 31° 03' mas salientou que não quer agora, nesta vida de hodiernidade, perturbar sua tetraneta.

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Nunca se viram cara a cara mas foram-lhes transmitidas veracidades que nem ela Roxo se apercebe e, porque é através do vento soprado que lhe faz chegar as ondas de cinco gigabites, aquela genica e vontade de papar léguas, mais o gosto pelas longitudes. Em sonhos conversam muito mas, logologo estes são esquecidos porque ela só é kianda por vezes e, nesses sonhos de ilusão. Notei que não me queria dar muitos mais pormenores. E foi graças à insistência do Conde de San German que ela, tetravó de Roxo se decidiu abrir comigo.

mugabe.jpgSua mãe (de Roxo) kianda negra foi Redufina Kabasa Tsvangirai  que se umbigou com um tal de Morgan Tsvangirai. Que nasceu preta, preta mas no correr dos dias foi ficando assim branquela como ela é hoje. Ela a kianda Assunção Roxo deu seu primeiríssimo alerta de vida nas águas do lago Chivero e, que fazia fronteira com a fazenda farm de MorganTsvangirai.

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Pois, tranquilamente disse-me que sua mãe era preta retinta, casada com esse tal de Morgan Tsvangirai, que ganhou a primeira volta nas eleições em confronto com a múmia Mugabe e, após vários dos seus apoiantes terem sido assassinados. Foi isto que os motivou a transladarem-se para o Kwanza e ficar ali bem perto de Massangano, lugar de muita magia antiga, espíritos conferenciando por ali ser um pambu-n´jila especial com Muxima. 

german1.jpg A múmia Robert Mugabe venceu as eleições convocadas para o dia 28 de Junho de 2008, sendo reconduzido mais uma vez ao poder, desta feita pela sexta vez consecutiva, por desistência de Morgan Tsvangirai, pai de Roxo. Esses foram momentos conturbados mesmo para kiandas como nós, disse. Com o apoio internacional, houve uma partilha de poder que durou cerca de quatro anos.

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Este Governo de Unidade Nacional revelou-se ineficaz para acabar com as fortes tensões e evitar confrontos sangrentos entre os apoiantes de Mugabe e Tsvangirai. Em 31 de Junho de 2013 Robert Mugabe foi novamente reeleito, apesar da oposição e observadores considerarem fraudulenta a eleição. África é mesmo um veneno adocicado.

ÁFRICA7.jpg Agora entendo do porquê esta kianda Roxo andar assim tanto de um para outro lado irrequieta, sem saber desta sua dupla vida mas compartilhando xispanços de tinta com maestria. Xispansos de pincéis electrónicos na forma de gigabaites que se traduzem em cores holográficas, cibernéticas; pinturas do paralém de assombros que só bruxos podem executar.  A surrealidade está-lhe no sangue!

(Continua…) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:50
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Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2016
MALAMBAS . CLVI

CINZAS DO TEMPO – 12.12.2016Na natureza dos dias de hoje, não é o mais inteligente que vence na vida, mas sim aquele que melhor se adapta a ela…

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba0.jpegT´Chingange

A cada instante do tempo presente os nossos sentidos são inundados por um feixe de informações sobre o mundo real. As nossas mentes constituem-se na narração de estórias e da teoria contada pela ciência que diz que fomos criados pelo acaso entre milhões de outras espécies da biosfera da Terra. Nada demonstra que nos tenha sido atribuído um destino ou um propósito especial, ou que nos tenha sido outorgada uma segunda vida depois de terminada a que temos presentemente.

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Mas, qual é então o sentido da vida humana? Será uma epopeia da espécie, iniciada com a evolução biológica desde a pré-história, assim como um acidente da evolução, um produto de uma mutação aleatória e de selecção natural? Ou seremos apenas o resultado final de muitas curvas e contracurvas duma única linhagem de primatas do velho mundo.

koisan1.jpg Estou assim, balouçando a languidez na forma de jiboiar rede, coisa bastante parecida com a preguiça, desperdiçando-me num impertinente alheamento a esse mercenário mundo literário. Com o tempo, foram-me dizendo coisas, atribuindo tarefas e, ensinando-me o que fazer em todas as feiras com descanso ao Domingo.

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Falando com um velho herero de áfrica fiquei a saber que disto, ele nada sabia. Nunca os mais velhos lhe falaram de que por ali tivesse andado um apóstolo de Deus. Disto, também ele pouca importância deu fazendo-me confusão ao raciocínio. Ele, um mais-velho, só tinha conhecimento de uns missionários andarem por ali distribuindo falas e também costumes novos com patrocínio da coca-cola. Fiquei a saber ter sido uma entre muitas ONGS, gente com missangas e cruzes ensinando coisas aos khoisan (bosquímanos).

koisan2.jpg Cosendo disfarces, ensaio previsíveis alegorias sobre os vícios e infortúnios do passado construindo castelos com paus de fósforos. Amorfos que logo queimo por masoquismo, na fricção do ar. Dia após dia, escrevo argumentos de cozer pálpebras à paixão, continuando sempre igual, como sempre o fui, cada vez mais na mesma.  

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Aqueles povos têm uma longa história, estimada em vários milhares (talvez dezenas de milhares), agora reduzidos a pequenas populações, localizadas principalmente no deserto do Kalahari, na Namíbia, mas também no Botsuana e em Angola, lugares que percorri. E, afinal o homo sapiens foi o único a desenvolver uma inteligência suficientemente elevada para criar uma civilização.

koisan4.jpg Passaram-se mais de duzentas mil gerações, tempo mais que suficiente para que a selecção natural forçasse uma série de mudanças genéticas fundamentais. Tornámo-nos os senhores do planeta e talvez do nosso canto da galáxia, também. Tagarelamos constantemente acerca da sua destruição, uma guerra nuclear devido a alterações climáticas ou a uma segunda vinda apocalíptica pressagiada pelas sagradas Escrituras.  

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Os seres humanos não são maus por natureza. Possuímos quantidade suficiente de inteligência, boa vontade, generosidade e iniciativa para transformarmos a Terra em paraíso, tanto para nós mesmos quanto para a biosfera que nos viu nascer. A grande maioria das pessoas em todo o mundo permanece num estado de servidão face às religiões (tribos) organizadas, lideradas por homens que se arrogam poderes sobrenaturais para poderem competir pela obediência e os recursos dos fiéis.

koisan7.jpg A maior parte dos nossos líderes sejam eles religiosos, políticos ou empresariais, aceita explicações sobrenaturais da existência humana. Estes, nenhum interesse têm em opor-se aos líderes religiosos e provocar desnecessariamente a população da qual obtém o poder e os privilégios de que gozam. 

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Bibliografia: Extractos do livro “O sentido da vida humana” de Edward O. Wilson – Prémio Pulitzer 

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:56
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Segunda-feira, 31 de Outubro de 2016
XICULULU.LXXXIX

ANGOLA . DEUS DEVE SER BRANCO!2ª e 3º de 4 Partes

t´chingange 0.jpgAs escolhas de T´Chingange 

Por: ISOMAR PEDRO GOMES - Foi em tempos um funcionário da polícia política DISA. Segundo ele, as pessoas que trabalhavam na DISA e se identificaram com a dissidência do MPLA foram vítimas da repressão. “O carrasco foi o sistema”, afirma! Ele teve a coragem de ter publicado isto em Angola.
DEUS É BRANCO?

Isomar1.jpg (...) A resposta colonial à violência nacionalista africana, sempre foi comedida: por exemplo, se a força policial Portuguesa no 4 de Fevereiro e posteriormente no 12 de Março de 1961, respondesse com o mesmo demonismo com que o MPLA 'respondeu' ao chamado Fraccionismo do 27 de Maio 1977, muitos dos actuais dirigentes não existiriam, e provavelmente durante muito tempo não haveria movimentos de libertação.

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O ÊXODO - Passado cerca de meio século, em que a maioria dos países Africanos 'arrancaram' na ponta da espingarda a independência das potências colonizadoras (seguindo a lição do camarada Mao Tsé-Tung) – se fizermos o balanço de quais foram os ganhos que os respectivos países e povos obtiveram, poucos são os Países Africanos que diremos, saíram indiscutivelmente a ganhar.
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"Quando é que a independência afinal vai acabar?" – Indagou desesperado e desapontado um septuagenário angolano nos idos anos 78-80, fatigadíssimo da guerra estúpida, de tanta crueldade e injustiça praticada pelos seus patrícios (do regime e da oposição), denominados de nacionalistas de primeira água. Poderia África ser hoje comparada ao Inferno ou ao Purgatório?

ango3.jpg Qualquer um deles serve; Paraíso - NUNCA. Pouquíssimos países Africanos (menos do que os dedos de uma mão) podem aproximar-se de tal eleição. "HOJE até a Bíblia nos tiraram, e as terras continuam a não pertencer ao povo" - sintetizou Morgan Tchavingirai, descrevendo a desgraçada e extrema penúria do povo zimbabwiano, respondendo ao guia imortal ainda vivo, que diz ter ressuscitado mais vezes que o próprio Jesus Cristo. Zimbabwe que, no período citado por Bob Mugabe, era o celeiro de África, o povo era detentor de um dos mais elevados IDH do continente.

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Por exemplo, em Angola, quando por vezes, nas datas históricas, oiço e vejo pela TV indivíduos a mencionarem o que o 'colono nos fazia', sinceramente não sei se, choro de raiva ou se me mato de 'risada'; "porque o que o colono fazia… blá-blá-blá", dizem eles - hoje faz-se o pior. O colono, se fez, quase que o desculpo: é ou foi colono, é branco, não é meu irmão de raça, etc; agora quando o meu irmão Angolano, preto como eu, ex-companheiro da miséria e das ruas da amargura, faz o que viva e decididamente repudiávamos do colono – esta ultima acção dói muitíssimo mais do que a acção anterior, dilacera e mutila impiedosamente a alma.
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Por isso, logo após as independências Africanas, e depois do êxodo dos brancos a abandonarem África, verificou-se um segundo êxodo: seguindo os outrora colonos, milhões de Africanos abandonaram a África, com angústia na alma e os olhos arrebitados de descrença, a maioria arriscando literalmente as suas vidas (o filme continua até aos nossos dias) - porque chegaram a conclusão que afinal não é verdade o que apregoa o político Africano; "eles prometeram-nos o paraíso e dão-nos o inferno a dobrar", disse um jovem africano em Lisboa nos anos 78-80 num programa da RTP. Há mais africanos hoje na Europa do que Europeus em África! Porquê?

angola1.jpg A JUSTIÇA EUROPEIA - Os Europeus, muitos deles depois de chacinados em África pelas revoltas africanas, de regresso aos respectivos países, embora destroçados de dor e amargura - receberam de braços abertos muitos dos antigos carrascos, dando-lhes um lar e emprego decente, e uma vida digna, que jamais tiveram nos países de origem; Paz e sossego duradouro.

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O contrário era possível? Ainda hoje, quase 41 anos depois do fim da colonização, para justificar a Pobreza e outros pesares que "estamos com ele", os dirigentes Angolanos (por exemplo) ainda se desculpam com a presença colonial Portuguesa em Angola - eles não são, nunca serão culpados, mas o colono (41 anos depois) SIM, estou seguro que, quando Angola festejar o 50º aniversário, os dirigentes Angolanos ainda estarão a rogar pragas ao colono Português.

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HOJE, em muitos países africanos, ouvimos falar de relatos arrepiantes de governação de 'preto-para-preto' : incompetência criminosa, bajulação estúpida como doutrina, ganância e egoísmo exacerbado (primeiro eu - sempre), mentira como regra, assassinatos indiscriminados, prisões em massa, inexistência de liberdade de expressão, aonde até gritar "estou com fome" é crime passível de perder avida.

angola ginga.jpg Kamulingue e Kassule são a prova viva do facto: vida miserável, falta de empregos, corrupção endémica, justiça injusta e totalmente parcial, cadeias (horrorosamente infernais) a abarrotar de jovens provenientes das classes desfavorecidas, hospitais que mais parecem hospícios, escolas que mais parecem pocilgas etc. etc.

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O paradoxo é, se HOJE em África usufruímos de um bocadinho de liberdade com sabor a vida, é precisamente graças aos Europeus; isto é, aos brancos, que desenvolveram uma nova ordem de conduta internacional e instituições internacionais que vigiam sobre o globo, incluindo, obviamente, África. As sanções internacionais e outras medidas de contenção pairam sobre os dirigentes Africanos; e então, estes por sua vez fingem praticar a democracia.

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Não porque eles gostem da democracia, mas porque temem o "deus branco e o seu braço punitivo". Porque se dependêssemos totalmente dos governos de "preto-para-preto" seguramente, na vasta maioria dos países Africanos, não seria possível viver.

n´guzo1.jpg O protótipo Africano da UE (União Europeia), a chamada UA (União Africana), é uma mentira descabida : é uma instituição falida, decrépita, débil e 'estaladiça' (como a bolacha 'chinesa' de água e sal), que ninguém leva a sério, houve até quem propusesse a designação - DUA : DesUnião Africana; uns poucos países africanos esforçam-se por dar credibilidade à UA e ao continente - por exemplo, quando teremos um Tribunal Internacional Africano? Se os tribunais da maioria dos Países membros é do "faz de conta", os Africanos instituíram também uma espécie risível de Parlamento Africano: que acções práticas esse tal PA já desenvolveu em beneficio dos Africanos?

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A UA é um club de "compadres", ditadores velhacos, egoístas que sonham com Paris, Londres, Estocolmo etc.; ao mesmo tempo que transformam os respectivos países em autênticos 'buracos negros'. As independências em África foram 'feitas' para algumas centenas de indivíduos africanos - em detrimento de centenas de milhões, cada vez mais miseráveis.

(Continua…)

As opções de T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:41
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Sábado, 27 de Agosto de 2016
MOKANDA DO SOBA . CVI

TEMPOS PARA ESQUECER – 27.08.2016 - ANGOLA DA LUUA XVI . NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo - O brigadeiro do COPCOM dá a sua opinião: " Carlucci, talvez pertença à CIA”… Kuákuákuá…

Por

soba15.jpgT´Chingange

baú3.jpg(…) Por todos julgarem ter autoridade, um mês após a assassinatura do Acordo de Alvor, Angola estava sem lei nem roque; totalmente desgovernada e sem ordem. Descolonizar Angola não deveria ser o mesmo que abandoná-la, mas eu não encontro uma visão mais ponderosa que esta. A 26 de Março de 1975, o ELNA, exército da FNLA, massacra mais de 50 recrutas do CIR (Centro de Instrução Revolucionária) do MPLA denominado de Hoji-Ya-Henda situado no Caxito. No ataque surpreso, os capturados pelo ELNA, foram tratados com gratuita crueldade.

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Levavam-nos em camiões para um sítio isolado e à medida que estes iam saindo dos camiões e lá no lugar escolhido, eram abatidos com rajadas de metralhadora. Os que se queixavam dos ferimentos eram abatidos com um tiro de misericórdia. Só escaparam os que se fingiram de mortos. Esta foi uma retaliação aos ataques sofridos nas sedes da FNLA, situadas dentro de Luanda.

MIRAN1.jpg Estes acontecimentos sucediam todos os dias, ora em Luanda nos musseques, ora na Fortaleza de São pedro da Barra, Bairro da Cuca, Bairro do Dande e Cazenga. Era perigoso ser-se apanhado com cartões de filiados em um qualquer outro partido, bandeiras, crachás ou outros distintivos que não o correspondente ao do controlo montado. E, as barreiras eram montadas a gosto pela FNLA ou pelo MPLA à revelia do COPLAD (Comando Operacional de Luanda) lá, aonde cada qual, pensava ser sua zona de intervenção.

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O massacre do Caxito e os fuzilamentos da Cuca em valas previamente abertas eram retaliações da FNLA, que culpava o MPLA; eram atitudes medonhas nunca antes vistas, sem qualquer pretexto e à revelia de qualquer lógica mesmo que absurda; eram sumariamente mortos sem mais detalhes a ponderar. Tratamento de pior que bichos com bichos, cenas monstruosas.

coimbra2.jpg Entretanto no M´Puto e só para M´Puto, havia um plano! O Plano Melo Antunes, para que a economia recuperasse força…. Um engano! Nas ruas de lisboa e Porto, havia enormes controvérsias. Frank Carlucci chegava a Lisboa; este viria a ser mais um portador de influências em Portugal tendo como interlocutor Mário Soares. Entretanto o PCP entra no Banco de Portugal, coração da economia e nos Serviços de Educação alterando e adulterando leis; dando a gosto passagens administrativas a troco de uma relevante actividade no PREC da revolução na Metrópole M´Puto ou lá na áfrica dos ranhosos (colonos).

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Por esta altura, o brigadeiro do COPCOM (Comando Operacional do Continente), Otelo Saraiva de Carvalho, começa a dar nas vistas despertando grande atenção entre os "média". O país vivia numa altura de conspirações e medos cujo ponto alto foi um tal de plano "Matança da Páscoa". Oficiais com ligações aos comunistas mexem-se a encomendar os planos de nacionalizações para estarem prontos a 12 de Março. Otelo, cioso de cumprir o seu papel histórico, lança-se sobre as luzes da ribalta dizendo disparates.

moiróes 1.jpg Na Luua e na penúltima semana de Março ocorreram mais de uma centena de mortos. É de recordar agora o que Pezarat Correia disse antes das negociações de Alvor focando a questão dos brancos português ali residentes: - “Quem quiser fugir, não faz falta a Angola”, tendo neste então sido referido por Almeida Santos que, a ser assim, seria a debandada geral! E, em verdade nesta fase dos acontecimentos nada mais haveria a fazer senão controlar o Aeroporto de Belas para assegurar a fuga de quem fugia.

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Claro que estes eram maioritariamente brancos, e assimilados mazombos. Curioso ou não, tudo isto foi falado na presença de todos os portugueses com os três movimentos e, disto, não transpareceu preocupação de nenhum dos intervenientes. Até aqui todos os auxiliares de estadistas e feiticeiros tinham ignorado Jonas Savimbi que perante esta situação inusitada de introduzir às falas reticências, passarem a vê-lo com um potencial personagem para e talvez, poder salvar a situação. Tudo pensado em joelhos, com artroses…

retornar11.jpg No fundo, este conjunto de pessoas eram um laboratório, um caldo de mentiras, de muito talvez com incertezas e muita falsidade entranhada de ódios; Todos estavam a ser falaciosos! Em verdade é que, neste universo de incompetentes, aprendizes de feiticeiro, produzem-se outras estrelas. Por cada uma das suas intervenções, a rebelião ganha novo fôlego. O novo embaixador dos EUA, Frank Carlucci fará parte dessa constelação.

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Até ali todos os pseudo estadistas tinham ignorado Jonas Savimbi mas e perante esta situação caótica viram-no como potencial mediador entre os outros dois Movimentos; haveria que encontrar alguém para salvar a situação. Dizia-se neste agora que quem controlasse a capital, a Luua, dominaria Angola! Verificar-se-ia que assim viria a ser! E, agora, Março de 1975 perguntava-se: - De que lado estavam os brancos?

mulu7.jpg Até aqui estavam divididos, trivididos, alguns filiaram-se em todos como medida de segurança mas, até isto funcionou pelo lado mais negativo. O melhor era ficar expectante, fazer caixotes do possível, meter fotos e os ursos de peluche, trastes e umas pedras de feijão no aro da bicicleta ou ouro e dinheiro de túji, angolares e macutas misturados com os dólares,  mais aquele lenço de lembrar o Mussulo enrolando areia das bitacaias… coisas de humanos.

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Entretanto no M´puto aos microfones da rádio, o brigadeiro do COPCOM dá a sua opinião: "Talvez Carlucci pertença à CIA (serviços secretos norte-americanos) mas, nesse caso, não me responsabilizo pela sua segurança." Kuákuákuá (sou eu a rir) … Quando Costa Gomes ouviu isto, a rolha dele, tocou seu cerebelo! O caneco destapou-se; como era habitual, não queria correr riscos. Aflito, pôs-se logo a fazer contactos cuspindo raivas aos seus generais de aviário. Cheio de intuição, à conversa com Mário Soares, este desvaloriza a situação. Uf!... Que alivio!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:17
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Segunda-feira, 22 de Agosto de 2016
MOKANDA DO SOBA . CV

TEMPOS PARA ESQUECER22.08.2016 - ANGOLA DA LUUA XV . NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo - Vasco Gonçalves, o louco, esbracejava na televisão atirando cravos para a multidão…

Por

soba15.jpg T´Chingange

retornar1.jpg (…) No chão barrento dos musseques da Luua ficam cadáveres e um rasto de destruição. No ar desses bairros de arruamentos labirínticos multiplicam-se os papagaios de papel que visavam impedir a visibilidade e o voo dos helicópteros de onde os militares davam instruções e orientação às patrulhas que em terra procuravam acudir aos focos de problemas. Esta dos papagaios de papel, vim a saber muito recentemente em conversa com outros kambas que também por ali estavam; uma coisa que só tinha viso em um filme do Vietname e guerrilha nas ilhas do Pacífico.

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Afinal havia muita gente formada na maldade e atenta a todas as artimanhas para lograr sucesso em seus objectivos. Estabelecer o medo com estrondos lançados para o ar e tracejantes para o espaço nas noites cálidas daquela Luua. No Verão do apocalipse de 1974 a inquietação dos portugueses de África, regia-se no conceito de nacionalidade pelo princípio do solo, pelo que eram portugueses todos aqueles que tivessem nascido em qualquer parcela do solo nacional…

rev2.jpg Mas, isto não era isto nem aquilo, mas uma outra coisa qualquer a tirar dos manuais revolucionários entranhados no cerebelo de gente sem eira nem beira, ávida de serem donos de tudo e até da vida dos outros, uns abutres mais pretos que urubus a reacender um racismo que já estava moribundo! Tudo viria a ser uma outra coisa… A brancura da pele tornava-se perigosa! Os albinos começaram a ser perseguidos por ainda serem mais brancos e, decerto teriam cazumbi dentro deles; a superstição doentia, matou muitos e de formas bastantes trágicas.  

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Ser angolano branco, era imediatamente querela apresentada como algo de marginal. Foi como o definiu Vasco Gonçalves a 24 de Julho de 1975 a uma televisão alemã: -“trata-se duma minoria teimosa e egoísta, que se recusa a reconhecer as perspectivas de futuro”. Quem tem amigos assim e, como primeiro-ministro do seu país, não necessita de mais inimigos! Este cidadão deveria era de estar numa casa de malucos a tratar-se… Na Luua, diríamos que deveria estar no “quintas”…

retornar7.jpg “Os deslocados”, como então a imprensa designava os primeiros desalojados de Angola, começaram a chegar às centenas de milhar em inícios de Agosto de 1975. Contudo eram raríssimas as suas fotografias mostradas na imprensa do M´Puto. Os jornais eram multados por terem falas anti-revolucionárias, qual PIDE para pior. Era uma fuga d gente a reter até que, os seus caixotes e os seus corpos deitados no chão do aeroporto da Portela se tornaram incomodamente visíveis, incontornáveis.

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Caixotes feitos de tabuas de camas, portas de armários, janelas de pau-ferro, pau-rosa ou indianuno. Era o fim da festa, comentavam jocosamente nossos patrícios, irmãos, tios, primos, gente de moral que ia à missa e, que todos os domingos batiam no peito; todos a enganarem Deus…

selos6.jpg A censura do CR com seu activo PREC tentava esconder ao mundo a parte podre da revolução dos cravos! Imaginem! Algo inusitado é, uma notícia de 12 de Agosto de 1975 acompanhada por uma fotografia com recém-chegados ao aeroporto da Portela com jornalistas estrangeiros a cobrirem estes escolhos feitos gente, quase nada... Afinal “os colonos”, “os fazendeiros que fogem por medo”, os “mata pretos” sempre acabaram por fugir! Diaziam à boca cheia e sem espanto!

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Em Angola o PP - poder popular, tinha um órgão secreto formado com abrilistas do M´Puto, Cubanos e progressistas do MPLA. Estudantes vindos de países do Leste europeu, das terras frias aonde a revolução se alimentava com ódios, vodka e muita ideologia tonta. Era destes que saíam ordens e o apoio logístico com dinheiros dados à socapa por seus chefes, uns quantos perfilados com Rosa Coutinho e seus pare do CR- concelho da Revolução.

retornar8.jpg Angola seria em breve dos angolanos. Agora sim, não haveria recuo, era o pensamento generalizado da maioria com bom senso, de todas as cores.  Se queriam matar-se uns aos outros que o fizessem! E, assim veio a ser! O incitamento à expulsão dos brancos já era transversal a todos os movimentos.  Na diagonal, na vertical, lúcido ou bêbado, Agostinho Neto atiçava seus discursos, seus poemas despeitados, falas desajustadas de fazer tremer o susto. Nunca antes se tinha sentido tal racismo depois de sessenta e um. Com a partida dos colonos poderiam ficar com tudo, porque tudo lhes pertencia, dizia-o abertamente!  

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Os lidere dos outros movimentos a partir de Julho não retaliavam Neto! Se o fizessem seriam mal vistos. Consentiam! Em Portugal a maioria sensata estava silenciosa, aturdizada muda e queda espantando o medo que o assustava. Vasco Gonçalves, o louco, esbracejava na televisão atirando cravos para a multidão que ébria, o ouvia. Os retornados seriam postos na tourada do campo grande para gaudio dos abrilistas. Quem o disse ainda anda por aí vivinho da costa!

muxima4.jpg Os anarquistas escreveram algures numa parede bem perto da terra do Riachos no Ribatejo: Otelo Saraiva de Carvalho, que lindo nome tu tens, retira o vê do carvalho, e mete o resto co cú! Assinado um “A” metido em um círculo! Tudo em vermelho! Começava a haver alguma indisposição em alguns pensadores do M´Puto… Em Angola o MPLA enviava grupos de jovens militantes para Cuba e URSS aonde recebiam treino político militar. E, entretanto os navios continuavam a desembarcar material de guerra próximo de Luanda assim em segredo dos portugueses; no princípio até foi assim mas, depois já era quase do conhecimento geral, mas tudo era inusitadamente tido como boato! Poderia lá ser! Ninguém queria acreditar…

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O MPLA aliciava principalmente quadros negros das FAP a desertarem com armas e equipamentos. Isto quase foi normal, permitido e acarinhado pelos militares portugueses e até figuras destacadas do próprio Concelho da Revolução e outros políticos que o tempo escondeu na penumbra!

pioneiros.jpg Fantasmas que ainda se continuam a manter à custa de todos nós, que recebem do estado reformas chorudas. As NF – Nossas Forças da FAP, deram 30 navios operacionais, 21 aviões da Força Aérea, 2 Dornier, 6 Dakotas, 6 helicópteros Alouettes e Nord Atlas, entre outro variado equipamento ao Governo de Transição de Angola saído do Acordo do Alvor. Às supostas FAA – Forças Armadas de Angola.

(Continua…)

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:00
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Quarta-feira, 8 de Junho de 2016
CAFUFUTILA . CXIII

NAS FRINCHA DO TEMPOKIANDA COM ONGWEVA  -  8ª de várias partes

Por

t´chingange.jpegT´Chingange

AS TÁGIDES DE TOLEDO - PAMBU N´JILA - Zé Peixe de Aracaju e as Sereias Roxo e Oxor surgiriam só no século XX e XXI algures num recife de Guaxuma de Alagoas

Salaam Aleikum em terras de “ Castilla-La Mancha” já na cidade de Toledo – Com a guia Kalunga Pieter, por aqui ficámos um bom tempo. O evento do Concílio das Kiandas era para durar…Meu mano Corvo andava noutras lides com o tal grego de nome Doménikos Theotokópoulos, o El Greco…

toledo6.jpg Pambu N´gila corresponde ao espaço físico de Toledo ligando este à mística das kiandas de Angola; uma ponte entre os seres humanos e o Minkisi, senhor dos caminhos que guardam os portões da nossa casa, do nosso espaço e neste caso, os muitos portões de Toledo tais como “La puerta del Sol” ou a ”del Cambron” ou ainda “ La puerta nueva de Bisagra”. Havia ali Kiandas Ninfas vindas de todo o lado, de todos os continentes mas, havia uma em particular que me chamou logo a atenção; usava vestimentas africanas e tinha o nome estranho de Zachaf Pigafetta Roxo.

toledo11.jpg Eu que vinha lá da frente, do ano de 2016, sabedor de coisas ainda não acontecidas busquei em sua ficha qual a procedência e até nem foi surpresa, ela ser oriunda do lago Zachaf. Por terras de Monomotapa e na descoberta do caminho dum tal de Prestes João era esse o nome do grande lago; o mesmo que hoje se chama de Niassa. As estória de nossas vidas são por demais curiosas. Não é que muito mais tarde eu próprio já num outro evento renasci num paquete chamado desse jeito. Logologo o lago Niassa bem no meio da África Central!?

toledo16.jpg Foi fácil deduzir que era esta a tal tetravó da agora Assunção Roxo, a sereia de Guaxuma. Minkisi ocorre e corre com fluidez, tem o saber do ontem, do hoje e do amanhã. E, esta cidade mística guarda segredos que não estão escritos. Gozar a cidade e património, não é folhear a história e ler um capítulo porque toda ela é história. 

araujo17.jpg Nela refresca-se a memória num rendilhado gerado de culturas diversas, encruzilhada de raças e encontro de feitiços e feiticeiros que dominam silêncios desconhecidos. Kalungas longínquas de musas e gente de arte feitas pó, impregnadas de muito suko. Pairava no ar  feitiço de aço temperado e manobrado por um N´Kondi que espalha pregos feitos germes comedores de carne, pedra e pau. N´Kondi de N´Gola, N´kosi de Imbinda e um cortejo de muitos Bandokis foram ao concílio de 1583 à revelia de todos os outros espíritos convidados, embaixadores das kiandas das kalungas e seus mutakalombos.   

toledo17.jpg Os espíritos do mal N´Kondi e N´kosi ficaram desapontados por D. Filipe II não os ter convidados formalmente; os astrólogos do rei desaconselharam-no a fazer mistura entre mitológicas Ninfas e Nereidas conceituadas. N´Kondi, o manobrador de pregos ficou encantado com as novas técnicas dum metal chamado de aço e do qual se faziam coisas pontiagudas, espadas, facas cujas folhas nunca perdiam o fio de corte. Era esse o metal durável que tanto buscava para fazer suas maldades aos homens.

toledo19.jpg Os pregos de cobre e alumínio espetados no boneco fetiche Kozo, tinham bons efeitos mas não eram totalmente eficazes; os de ferro rapidamente oxidavam e, quando sujeitos a rezas de Simbis perdiam o efeito desejado. N´Kondi e sua comitiva ajustaram-se no alto da montanha numa dependência de cave de Alcazar, e de fundição em fundição com expertos na arte de têmpera e espias de Damasco tornaram aquelas armas brancas nas mais eficazes em toda a Terra. Estava longe de supor que N´Gola, nosso genérico país teria uma catana como símbolo e, tudo partiu daqui: Toledo.

toledo18.jpg As técnicas apuradas no trato do aço ali, em Toledo já vinham da idade média; N´kondis ancestrais a pedido de Simbas também antigos, num tempo mais recuado chamado na Ibéria de época medieval tinham trazido dedos de N´Zambi para retemperarem na dureza o tal aço batido, esfriado e de novo batido; tratava-se de pequenas pedras de meteorito trazidas das terras do fim-do-mundo, lá da Ovobolandia, terras de Oshakati e Okaukuejo no reino dos Himbas. Do Runda e Urunda que se designaram mais tarde por Cuango e Lualaba, que significam em umbundo terras abandonadas.

toledo20.jpg Terras remotas aonde os N´Dele, Tugas, surgiram como “filhos do mar”; assim diziam os nativos pertencentes à corte do João Imperador, o Rei de Abexi de quem o Rei do Kongo tinha temor. De lembrar aqui que o padre jesuíta D. Gonçalo da Silveira internando-se na Mocaranga e tendo baptizado o Monomotapa foi morto por este por intriga dos Mouros! Estes Mouros que ainda hoje continuam fazendo barbaridades. Até Camões escreveu em verso: Vê do Monomotapa o grande império, de selvática gente, negra e nua, onde Gonçalo morte e vitupério padecerá pela fé santa sua. Tudo tem uma explicação!

toledo15.jpg Em Toledo, eu o Soba T´Chingange, não resisti à mística, comprei uma destas facas. Como N´kondi e seus Bandokis ainda andam por Toledo feitos bactérias, passo a descrever em síntese o poder de magia que estes ainda exercem: - Usam um boneco fetiche feito de pequenas conchas coladas com resina natural com dois espelhos receptores de encomendas mágicas, um na barriga, outro no topo da cabeça, coberto com uma pele de cobra. Na mão direita carrega uma lança de pedra tipo ónix mostrando agressividade no seu carácter. O boneco, todo ele, é encrustado de várias substâncias usadas durante as cerimónias em que os pacientes contam as suas estórias de infelicidade evocando a vingança que desejam infligir ao suposto culpado. Háka!

toledo10.jpg - A vingança é feita espetando o prego num determinado sítio do corpo do fetiche - O N´Kondi também recorre ao imbondeiro chamado de N´kondo Ikuta M´vunbi espetando nele o prego; assim a vítima morrerá inchada como a árvore garrafa, o baobá - O descrito prego de aço é o mais eficaz pois nele tem impregnado todo o mal dos homens. N´Kondi quando das várias permanências nos aposentos subterrâneos de Alcazar foi consultado pela infortunada esposa de D. Pedro I “El cruel”, rainha Dona Branca ali presa. Vários bonecos fetiches de N´Kondi N´Gola ainda podem ser vistos graças ao meu antepassado Soba Aragonês Romero Ortiz. Um dia tinha de revelar isto…

toledo14.jpg Isto pode maçar os não eruditos em áreas destas tão periclitantes, mas prometi a Assunção Roxo e seu espelho Oxor explicar tim-tim por tim-tim toda a estória. As coisas intrincadas são assim, mas tudo o que acontece de ruim é para melhorar. Tudo isto é tão verdadeiro que até parece mentira, mas não é! Deus N´Zambi, dá-nos força para seguir, “ N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela!” As buscas da Torre do Zombo deram nisto…vou fazer mais o quê? 

GLOSSÁRIO:

Kianda: - Espírito das águas na forma de sereia, ritos de Angola; Mutakalombo: - Espírito das águas com incidência nos animais que nela vivem, divindade das águas; N´Gola: - Palavra bantu que quer dizer Angola; Simbi: - Espíritos ancestrais saídos do Kikongo com dois firmamentos, céu o lugar de deuses e terra, domínio dos mortais, na hierarquia espiritual são os avôs dos vivos; Suko: - Pessoa prodigiosa ou alucinada; N´nhaka: lameiro, sítio de plantio húmido, horta; Rundu e Runda: - Sítio de difícil acesso, vulgo no cú-de-Judas…  

(Continua…)

Na n´nhaka do

Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:25
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Domingo, 11 de Outubro de 2015
MOKANDA DA LUUA . XLI

ANGOLA - DA LUUA - CARTA (RE)ABERTA AO PRESIDENTE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Por

mocanda0.jpgSerafim Muca Muca - A lucidez no exercício do mais alto cargo da magistratura de um país é uma ferramenta definidora do carácter de um líder que exige a sua consagração pelo voto do soberano, através dos marcos da legalidade e da legitimidade. A ausência de um destes pressupostos demonstra a natureza do seu titular, que governando, não tem o consenso do povo e voto eleitor.

William Tonet

mocand01.jpg Senhor Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, escrevo-lhe, uma vez mais, apelando a sua sensibilidade, para se colocar não como Presidente dos angolanos do MPLA, mas como Presidente de todos angolanos, logo com amor paternal, principalmente, em relação aos meninos e jovens com idades próximas a dos seus filhos. Escancare o coração e sinta o gemido e a dor de meninos, muitos hoje, com a idade que o levaram a abandonar o Sambizanga e partir para o Congo para abraçar a lua de libertação nacional e devolva-os as mães e esposas dilaceradas com a prisão injusta, levada a cabo, por serviços castrenses, desejosos de comprometer o seu futuro, pois a responsabilidade lhe será imputada.

mocanda2.jpgLuaty Beirão

 A sua biografia fala do período de irreverência juvenil e das manifestações contra as políticas injustas, então praticadas nos anos 60 pelas autoridades coloniais portuguesas, que aderiu e participou, para quê e porquê, se agora em democracia, o Senhor nada faz contra a repressão, a tortura, a prisão e por vezes os assassinatos levados a cabo pela Segurança de Estado e Polícia, contra jovens que nem o querem matar, apenas apelar a uma melhor governação. Senhor Presidente, José Eduardo dos Santos, acredito ser altura de emprestar nobreza ao seu reinado, depois de 36 anos de poder ininterrupto, sem nunca ter sido nominalmente eleito. Foi um erro estratégico, esta opção, pois qualquer que seja o desfecho final do seu consulado, essa condição remetê-lo-á para a galeria dos ditadores…

mocanda7.jpgPoderia ter evitado isso, principalmente, quando morreu assassinado o seu principal adversário político: Jonas Savimbi. Depois de 2002, o senhor concorreria praticamente sozinho e poderia ser eleito nominalmente, pela primeira vez, e se estivesse difícil, apelar à “engenharia informática de esgoto”, para concentrar os votos nas suas urnas, não seria anormal, pelo contrário… Não o tendo feito está mais vulnerável enquanto líder…, quer interna como externamente. Senhor Presidente, os seus apoiantes, acredito, a maioria exímios bajuladores, escondem-lhe a realidade, caso contrário, saberia do clamor do povo e da baixa popularidade que tem. Ninguém mais acredita no seu consulado e Executivo, incluindo destacados militantes e dirigentes do MPLA, que vaticinam a sua partida. Não o dizem por temerem, na crónica cobardia, a perca das mordomias.

mocanda3.jpg Felizmente como não faço parte deste exército, tenho a autoridade de lhe trazer a “voxi populis”. O declínio da sua áurea começou com os assassinatos, dentre outros, de Ricardo de Melo, Adão da Silva, Mfulumpinga Landu Victor, mais recentemente, com o lançamento aos jacarés de dois jovens que o protegeram anos a fio, na sua Guarda Presidencial: Cassule e Kamulingue, seguindo-se, no quartel do palácio, Hilbert Ganga. São muitas mortes nas redondezas do seu gabinete, com igual omissão. A prisão dos 15+1 jovens é a maior asneira do seu consulado, pois tolha a imagem do Executivo de que é titular, colocando-o na lama, face à insensibilidade que vem denotando, com o avolumar de injustiças e o temor que demonstra face ao exercício da democracia, nos marcos consagrados, numa constituição feita a sua imagem e semelhança.

mocanda5.jpg Senhor Presidente, será que os seus assessores (nacionais e estrangeiros), responsáveis pela elaboração da actual Constituição, tendo escondido ao MPLA (os deputados do partido no poder, tinham outro anteprojecto), também lhe esconderam a consagração destes direitos fundamentais? Se não, por que razão os cidadãos não os podem, livremente, utilizar? Essa postura descredibiliza-o, como líder e democrata, daí estar a ser fortemente criticado, também pela promoção de tribalismo, contra um jovem de 18 anos, por alegadamente, adoptar o nome do comandante Nito Alves, que paradoxalmente, também não conseguiu contar com a sua solidariedade, enquanto coordenador da Comissão de Inquérito, sendo então assassinado pelo MPLA em 1977, agora pode acontecer o mesmo com o seu homónimo, quando chineses e outros têm a nacionalidade sem cumprir os requisitos legais…

LUUA1.jpg Senhor Presidente, não acredito ser tão mau e insensível, mas a sua insensibilidade abomina, ao ponto de, alegadamente, preferir que morra, nas fedorentas masmorras do regime o filho de um homem que o serviu com “fidelidade canina” e que foi director da sua Fundação, o Luaty Beirão, que empreende há mais de 19 dias uma greve de fome, face às injustiças, estando muito mal. O mais grave é que o Senhor sabe disso, mas dizem-me, não gosta de ouvir conselhos de gente que não o bajula, gente com coerência e autoridade moral, preferindo antes ser “morto pelo elogio do que salvo pela crítica”. Será que se um dos jovens, Marco Mavungo, José Kalupeteka, Quim Ribeiro + 21 polícias, morrer na cadeia o Senhor continuará a viver com paz espiritual, sabendo que mais uma vida se foi face à injustiça do seu executivo?

mocanda6.jpg Senhor Presidente, não se esqueça que é pai, logo lembre-se do que sofre quando um deles não está bem, sei ser difícil isso acontecer, pela faustosa vida que têm, mas ainda assim imagine o que é o sofrimento de um pai, sabendo que seu filho está preso ou morreu face à sua omissão ou descaso. O poder da oração tem muita força, não defraude todo um país, pois ser radical, não demonstra nobreza, pelo contrário, é medo, é cobardia… Desprenda-se do colete de força e prepare uma retirada feliz, pois caso contrário nunca ninguém o recordará como bom patriota… Senhor Presidente, saiba que na actual conjuntura, os maiores e piores adversários habitam na sua própria legenda, por não ter conseguido, como é natural, servir a todos…, logo se não preparar pontes com os políticos da oposição e membros da sociedade civil, não bajuladora, correrá o risco de acabar sozinho no futuro, inclusive abandonado por alguns dos seus próprios filhos.

mess0.jpg Senhor Presidente, finalmente, seja, pelo menos, uma vez líder de todos, líder sem armas e exército privado, líder do bem, líder do amor, capaz de interpretar os conselhos do Papa e do Presidente Obama, pense como um pai, promova uma verdadeira reconciliação e conciliação, entre todos actores políticos. Agora, na magistratura dos seus 73 anos de idade, faça algo abrangente, porque amanhã, é a lei da vida, poderá ser tarde e nem dos feitos positivos desfrutar e ser recordado. Incite a promoção para uma verdadeira justiça, mande libertar os jovens políticos inocentes, demonstre não ter medo deles e das manifestações, coisa que o indulto/2015 de cariz sectário, não fez, discriminando, injustamente, muitos inocentes que definham nas cadeias, por razões políticas.

Seja líder Senhor Presidente!
As Opções de T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:39
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Segunda-feira, 28 de Setembro de 2015
MOKANDA DA LUUA . XL

ANGOLA - O EMBONDEIRO MÁGICOÁfrica, é uma bênção e um veneno!

Por

DY0.jpgDy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa) - África, é uma bênção e um veneno! - Foi dele que ouvi esta verdade tão marcante em nossas vidas! Autor de “Ninguém é Santo” escrito para todos os Angolanos que amaram e amam a terra que os viu nascer ou crescer…

Foi dos contos que mais gostei de escrever.

embo0.jpg Do meu pai herdara metade da cor da minha pele, o desapego total pelo dinheiro, um profundo amor por África e uma Bedford velha. Da minha mãe a outra metade da cor, o conhecimento das mil mezinhas possíveis de fabricar com a flora africana e o gosto pelo encantamento dos matos, dos rios, das aves e dos animais selvagens e o Molas sobrinho da minha velha e ajudante do meu pai. O meu velho deixara uma terriola no Alentejo profundo no princípio dos anos vinte e com quinze anos rumara para Angola com uma carta de chamada na mão. – Esta é a minha terra, a minha família e o meu sonho de menino. Dizia isto denotando um profundo desinteresse por Portugal e nada do que lhe dizia respeito o emocionava. A minha mãe teimou toda a vida, contra a minha vontade em chamar-me. - Menino Rodolfo para aqui, menino Rodolfo para ali -Dava a ideia que eu não tinha saído das suas entranhas. Quando o velho ficou entravado, tratou dele com um esmero e um carinho inultrapassáveis.

embo1.jpg Foi nessa altura que peguei na carripana e comecei a transportar malas de peixe seco do Tombua para o Cuanhama. Ainda hoje não percebo porque diabo era proibido a sua comercialização e éramos perseguidos ferozmente pelos fiscais do governo. O meu pai ensinara-me como trocar as voltas a esses “Tratantes”, epíteto dos mais meigos que ele usava quando se lhes referia. Usávamos picadas alternativas onde a fiel Bedford resfolegava como um cão com asma, gemendo desesperada no barro negro. Foi numa dessas viagens em que num repente o céu azul se transformou num amontoado de nuvens negras que pronunciavam chuva da grossa que o diferencial foi à vida, algures entre a Cahama e o Katekero. O Molas com o desalento de negro que leva “ tampa” em rebita, tirou o arame que prendia a porta do seu lado e com metade de um saco de farinha a servir de capa confirmou a desgraça.

embo2.jpgO barro peganhento tinha derrotado a tenacidade da velha camioneta, que jazia como um couraçado semi afundado no lago de lama e água barrenta em que se transformara a picada. O Molas não perdeu tempo e agarrou nos “Nonkakos” e zarpou em direcção ao Chipelongo para conseguir ajuda. À segunda noite abandonei a cabina e munido do kamberiquito instalei-me num embondeiro de dimensões inauditas. Um raio cavara-lhe uma pequena gruta no tronco grotesco e rugoso e ali me aconcheguei com a natureza. A lua prateava-me o abrigo improvisado quando ele entrou lindo de morrer, os olhos fitando-me com uma ternura indescritível sob as pestanas sedosas. O pelo argênteo realçava-lhe a elegância dos quartos traseiros e quando se enroscou com terna confiança junto às minhas botas parei de respirar com medo de quebrar a magia do momento.

luis7.jpg Foi então que entrou a fêmea, uma Caínde temerosa abanando a cauda com o nervosismo de quem olfacta o desconhecido. Dormimos os três na cumplicidade daquele embondeiro mágico. Enterrei o meu pai e a minha mãe um quase a seguir ao outro, e a velha Bedford desfez-se em ferrugem no telheiro improvisado no quintal da casa dos meus velhos, lá para os lados do Chipelongo. O progresso, o asfalto, e os interesses abomináveis de alguns mataram a aventura da picada e do peixe seco tal como tantos outros pecados cometidos pelos senhores continentais que ditavam a lei e a impunham a seu belo prazer. Em consequência levei uma sova sem saber porquê de um grupo de libertação que saqueou a loja e matou o Molas com uma coronhada por me querer defender e me fez embarcar um mês mais tarde num avião da cruz vermelha, rumo a Portugal.

dyo01.jpgO meu pai e a minha mãe esqueceram-se de me instruir sobre esta selva e assim vegetei de árvore em árvore no Rossio, entre o Nicolas e os Restauradores, dormindo ao relento onde calhava. Uma noite a chuva e o frio atiraram-me para um alpendre sem kamberiquito. Por volta da meia-noite um casal jovem albergou-se também ali, debicando-se na boca com suspiros de prazer. Lembrei-me dos caindes e do embondeiro mágico, não me mexi durante toda a noite. Pela manhã parti para a vida, para desbravar a selva urbana e tentar amá-la tal como o meu pai amara aquela outra do outro lado do mar. Não consegui! Faltam-me os caindes, faltam-me os embondeiros, faltam-me as picadas, falta-me um peixe seco na brasa com um prato de pirão, mas arranjei dinheiro para a passagem.

Reis Vissapa

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:30
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Segunda-feira, 29 de Junho de 2015
MALAMBAS . XC

TEMPO COM FRINCHAS . Sinto-me palhaço no particípio passado mas, vou fazer o quê!…

Por

soba0.jpegT´Chingange

isl00.jpg O ar está a mais de 30 graus, as cigarras algarvias riscam no ar sua permanente cantoria quente e opressiva; as rolas gemem do cipreste num exercício de respiração flutuando-me no sufoco de antigos sonhos, de quando jovem com electricidade estática e muito preenchido de interferências extras e externas. Neste agora e mais caduco, noto que até o cão trinca imaginárias pulgas batendo dente com dente para catá-las. Vêem ao de cima os minúsculos insectos da alma com penosidades não esclarecidas. Ouço o trote de dois cavalos que batem ferraduras no asfalto, zumbidos de carros a unirem-se aos de meus ouvidos e latidos de cães que farejam estes nos quintais de seus donos.

isl0.jpgÉ a tarde que cai, foguetes de Estômbar ou Silves anunciando folguedos da noite, o assustar de diabos moiros sem sonhos de cristãos velhos, turistas avermelhados, queimados e, elas cheirosas com vestes de suavidade nas condições folgadas da atmosfera, propicias à noite, a engate, ao latejar duma vida ou ilusão dela, na descoberta de gestos novos e olhares reluzentes afastando os gestos de enfado e da estupidez. Trocando memórias comigo mesmo, de repente sinto que nem todos os turistas estão num paraíso como este. Só hoje, noticiaram mais de trinta mortes numa praia da Tunísia. Tudo estava calmo naquela praia mediterrânica quando num repente, um diabo saca de uma kalashnikov ak 47 e dispara aleatoriamente para todos.

isl01.jpgComo saber num dado instante se se está no paraíso ou no inferno? Umas pessoas tomavam sol, outros, chá ou whisky, de repente surge a morte no meio de ingénuas vontades de viver a vida; ir ate lá tão longe para se morrer e, só para nos lembrar que a vida é frágil. Num ái não planeado tudo se foi para quem foi, na mira de um diabo que não obstante provocar movimentos de emigrantes saídos do norte de África, vêm pintados de islâmicos com a simples estratégia de matar vidas; fragmentos de vozes, risos, o barulharem na água ou batendo na areia, carregando o que há de frenético e ansioso como estas mesmas cigarras daqui do Algarve.   

isl2.jpgO cheiro vermelho da morte chegou ali sem o tal de perfume adocicado, algodão com fruta esbranquiçada, das memórias limpas que correm à frente da chuva. Abanei a cabeça para afastar estas imagens que são só uma vaga, fragilidades ou forma de minha eternidade. Também lá estava uma professora portuguesa de música. Serão agora muitos lá num indefinido salão conferenciando com S. Pedro, com S. Paulo, trocando memórias, bebendo chás, comendo biscoitos com cheiro de alecrim. Será que o anjo da verdade lhes apareceu? Que lhes explicou os porquês? Quem fala não sabe; quem sabe não fala. No fim de tudo um apagão, um silêncio, não se é nada!...

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:53
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Terça-feira, 12 de Maio de 2015
MALAMBAS . LXXXI

TEMPOS COM FRINCHAS . ANGOLA - O OUVIDOR DO KIMBO

Relembrar o Luena (Kangamba) - antiga Vila Luso… 4ª de 11 Partes

As escolhas do Kimbo

Publicada por:

nasc1.jpg H. Nascimento Rodrigues - Licenciado em Direito, Jurista eminente e homem público que se destacou, em todas s funções que exerceu no M´Puto - Nasceu no Luena (Kangamba), antiga Vila Luso em Angola…Faleceu no ano de 2010

 (…) - O Kimbo não passava, sei lá, de uma quinzena de palhotas feitas de paus entrançados, umas, ou de argila, outras, todas com tecto de colmo em forma de cone; e estava rodeado por uma cerca ou paliçada quase a toda a volta, assim como que para o resguardar de olhares estranhos. Não o resguardava, claro. E muito menos o resguardou quando, talvez pelos meus quatro ou cinco anos, me habituei a dele fazer uma segunda casa, sobretudo nos dias e, eram quase todos… em que minha Mãe desistia, estafada, de me meter na boca, à força, a comida do almoço que tão carinhosamente me preparara.

 Irritada, fazia com os ombros um gesto cansado, de vencida: era o sinal, tão ansiosamente aguardado por mim, de que eu podia ir brincar lá para fora. Não ia brincar, está-se a ver. Dava umas corridinhas ligeiras pela frente da casa; depois, como quem não quer a coisa, ia encaminhando-me para o Kimbo e num esfregar de olhos entrava numa qualquer cubata de uma mamã negra, agachava-me, cruzava as pernas, e sem cerimónia atirava a mão para dentro da panela de barro, quentinha de funje, ou seja, pirão de mandioca.

dia1.jpgPorque era mesmo daquele pirão grosso, quente, um pouco amargo e sem qualquer condimento de que eu gostava e, por ele trocava os pitéus de minha Mãe. Jamais qualquer mãe negra me recusou uma vez que fosse essa partilha e Deus sabe como era escassa a comida no kimbo. Eu comia o pirão da panela com os filhos negros dessas mamãs, com elas e com os seus homens, pela única forma que os kimbos e as senzalas têm para partilhar: comunitariamente, em sossego, no meio de risos, de uma fala que eu não percebia, mas entendia perfeitamente que era uma fala de amizade, de doação, de gentileza. Depois, barriga saciada, voltava a sair do kimbo e caminhava direito a casa para a sesta obrigatória como se nada se houvesse passado.

MALAMBA: É a palavra - O OUVIDOR DO KIMBO

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:54
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Sexta-feira, 8 de Maio de 2015
KISSANJ . XIII

ÁFRICA E A UTOPIA - Eles, os Americanos, dão uns brinquedos bestiais, que até matam...
Por

soba0.jpg  T´Chingange

Resultado de imagem para captain morgan Falamos muito de África porque temos muito a ver com ela e ela connosco. Para a entender teremos de ir lá atrás ao tempo do capitão pirata Morgan um nobre da marinha Inglesa que roubava aos outros ladrões e quando regressava à corte era visto como um herói. Depois vieram os negociantes negreiros que pagavam uma taxa ao corsário Morgan, súbdito da Coroa autorizado a extorquir o máximo dos portugueses, espanhóis, holandeses e franceses; e, todos estes pirateavam-se uns aos outros e os territórios coloniais de outros países traficando madeiras, ouro, prata e pedras preciosas.
Resultado de imagem para pirataria antiga na inglaterra Agora a pirataria passou dos primos ingleses para as mãos dos Estados Unidos que pela calada armam a uns e outros para se entreterem com os brinquedos bestiais que até matam; porque é o continente mais rico em matérias-primas vão a troco de dádivas corrompendo os governos por forma a se manterem assim analfabetos, dando cada vez mais armas e cutucando este e o outro para que não tenham espaço para o desenvolvimento. Os espertos tornam-se ricos, tornam-se presidentes permanentes, falseiam votações fazem dos governos sua gangues e estrangulam todo aquele cidadão que levante a voz, que reclame. As escolas são escassas, os hospitais pertencem a Organizações Não Governamentais e as riquezas são negociatas com amigos comparsas que lhes dão comissões avultadas.
Resultado de imagem para pirataria americana Os EUA para derrubar um governo que não se submete a seus caprichos egoístas e condições que ele faz, move seus serviços de inteligência que em contacto com os adversários de cada governo quando não com o próprio e os partidos da oposição, financiando-os economicamente ou com materiais de guerra que matam, independentemente de se eles são terroristas ou criminosos; seu objectivo é derrubar um governo que não esteja submisso a eles colocando um governo fantoche que a eles se submeta.

Resultado de imagem para pirataria americana Tudo o mais são jogos de desinformação, manobras de diversão para enganar; eles derrubam e põem os governos e nós desinformados, caímos no logro, auxilia-mo-los e fazem de nós e nossos representantes patetas. Temos infelizmente muitos exemplos em Portugal, governantes e pseudo estadistas que nos entregaram ao Deus dará da sorte e, parece que no futuro, tudo vai piorar…

Kissanji: -  Instrumento musical - tábua de forma rectangular, onde se fixam umas palhetas de metal que accionadas transmitem sons (Angola).

O Soba T`Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:15
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Quinta-feira, 26 de Março de 2015
MUJIMBO . LXXXV

ANGOLAQUE COISA MAIS REPUGNANTE ! - SÃO OS (JUÍZES SEM JUÍZO) AO SERVIÇO DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Por:

vumby0.jpgFernando Vumby - Fórum Livre Opinião & Justiça

Dy7.jpeg Está á vista de toda gente que eles querem transformar os críticos do regime em especial Rafael Marques em farrapos tristes e abandonados, num pais onde vale tudo menos denunciar criminosos e ser honesto. Mas verdade se diga, para um país onde liberdade de expressão só é autorizada e usada para se gerar traficantes de drogas, de seres humanos, para se legalizar fraudes ficais e eleitorais, desvios de dinheiros ou promoção da prostituição entre outros crimes, podemos concluir que até nisto JES foi (inteligente) ao enquadrar esta corja de juízes apodrecidos ao seu sistema judiciário. Nojento, desastroso e escandaloso é no mínimo aquilo que se pode considerar ao ponto tão agoniante a que atingiu o sistema judiciário angolano neste tempo do colono negro.

mug6.jpg Até isto aconteceu ao Rafael Marques, entrar para um famigerado tribunal com 9 acusações feitas pela classe mais corrupta e criminosa que o pais Angola tem e acabar por sair de lá com 15 acusações enquanto aguarda pelo fim de mais uma peça teatral repugnante... Autêntico crime contra a humanidade, monstruosidades praticadas pela justiça angolana e por sua povoação de juízes sem juízo que chegaram ao ponto de transformar a liberdade em libertinagem na hora de tornar inocentes em culpados e salvaguardar a pele de tantos criminosos conhecidos pela maioria dos angolanos.

mug8.jpg Como se não bastasse a fantasia e as ilusões vendidas nos casos, Nfulupinga, Ricardo de Melo, Kamulinguei, Cassuele, Massacre da frescura, Ganga, processo Miala, e umas tantas centenas de casos de assassinatos em sua maioria por questões políticas, ajuste de contas entre ladrões dos mesmos cofres, isto sem somarmos os acidentes encomendados ocultos, até um qualquer dia. Doí ver tanta gente passando este tipo de humilhações e pior como cidadãos obrigados á terem em seus bolsos um BI com o rosto dos dois maiores assassinos que a triste história de Angola conhece. E é ai, que eu digo, ainda bem que José Eduardo dos Santos não é meu presidente, jamais alguma vez o será, e sinto-me orgulhoso por ter tomado a decisão que tomei, mal saí de Angola.

mug7.jpg  Mas, seja como for é lá onde deixei o meu cordão umbilical, sinto-me obrigado a não cruzar os braços e a estar sempre solidário com todos aqueles que lutam por uma Angola melhor, sejam eles de que partidos forem. E é imperioso lembrar aqui que tudo isto só está acontecer e chegou aonde chegou, um pouco por culpa dos próprios angolanos que ainda não se deram conta de si próprios como um povo oprimido e humilhado; e pior até, por estrangeiros se, se considerar que a maioria dos que se apoderaram das nossas riquezas são de origem duvidosa. Nunca antes na minha vida tinha visto essa qualidade de juízes que mais se parecem com bruxos apostados em desgraçar e destruir as mentes pensantes de um país interior, que justamente denunciam verdadeiros criminosos para qualquer parte do mundo, menos em Angola.

Fernando Vumby - Fórum Livre Opinião & Justiça

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:38
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Domingo, 22 de Fevereiro de 2015
KWANGIADES . XXV

ANGOLA . TEOREMA DA AMIZADE - As Falas de Zeca…

AH! K KAMBA T´CHINGANGE - KUUABA “HERERO”!!!

Por

soba0.jpgT´Chingange

Mukanda desoba1.jpg José Santos Impregnado de paludismo duma especial Jihenda da estirpe kaluanda, Zeca colecciona N´zimbos para fabricar missangas que soele sabe fazer. Formado na Universidade do Rio Seco da Luua.

dia0.jpg De mim para todos: Se a cultura é uma invenção, ou uma construção de factos e actos históricos, nós gente da plebe, que vivemos uma experiência diferenciada, podemos afirmar que as nossas falas, apenas podem ser recolocadas contra ou na mitologia antropológica que considera que o homem produz cultura tão naturalmente como as abelhas produzem mel ou a aranha as suas teias. Querendo ou não, se nossa cultura tem uma relação com experiências recentes ou mesmo actuais, teremos de no final de tudo, acabar sempre dependentes das nossas criações. Até nos podemos entender por gestos que, não virá daí mal ao mundo.

soba2.jpegSerá grave se ocultarmos esta nossa particularidade dissimulando algo que é mais essencial: o carácter mítico que este comportamento transporta em nossa sociedade tão alheia aos fenómenos da naturalização de cada qual. Podíamos até falar por assobios ou estalidos e escrever por traços e pontos com zeros e uns, sem daí sair e, decerto seguindo um código de entendimento nos relacionaríamos perfeitamente. Tudo é uma questão de estética com ou sem normas. Se o mito é uma palavra e, esta foi trabalhada de modo a funcionar, veremos que o principio de que o mito atransforma a história em natureza real. E, o mito não oculta nem revela nada, só deforma mas, o mito não é uma mentira nem uma confirmação, é uma inflexão. Posto isto, iremos prestar atenção na mucanda enviada a mim por um kota amigo de infância, dum exemplar nato de inflexão sustentada, estando eu com gente que se comunica por estalidos, uma África pouco divulgada; Ele e eu tivemos um período de vida que marcou a realidade em mito, a vontade em um desejo, o querer em puro néctar:

mona5.jpgDele para mim: Tens a tua sorte em estares nesse "escaldão" do Arco-íris, katé tou, com medo que botes tanguinha de serapilheira de capim na tua barriga de jinguba, vires uuabuama herero pastor, de chinguiços, faças misoso na kukia  com estalinhos de katolotolo! Depois, improvises uma vara, aprendas a equilibrar-te com uma só kinamba como um Massai, durante a manha, a tarde e noite, à frente dos boi, das vaca, dos vitelinha, cus leões dando berrida no por detrás da tua t´xipala e, ospois ku teu feitiço do Mu Ukulu, juntas dois dedos, dmaleducado e o polegar, dás um estalo cueles, finfias um assobio e leão sai na berrida cu medo de tua kuia!

mugabe.jpgTu que só comes biltong seco feito do filé mignon, lombo, alcatra, picanha, caté a fraldinha pertinho do pipi…, que depois fazes figa para nós do M´puto, a gente topa, no diz-que-diz bife tá rijo demais mesmomesmo  cus  “tratamento” “os milongo” “os pós da conservação”. Meu amigo Sekulu, um dia me disse nas suas falas com “vocabulário”, que me deixou banzado e feito matumbo; licenciado nos agronomia do T´Chivinguiro, disse assim que eles do Massai bebem o sangue dos boi para lhes dar guzo. Katé, eu sei que os Massai não come francezinha, num toma cimbalino porque seu cumbú, é mesmomesmo  de kitare malé. Também nessas moda de televisão, ainda não têm o “catecismo” nem conta do banco! Hoje mesmo, aiué! Ainda!  Nada têm mesmo, nem banga da decoração com capim verde da kitanda; só teta do barril das vaquinhas nemas do kipeio. Ué será que vais botar “beiçolas”, assim um pratinho para a jinguba e os tremoços, caté com o pauzinho  de matipatipa para lavares os dente afiado.

zeca5.jpgSoeu, tou aqui no Mputu kp, nos frio, na geada, caté tuje do katotolo me apanhou numa rusga, desprezou na matumbice da minha vacinação, muito enguiçado com o zumbido dos batuke vindo da CEE, dos alcatrão por todo o chão de terra, cus malandro numa celinha cinco estrelas, com tabua para  mokandar as memórias. Tu tens sorte em seres “bicho” dos muxito do mundu, bota kubata, livre para botares faladura dura, feliz com bué jimdandu de desafixação.  Isso torna-te uma gweta com olhos de águia, Mwata de interpretar o chão por onde já passaste, lá no do sertão de lampião, teu Mundão. Dinovo na Mulemba N’Zambi dos teus Muxitos, nos veremos, teus kamba daqui, mais dali ouvindo o teu misoso, no espanto de pacaça, que teu coração guarda. Kinga só!

Do ZECA  bué cafifado neste Mputu.

O Soba T´Chingange

 

 

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:14
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Domingo, 8 de Fevereiro de 2015
MOKANDA DO SOBA . LXXI

ÁFRICA DO SUL - TERRA AFRIKANER

Por

soba eu.jpgT´Chingange

Nós, seres humanos, como num grande aquário e como peixinhos, vamo-nos adaptando às mudança de governos, às disposições por eles impostas, às novas formas de vida com todos os benefícios da tecnologia monitorizada, como num “big brother“, com coisas e utensílios variados adquiridos por nós porque nos dão conforto. Se colocarmos um sapo em um recipiente com água fria, ele ali ficará coaxando de contente mas, se formos aquecendo a água de forma suave e gradualmente ele sapo, vai-se adaptando; o sapo não irá fugir e morrerá fervido. Mandela foi eleito presidente da África do Sul a 9 de Maio de 1994 em terras do cabo da Boa Esperança perante a presença de seus dois Vice-presidentes Thabo Mbeki e Frederik de Klerk. Falou ao país logo a seguir na Praça da Igreja, local aonde a 11 de Fevereiro de 1990 também falou ao país após ter sido libertado da prisão.

mandela.jpgA comunidade Bóher ciente de sua fragilidade pelas muitas vicissitudes porque passaram, sempre se resguardaram a uma dissimulada vigilância cientes de que acomodando-se às mudanças, tal como o sapo, poderiam definhar-se adormecidos na inépcia como que em banho-maria de entorpecer; além do mais não poderiam ficar indiferentes às mudanças pela independência seguidas de guerras nos países limítrofes de Angola, Moçambique e Zimbabwe, antiga Rodésia. Não deixaria de ser preocupante a proclamação da soberania do kwazulu/Natal pelo Rei Goodwill Zwelithini exortando seus súbditos a defendê-la; nesse então, o ainda presidente Frederik de Klerk minimizou a proclamação classificando-a como uma declaração politica e, não um acto constitucional.

mandela3.jpgNão obstante isto, foi obrigado a demitir 3 oficiais-generais da polícia por terem fornecido armas ao Partido da Liberdade/Inkhata, também designado de 3ª força. Mas, nisto de conflitos, quem não os quer, é quem sabe as verdadeiras consequências de uma guerra. O General Constand Viljoen, que era Comandante-chefe das forças armadas Sul-africana e líder da Frente da Liberdade (LF) continuou com inteligência e moderação a defender os ideais do povo Afrikaner que anseia pelo reconhecimento da criação do seu próprio Estado. Registou por fé, a fixação de fronteiras do “Volkstaat” sem o uso da força militar, conseguindo do ANC a declaração de que o projecto do Estado Bóher é uma realidade e que, negociações nesse sentido prosseguiriam com o próximo governo a sair do acto eleitoral a seguir.

afr3.jpgNelson Mandela toma posse como Presidente da República da África do Sul a 10 de Maio de 1994 em Pretória terminando com os 40 anos do regime segregacionista. Tudo o dito se mantêm de pé com os pacíficos a virarem duros e os duros a se tornarem pacíficos. Tudo pode mudar aonde ainda nos dias de hoje subsiste o crime, crises que se arrastam provocando alguma instabilidade a fim de se criar condicionante ao ser humano e, por forma a seguir sistemas novos porque, as pessoas podem ser transformadas em nada pelo uso de manobras ou instrumentos saídos da própria sociedade, da corrupção galopante com ganhos fabulosos em comissões, exercício do compadrio e sobre facturamento de obras oficiais sob seu controlo.

afr6.jpgCada vez mais as pessoas são controladas pelo dinheiro, pela economia e, cada vez mais nossos recursos estão sob a influência de outras pessoas, gente de outras partes do mundo com outros governos, outros costumes, outras religiões e ideologias. O problema residirá sempre porque os governos são feitos de pessoas e assim que se dá poder a alguém, isso nunca será o bastante. Alguém terá sempre no instinto natural humano de acumular mais poder. Tome-se como exemplo os casos daqueles países limítrofes, Angola. Moçambique e Zimbabwe aonde campeiam medidas despóticas fazendo leis descabidas, simplesmente porque lhes falta preparação, atitude e idoneidade.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:49
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Sábado, 7 de Fevereiro de 2015
MALAMBAS . LXVIII

NAS FRINCHAS DO TEMPO . Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba eu.jpg T´Chingange

cro0.jpgEsta frescura do Atlântico, devido à corrente fria de Benguela, já se fazia sentir há quase quinhentos e cinquenta anos atrás quando por aqui passaram os navegadores portugueses a caminho da Índia das especiarias. Por ordem do rei D. João II, Diogo Cão passou por aqui e, até deixou padrões como o de Cape Cross, construído lá pelo ano de 1482, a uns escassos cem quilómetros mais a norte de onde agora nos encontramos. E Ibib já dorme há quatro horas; já lá vão 43 anos de convívio concertado aos seus 73 anos de vida, de idade, de aventuras, de desafios com agruras ou contentamentos trabalhados, umas vezes exóticas, outras num vamos ver como acontece para contarmos isso, nem que seja só a nós próprios.

cro1.jpgNavegando assim a vida, percorremos milhas descobrindo entretantos diferentes e falando do amanhã já tão de cerca iremos matabichar no Spur de Swakopmund, veremos o quanto já cresceu esta terra dum nada e como dizem os muitos cartazes, a visita não ficará completa sem uma visita ao famoso Café Anton com seu “coffe and cake” e seus clássicos e deliciosos como Schwartzwalder Kirsahtorte , Florentier e Apfelstrudel, a condizer com estes nomes nada usuais nas nossas dietas feitas com salsaparrilha, beldroegas e gimboa para moamba de chuço ou capota do rust camp. Iremos a seguir e nas calmas até Walvis Bay ver a waterfront e regressar.

cro2.jpgPodemos ver em Walvis Bay a área da lagoa, especialmente conhecida pelo elevado número de flamingos que ali se juntam alimentando-se de crustáceos que também ali se desenvolvem em natural maternidade. Às vários espécies residentes que ali se abrigam, junta-se um elevado número de aves migrantes do intra-africano e Palearctic, uma das eco regiões constituídas na superfície temeste a juntar às oito conhecidas e inseridas na Europa , Ásia Norte no  sopé dos Himalaia, Norte da África e partes do norte e centro do Península Arábica que frequentam suas águas tranquilas.

deserto3.jpgDe novo, posso aqui fazer-me todas as perguntas sem obter todas as respostas pela simples razão de que nada pode acontecer sem que o tivesse querido Deus, correndo o risco de escutar outras opiniões que não estas e, na qual nenhuma autoridade tenho para lhes chamar de blasfémias.  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:02
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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2015
MALAMBAS . LXI

NAS FRINCHAS DO TEMPO . O risco ou o rego que, por coisa pouca muda nossas vidas…

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba eu 2.jpeg T´Chingange

 Se a vida é uma sentença com um princípio e um fim, não conseguiremos ouvir o grito da vida se sentirmos remorsos daquilo que não fizemos, ou daquilo que poderíamos ter feito; não podemos assumir a culpa dos pais, nem dos pais de outros pais. Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado nem por onde fazer o rego que por coisa pouca mudou nossas vidas.

 Sem perder tempo com enigmas, aceitei o convite da Ana Maria para passear ao longo do Kavango até quase o Botswana a visitar rápidos e remansos das chanas deste, já com as águas do kuito, águas escuras que irão inundar o Delta, um mar muito antigo a dar vida aos muitos N´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e outras muitas espécimes. Pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge,  Nunda River,  Ngepi Camp, Ndhovu Safari, mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio, aonde subimos numa barcaça, mesa posta supimpa, para as catorze  almas e alminhas do clã Miranda degustarem um bem surtido e nutrido breakfast com iguarias de crepes e outras ternuras mais adultas.

 Já de regresso, de novo nos internamos numa sinuosa picada de areia a visitar um lugar já conhecido como Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi mas, agora com o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”. Cumcatano, disse eu depois de pisar o paradisíaco sítio cheio de coisas “good” logo a seguir a cubatas feitas de barro e capim com dois por dois metros, e muito matutar de como caberia ali um par de gente sem os pés encolhidos. Eu, João, Bruno e seu tio Alemão Franz lá fomos em uma pequena balsa com motor à popa e um bafana enfarpelado de caqui, seu chapéu de carcamano do Divava, um surtido de águas, refrescos e cervejas na caixa térmica, ate á base dos rápidos do Popa Falls. Naquela turbulência e com nossas canas de carretos, estralhos, amostras bizarras e bizarrocas, farfalhudas ou reluzentes, atiramos e recolhemos, atiramos e recolhemos e, por aí, repetido sem nada pescar e, eis que o campeão João num truz recolhe um peixe tigre cheio de dentes pontiagudos aí com uns dois quilos que, foi tudo na soma da pescaria, um tigre e três nadas. 

 E porque é vulgar dizer-se que os gestos não totalmente sinceros vão sempre atrasados, agradeci logo tais luxuriosas horas de lazer a Ana Maria e seus dois filhos quase carcamanos, mas com rusticidade na traça mirandesa ou bragançana em seus sotaques, falas e cantorias. Soe dizer-se que todo o acto humano interfere com a vontade de Deus por mais insignificante que seja e, neste dia de Domingo, quatro de Janeiro do ano da graça de 2015, só fui livre para poder ser castigado na míngua da pesca com um escassíssimo nada. Também nisto, não posso ter remorsos! Um dia de cada vez com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong boher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano da família Miranda.

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:19
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Quinta-feira, 1 de Janeiro de 2015
MALAMBAS . LX

NAS FINCHAS DO TEMPO . Grootfontein – No Otjozondjupa da Namíbia…

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba eu 2.jpeg T´Chingange

Dado que os homens para tudo querem explicações, eu também quis saber um pouco da história do lugar aonde passei a noite de 29 de Dezembro de 2014; surpreendi-me pois que a este lugar com 14 km2 foi dado o nome de Fiume, foi uma cidade-estado da história contemporânea, que existiu entre 1920 e 1924, na atual cidade de Rijeka, na Croácia.  Este Fiume Lodge e game farm, mantêm sua excêntrica soberania ostentando a bandeira da Croácia de forma simbólica. Com metade da área daquela ex-parcela europeia tem Jorn Gresssmann como zelador-mor de uns quantos habitantes khoisan residentes e uns quantos turistas ocasionais que por ali vão chegando. Os demais habitantes são bichos tais como girafas, elands, kudus, orix, zebra, springbok, hartebest, e avestruz entre outros de mais pequeno porte.

 Tive de abrir três portões até chegar ao conjunto de lapas, chalés bem ornamentados e cobertos a capim do okavango formando um complexo de apartamentos e um outro conjunto formando a recepção, bar, restaurante e cozinha. Entre o bloco de serviços e os chalés lapa em forma oval está disposto um agradável jardim com grama e plantas exóticas ornamentais enfeitando o conjunto com piscina, d´jango de descanso, lugar de braseiro e árvores de porte bonito autotnes.  Em realidade é um oásis no meio de um nada, oceano verde de espinheiras. Até este núcleo habitacional, tive o cuidado de ir a passo de morrocoi tendo-me desviado de um cágado passeando ao longo da picada.

 A receber-nos lá estava Jorn desfiando seu austero calendário; deu-nos dez minutos para inicio do jantar que impreterivelmente era servido às sete horas, inicio da noite, e dali deliciando-nos entre outros acepipes, carne de gnu e de eland fechando com creme de manteiga escocesa, assim ao jeito de baba de camelo. Dali podíamos ver através das janelas de vidro e rede anti-mosquito os muitos kudus que ali vinham beber entre avestruzes e springbokes como se sentissem obrigação de se exibirem a nós. Foi mais um fim de dia com surpresa inesperada, um “enjoy you stay” no requinte da sempre agradável Windhoek lager.

 Sabendo que entre os cidadãos de Fiume de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos ou razões ideológicas, fundou aqui e alem "Comunas Livres de Fiume no Exílio", à qual aderiram numerosos fiumanos e, surgir daqui, penso eu, este nome num lugar tão distante. Tenho a dizer que a todas as perguntas que me possam fazer, não poderei dar todas as respostas porque nem sempre as estórias e lendas, conservam alguma relação com os factos, transformando-se até em puras fábulas, que será o caso de uma Croácia de 14 km 2 em pleno mato na terra do nada, para satisfazer um sonho de alguém fugido da guerra. A tempo de eu ver o principio do nada, tomei o breakfast às sete horas do outro dia confirmando o legitimo cuidado do Free State, uma simbólica herança, um perfeito sonho de um primogénito em terra de nome bizarros como Omatako, Okavarumendu, Otjssondu, Okakamara, ou Otjinoko. Já só restavam 440 km para chegar à Andara do Okavango.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:32
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Domingo, 28 de Dezembro de 2014
MOKANDA DO SOBA . LXIX

MALAMBAS DE NATAL –  Para provar, que o que tiver que acontecer acontece, haverá sempre um milagre

MALAMBA: É a palavra

Por

soba eu 2.jpeg T´Chingange

 

As pessoas não escolhem os sonhos que têm e, estas duas noites logo a seguir ao Natal, seguindo um destino, dormi em Guest House Willtotop de Vanda Potgieter nas imediações de Windhoek, esperando seguir o rumo ainda por escrever na singular legitimidade do partilhar dum reino, aonde todos são presumíveis herdeiros. Reino, aonde o tempo passa igual para todos; seguirei mais tarde na direcção de Okahandja, Otjivarongo, Otavi, Grootfontein com término em Rundu no Okavango. Um homem e uma mulher, sexagenários andando através do mato, savanas de África sem fim, um mar de acácias, espinheiras em montes ardentes, campos sem cultivo intensivo, lugares habitados por kudus, búfalos, zebras e leões, sabendo de antemão, que o deserto não é só aquilo que a nossa mente se costumou a interiorizar, pelo que se lê ou pelo que se ouve, sempre na vontade e na natureza nas coisas de Deus.

  Como se fosse um cofre, viemos futurar o destino, olhando dentro dele, ver o que já foi passado quando se abre e que, após seu fecho, só se pode pressentir o que poderá vir a acontecer, nada mais! Os segredos de Deus só a Ele pertencem! Na voz do bom senso, terei de esperar o amanhã, sem mais nada ter que fazer e, em paz, divorciar-me de mim, dando a chave do cofre ao mestre da charrua da vida. E, porque foi que viemos aqui, se não era necessário afastarmo-nos tanto, a um lugar tendo por testemunho absoluto o céu que nos cobre, para onde quer que se vá.

 Para provar que o que tiver que acontecer acontece, haverá sempre um milagre a alterar este curso do destino e, pequeno ou grande, ele surge na aventura como um amor ao próximo! Desta feita tem o nome de kikas, no feminino, que move vontades e ternuras a alterar este simples destino, seu toque milagreiro de bem-haja, pequenas grandes coisas que fazem a diferença! Como podemos nós acrescentar à ciência o entendimento de simplicidades tão abrangentes; uma mão amiga! As pedras surdas e mudas não podem testemunhar porque elas têm seu próprio destino, transformar-se em pó, e nós, em coisa nenhuma.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:40
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Terça-feira, 11 de Novembro de 2014
XICULULU . LVIII

ÁFRICA – A REALIDADE .

ANGOLA E SEUS 39 ANOS DE INDEPENDÊNCIA

O poder do petróleo e a neo-colonização nas falsas democracias … II

Xicululu/ Xipululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, orgulho, cobiça (Kimbundo/ Umbundo)

Por

soba3.jpg T´Chingange

NÃO PEÇAS A QUEM PEDIU NEM SIRVAS A QUEM SERVIU

africa10.jpgOs países africanos basicamente, continuam dependentes de infra-estruturas ou investimentos que as ex-potências colonizadoras lá tinham deixado ou feito e, continuam agora a fazer num leque mundial mais alargado, com chineses, brasileiros ou japoneses com implantação de fábricas, linhas de montagem, ou alta tecnologia para a exploração de seus minérios, ou petróleo.  Obviamente que no Continente Africanos temos países muito ricos em minerais, petróleo, ou certas culturas específicas, países menos ricos e outros pobres. Os países africanos ricos têm sempre quem os procure ajudar financeiramente desde que as contrapartidas sejam boas, agora os países pobres que dependem de ajudas, donativos e empréstimos que muito dificilmente conseguem pagar, esperam sempre que os países que lhes emprestam dinheiro lhes perdoem as dividas, o que ciclicamente acontece.

cafufutila4.jpgO que mais sobressalta a um visitante, empresário ou trabalhador por conta de outrem quando chega a um país africano com Angola no topo, é a arrogância destes, suas despropositadas demonstrações de riquismo, ou mesmo hostilidade às medidas de boa gestão; as melhorias para o povo que representam são sempre descuidadamente proteladas! Não fossem os países detentores da alta tecnologia dar-lhes tudo aquilo que consomem desde alimentos aos automóveis ou á tecnologia na extracção do crude que lhes rende milhões que, metaforicamente falando, sem esse apoio, seria como retirar a um doente a botija de oxigénio que os mantém a respirar

africa 3.jpgSe o resto do mundo retirasse todos os seus cidadãos do Continente Africano, lhes fechassem todos as fábricas multinacionais, boicotassem todos os fornecimentos desde alfinetes, clipes e até aviões, os africanos voltariam rapidamente ao tempo pré-histórico da pedra lascada; tal como foram encontrados pelos árabes idos do Golfo de Omã que os escravizaram, para posteriormente serem vendidos aos capitães de barcos negreiros europeus que aportavam à costa ocidental de África

 Princesa imperial do Brasil, D. Isabel - Recordemos aqui a lei Áurea proclamada  a 13 de Maio de 1888 (Lei Imperial n.º 3.353)  que extinguiu a escravidão no Brasil precedida pela lei n.º 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de Setembro de 1871, que libertou todas as crianças nascidas de pais escravos, e pela lei n.º 3.270 (Lei Saraiva-Cotegipe), de 28 de Setembro de 1885, que regulava "a extinção gradual do elemento servil". É com um profundo lamento que recordo tudo isto para aclarar ideias periclitantes de “ Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu”.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:39
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Domingo, 9 de Novembro de 2014
XICULULU . LVII

ÁFRICA – A REALIDADE - Falsas democracias tornadas república de bananas… I

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

soba3.jpgT´Chingange

áfrica.pngNão obstante a maioria dos países africanos terem obtido sua independência há mais de cinquenta anos, a esmagadora maioria tem revelado incapacidade em vincar sua auto-suficiência com excepção da Á. do Sul e, mesmo esta resvala a cada dia para uma gestão medíocre por via de suas leis proteccionistas, xenófobas ou inadequadas num mundo que se pretende moderno! Todos estes se defrontam com avassaladora corrupção e desajustadas taxas administrativas ou aduaneiras. Sua evolução académica, científica e tecnológica continua reduzida a ínfimas expressões coartando o ingresso de técnicos externos por via de protecção étnica ou compadrio tribal, não obstante dependerem em grande parte do paternalismo colonial.

klimanjaro.jpgNas mínimas condições de vivência de seus cidadãos ainda se verifica continuar a ser um sonho que dificilmente se tornará realidade a curto prazo. Quase na totalidade os governos africanos revelam-se autocráticos e ditatoriais; falsas democracias tornadas umas república de bananas. Suas elites governamentais estruturam-se num sistema de corrupção organizado comparada aos cartéis de drogas e, proporcionando a seus lideres enriquecimento ilícito, fácil e rápido.

kimbanda.jpgUsando empresas multinacionais de abalizado “know-how” exploram, manufacturam e colocam nos mercados internacionais produtos ou matérias-primas de seus países com fabulosas comissões para si, suas famílias ou apaniguados. Há cientistas que afirmam que os cérebros dos negros diferem substancialmente dos caucasianos ou arianos e que, por este motivo mantêm um maior primitivismo ou atraso; mas eu pessoalmente não vou por esta enviusada tese. Mas, tendo sido todos estes países colonizados pelos europeus desde os séculos XV, basicamente continuam dependentes de infra-estruturas ou investimentos que as ex-potências colonizadoras lá tinham deixado ou feito.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:14
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Sábado, 8 de Novembro de 2014
CAFUFUTILA . LXXV

MILONGOS CUSPILHADOS Como  adstringir  triglicéridos com sabão macaco IX

Por

soba3.jpg T´Chingange

NAMIBIA 0.jpgPelas sete horas e trinta minutos, gozando mais regradamente os bens da inteligência e da vida, remexo a chávena com meu especial milongo de adstringir triglicéridos. Desolando-me numa sinceridade gemida de tudo o que é ilusão, indefiro-me nos contornos que se transportam sempre às costas, um pessimismo que sempre se enrola no soalho do cerebelo. Sei o quanto é difícil ler o indecifrável mas soe dizer-se que a teoria do pessimismo é bem consoladora para os que sofrem e, eu, com os meus quase setenta anos, já não tenho fornalha para alimentar esta lenta combustão, a da chatice! Necessitando de renovar minha paz por mais noventa dias em pais que não o meu, insurjo-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos demasiado exorbitantes por essa autorização.

picos no espaço.jpgDois carimbos de prorroga pelo preço de oitocentos euros, uma roubalheira; mesmo que rumine uma tal harmonia que me favoreça dormir embalado pela mão de Deus. Pagar oitocentos Euros, por duas prorrogas! Brado aos céus! Esta paz fica-me cara! Para prorrogar a minha estada neste planalto do Kalahári de Johannesburg evitando esse absurdo pagamento, um expediente para além de caro, pessimista, terei de rumar a terras a norte do Orange, no país do nada, e regressar de avião a fim de obter mais três meses de estada na paz. Regressando à teoria do pessimismo terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de acácias, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido. Em àfrica tudo é possivel (TIA - That is África).

acácia.jpgCoabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me um desconsolo na alma. Bolas! Como podem fazer leis tão despropositadas! Terei de optimizar o percalço com um “há males que vêem por vem” para me contentar. Sem me assustar com a calma que carrego, trotarei alvoroçadamente para Windhoek a evitar pagar um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, numa forma de amaciar minha rigidez branca em terras de negros. Irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai, o Okavango, um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida! Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:32
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Quarta-feira, 9 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXII

África profunda - Nas terras do fim do mundo 

Por

Eduardo Torres Eduardo Torres

 Quando criança, ainda ouvi várias histórias passadas nessa Angola inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada. Os comerciantes do mato, viviam absolutamente isolados, e mais do que eles, alguns chefes do posto administrativo, às vezes em locais situados fora dos normais circuitos utilizados pelos fubeiros, pelas carreiras mistas de passageiros e de carga que começavam timidamente a surgir; Havia as ligações, a partir de Sá da Bandeira para o Huambo, Benguela e Humbe mas, lá para as terras do fim do mundo, só havia transportes de longe em longe para entrega de produtos necessários ao comercio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole ou ainda novas sementes. O negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia seus dialectos. Os postos administrativos com seus cipaios, tinham por tarefa coordenar as várias actividades e cobrar imposto de cubata entre outros, subsistindo assim, sem sobrecarregar o M´puto longínquo.

 O resto de todo o movimento lá mais para o interior, era feito através do "carro bóer", com grandes tropas de Ambaquistas, macotas, mondongos e monandengues numa relação directa na troca de produtos. Nessas terras onde o calor aperta e, a doença do paludismo chega sem aviso tal como a tzé-tzé; Ao entardecer não se podia abandonar o interior das casas, porque os leões, hienas e outros predadores podiam surgir a qualquer momento; naquele seu habitat, era natural circulavam por perto dos povoados com cabeças de boi. Quando o chefe do posto necessitava de alguma coisa ou ajuda, enviava um cipaio de mensageiro aos comerciantes próximos mas, isso no geral demorava uns quantos dias.

 Baseado numa das muitas histórias que ouvi, que presumo ser verdadeira, em um posto isolado, aconteceu, que um dia a esposa de um destes chefes, adoeceu; parecendo não ser nada de grave, no correr do tempo seu estado de saúde foi-se deteriorando, até que seu marido já em desespero envia um cipaio a buscar ajuda ao fubeiro mais próximo. Os dias passaram-se sem chegar o tão desejado apoio e a senhora faleceu. Seu marido, o chefe de Posto, teve de tirar as portas de sua casa para fazer o caixão sepultando-a desta forma. Esta abnegação tem forçosamente de ser lembrada aos vindouros para que não se deturpe essa nobre missão de gente pioneira, sem honra nem glória.

Viajando com meu pai, conheci muitos comerciantes que viviam num isolamento de completo desespero; seu contacto somente se fazia quando passavam as caravanas de tropeiros á semelhança do Brasil. Eram estes os chamados " Funantes ou Ambaquistas", que não sendo comerciantes na verdadeira acepção da palavra, estabeleciam aquilo a que se poderá chamar hoje de rede primária de escoamento de produtos, cobrando seus serviços em libongos ou makutas, iam desde a costa, Benguela, Sumbe (Novo Redondo) ou Namibe para o interior correndo riscos de ataque de feras ou meliantes, como o tão falado Kaprandanda. Angola era e continua ser diversificada em seus profundos contrastes, com seus sobas, kimbos e toda uma panóplia de feiticeiros, curandeiros, kimbandas misturado crenças de misticismo de vivências díspares.

(Continua…)

Nota: Tzé-tzé – mosca portadora da doença do sono; Kaprandanda – tempos antigos , quando do uso de arcabuzes; Ambaquistas - naturais da Ambaca, pioneiros cafuses dados ao trambique. 

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:16
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Segunda-feira, 12 de Maio de 2014
CAFUFUTILA . LVIII

ANGOLAGATE . Dos Santos Prestes a Reabilitar GeneralCorrupto - 3ª de 3 Partes

Escolhas de

 T´Chingange

Fonte: Maka Angola

Nos anos 90, o presidente foi o principal beneficiário dos esquemas de enriquecimento ilícito através da compra de armas durante o conflito armado. As armas eram adquiridas em segunda mão, muitas em estado obsoleto, por dois traficantes de armas, Pierre Falcone e Arkady Gaydamak. No referido período, a Sonangol depositou cerca de um bilião de dólares em contas de Pierre Falcone. Este mercenário francês cuidava de encaminhar parte desse dinheiro para as contas pessoais do presidente José Eduardo dos Santos e dos seus principais colaboradores. Segundo documentos compilados pela justiça francesa, pela venda de armas avaliadas em mais de US $790.8 milhões, Falcone e Gaydamak distribuíram comissões aos dirigentes angolanos no valor de US $54.3 milhões.

Arcadi Gaydamak

O general Araújo, na época conselheiro de Dos Santos, recebeu US $6.3 milhões, enquanto o comandante-em-chefe aumentou as suas poupanças no Banco Internacional do Luxemburgo com US $ 5 milhões. Do círculo restrito presidencial, o seu amigo embaixador Elísio de Figueiredo, aprovisionou as suas contas bancárias com US $19 milhões, enquanto o então chefe da Casa Civil do presidente, José Leitão, injectou nas suas contas em Lisboa US $17.5 milhões; o então chefe de comunicações do presidente, o coronel (hoje general) Leopoldino Fragoso do Nascimento, viu as suas contas no Banco Comercial Português na Madeira aumentarem em US $3.2 milhões.

Os generais Fernando Miala, Carlos Hendrick Vaal da Silva, Salviano Sequeira e João de Matos, entre outros, também ganharam em comissões. O famigerado caso Angolagate envolveu também um complexo esquema de corrupção para o pagamento da dívida angolana à Rússia, resultante da venda de armamento. Falcone e Gaydamak pagaram um total de US $36.2 milhões em comissões para contas tituladas directamente por José Eduardo dos Santos, o comandante-em-chefe. Em resumo, o comandante-em-chefe tem sido ao longo das últimas décadas o principal promotor da corrupção no seio das Forças Armadas Angolanas. Os generais limitam-se a seguir-lhe o exemplo, trocando impunidade por lealdade e protecção ao poder do chefe supremo.

Herculano Kiala

Final

A Opção do Soba 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:20
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Quarta-feira, 16 de Abril de 2014
CAFUFUTILA . LV

OS  DARDOS DO KIMBO- Nga! Sakidilá! - Obrigado!

EM TEMPO DE PÁSCOA

Por

 T´Chingange

  Múkua e seu fruto

Para não me mentir, num troço de sítio longínquo algures em África, resgatando pedaços de lembranças chupo a acidez da múkua, abraço os meus amigos, muitos deles sem a t´xipala de candengues visível no cardápio das mokandas, das muitas malambas do facebook. Já kotas, de cabelos brancos, grisalhos ou carecas, o tempo esquindiva-lhes a vontade de juventude perene.

 Embondeiro

Simbolicamente abraço o embondeiro da saudade que os contêm em seu corpo inflado, inchaço de cacimbos sem primaveras, só kiangala (no jeito de verão de S. Martinho).  Uma vida sem amigos é como uma primavera sem andorinhas, um cacimbo sem capotas, um jardim sem plim-plaus. Vou fazer uma rebita, algures na minha floresta, fazer uma fogueira no meu deserto, juntar nas anharas todos os kambas e kiandar-lhes (desejar)  uma boa Páscoa.

 Flor de embondeiro

Voando neste pequeno nada, envio um pouco de mim envolto num obrigado na forma de flor de múkua. Junto os meus kofus e a mukuali (cestos e catana), sento-me debaixo dum m´bondo (embondeiro) e bebo todo o marufo que tenho na kubata para vos beber, embebedar; arrastarei as quinambas para me despedir do mwani kazuca, amigo de muitas andanças. Eu que já tenha quase 69 kixibus (cacimbos), entendo que tenho de kubasular (fazer finta, dar a volta por cima) a vida de matacanha dos kalundus m´fumos do puto (tubarões, chefes do governo do puto), que me fisgam mau-olhado na pensão desfalecida de kitari malé.  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:16
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Sábado, 7 de Dezembro de 2013
CAFUFUTILA . XLIX

"NELSOM MANDELA"Morreu o Senhor de Howick, KwaZulu-Natal

Por

 soba.jpg    T´Chingange

Por alturas do Mundial-2010 de futebol na África do Sul e estando eu por lá, escrevi assim: “A humanidade, realiza-se independentemente da cor, credo ou partido. Na história dos tempos, a verdade atravessa o globo com a força dum grande raio; a África do Sul não vai ficar à margem desse raio. Rezo para que a mudança de atitudes seja dócil como as águas mansas do Orange que indiferente, corre barrento pelo Kalahári. O multiculturalismo na sua retórica de “respeito às diferenças”, do culto nas “escolas de ressentimento” poderão contribuir para uma mudança social em modos pacíficos mudando conceitos de estar (…) mas, desgostou-me ver altos muros com cercas eléctricas acantonando gentes em “farmes e plotes” cerceando a aproximação que se deseja.

 Agora que Nelson Mandela ultimou seu destino para parte incerta nas montanhas do sua Howick relembro aqui as preocupações que se amontoam como pedras à semelhança dos muitos sítios fúnebres ao longo das encostas do seu KwaZulu por onde andei. Na Ilha de Robben, Mandela elaborou a Carta da Liberdade após 27 ano de cativeiro mas ela não está em vigor na perfeição; na ânsia em tomarem o poder, foram defraudados consabidamente. A liderança do ANC reconhece ter sido manipulada nas negociações económicas e cada vez que um oficial de topo do ANC diz algo que indique honrar a Carta da Liberdade o mercado responde com um “choque” fazendo o Rand cair em queda livre. Fracamente, não me parece desejável que surjam uns quantos Mugabes a querer tudo e a qualquer preço para os negros como sucede no Zimbabwé. Madiba, exemplo para o mundo, paz à tua alma.

 

 O recente monumento de Nelson Mandela, situado em Howick, um carminho rural, o lugar exacto aonde Mandela foi preso há 50 anos, por sua luta  contra a dominação dos brancos.

Obama, com a morte de Madiba, pediu a bandeira a meia haste ao mundo inteiro. Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. As élites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano" à semelhança do que se passa em Angola, no Zimbabwe, nos Camarões ou mesmo Moçambique. Se Obama fosse africano, não teria espaço para fazer campanha; ser-Ihe-ia feita a “folha” ou, seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente e ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os mwangolés de África não toleram opositores, não toleram a democracia, não seguem a sábia herança de madiba. O mesmo irmão negro que hoje é saudado como presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos brancos, de outra bandeira ou mesmo de nenhuma. Faço votos para que isto não suceda na África de Madiba.

O Soba T´Chingange



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Quarta-feira, 4 de Dezembro de 2013
KWANGIADES . XII

UNDENGE AMI MU MOAMBA! Versos avulso prensados em texto

Por 

José Santos - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco.

NGANA NZAMBI!  NGA! SAKIRILÁ!  

Desse tempo colonial – kisakidilu, jamais esquecerei a minha matriz, o que com ela ali vivi num tempo maravilhoso e abençoado como não há outro igual, kiximanu ami. Por muito que a minha vida naquele kitují, tenha berridando kiavulu do carro do fumo, tenha voado no koiilo num tempo perdida, tenha desembarcado no granito do putu. No solo do mundele conquistador lusitano, logo marcado pela palavra degradante, depois rodeado de desilusões no lugar estranho, feito de sacrifícios, de busca incessante… Reerguendo loando a loando a kubata do muenhu que muito demourou a trazer algumas compensações…, jamais serei ingrato em esconder que sentia Kibabu de facto naquela vivência angolana desse tempo colonial.


Afinal, foi igual à de muitas famílias ali reunidas, constituídas, criando os seus mona, com dificuldades, com cuidados extremos ou não, mas, tudo feito numa moamba de uakidi paixão…  A minha tristeza vai para muitos, que esqueceram bem ao longe na diáspora ou não, o tempo na Mazanga andando com o baleizão na mão…, pois muitos esqueceram o dimatekenu ê…, um principio mal vestidos e famintos… Já são trinta e oito anos de ausência, mas continuo igual e a divulgar a minha paixão, que é retirada sem maldade, o muxima kulendukilaku ami, com muita alegria, com sentimento e sem maledicência…

Para muitos, a palavra saudade, perdida no ar, voava/voa num colo de uma grande tristeza, sem rumo de recuperação…, hoje é amarga certeza, porque lá, jamais imaginamos envelhecer neste lugar… Estar/estarmos longe do lugar de infância,  da mocidade…,do trabalho que já trilhava na Mazanga…, sentir no rosto dos kotas a perda da sua vida tão desfeita, para muitos funcionava, funciona ainda como um travão, que é doloroso sentir estar/amos afastados dessa vivência… Como foi o nosso caso nesse “êxodo” de má recordação em que todos fomos afastados por aquele safanão dado pelo carro do fumo, que despejou veneno no chão, que intoxicou-nos , encurralou de medo o nosso coração…

(Continua…)

 

GLOSSÁRIO:
Dibanda – fortuna; Dimatekenu – início, começo…; Kandandu/Ndandu – abraços/o; Kianda – sereia; Kiavulu – muito; Kibabu – afago; Kitují – Outubro; Kisakidilu – agradecimento; Kiximanu ami – minha homenagem; Koiilo – Céu; Kulendukilaku – humilde; Makóiu - bênção; Malembelembe – muito devagar, com cautela; Mazanga –cidade; Mindele-iamala – homens importantes; Mukonda uala Lusangelu – porque é aparentação…; Múkua –fruto do embondeiro; Muenhu – vida; Mundele – branco; Mona – filhos (pequenos); Mutu – pessoa (eu); Mutu malembelembe ku abuama bué camuelo o kusaka uembu – pessoa caminha devagar, com cautela espantando invejosos, o que não é generoso, peneirando concórdia…; Nga! Sakirilá! - Obrigado!; Ngana, NZambi – Senhor, Deus; Uakidi - verdadeiro/a; Ukamba - amizade


soba.jpg As ecolhas do

Soba T´Chingange



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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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