NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A RECONCILIAÇÃO – TENTATIVAS…
- Crónica 3615 – 21.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Com vista à transição de um Estado de partido único para uma democracia multipartidária iria realizar-se no ano de 1992. eleições em Angola destinada a escolher um chefe de Estado, um presidente e uma legislatura. Durante a campanha, notou-se alguma moderação em Eduardo dos Santos que assumiu alguns erros de má governação, passando a defender o regresso de invetidores estrangeiros, privilegiando desta feita as relações com Portugal.
A Assembleia Nacional (que substituiria a Assembleia do Povo) seria composta por 220 membros, eleitos para um mandato de quatro anos, 130 por representação proporcional e 90 em distritos provinciais. A UNITA representada por Jonas Savimbi, optou pelo endurecimento na defesa de “uma Angola autentica” ameaçando os netos dos portugueses e dos mafulos holandeses e até, do próprio Dos Santos chamando-o de “sãotomense”.
No processo de Paz, Savimbi acusou Portugal e seus dirigentes de estar má-fé, bem como a Butrus-Galhli e Margaret Anstee - ambos “comprados com diamantes”, descurando-se num efectivo apoio ao processo de paz através das eleições. (nota-se neste artigo do Expresso do M´Puto uma excrescente descrição a beirar a pura inventação, uma postura habitual na mídia de então – uma desacreditação "ad hoc" do candidato ***)
Entre as referências à colonização e missionação efectuadas no Congo a Norte, referiu os funantes aventureiros, que a Sul ousaram fazer comércio entre o mato, o kimbo e no batuque, desafiando a malária, as bilioses mas, e também, fabricando mulatos. Savimbi afirmaria que só a partir das primeiras décadas do século XX, com Norton de Matos, se iniciou a real colonização do Sul angolano.
E, que mais tarde, o foi incrementada por Oliveira Salazar com a criação de colonatos a saber; da Sela, Sá da Bandeira e Matala entre outras. Refere que salvo raras excepções, e devido ao envio de famílias inteiras do M´Puto para esse locais agrícolas, não houve a Sul tão grande miscigenação como efectivamente, o foi mais a Norte.
Quem veste e fala como os brancos são os “sãotomenses”, genericamente gente do Norte, também chamados de “calcinhas”. Os insultos a Eduardo dos Santos aliados às noticias de crimes contra os direitos humanos cometidos na Jamba, já relatados pela Amnistia Internacional, dizem os fazedores da estória e a mídia global, custaram talvez, a Savimbi e à UNITA a derrota das urnas (uma narrativa nebulosamente confusa).
E, num talvez, a UNITA tenha motivos para contestar as eleições e, por pressões variadas, o Dr. Malheiro Savimbi acabará por aceitar a segunda volta eleitoral. O Papa João Paulo II visitou Angola e São Tomé, em 1992. A visita começou a 4 de Junho e se estendeu até ao dia 10 de Junho, altura em que deixou Luanda para regressar ao Vaticano.
Desta visita foi criada uma profecia com os dizeres deste: “ Que tenha definitivamente terminado para ti, querida Angola, o tempo do teu desamparo” … Logo no dia a seguir à partida do Papa João Paulo II de Angola, MPLA e UNITA, envolvem-se em violento combate verbal, só apaziguado com interferência de Herman Cohen.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: ***”Ad Hoc” - Um meio acadêmico, o revisor "ad hoc" tão comum nesse então, que é o pesquisador ou pseudo “qualquer coisa” que executa a revisão de um trabalho submetido para publicação em um periódico ou revista sem, contudo, participar como membro permanente do corpo editorial ou de revisores. Um tendencioso influenciador
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3613 – 17.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
…«Claro - continua o general soviético - que eu compreendia o estado dos meus amigos que certamente viam em mim um homem que estava categoricamente contra a retirada de tropas. E, de súbito, fazia tudo ao contrário. Mais, até incentivava a fazer isso mais rapidamente.»
Após longa retórica, Valentin Varennikov apresenta o seu plano, que não passa de uma espécie de compromisso entre soviéticos e cubanos: «A defesa deve ser profundamente escalonada. Para que o adversário, concentrando realmente grandes forças na direcção escolhida e, desse modo, conseguindo uma superioridade três ou quatro vezes maior do que os angolanos, não rompa a unha defensiva e depois dela não haja nenhuma resistência.
Por isso é que o camarada Fidel nos diz que é preciso fazer recuar - tem-se em vista uma parte determinada das tropas - para a retaguarda até ao Caminho de Ferro de Benguela***. Consideramos que poderíamos deixar cinquenta por cento das tropas a defender as linhas que ocupam agora e a outra metade destas tropas poderíamos deslocar em pontos de apoio, nos caminhos até à linha do Caminho de Ferro de Benguela inclusive.
Além disso, na zona da frente e nos flancos deverão ser amplamente colocados obstáculos de engenharia. Por fim, ter uma reserva para manobras. E todas as forças situadas na retaguarda em posições preparadas devem ser prontas a manobrar.
Desse modo, fazendo recuar uma parte determinada de tropas para a retaguarda, até à linha onde se encontram as tropas cubanas, instalando-as em pontos de apoio e preparando-as para manobrar, teremos uma defesa activa profundamente escalonada, na linha final da qual intervirão as tropas cubanas.
Se o adversário quiser avançar, afundar-se-á nesta defesa e jamais conseguirá o seu objectivo». Os cubanos aceitaram este plano e, no fim da reunião, «o camarada Risket - escreve o general soviético - disse-me: "Eu sabia que tudo acabaria bem.
Os camaradas soviéticos sabem encontrar saída mesmo onde ela não existe".» Este plano estratégico permitiu estabilizar a situação na frente de combate, mas a guerra continuou. Para os conselheiros militares soviéticos que combatiam em Angola, o pior estava ainda para vir. «Semelhante coisa não aconteceu, nem no Afeganistão»,
O «estalinegrado angolano» - afirmam os soviéticos que já tinham passado pela guerra do Afeganistão sobre a batalha por Cuito-Cuanavale, que começou em Julho-Agosto de 1987. É agora tempo de se falar nas múltiplas tentativas de reconciliação, em uma altura em que elementos do governo de Luanda, já cansados, assumiam alguns erros de governação e, defendiam abertamente num governo de consenso nacional…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: *** Caminho de Ferro de Benguela, também chamada de Caminho de Ferro Catanga-Benguela, é uma linha ferroviária que atravessa Angola de oeste a leste,...
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3612 – 12.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Foram longas as discussões no seio da direcção militar e política sobre a decisão. Por um lado, elas não pretendiam ir contra a opinião de José Eduardo dos Santos e Fidel Castro, mas, por outro, tinham de dar ouvidos às considerações dos generais soviéticos ligados à guerra em Angola. Moscovo acaba por decidir enviar uma delegação militar, chefiada pelo general Varennikov, para estudar a situação no local. Após numerosos contactos com dirigentes angolanos e o comando cubano, bem como de uma inspecção da frente de contacto, …
…Varennikov apresentou o seu plano de defesa aos cubanos, mas vale a pena citar a forma como ele o fez para «não ir contra» a proposta de Fidel Castro. Na última reunião com o comando cubano a fim de se tomar a decisão final, Varennikov usou da palavra: «Após ter estudado multilateralmente a situação criada no sul do país e tendo em conta os possíveis ataques posteriores dos militaristas da África do Sul, bem como as possibilidades e capacidades das Forças Armadas de Angola, chegámos à conclusão de que o dirigente da República de Cuba, …
… Camarada Fidel Castro, previu profundamente os posteriores acontecimentos e agiu sabiamente quando recomendou à direcção de Angola fazer recuar as tropas para a linha do Caminho de Ferro de Benguela. Nós não só devemos apoiar essa proposta, mas também, nos prazos mais curtos possíveis, realizá-la.
Eu fiz uma pausa e olhei para as caras das pessoas que estavam sentadas na sala. Uns olhavam para mim como um homem mortalmente enfermo. Outros agitavam-se com os olhos abertos de espanto e trocavam olhares interrogativos com os vizinhos, olhando para trás.
Compreendi que o objectivo tinha sido atingido: depois de alta tensão, nós apoiámos o nosso amigo e camarada Fidel Castro, que, na etapa actual, é o símbolo da luta pela independência nacional. Apoiámos precisamente por isso, e não porque lhe aconselharam os seus representantes em Angola, sem acordar isso com o conselheiro militar soviético.
Claro que nós, nos nossos actos, devíamos fazer tudo para conservar o rosto político-militar de Fidel Castro, não pôr sob qualquer risco o sul de Angola e, ao mesmo tempo, não colocar à prova o destino da república e o prestígio da União Soviética.»
Recorde-se algo já dito a montante: «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (tratou-se de uma imitação, era preciso aumentar o medo), o que provocou o aumento da tensão nos quartéis regulares e, nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas.
É possível que a difusão de boatos (muxoxos), tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país que aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3611 – 10.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Nesta situação, José Eduardo dos Santos pede ajuda aos comandantes das tropas cubanas em Angola (general Polo e Risquete, secretário do CC do Partido Comunista Cubano), mas estes, depois de avaliarem a situação, consideraram indesejável a participação dos militares cubanos nos combates.
Propuseram, então, que as tropas cubanas reforçassem posições na linha onde estavam instalados (ou seja, na linha do Caminho de Ferro de Benguela) e que as tropas governamentais, a fim de conservarem as suas forças, recuassem até essa linha e não deixassem o adversário atravessá-la. Este plano foi enviado a Fidel Castro, que o apoiou.
Valentin Varennikov revela a carta que Fidel Castro enviou a José Eduardo dos Santos a este propósito: «Caro irmão! São necessárias Forças Armadas para conservar a jovem república. Se perecerem as Forças Armadas, perecerá também a república.
Por isso, por muito doloroso que seja, nós, na situação actual, só temos uma saída: retirar as tuas tropas para a linha do Caminho de Ferro de Benguela e, nessa posição, juntamente com os nossos combatentes, realizar o grande combate com o adversário.
Estou convencido de que ele será derrotado e as tropas de Angola, depois, poderão expulsar os sul-africanos do seu país. Só o recuo das tropas para a linha citada pode salvá-las da derrota e, desse modo, salvar a república.» O Presidente angolano enviou imediatamente essa carta para Moscovo, pedindo conselho, mas apoiando as recomendações de Fidel Castro.
Isso levou a uma convocação urgente de uma reunião do Bureau Político do Comité Central do PCUS, onde Boris Ponomariov, secretário do CC, interveio para apoiar a posição de Fidel Castro. lúri Andropov, Secretário-Geral do PCUS, declarou: «damos o nosso acordo prévio, mas os militares precisam de ponderar tudo mais uma vez e informar-nos.»
Valentin Varennikov afirma ter discordado da decisão de Fidel Castro e apresenta os seus argumentos: «Primeiro, as tropas de Angola estavam prontas e em condições de defender o seu Estado; segundo, o recuo dessas tropas provocaria um prejuízo moral irreparável entre os soldados e os oficiais considerariam isso uma traição;
Biker ... Terceiro, sentindo o sangue, depois do recuo das tropas governamentais, os lobos sul-africanos continuariam a avançar, até Luanda inclusive; quarto, recuar até à linha das guarnições significaria um recuo de 300 a 500 quilómetros. Por outras palavras, era preciso entregar sem combate ao adversário um terço do país...»
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3609 – 06.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
As divergências entre cubanos e soviéticos agudizaram-se quando, em 1984, as tropas sul-africanas lançaram fortes ataques contra a SWAPO não só na Namíbia, mas também no Sul de Angola… «O adversário realizou movimentações de tropas de grande envergadura (como mais tarde se veio a saber, tratou-se de uma irritação, era preciso aumentar o medo).
Esta situação provocou o aumento da tensão nos quartéis e nos pontos de comando das tropas governamentais de Angola, bem como nas guarnições das tropas cubanas. É possível que a difusão de boatos tenha sido obra do inimigo que certamente tinha adeptos seus na mais alta esfera do poder de Angola... ou a complexa situação no sul do país aterrorizou realmente todos» - recorda Valentin Varennikov.
Chegados aqui, convém recordar quem era Iko Carreira: Henrique Alberto Quádrios Teles Carreira, que era mais conhecido pela alcunha Iko Carreira. Foi um militar, político, diplomata, escritor e ideólogo anticolonial. Desertou das tropas portuguesas na "Fuga dos 100", em 1961, juntamente com Pedro Pires (posteriormente Presidente de Cabo Verde) e Joaquim Chissano (posteriormente Presidente de Moçambique).
Era considerado o terceiro em comando no partido e no Estado angolano durante a década de 1970, atrás somente de Agostinho Neto e Lúcio Lara. Na chefia do ministério liderou o processo de formação da Polícia Nacional e de outros órgãos militares. A partir de 1974 foi um dos responsáveis por reorganizar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Em 1974 e 1975, foi designado a participar das negociações que culminaram nos Acordos de Alvor.
Após a declaração da independência angolana, assumiu o cargo de Ministro da Defesa da República Popular de Angola a 12 de Novembro de 1975. Actuou em estreita cooperação com a Força Expedicionária Cubana e, assessores militares soviéticos. Em 27 de maio de 1977 ocorreu o golpe de Estado falhado nitista em Luanda. O Ministro Carreira, passou a ser identificado como o principal representante da "elite branco-mulata"(***), despertando um ódio particular nos líderes da rebelião, que se posicionaram como "porta-vozes dos interesses dos negros pobres".
Como Ministro da Defesa desempenhou um papel importante na repressão ao movimento do Fraccionismo. Liderou o tribunal militar que sentenciou à morte os participantes da rebelião. Foi um dos principais organizadores das repressões em massa de 1977 a 1979. Em 1980, foi afastado do cargo de Ministro da Defesa alegadamente para receber treino militar para graduar-se, uma vez que era somente coronel.
Foi enviado para a União Soviética, onde estudou na Academia Militar K. e. Voroshilov do Estado Maior das Forças Armadas Soviéticas, tornando-se, em 1982, o primeiro oficial militar africano a receber um diploma de formação como general. Em 1983 foi nomeado comandante da Força Aérea Popular de Angola, cargo em que permaneceu até 1986.
Nos últimos 13 anos de sua vida ele viveu com o lado esquerdo paralisado. Foi tratado em França e nos Estados Unidos; depois, mudou-se para Espanha. O governo angolano nomeou-o adido militar em Espanha. Escreveu dois romances com um dedo, em um computador especial, além de memórias políticas e de outras obras: "O Pensamento Estratégico de Agostinho Neto", Publicações Dom Quixote e. "Memorias", publicadas em Angola por N´zila.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se, de novo. quanto tinham de racistas os efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, foi-o mais que evidente e, tudo sordidamente silenciado pelos mídias mundiais e, por Portugal, fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3608 – 04.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Entre os seus subordinados próximos o general Iko Carreira revelava "indiferença" para com os documentos (ordens, directivas, telegramas, etc.) assinados por Pedale, considerava-os estúpidos, desnecessários, que podiam não ser executados... Claro que a situação com o chefe do Estado-Maior da Força Aérea preocupava todos. Entre a direcção do aparelho de conselheiros corria a ideia de "promover" Iko Carreira para qualquer outro cargo.
O motivo, era afastá-lo do posto de chefe do Estado-Maior da Força Aérea. Conhecendo o seu carácter, podia-se esperar tudo dele, principalmente tendo em conta o agravamento da situação político-militar no país». Valentin Varennikov descreve: «O nosso grupo (incluindo a mim) tinha essa opinião - continua Varennikov. - Porém, não era simples fazer essa mudança.
Por um lado, ele gozava de grande prestígio entre o povo e, entre os políticos de todo o tipo era considerado uma figura de peso, era bem conhecido e influente entre a direcção de Portugal, o que era um importante factor para Angola, que continuava a manter as mais estreitas relações com todas as estruturas portuguesas.
O Ocidente olhava para Iko Carreira de forma leal, talvez por ele ser mulato, exteriormente mais parecido a um europeu do que a um africano»***. Segundo Valentin Varennikov, «no interior de Angola, o chefe do Estado-Maior era uma dor de cabeça para todos. Preocupava-o facto de ele, tendo nas mãos uma força tal, poder constituir um grande perigo se, num dos momentos tensos da agudização das relações com a posição, começasse a vacilar...
A fim de tomar medidas atempadamente para impedir ataques antigovernamentais e antipopulares da parte de Carreira, decidiram rodeá-lo dos oficiais mais fiéis ao presidente e ao ministro da Defesa e, depois, reforçar esse cerco». Existiam também sérias divergências entre o comando das tropas cubanas em Angola e os conselheiros soviéticos.
O general Varennikov recorda um episódio: «Quando da análise da situação do país, surgiram discussões, nomeadamente sobre questões de princípio. Por exemplo, eu não estava de acordo com o facto de as tropas cubanas não deverem, em circunstância alguma, participar em combates, salvo nos casos de ataques directos contra os cubanos.
Eles justificavam-se com ordens da sua direcção política. Como mais tarde me explicou o general Kurotchkin, os cubanos reagiam muito dolorosamente à morte dos seus concidadãos (como, a propósito, os americanos), por isso tinham instruções para não participar nos combates... Evidente que era necessário alterar o estatuto das tropas cubanas.
Tanto mais que os nossos conselheiros militares, que agiam a todos os níveis, desde o Ministério da Defesa e o Estado-Maior Geral até às brigadas, inclusive, eram obrigados a combater juntamente com os seus subordinados». «Tínhamos perguntas também a fazer quanto ao fornecimento de armamentos e tecnologia ao exército angolano e ao destacamento cubano de tropas em Angola: aqui, os comandantes cubanos, sem o conhecimento da sua direcção política, estabeleciam o que ficava para Angola e o que ficava para eles daquilo que era enviado da União Soviética»…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3607 – 02.08.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
O general Varennikov escreve: «A principal tarefa consistia em estudar o estado das coisas no local e elaborar, juntamente com os representantes cubanos e a direcção militar angolana, medidas para o posterior reforço da capacidade de combate das Forças Armadas da República Popular de Angola, para o aumento da eficácia das acções militares com vista à derrota das formações do grupelho contra-revolucionário da UNITA e rechaçar a agressão da República da África do Sul no sul do país.»
É importante assinalar os retratos que o general soviético faz dos dirigentes angolanos com quem contactou. O primeiro encontro realizou-se com o ministro da Defesa de Angola. «A meu ver, o encontro com o ministro da Defesa, general Pedale, foi demasiadamente oficial.
As minhas tentativas de tirar alguma afectação, frases gerais não receberam o apoio devido e a posição de Pedale provocou no general Kurotchkin (comandante da missão militar soviética entre 1982 e 1985) uma perplexidade legítima. Mas, depois, compreendemos que Pedale queria fazer figura de pessoa importante, por isso pavoneava-se um pouco. Tinha quarenta anos, era baixo e gordo.»
Valentin Varennikov encontrou-se também com o novo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos: «Já antes sabia muito sobre dos Santos. Quando jovem estudante destacava-se por capacidades invulgares, tinha um intelecto tenaz, vivo. Era bem desenvolvido fisicamente: jogou na equipa de futebol da primeira liga "Neftchi" (Azerbaijão).
Isto porque estudava na URSS. No nosso país ele casou com uma russa, que lhe deu uma filha (Isabel dos santos), e eles os três foram viver para Angola. As tempestades políticas levaram-no à liderança do MPLA - Partido do Trabalho e, ao mesmo tempo, Presidente.
Claro que ele não podia pertencer a si próprio. Ele tornou-se um dirigente popular.» - «Mas a sua vida pessoal - continua o general russo - desenvolveu-se de forma bastante dramática. Sob pressão das tradições nacionais, teve de deixar a esposa branca e a filha e formar uma nova família: a esposa do Presidente deveria ser negra***.
Dos Santos sujeitou-se aos costumes do seu povo, mas comportou-se de forma bastante nobre em relação à sua família anterior: deu-lhe uma vila, concedeu à antiga esposa uma pensão e um subsídio à filha. A filha foi autorizada a ir ter com o pai à residência em qualquer tempo livre.»
Não escaparam à atenção do general soviético as divergências existentes na direcção do Governo angolano, nomeadamente a questão da «despromoção» do general Iko Carreira de ministro da Defesa para chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Angola: «Sendo um homem orgulhoso e extremamente ambicioso, claro que Iko Carreira ficou ofendido. Ele não expressava isso externamente, mas mantinha-se afastado e independente, como se a Força Aérea não fizesse parte das Forças Armadas de Angola.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
Nota 3: ***Pode daqui deduzir-se o quanto tinham de racistas os governantes de então, com efectivos do MPLA. Retirar o branco de toda ou qualquer gestão militar ou civil, era mais que evidente – tudo escandalosamente silenciado pelos mídias mundiais – fruto de uma descolonização enviesadamente esquerdoida…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3605 – 30.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)**– O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
O alferes Nikolai Pestretsov, o ex-prisioneiro, continua sua descrição:«- Mas davam a entender que se eu fizesse as declarações necessárias, não sofreria nenhuma pena.» Mais tarde veio a revelar-se que as tropas sul-africanas estavam bem informadas sobre as tropas que defendiam Ondeia e sobre os militares soviéticos que aí se encontravam.
Assim era porque o comandante angolano de uma das brigadas desertara na véspera e, transmitira todas as informações ao adversário. A detenção do alferes Pestretsov provocou tão grande incómodo na direcção soviética que foram dadas ordens .para o libertar a qualquer custo: «A Embaixada em Luanda empreendeu os passos mais decididos para libertar Pestretsov e resgatar os corpos dos cidadãos soviéticos.»
Por exemplo, Vadim Loguinov, antigo Embaixador da URSS em Angola, membro da União dos Veteranos de Angola, contou-nos que, logo após ter sido recebida a notícia de que Pestretsov foi feito prisioneiro, «pedi pessoalmente, várias vezes e de forma insistente, ao dirigente da SWAPO, Sam Nujoma, para realizar uma operação e aprisionar na Namíbia um qualquer oficial sul-africano importante, para, depois, o trocar pelo alferes soviético.
Os nossos conselheiros soviéticos que trabalham em Angola para a Direcção de Reconhecimento Central (GRU, espionagem militar) e o KGB testemunham que semelhantes operações foram planeadas e realizadas pelo comando da SWAPO com a participação activa deles. Porém, não conseguiram fazer prisioneiro nenhuma figura digna para a troca.»
O alferes e os cadáveres dos militares soviéticos mortos foram trocados por dois pilotos americanos e os cadáveres de soldados sul-africanos em 20 de Novembro de 1982. Entretanto, a situação militar em Angola continuava a deteriorar-se, nomeadamente porque as autoridades militares angolanas não conseguiam organizar forças armadas regulares.
Vassili Lavreniuk, capitão soviético que prestou assistência militar em Angola entre 1983 e 1986, descreveu assim o estado das FAPLA: «O exército de Angola apresentava um quadro bastante triste. Na sua esmagadora maioria, os soldados eram analfabetos, prestavam serviço para receber um salário e a ração alimentar. As companhias e os batalhões só podiam contar com todos os soldados quando pagavam os salários ou distribuíam produtos.»
E, continua sua narrativa: -«A propósito, pode parecer uma anedota o caso em que, no dia seguinte à distribuição das rações alimentares nas tropas governamentais, era impossível encontrar os soldados e comandantes. Quando se perguntava para onde tinham ido, recebia-se a resposta: "Hoje Savimbi paga salários e dá produtos alimentares".» O capitão Lavreniuk chama também a atenção para o facto de os especialistas soviéticos não estarem preparados para a guerra em Angola.»
Com enfase diz: -«O que mais espantava era que os nossos homens não estavam prontos para aquela guerra, conheciam mal a situação nesse país africano. Mas seria possível outra coisa se na cúpula, em Moscovo, não compreendiam o que se passava em Angola? Nós tínhamos de enfrentar um forte adversário. Basta apenas dizer que o número de soldados da UNITA era superior a 55 mil. Eles tinham à disposição 155 tanques, lança-granadas, artilharia, mísseis "Stinger".» A situação militar agravava-se rapidamente e a direcção soviética decidiu enviar uma importante delegação militar a esse país, dirigida por Valentin Varennikov.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
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DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA
- Crónica 3604 – 29.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Valentin Varennikov recorda como ambas as partes utilizavam os dados de espionagem recolhidos pelos pigmeus: «Os nossos agentes, além das observações pessoais, utilizavam também os serviços pagos dos pigmeus. Eles vivem principalmente nas florestas do Congo, Zaire, Zâmbia, Rodésia, Namíbia, situadas em redor de Angola. Eu vi-os em África apenas uma vez, mas ouvi dizer muita coisa sobre as suas capacidades.
O principal é que os pigmeus têm, tal como algumas espécies de animais selvagens, um faro, audição e visão raros. Algumas horas antes de uma catástrofe natural (inundações, tempestades, sismo, etc.), o seu organismo já "sabe" da aproximação da desgraça. Por isso, os pigmeus tomam medidas e ocupam os seus refúgios protegidos.»
No início dos anos 80 do séc. XX, Luanda perdeu o controlo de amplos territórios do sul e do este do país, onde a UNITA, com o apoio das tropas da República da África do Sul, dera início a mais uma forte ofensiva militar. A 27 de Agosto de 1981, as tropas sul-africanas iniciaram a operação «Protea» na região da cidade de Ondjiva, onde se encontravam 14 soviéticos: «nove militares e... cinco mulheres, esposas dos especialistas, que eles tinham chamado da URSS…
Esses especialistas, não esperavam que a província angolana de Cunene se transformasse tão depressa num verdadeiro inferno devido aos ataques dos sul-africanos.» Dos catorze soviéticos, nove conseguiram sair do cerco vivos, dois oficiais conselheiros e duas mulheres foram mortos nos combates e o alferes Nikolai Pestretsov foi feito prisioneiro por soldados do 32° batalhão especial «Buffalo» das tropas sul-africanas.
O tenente Leonid Krasnov, tradutor militar da 11ª brigada de infantaria das FAPLA, um dos que conseguiram escapar ao cerco, recordou: «No dia 25 de Agosto fomos cercados pelos sul-africanos. Ondjiva foi atacada por via aérea e panfletos foram lançados, cujo texto dizia que quem apresentasse o panfleto juntamente com prisioneiros ou oficiais das FAPLA, comunistas e soviéticos assassinados por ele, teria o direito de sair do cerco.
Um cenário quase ideal para Hollywood! E apenas um dia para pensar! O dia 26 de Agosto foi incrivelmente calmo. Até os animais se acalmaram. Na véspera, os serviços de comunicação da 11ª brigada receberam um texto cifrado do conselheiro do comandante da 5ª região militar com o seguinte conteúdo: "Aguentar até ao fim. Não se entreguem vivos..."»
Isto era feito para que nem a UNITA, nem a África do Sul provassem à comunidade internacional que os conselheiros e especialistas militares soviéticos combatiam do lado dos cubanos e das FAPLA. «A guerra aumentava gradualmente em Angola, ao país chegavam já não dezenas, mas centenas e milhares de conselheiros soviéticos.
Oficialmente, considerava-se que eles não participavam nas acções militares. Por isso, os feridos e mortos, normalmente, eram considerados como 'Vítimas da malária, desinteria, picadelas da mosca tsé-tsé"» - escreve Serguei Kolomnin. Porém, desta vez, as tropas especiais sul-africanas conseguiram aprisionar o alferes Nikolai Pestretsov, que passou mais de um ano em várias prisões da África do Sul. «Fiquei espantado por eles saberem praticamente tudo sobre mim (patente, cargo, etc.). Assustavam-me com a possibilidade de apanhar 100 anos de prisão por ter assassinado um soldado sul-africano.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, do Blogue História da Guerra Civil de Angola, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto e Wikipédia…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RESENHA DA BATALHA DO CUITO-CUANAVALE E RETIRADA CUBANA DE ANGOLA
- Crónica 3603 – 27.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Numa declaração oficial, os Estados Unidos revelam a presença de tropas cubanas em Angola desde 1975, com o envio inicial de cerca de 15 mil homens. Três meses depois, durante uma visita breve a Caracas, Henry Kissinger disse em particular ao presidente Carlos Andrés Pérez: “Parece que nossos serviços de informação estão muito deteriorados porque só soubemos que os cubanos iam para Angola quando já lá estavam”.
Contudo, nessa ocasião corrigiu que a cifra enviada por Cuba era de 12 mil homens. Naquele momento em Angola havia muitos soldados, especialistas militares e técnicos civis cubanos, muito mais do que Henry Kissinger supunha. O primeiro contingente era composto de 4.000 homens que aumentaram rápidamente para 18.000.
Em 1976 já eram 36.000 e em 1988 já totalizavam 55.000 quando da Batalha de Cuíto Cuanavale, o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana, ocorrido entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. O local da batalha foi na região do Cuíto Cuanavale, província de Cuando-Cubango, onde se confrontaram os exércitos de Angola (FAPLA) e Cuba (FAR) contra a UNITA e o exército sul-africano.
Os cubanos saíram em 1991, enquanto a Guerra Civil Angolana teve continuidade até o ano de 2002. As baixas cubanas em Angola totalizaram cerca de 10.000 mortos, feridos ou desaparecidos. Mas, vamos agora escalpelizar novas falas tendo José Milhazes como perito em assuntos de URSS que sobre a Batalha de Cuito-Cuanavale – o «Estalinegrado angolano» adiantou: Àqueles que desejarem saber detalhadamente o que se passou na Batalha de Cuito-Cuanavale na versão da antiga URSS, sugere-se a leitura seguinte:
Sim! É de um livro, que tendo copyright, que pelo seu conteúdo polémico para o MPLA certamente não poderá ser vendido em Angola e, por isso, solicitamos a benevolência do autor e da editora pela transcrição que faremos de partes do texto para dar assim, conhecimento aos angolanos e não só, da realidade desta batalha. Desde já os nossos agradecimentos! As partes do texto em "bold" são da nossa autoria para chamar a atenção das partes mais polémicas.
A substituição de Agostinho Neto por José Eduardo dos Santos à frente do MPLA e da República Popular de Angola foi recebida em Moscovo, mas a sucessão foi acompanhada por uma nova espiral de confrontos armados entre as FAPLA e a UNITA. O general soviético Valentin Varennikov liga esses dois factos: «Na realidade, o sinal para o reinicio das suas acções agressivas (EUA) foi a morte de Neto.
Considerava-se que a sua morte faria cair a bandeira do MPLA - Partido do Trabalho e que todos os que tinham lutado sob essa bandeira e os que o apoiavam poderiam alterar a sua política, bastando para tal apenas pressionar.» - «Porém - continua o general soviético -, os dirigentes do MPLA- Partido do Trabalho elegeram um companheiro de Neto da luta pela independência do país, Eduardo dos Santos (a propósito, ele terminou a universidade na URSS: frequentou o Instituto Estatal de Petróleo de Baku).
Ele tornou-se também presidente do país e comandante supremo. Isto acabou por fazer perder a paciência ao Ocidente. Além de provocações frequentes, organizadas pela UNITA, FNLA e África do Sul, começou a preparação de acções de grande envergadura, de que estávamos ao corrente "em primeira mão":": os nossos oficiais espiões, agindo nos destacamentos da SWAPO no território da Namíbia e no Sul de Angola, tinham contactos directos com os militares da UNITA (Savimbi) e adeptos da África do Sul contratados por pouco dinheiro, mas capazes (também por dinheiro) de fornecer dados exclusivamente precisos sobre as tropas da África do Sul.»
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RETIRADA CUBANA DE ANGOLA
De Gbadolite a Bicesse - 1988/1991 - Crónica 3601 – 24.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Os países observadores, EUA e URSS, comprometeram-se igualmente a pôr termo ao abastecimento de material bélico às facções envolvidas no conflito. Todas as forças beligerantes seriam integradas nas Forças Armadas Angolanas, cabendo ao Estado Português, através das suas próprias forças armadas, ministrar a formação necessária.
Este Acordo permitira um armistício temporário na Guerra Civil de Angola entre MPLA e a UNITA. No entanto, os efeitos de Bicesse nunca se sentiram e a paz foi ténue e incompleta, para além de efémera, pois os conflitos logo em 1992 rebentaram numa espiral de violência ainda maior, não mais cessando. Seriam necessários mais dez anos para se pôr termo à guerra…
O ”CESSAR-FOGO” - “A guerra, que matou e estropiou tantos, alimentou um punhado de pessoas da LUUA, que se tornaram insultuosamente ricas e prepotentes” – A independência seia para isto!? Era a pergunta que corria feita muxoxo… Após 15 anos de permanência em Angola, o último soldado cubano retorna à ilha no mês de Maio de 1991.
Convem aqui. fazer-se um curto desvio para descrever seu regresso e, de forma sucinta dar detalhes do que então se passou: Na madrugada de 14 de julho de 1989, o general Arnaldo Tomás Ochoa Sánchez o herói chefe das forças expedicionárias em Angola, a terceira figura militar mais poderosa da ilha de Cuba, depois do Comandante em Chefe Fidel Castro e do General Raúl Castro é fuzilado pelo crime de traição.
O que se esperava ser uma verificação de antecedentes de rotina antes do anúncio, o governo acusou Ochoa de corrupção, na venda de diamantes e marfim de Angola e a apropriação indevida de armas na Nicarágua. Há quem afirme que seu comportamento no campo de Batalha em Cuito-Cuanavale foi-o em permanente oposição às ordens de Fidel e, que tudo o demais foi um pretexto…
Voltamos assim aos anos de oiro da diplomacia portuguesa comemorando em Março de 1990 a independência da Namíbia. Durão Barroso tem o primeiro encontro a sós com o presidente Dos Santos. Começa a desenhar-se o papel mediado de Portugal (M´Puto) na placa giratória que conduziu a Bicesse.
O Prof. Cavaco Silva vai a S. Tomé encontrar-se com Eduardo Dos Santos e desloca-se a Paris para dialogar com Jonas Savimbi. Durão Barroso inicia viagens a Luanda e Washington; dois elementos do seu gabinete, António Monteiro e José Queirós de Ataíde, desdobram-se em contactos e esforços.
Em 24 e 25 de Abril de 1990, dá-se o primeiro encontro das partes sob mediação portuguesa em Évora. De 16 a 18 de Junho de 1990 dá-se a segunda ronda negocial, no Forte de S. Julião da Barra, Oeiras. Discute-se a formação do futuro exército único de Angola e fiscalização do cessar-fogo. Durão Barroso afirma na altura: “Os méritos ou desaires das negociações cabem exclusivamente aos angolanos”.
A 23 de Julho de 1990, Jeffrey Davidow, subsecretário do gabinete de Cohen, encontra-se com Dos Santos. Logo a seguir, o governo angolano desencadeia uma ofensiva diplomática encabeçada por Venâncio de Moura e, pela primeira vez, em mais de quinze anos, fala da UNITA empregando a expressão “nossos irmãos”, em vez de “fantoches”.
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Adenda: Por um leitor do Facebook - Carlos Alberto Martins Tavares
Os Cubanos além de cobrar mais de US$ 10.000,00 por soldado ao governo de Angola, roubaram tudo o que encontraram pela frente. Roubaram toda a estrutura de máquinas da Usina de Açúcar da Catumbela!!! Levaram todos os autocarros da EVA e de outras empresas de viação de Angola, Levaram todos os carros dos Portugueses que estava nos portos para embarcar para Lisboa. Levaram todos os aparelhos de procedimentos médicos dos Hospitais de Luanda!!! Roubaram as pedras de mármore das campas dos cemitérios. Além de ladrões sequer deram qualquer colaboração efetiva ao desenvolvimento de Angola!!! Uma maravilha!!!
C.A,
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - RETIRADA CUBANA DE ANGOLA
De Gbadolite a Bicesse - 1988/1991 - Crónica 3600 – 23.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
A UNITA contra-ataca desencadeando focos de luta por quase toda a Angola, obrigando as FAPLA governamentais a dispersarem e a abandonarem Mavinga. Poucos dias depois, pela primeira vez na história da guerra civil, aviões da FAPA, Força Aérea popular de Angola, bombardeiam a Jamba.
Em retaliação a UNITA corta água e luz a Luanda, através de sabotagem nos postes de alta tensão de Cambambe e conduta central de água de Kifangondo. Em Dezembro de 1990, no 3º Congresso do MPLA em Luanda, Eduardo dos Santos anuncia: “Teremos multipartidarismo no primeiro trimestre de 1991”.
Três meses antes, após o encontro de Gbadolite, no Congresso Extraordinário da UNITA, Jonas Savimbi falara de negociações directas com o MPLA, governo de unidade nacional, revisão constitucional e eleições. Pode supor-se que ambos os beligerantes compreendem que a vitória militar de um deles é impossível, em um território com a extensão de Angola.
Iria assim, começar a placa giratória que conduziu à assinatura dos acordos de Bicesse. Entra-se assim no capítulo de “TENTATIVAS DE RECONCILIAÇÃO”. Nos anos de 1990 a diplomacia portuguesa entra em acção pela mão de Durão Barroso enquanto Secretário de estado dos Assuntos Externos e Cooperação de Portugal, tendo como Presidente da Republica, Cavaco e Silva.
O propósito de levar a paz e reconciliação a Angola começa a ter luz diplomática no final dum túnel que parecia não ter fim . Neste meio tempo, anos de 1990/1991, fala-se em esperança mas, na passagem do tempo falecem dois vultos da luta pela libertação: Mário Pinto de Andrade, em Londres e António Jacinto em Lisboa
Bicesse foi o nome por que ficou conhecido o Acordo de Paz firmado a 31 de Maio de 1991, no Estoril (Portugal), entre o presidente da República Popular de Angola, José Eduardo dos Santos, e o presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Jonas Malheiros Savimbi.
O Acordo de Paz, que tem a mediação portuguesa liderada por Durão Barroso tem a cooperação de Observadores por parte dos Estados Unidos da América (EUA) e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Neste acordo - fim à guerra civil angolana, o seu texto estabelecia que o cessar-fogo devia ser inteiramente controlado pelo Governo angolano e pela UNITA.
Para tal, deveria ser formada uma Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM) constituída por representantes do Governo angolano e da UNITA, tendo como observadores externos delegados de Portugal, dos EUA e da URSS. Neste acordo, ficou ainda agendada a realização de eleições, entre 1 de Setembro e 1 de Outubro de 1992, depois das quais, cessariam os poderes da CCPM…
Ilustrações de Costa Araújo
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, RTP-Notícias e Wikipédia…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - XIII CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3595 – 13.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 15 de Novembro de 2019 com cinco candidatos: José Pedro Kachiungo, Raúl Manuel Danda, Adalberto Costa Júnior, Abílio Kamalata Numa e Alcides Sakala, tendo sido eleito Adalberto Costa Júnior à Presidente da UNITA.
Através da agencia Lusa a 07 de Outubro de 2021 fica a saber-se que o Tribunal Constitucional (TC) angolano anulou o XIII Congresso da UNITA, em que foi eleito Adalberto da Costa Júnior, invocando a violação constitucional, devendo o partido manter a anterior liderança de Isaías Samakuva.
O acórdão do TC, que foi publicado muam quinta-feira, dia 07 de Outubro na sua página oficial, dá razão a um grupo de militantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que requereu a nulidade do congresso invocando várias irregularidades. Entre as alegadas irregularidades consta a dupla nacionalidade de Adalberto da Costa Júnior à data de apresentação da sua candidatura às eleições do XIII Congresso.
O acórdão é assinado por sete juízes conselheiros que não foi unânime, tendo votado vencida a juíza Josefa Neto. A juíza destaca na sua declaração de voto que o apuramento da candidatura de Adalberto da Costa Júnior, por parte do comité permanente da UNITA, "além de não materializar qualquer violação ao princípio da legalidade, encontra acolhimento pleno à luz do princípio da autonomia, corolário da liberdade de organização e funcionamento das formações políticas".
A juíza considerou ainda que a decisão sobre esta matéria configura "não apenas violação ao referido princípio de autonomia, mas também ao princípio de intervenção mínima do Tribunal Constitucional, igualmente necessário para salvaguardar a autonomia dos partidos políticos".
Mesmo antes da confirmação do TC sobre a anulação do XIII Congresso da UNITA, Adalberto Costa Júnior afirmou-se "absolutamente tranquilo", lamentando "interferências nos órgãos judiciais” questionando o "estranho silêncio" das autoridades, com a inerente morosidade. “Nós, estamos a aguardar que haja a publicação do eventual acórdão para depois podermos pronunciar-nos", afirmou Adalberto Costa Júnior, quando questionado pela agência de notícias Lusa.
O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola considerou estar-se perante uma "circunstância muito séria em relação à credibilidade das instituições", bem como em relação à "função para a qual estas instituições existem". A UNITA, anuncia assim que o seu XIII Congresso, em que será escolhido um novo líder para o partido, será realizado até 04 de dezembro de 2021.
Adalberto Costa Júnior que foi eleito o terceiro presidente do partido, em 15 de Novembro de 2019, conquistou mais de 50% dos votos num universo de 960 eleitores e vencendo quatro candidatos: Alcides Sakala, Raul Danda (falecido este ano), Kamalata Numa e José Pedro Catchiungo. A marcação de um novo congresso que surge na sequência da anulação daquele XIII Congresso, de novo, é eleito Adalberto da Costa Júnior, entre 09 e 11 de Dezembro de 2021…
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto, Isaías Dembo e, RTP - Notícias
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - DO VII ao XII CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3594 – 11.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
9. VII CONGRESSO
“O Congresso da Mudança” ocorreu em Março de 1991 na base Presidente Kwame Nkrumah, no extremo oriental da Província do Cuando Cubango. O VII Congresso preparou o Partido para a batalha política que se vislumbrava com o desfecho das negociações que decorriam em Portugal. Por delegação Fernando Rocha de Olhão representou-me na qualidade de Coordenador da Zona Sul do M´Puto na Diáspora, (eu próprio – T´Chingange)…
Os delegados escolheram unanimemente o Dr. Savimbi como Candidato da UNITA às eleições presidenciais que viriam acontecer em Setembro de 1992
10.VIII CONGRESSO
Teve lugar no Bailundo, Província do Huambo de 7 à 11 de Fevereiro de 1996. A busca de unidade entre os membros do Partido com vista a implementação do Protocolo de Lusaka foi o maior objectivo.
O aquartelamento, desarmamento e desmobilização das forças e a entrega do território administrado pela UNITA à administração central do Estado, foram as decisões tomadas durante o evento, contemplando ainda a incorporação dos generais nas FAA.
Ocorreu entre os dias 20 à 27 de Agosto de 1996, no município do Bailundo – Província do Huambo. Versou fundamentalmente sobre a recusa da oferta da segunda vice-presidência ao Dr. Jonas Malheiro Savimbi que reafirmou o engajamento da UNITA na implementação do Protocolo de Lusaka.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda, de 24 a 27 de Junho de 2003 e, depois do memorando do Luena e, que teve dois momentos marcante:
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 16 à 19 de Julho de 2007 tendo dois candidatos: Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku. Desta feita Isaías Samakuva é reeleito à Presidência da UNITA. Este Congresso debateu vários aspectos com maior realce na realização das segundas eleições em Angola, 16 anos depois das eleições de 1992, sendo estas, as primeiras eleições gerais.
Este Congresso Ordinário teve lugar em Viana, Luanda de 13 à 16 de Dezembro de 2011 com dois Candidatos; Isaías Samakuva e José Pedro Kachiungo, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu terceiro mandato.
Este Congresso Ordinário, teve lugar em Viana, Luanda de 3 à 5 de Dezembro de 2015com três candidatos: Isaías Samakuva, Lukamba e Abílio Kamalata Numa, tendo sido reeleito Isaías Samakuva para o seu quarto mandato.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* . V e VI CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3593 – 09.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
5. V CONGRESSO
Ocorreu entre 26 à 31 Julho de 1982, em Mavinga - Província do Cuando Cubango sob a cobertura radiofónica da então Voz da Resistência do Galo Negro (VORGAN). Procedendo-se ao balanço da implementação das decisões saídas do IV Congresso. Também se fez a revisão dos Estatutos, adaptando-os as circunstâncias de então. A implementação das resoluções saídas do IV Congresso que projectaram a UNITA para a posição chave na solução do conflito na África Austral.
Teve lugar na Jamba, então bastião da Resistência Angolana ao expansionismo Soviético – Cubano na Província do Cuando Cubango, de 1 a 9 de Novembro de 1984. Fez o balanço das vitórias alcançadas sobre as ofensivas militares lançadas pela coligação de forças do MPLA, russas e cubanas contra as áreas administradas pela UNITA.
7. VI CONGRESSO
Denominado o maior Congresso de todos os tempos, o VI Congresso teve lugar em finais de 1986, na Jamba – Cuando Cubango, sob o signo de “Ofensiva para a Paz”. A força interna e externa foi analisada. Foi inspirada a plataforma da Paz e Reconciliação Nacional em Angola que, entre vários pontos, contemplou a negociação directa entre a UNITA e o Governo Angolano.
Teve lugar na Jamba – Cuando Cubango de 26 à 28 de Setembro de 1989. As formas de alcançar a paz constituíam o tema central do II Congresso Extraordinário. Um plano de paz de cinco pontos foi adoptado na ocasião:
À margem dos congressos abre-se aqui um parêntesis para sintetizar o que decorre neste meio tempo até se chegar a Bicesse. Depois de uma visita de Savimbi a Ronald Reagan nos EUA, a UNITA estabelece-se no Norte, na base de Quimbele, Distrito do Uíge. Em Janeiro de 1989, os cubanos iniciam a sua retirada de Angola. O Cardeal Alexander do Nascimento, difunde a mensagem “Reconciliação Paz”, a qual salienta que o “sentir mais comum e profundo do povo angolano é o anseio de reconciliação e paz”
A 22 de Junho do ano de 1989, Eduardo dos Santos e Savimbi encontram-se Gbadolite no Zaire, sob mediação de Mobutu. No plano negocial apresentado por Luanda, o “caso especial Dr. Savimbi” é o ponto 5 da agenda que exige a retirada temporária do líder da UNITA da cena política angolana. Inicialmente, Jonas Savimbi concorda em se afastar. Chega a estabelecer-se um cessar fogo, mas a euforia nas frentes de batalha de um e outro lado, foi breve.
As armas voltaram a crepitar, quando Savimbi dá o dito por não dito, anunciando que não se retirará de Angola. O MPLA numa operação designada de “Ultimo Assalto”, reocupa Mavinga utilizando um grande número de homens e tanques ( 20 mil militares e 400 tanques). O objectivo, não conseguido pelos governamentais de Luanda, era atingir a Jamba. A UNITA contra ataca desencadeando focos de luta por quase todo o país, obrigando as FAPLA a dispersarem abandonando Mavinga.
Poucos dias depois e, pela primeira vez na história da guerra civil, aviões da FAPA – Força Aérea Popular de Angola, bombardeiam a Jamba. Em retaliação a UNITA corta a água e a luz a Luanda, via sabotagens por destruição de potes de alta tensão de Cambambe e conduta de água central de Kifangondo. Nesta fase, ambos s beligerantes compreendem que a vitória militar de um deles, é impossível em um tão extenso território - Angola. Iria assim, começar as negociações - placa giratória que conduziu à assinatura dos Acordos de Bicesse, pela mediação do Governo português tendo Cavaco e Silva e Durão Barroso como principais interlocutores …
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Ilustrações de Costa Araújo - o Maianguista da Luua
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - III e IV CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3592 – 07.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
- “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
3. III CONGRESSO
Realizou-se entre 13 e 19 de Agosto de 1973, nas margens do rio Kutahõ, na Província oriental do Moxico. 221 pessoas entre membros do Bureau Político, do Comité Central e delegados de assembleias populares, presenciaram os trabalhos desse Congresso que pela primeira vez, contou com a presença de observadores estrangeiros e cinco jornalistas.
No seu discurso proferido na ocasião, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, entre vários assuntos, falou da necessidade da unidade entre todos os movimentos de libertação nacional e da luta contra as intrigas que na sua opinião eram veiculadas pelo colonialismo e pelo imperialismo.
A auto-suficiência e progressos feitos na agricultura, na educação e na saúde mereceram realce. Nessa reunião magna, a UNITA definiu-se como movimento de massas oprimidas e decidiu realizar Congressos de quatro em quatro anos.
Savimbi com Carlos Morgado (já falecido), seu médico particular
4. IV CONGRESSO
Teve lugar de 23 a 28 de Março de 1977 na Benda, a 80 quilómetros do Huambo. Representantes da UNITA no exterior (Jorge Sangumba e Jeremias Chitunda) e a da imprensa estrangeira estiveram presentes. Falando para mais de cinco mil pessoas das quais 722 delegados, o Dr. Savimbi centrou a sua análise sobre a conjuntura politico–militar de então, resultante da invasão das forças russo–cubanas.
A transformação das forças de guerrilhas em unidades semí-regulares e regulares, o combate ao hegemonismo, tribalismo, regionalismo e ao analfabetismo, a dinamização da agricultura, do ensino livre e obrigatório para todo o povo e a criação dos serviços de justiça civil e militar.
Aquelas, foram as grandes decisões tomadas no IV Congresso que procedeu à revisão dos Documentos Orintadores adoptando-os à evolução do Movimento e à resistência nacional generalizada. Enquanto este congresso decorre na Benda, em Luanda do MPLA, o panorama é confuso.
A revista visão descreve assim: o carro da tropa passa feito carroça de cães vadios. “Documento militar!? Não tens? “Sobe” - é só, assim mesmo!… O jovem apanhado num buraco, é imediatamente incorporado no exército e enviado para a “defesa da pátria” sem se embrulhar nas despedidas com a escova de dentes.
Repentemente, o candengue camundongo, casa com a tropa sem divorcio à vista. Estás lixado meu, o Poeira (um antigo Administrador Tuga do Posto de Belas…) te leva: São as falas dum mais-velho! Na Mutamba, centro de Luanda, no meio da rua, um soldado sem uma perna, esquelético, está literado como morto, as muletas tombadas ao lado (triste e degradante tempo…)
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - I e II CONGRESSOS DA UNITA
- Crónica 3591 – 04.07.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Amieiro do M´Puto
Regressando ao carrocel do tempo e estando eu em vias de seguir então para a Venezuela, tomo conhecimento do IV congresso da UNITA realizado de 23 a 28 de Março de 1977 em Benda. Posto isto, irei recordar todos os Congressos da UNITA para daqui se tirarem conclusões no percurso de Movimento a Partido e, a partir de Muangai, seu primeiro bastião…
1 – I CONGRESSO (Constitutivo)
Muangai que se tornou celebre, é o nome de um serpenteado subafluente do rio Lunguebungu. Os portugueses baptizaram-no com este nome, o antigo posto colonial situado na floresta densa do Moxico e, que viria ser abandonada nas primeiras acções de guerrilha.
Nessa histórica localidade teve lugar, no dia 13 de Março de 1966, o Congresso Constitutivo que marcou o nascimento da UNITA – União Nacional Para a Independência, na presença de dirigentes acabados de chegar da China Popular, autoridades tradicionais e populares da região.
Com a presidência do Dr. Jonas Malheiro Savimbi, assistiu-se à entrada em cena política angolana, desta nova força; força esta que veio dar novo impulso à luta de libertação nacional com a participação directa de seus dirigentes no interior do país.
2 - II CONGRESSO
Teve lugar entre 24 e 30 de Agosto de 1969 o seu II Congresso Ordinário, sob a presidência do Dr. Jonas Savimbi, Aconteceu em Sachimbanda, Província do Moxico, com a presença de 80 delegados (55 civis e 25 militares). Neste evento, tomaram parte dirigentes do Partido a vários níveis e representantes do povo da região.
Foi definida a linha política interna e externa da UNITA e, estabelecida a orgânica do Partido e das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola). Foi constituído um Comité Central de 30 elementos dos quais, os primeiros 12 faziam parte do Bureau Político. O Dr. Jonas Savimbi foi confirmado como Presidente do Partido.
N’Zau Puna foi o escolhido para Secretário Geral, Samuel Chiwale como Comandante Geral e Samuel Piedoso Chingunji "Kafundanga" como Chefe do Estado Maior. Neste II Congresso, a UNITA reafirmou a sua linha política de não alinhamento aos grandes blocos.
Assim, por um lado, condenou a «continuação da agressão americana contra o Povo Heróico do Vietname», por outro lado, insurgiu-se contra a «descarada invasão da Checoslováquia pela União Soviética». Miguel N'Zau Puna - afirmaria que foi nesse II Congresso em que se confirmou a bandeira da UNITA.
Foi um tempo difícil em que a UNITA aceitou continuar a lutar pela libertação nacional e, numa altura em que estava desprovida de meios para fazer a luta. É de louvar o espírito de entrega dos militantes da UNITA nessa fase muito difícil da luta armada. Este II Congresso, teve a participação do jornalista Steve Valentine que trabalhava para o Times of Zambia.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e de anotações de Isaías Dembo.
(Continua…)
O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - ONGWEVA É SAUDADE EM DIALETO AMBUNDO
- Crónica 3590 – 29.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata” em interlúdio
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Assim só mesmo sou uma árvore cheia de música que caminha e assobia todos os pássaros de sua folhagem – Assim, assobiando aos passarinhos vi fora da vigia, janela do Boing A.340 fazendo raviangas ao redor das luzes da grande Luua, um cavalo branco no alvorecer dum dia coberto de nuvens brancas. Será? Foi? Disse assim, só no pensamento.
… Em saber explicar como é o cheiro do peixe podre, da fuba azeda e até azeite de palma feito por um branco cangundo, mesmomesmo de ordinário sem educação. Assim muxoxando feito mabuba, com o indutor a queimar o induzido, afagando minha onça faço um interlúdio, ilibambo minhas jimbumbas de guerra pra libertar meu ilundo com musica de marimbas. Como é então? Pergunto-me!
N´Gola aiueé… A lei da gasosa, sim! Obrigado/a no retirar migalhas ao salário sem sempre conseguir garantir as vitais necessidades – um fenómeno unipartidário de quasequase cinquenta anos. Dos ganhos, sessenta por cento, vão direitinhos para pagar a máquina estatal que se subsidia, fundações, observatórios, kazucuteiros e tantos outros afins de e, a bem da nação, N´Gola da lusofonia… Balelas dos PALOPS! Uma guerra de impostos taxas e sobretaxas; incestuosas atribuições suportadas por sapatos JL caros, feitos de pele de jacaré do Lifune…
Hoje, muita gente desentendida a propósito, por cagufa ou prosápia, pergunta a este e aquele, porque estão saindo agora de Angola, do porquê, gente identificada com sua terra. Se a amam ou nela mamaram, porque fugiram? Do porquê de abandonarem a terra que tanto dizem querer? E, talvez com a leitura dum funil de lembranças, possamos reflectir das impossibilidades de ali permanecer,
As luzes do jeep viam-se ao longe e, o ruido rouco do motor com altos e baixos invadia a quieta mata do Kaprivi; Caputo, o marido umbigado com minha empregada Mary de Kampala, chegou chegando, batendo com o chapéu no joelho levantando o pó da picada. Com um gesto rasgado de amizade saudou-me enquanto lançava ordens ao cozinheiro para retirar as bikwátas trazidas de Catima Mulilo. Cheiravam a bosta de jamba (merda mesmo, de elefante)…
Lembrar-me hoje daquele Agosto de SETENTAECINCO. No aeroporto da Portela, recente Humberto Delgado, as senhoras prestimosas das Caritas e Cruz Vermelha (não todas, felizmente), iam despejando desaforos como muxoxos soprados subtilmente ou não: “Só nos faltavam estes ranhosos”. Eramos nós, dismilinguidos da vida, roubados e vilipendiados …
Eramos nós, sim! Retornados, Refugiados, Recambiados, assim mesmo murchinhos da silva, despidos de preceitos, ouvindo calados o desaforo de irmãos, de patrícios, de gente com nosso sangue! Gente do M´Puto - Isso doeu muito! Só não se lembra disto quem não quer lembrar! Num repente passamos a ser uns SEM-TUDO, uns sem-terra ou sem-nada, manobrados daqui práli até se partir a canga, cangados sem relinchar (tratados como cavalgaduras…)
E, Portugal, o tal de M´Puto, acabaria por dar guarida a carrascos e fujões do MPLA, (desculpem-me a expressão) que de forma enrolada, misturada, se foi acomodando aqui e ali, salvando os hotéis e concebendo arranjinhos de safadeza, explorando os refugiados, ditos retornados – esquerdoidos a querer mudar-nos através dum tal de PREC, Reformas Agrária de destelhar montes alentejanos e fazer comezainas com os bois do dono exilado no Brasil, ou no escambau (que nem sei aonde fica – coisas dum outro mundo…). Seguidamente e, antes da Grande Batalha do Cuíto, vai recordar-se os Congressos da Unita…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e comunicados da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)
Ilustrações aleatórias de Costa Araújo
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* - A HISTÓRIA DA JAMBA
- Crónica 3589 – 25.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Comando e Direcção - Haviam três estruturas: as Forças Armadas, o Partido e o Governo. A figura principal era o velho kota Jonas que na linhagem das Forças Armadas tinha na hierarquia N´zau Puna e o Estado Maior General das FALA e todas as suas dependências orgânicas.
Pelo Governo respondia o Vice-Presidente Jeremias Kaluanda Tchitunda cuja sede estava depois da Praça do Canhão da Liberdade e o Secretariado Geral (estrutura política e comités coordenadores de bairros). Destacam-se os Ministérios da Educação e Cultura (Valentim e Jaka Jamba e Bunju), Saúde (Ruben Sikatu), Administração do Território (N`zau Puna)…
Ministério dos Recursos Naturais (Torres Kapiñala, Dias, João Tchitende, Jó Marcolino Prata) , Agricultura e Pecuária (Elias Salupeto Pena e Dario Katata), Informação (Jorge Valentim, Jaka Jamba), etc. Na Jamba o rigor e a disciplina superavam a inteligência, por isso construi-se uma sociedade onde a pontualidade, proteger o bem público e o respeito aos mais velhos eram itens sagrados…
Era proibido ingerir bebidas alcoólicas (só em ocasiões especiais, artigo 140 do código penal), o respeito pela mulher do companheiro, a protecção a crianças, idosos e diminuídos físicos, o estímulo aos melhores (alunos, militares, técnicos) eram uma DIVISA SAGRADA;
Pelo exemplo da Jamba a Nova Angola há a obrigação de procurar inspiração ao empreendedorismo - disciplina forjados na Jamba, os que lá passaram tenham a coragem de se organizarem, resgatando a sua história base, em uma sempre presente Fundação Muangai.
Adicionar-se-ão outras que criem e resgatem espaços antigos, que o Ministério do Turismo e todos agentes, a fim de coloquem nesta localidade Escolas de Turismo. Uma vertente de preservar reservas naturais e ecológicas com afins de historiadores e académicos de ali, alicercem seus conhecimentos, pesquisas que preservarão as fontes orais e, antes que desapareçam.
Termino a descrição sumária da JAMBA, Sem a preocupação gramatical, com o sujeito cutucando o verbo mais o predicado…, uma emergência confusa destes tempos conspurcados na metáfora, o quanto baste e, por vezes de alma torturada…, assim mesmo, jogando búzios na zuela do feitiço do tempo. Com algum esforço, remexo nas panelas do esquecimento de uma N´Gola cada vez mais distante do desejável progresso omitindo sistematicamente a UNITA!
E, porque não sou só esqueleto, penso em kimbundo da Luua e Ambundo, recordando falas de nossa terra, “ki tuexile tu ngó ifuba iatujunkura” - ainda não somos só ossos dispersos, “ifuba yetu iokune kala jimbuta” - Nossos ossos serão semeados como sementes… Assim no quizango, feitiço do livro de capa amarelecida e, recordando aos mwadiés camundongos que sempre fingem ser sapientes…
Falei! Seguir-se-ão outras sagas, recordar os Congressos e novas batalhas com o actual líder Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA….
Claro que haverá muito mais estórias para se boligrafar!
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise angolana e, na diáspora de angolanos pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
DOS TEMPOS DE DIPANDA* A HISTÓRIA DA JAMBA
- Crónica 3588 – 21.06.2024
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Organização Administrativa e territorial da Jamba: BI (Batalhão de Instrução militar) - começou por ser o local aonde eram treinados militares para os primeiros batalhões; lugar aonde se faziam as principais demonstrações públicas internas e, ou viradas para o diálogo com o mundo. Passou mais tarde a ser habitado por famílias ligadas à instrução, preparação e ensino de tropas (parecido ao actual Cabo Ledo)…
Centro Integral de Formação da Juventude – CENFIN: Lugar onde eram recebidos, formados e educados jovens/adolescentes órfãos ou que não tivessem familiares directos na região da Jamba - Era dirigido pelo ex-deputado, ex-Secretário-geral da JURA Piedoso Tchipindu Bonga; - Foi dos melhores sítios onde foram formados ilustres cidadãos que hoje são políticos, oficiais das FAA e professores… O destaque vai para o Mestre e Professor Álvaro Tchikuamanga, David Tchipassu (Professor Universitário), Nataniel N´Dondo (Engenheiro em empresas de Petróleo e ex-bolseiro na Costa do Marfim).
VORGAN - Era neste local onde eram emitidos em ondas curtas a voz da resistência do galo negro (com equipamentos sofisticados para época e concorrente da RNA); - Toda a acção de comunicação e propaganda era feita na VORGAN com destaque na rádio, boletins informativos, agência Kwacha UNITA Press (KUP) que era a concorrente da Angop…
Muitos destes profissionais estão hoje a trabalhar em Angola e na diáspora. Destaque para Clarice Kaputu, Deolindo Kaputu, Inês Cardoso (TPA), N´Guida Paulo (RNA), Manuela Kazoto (Despertar), Bela Malaquias (Ex-Administradora da RNA), Raul Danda (RNA, actor e Deputado), Emanuel Kapanda (ex-locutor infantil e agora na Assembleia Nacional);
Esquadra de Polícia - Como qualquer estado, a esquadra de polícia servia para ajudar e disciplinar eventuais condutas fora da lei; havia o código penal e regras claras para todos. Dirigiram a polícia pública destacáveis profissionais como o Comissário Madaleno Tadeu, os falecidos Evaristo Ramon Tchitumba e o Comissário Isaías Tchingufu (co-fundador em 1975 do primeiro corpo de Polícia de Angola Independente e, que chegou a ser nos anos 90, Director Nacional de Ordem Pública da Polícia Nacional de Angola).
Hospital Central da jamba - Já falou dele; também o OFICENGUE que eram as oficinas Centrais que ajudavam a reparar material de guerra e outros artefactos; Alfaiataria Central - Dirigidas pelo mítico Trinitá que tinha a obrigação de confeccionar vestuário e fardamento para TODOS; Aeroporto Internacional Comandante Kazombuela que cumpria com os objectivos dum aeroporto permitindo a entrada e saída de bens e pessoas para o diálogo com o mundo.
Quartel General – QG: Era a estrutura administrativa principal onde funcionava o Governo, o Liceu Nacional da Jamba, as TRMS (comunicações militares), os Serviços de informação militar e civil, O Estado Maior General das FALA, a UIREAL, o SINTRAL, o Secretariado Geral do Movimento/Partido e suas organizações de Massa LIMA e JURA…
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e relatórios da Jamba - Agência Kwacha UNITA Press (KUP)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3583 – 29.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977”- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Justino Pinto de Andrade, elemento da Revolta Activa, preso antes do 27 de Maio, conta na primeira pessoa, “Na noite de 23 de Março levaram, para nunca mais voltarem, inúmeras pessoa: Ademar Valles, irmão de Sita Valles, o engenheiro Rosa, que nada tinha a ver com o 27 de Maio, o Cachimbo, um laranja do MPLA que havia assassinado o engenheiro Betencourt Faria, em seu Observatório da Mulemba…
Também o comandante Bogalho, combatente do MPLA, que se juntou a Chipenda em Lusaka… O Bogalho foi trespassado pelas balas ou então, como se ouviu dizer, pelas baionetas dos seus algozes. Foi uma verdadeira “noite das facas longas”. Para muitos e em demasia, foi mesmo o fim! E,, só depois de se localizar o local do enterramento de seus corpos, só então, se poderá cicatrizar essa ferida de tamanho descomunal…
A frase proferida por Agostimho Neto que ficou para os vindouros foi a de: “amarrem-nos aonde forem encontrados”. Manuel Ennes Ferreira um preso político do processo OCA, torturado, relembra: “Às 07h 30 do dia 27 daquele Maio, cheguei ao liceu N´Zinga M´Bandi para dar aulas. As movimentações na rua e os tiros, colocaram os alunos e os professores em polvorosa”.
Dali por três dias, voltei e fui à cantina da universidade para almoçar. O general N´Donzi chegou e, da porta apontou para o Fuso e o Jorge Basófias; como estava na mesma direcção, gelei! Alguns dias depois segui o mesmo caminho, São Paulo e Campo do Tari”
As mulheres detidas eram alvo de violência psicológica e sexual. Nos interrogatórios os agentes e guardas apareciam e, “sobre os seus corpos desnudos despejavam a mais torpe violência” revela Américo Cardoso Botelho, em “Holocausto em Angola”. A comandante do Batalhão Feminino, que tinha conduzido o ataque à cadeia de São Paulo para libertar os apoiantes de Nito Alves, que impedira depois o fuzilamento dos militares da Revolta Activa e da OCA pelas forças revoltosas, acabou por ser detida.
Quando a situação mudou e as tropas fieis a Neto passaram a controlar os acontecimentos, deixaram que aquela , porque estava grávida, tivesse a criança mas, depois, espancaram-na durante três dias e três noites, segundo o livro “Purga em Angola no 27 de Maio de 1977” de Dalila e Álvaro Mateus . Disseram: “ Ela cantava sem parar – a voz enlouqueceu-lhe mas, nunca parou de cantar até ser fuzilada”
Os interrogatórios eram feitos com as detidas nuas ou seminuas . Usavam os mais variados instrumentos para penetrar as vaginas das detidas. A uma portuguesa branca, obrigaram-na a despir-se para limpar com a roupa o sangue nas selas onde decorriam os interrogatórios. Os guardas voltavam a atirar aquela água suja para o chão , obrigando a limpar de novo.
Enquanto isso lançavam impropérios e davam-lhes pontapés aonde quer que fosse. A uma das prisioneiras, massacraram-lhe tanto os joelhos com uma tábua que doente meses ficou desvalida, quasequase sem conseguir andar. Outra foi colocada no centro de um grupo de agentes e militares, inteiramente nua, sob uma forte iluminação, “sendo alvo dos piores insultos com apreciações jocosas de seu corpo, seguida de agressão física”– conta Américo Botelho…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, de outros referidos em texto e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3582 – 24.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Herminio Escórsio continua sua descrição quando da visita à Fortaleza de São Miguel: “O único que não veio falar comigo, envergonhado, foi o David Aires Machado (Minerva), até então Ministro do Trabalho. O Zé Van-Dunem perguntou-me pelo pai e, disse-lhe que o velho Mateus estava desfeito, que nem ele, nem ninguém, esperavam que ele, Zé, se metesse numa encrenca tão grave. O Zé, por fim, pediu-me para, ao menos, olhar por seu filho”.
Sou eu a falar: Neste entretanto o rapto de meu pai, (gente simples e alheia a tudo como tantos outros), estava a ser efectuado junto aos Correios da Maianga, um modesto “segurança nocturno do Banco de Angola” e que, em exercício, por ali passou fardado, como sempre fazia, noite após noite. Não foi no sítio errado, mas numa hora de azar,
Aconteceu quando por toda a Luanda se faziam altercações com fuzilamentos sumários nas ruas, nos largos, nos hospitais e cadeias. Meu pai Manuel Monteiro, recorda que a uma pergunta feita, deu uma resposta, ao qual logologo o meteram amordaçado em uma carrinha do tipo toyota hiace. A pergunta foi a, de se estava bem com o presidente Agostinho!?
E, a resposta dada foi Sim! Mal sabia ele que aquele era um grupo afecto a Nito Alves (deduziu isso, por via das falas que se lhe seguiram). Bem! O resto já foi contado lá atrás e o caso, nem é relevante para o contexto geral e neste acontecido de tanta projecção nacional e internacional (fim da minha fala…).
A repressão estende-se ao ano de 1978. Nas muitas petições a Agostinho Neto feitas por notáveis é referida a violência. dos guardas, as péssimas condições de alimentação e higiene nas prisões, com ratos, baratas, aranhas e outras bichezas coexistindo com os presos e, em celas superlotadas.
A comida é servida em pratos de alumínio já retorcidos e, sujos como se o fossem cachorros. O arroz e feijão tinha gorgulho e em alguns casos, são obrigados a beber água das latrinas. Nos campos para onde eram levados os presos, a vida era duríssima. No campo do Tari, “passávamos fome, tinhamos muito frio.
A saudade morava dentro de nós com a permanente incerteza; a raiva era mais que muita e o medo demasiado teimoso. “As ratazanas que mais pareciam coelhos aguardavam nossos descuidos para nos ratarem as orelhas dos pés. Nos sonos inquietos havia gritos”; é José Reis, um ilustre desconhecido que sim o conta, mais tarde.
Com tanta falação interna e internacional, Neto distancia-se da DISA, de seus métodos com excessos cometidos levando-o a extingui-la em Julho de 1979. No ar de boca em boca, na vizinhança sempre se ouvia alguém dizer: “O meu filho desapareceu”. E, era forçoso assim, acabar com as testemunhas incómodas. Com a lei 7/78, Neto institui na prática, oficialmente, a pena de morte para quem cometia crimes lesivos à segurança do Estado…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3581 – 22.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
CHE com 47 anos de idade (ano de 2024), filho de José Van Dunem e Sitta Valles, sobrinho de Francisca que foi Ministra da Justiça e da Administração Interna do XXII governo do M´Puto (Portugal) e, com quem foi educado, descreve assim sua estória de vida: “Nasci em Luanda em Fevereiro de 1977, três meses antes do 27 de Maio. Com o desaparecimento de meus pais, de outros familiares e amigos próximos, fui levado para o M´Puto…
Perante a falta de informação sobre o paradeiro de meus progenitores, estando Luanda em contexto de caça aberta ao homem com fuzilamentos em grande escala por todo o território de N´Gola, meus avós maternos decidem levar-me para Portugal em Outubro desse fatídico ano, juntando-nos à minha tia Francisca. Por fases, fui descobrindo essa parte do meu passado…
Durante a minha infância contavam-me apenas o indispensável. A partir da minha adolescência, o meu tio João, um irmão mais novo de meu pai, desempenhava um papel importante na revelação dos acontecimentos. Também ele, tinha estado preso, detido em Cuba e levado para Luanda, sobrevivendo à chacina. Regressei a Luanda pela primeira vez em 2005, com 28 anos…
Tinha noção que o meu retorno seria uma questão de tempo. Tinha a consciência que os meus pais se tinham em Angola, batido com dignidade e determinação pela edificação em Angola para uma sociedade justa, em que a solidariedade pudesse substituir o egoísmo e ou a exclusão…
Entendi que não fazia sentido não lutar pelo mimo projecto de sociedade na terra onde nasci. Em 2009, decidi que não devia protelar mais e que era chegado o momento certo para voltar a Angola. Parece-me importante desmistificar a versão criada pelo poder…
Cabe aos especialistas trazer alguma luz sobre o 27 de Maio e fazer também a avaliação do papel histórico que a minha mãe Sita, também o meu pai e, muitos outos camaradas seus, como Juca Valentim, Nito Alves, Monstro Imortal, Bakalov e tantas outras figuras tiveram no período da luta pela independência e neste processo do 27 de Maio em particular”.
Sabe-se que Sita naquele momento de desvario, tentou enviar uma carta à missão soviética através da mulher de seu irmão Ademar. Onambwé, um dos chefes da DISA, sabe e diz à mulher de Ademar que se lhe tivesse entregue essa carta, o marido seria poupado. Entretanto, Sita e José Van-Dunem são capturados. Entram no Ministério da Defesa de mão dada sendo de seguida levados para a Fortaleza de São Miguel. Sita é ali violentada, violada, e selvaticamente torturada. Recusa ser vendada na altura do sumário fuzilamento.
Herminio Escórsio, chefe do protocolo da presidência nesse ano de 1977, afirma:- Fui à Fortaleza de São Miguel aonde encontrei o Zé Van-Dunem descalço e coberto por um lençol, o Juca Valentim e o Nado. Ainda falei com o Jacob João Caetano (o Monstro Imoral), chefe do Estado-Maior-adjunto da FAPLA e outros quadros… AGORA FALO EU: COM A MINHA KIZOMBA! EU ME ENGANEI, TE DOU RAZÃO. EU SABIA – SEI, MAS TU VÊ SÓ MERMÃO (salvo o seja), MINHA KIZOMBA TEM TUJI DE SALALÉ, NO MUTUÉ AMI DO ESQUECIMENTO DE MUITOS, MAZÉ TAMBÉM DE MUITOS ANOS - CADAVEZ JÁ É DOCUMENTO
llutrações de Costa Araujo
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingnge
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3578 – 18.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Meu pai Manuel, passou coisas inimagináveis em Angola e, já kota, teve de voltar ao M´Puto com a vontade de ficar, por força desse dia 27 de Maio no ano de 1977. Estava pintado de manchas já negras de sangue, guiado por duas canadianas. Assim o vi, no aeroporto da Portela de Lisboa (actual Humberto Delgado), perna pendurada e ainda com uma bala junto à rótula do joelho.
Lá na Luua os mortos eram tantos e, por tantos lados, que o médico Boavida do Banco de Angola o mandou para o M'Puto; não fossem os pseudo médicos cubanos cortarem átoa a mesma! E foi no Hospital de Torres Novas do M´Puto que tirou a dita cuja - a bala! Teve a sorte de não gangrenar!
E li algures de que «As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.» - Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»
Os tamancos de pinho do M´Puto de meu pai, não eram suficientemente quentes para animar o dia que se seguia naquela terrinha chamada de Barbeita e, vai daí, meu pai tentou a Venezuela e o Uruguai mas as facilidades só lhe surgiram para a África - Terras Ultramarinas de Portugal. Deram-lhe passagem de colono após preenchimento de impressos timbrados com a esfera armilar.
Através da Companhia Nacional de Navegação zarpou no tal vapor Mouzinho de Albuquerque por volta do ano de 1950. Nós, família, ficamos a morar no Rio Seco da Maianga da Luua, início do Catambor. Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, suspirando baixinho…
Revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio para dar rijeza aos canhões de Hitler, assim - para sobreviver na “graça de Salazar”, guerra acabada, houve necessidade de mudar o rumo à vida. Um dia, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi…
Ora sucede que passados muitos anos, nesse 27 de Maio de 77, veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos. E, vêm agora tornar heróis os Otelos e tantos guedelhudos a fingir que nos libertaram no VINTICINCO. Não posso entender o significado de nossas vidas, fingindo ou imaginando ter sido assim como um colchão coberto de cravos vermelhos num caixão e rosas, porque Cristo nos chama para às mais exigentes e ousadas periclitãncias como a sempre desconhecida morte! E, as FP-25 - Que negócio foi esse?
Esperei-o no Aeroporto. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis… Sim! Meu pai padecia ser um matumbola (morto vivo) e, até me belisquei para ter a certeza de que isto não era só um suspiro. Em verdade, eu também sabia bem que João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, tinha morrido com um garrote do n´guelelo, um triste fim de um herói…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3576 – 10.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A última execução em massa de pessoas por via da tentativa do que foi, um golpe, teria ocorrido a 23 de Março de 1978 com pelo menos 15 peoas. “Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se poesse assemelhar a um julgamento imparcial”.
A 10 de Abril , o governo negou alegações feita em carta aberta por um partido politico. Alegava-se que 30 mil pessoas haviam desaparecido durante os anos de 77 e 78, em consequência da Revolta dos Fraccionistas. O governo do MPLA, limitou-se a admitir “excessos lamentáveis”, declarando compartilhar “a legitima preocupação das famílias das vitimas, interessadas em saber o que acontecera aos seus parentes “.
O governo do MPLA mais disse – “que, talvez fosse criada uma comissão para tratar do assunto.” Em realidade, nada foi feito e, as indicações posteriores de gente desgarrada do processo e, despeitada com seus superiores, declarou no exílio da diáspora, aquele número ser de 80 mil… O jornalista angolano, Tonet, em entrevista à Deutsche Welle falou do acontecido na primeiríssima pessoa: Eu estive envolvido no 27 de Maio, a minha família esteve envolvida, a partir do meu pai, que foi preso.
Dois tios meus estiveram presos e foram enterrados vivos, sem qualquer tipo de julgamento”, disse. “Matemática e juridicamente falando, eu ainda estou preso”, denunciou o angolano. “Porque a gente não tem formalizado, sequer, nenhum mandado de soltura, como não tem nenhuma acusação.
A DISA, a polícia política da altura do chamado “28 de maio”, alusão ao período logo após o 27 do golpe, sob a direcção de Ludi Kissassunda e Onambwé e, tendo como principais executantes António Carlos Silva, Carlos Jorge, Pitoco, Inácio Osvaldo, Eduardo Veloso, Norberto Castro Pereira, Margoso, José Maria, Manuel Carmelindo, José Vale, Nascimento, Domingos Cadete, Victor Jeitoeira, Cristian André, José Baião, João e Henrique Beirão, Zeca França, José Baião, Júlio Rasgado, Miguel de Carvalho, entre outros, prendem, torturam e matam sem qualquer controlo.
As cadeias ficam sobrelotadas; os presos são alvo de todo o tipo de sevícias: espancamentos com martelos, paus, barras de ferro, soqueiras, cintos, chicote, pedaços de mangueira cheios de areia, mesas, bancos, cadeiras, bancos; violentamente amarrados com os braços atrás das costas até perdem a sensibilidade dos braços e mãos.
Os presos são suspensos e deixados cair no chão, com os braços e as pernas amarradas; queimados com pontas acesas de cigarros, também um torniquete colocado na cabeça e, que à medida que é apertado, causa fortíssimas dores e a perda de consciência; choques eléctricos nos genitais, etc, etc…
A imaginação dos algozes não tinha limites em sua bestialidade. O sangue corre às golfadas como um mar, os gritos de dor dos seviciados são insuportáveis… Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se assemelhasse a um julgamento imparcial.”
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3575 – 07.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Nito Alves foi ministro do Interior de Angola desde a independência em 11 de Novembro de 1975, até à data em que o presidente Agostinho Neto aboliu o cargo em Outubro de 1976. Fazia parte da linha dura do Movimento Popular de Libertação de Angola e tornou-se conhecido internacionalmente devido ao golpe de estado falhado, conhecido por Fraccionismo, de que foi mentor em 1977 .
Nito Alves opunha-se a Agostinho Neto nos temas da política externa de não-alinhamento, socialismo evolutivo e multirracialismo. O que mais parece chocar na repressão que se seguiu à alegada tentativa de golpe de Estado contra o primeiro presidente angolano após a independência, Agostinho Neto . é que as vítimas não foram inimigos do governo – mas sim membros do MPLA.
MPLA, partido no poder e, assim, sendo da própria família política e da direcção do país. O desconhecimento sobre o que aconteceu às vítimas da repressão do regime do Presidente Agostinho Neto, nos dias que se seguiram ao que terá sido uma tentativa de golpe, corrói. O cálculo dos mortos varia. A Amnistia Internacional fala em 40 mil, o jornal angolano Folha 8, em 60 mil…
A chamada Fundação 27 de Maio calcula em 80 mil. Fontes da DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola) referem-se a 15 mil mortos. Se nos ficarmos pela média, pelos 30 mil, são dez vezes o número de mortos do Chile dos anos 1970 de Augusto Pinochet, na própria família política o MPLA. Sem julgamento.
Saidy Mingas, fiel a Agostinho Neto, na madrugada de 27 de Maio de 1977 (sexta-feira), entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas de Nito Alves; Foi a sua última missão. O então Ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto é preso pelos soldados fraccionistas e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são posteriormente queimados vivos.
Sita Valles é talvez a mais conhecida das vítimas da purga do MPLA – ela, o marido José Van Dunem, comissário político do Estado-maior e Nito Alves, ex-ministro do Interior. Mas, de uma forma ou de outra, a repressão que se seguiu ao 27 de Maio de 1977 deixou marcas na vida de grande parte dos angolanos, relata o jornalista independente William Tonet. “Directa ou indirectamente, a maior parte dos angolanos daquele tempo está envolvida no 27 de Maio.
Ela, Zita Valles, deu ao horror seu rosto. Sita Vales foi fuzilada às 5 da manhã de 1 de Agosto de 1977. Um tiro em cada perna, um tiro em cada braço, o corpo caiu na vala previamente aberta antes de ser dado o tiro de misericórdia. O corpo, ou o que dele restava: Sita Valles havia sido torturada e violada múltiplas vezes pelos homens da DISA.
Rebelde até ao último minuto, recusou a venda e obrigou os homens do pelotão de fuzilamento a enfrentarem o seu olhar. A portuguesa, nascida em Cabinda, tinha então 26 anos e trocara uma vida confortável em Portugal e um curso de medicina para regressar a Angola, país que considerava ser o seu e para defender a ortodoxia soviética em supostos tempos de democracia.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3574 – 04.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Hermínio Escórcio, chefe do protocolo da presidência, descreve mais tarde como sucederam as manobras dessa revolução: “ Na manhã do dia 27 estava em casa quando me apercebi que a Rádio Nacional de Angola - RNA, havia sido tomada. Fui para o meu gabinete no Palácio e de lá telefonei para o Futungo de Belas (Presidência da República).
De caminho pude avistar o Onambwé e o Delfim de Castro que, dentro de um tanque, se dirigiam para as instalações da RNA, onde já estava no ar o programa radiofónico “kudibanguela”. Depois da retomada da RNA fui o primeiro dirigente a lá entrar”. Continuando: “saí da rádio e fui até à Avenida Lisboa para ver se havia rastos de sublevação. Liguei a Neto, disse-lhe que estava tudo calmo e, ele prontamente afirmou: “Então posso ir até aí!”
Disse-lhe que por uma questão de segurança, talvez fosse melhor ficar pelo Futungo. Dito isto, acrescentou que ia chamar a imprensa para fazer o ponto da situação. Mal sabia ele que o Saidy Mingas, o Eurico e o Garcia Neto já tinham sido mortos. Também desconhecia que alguns comandantes haviam caído em emboscadas montadas pelos Fraccionistas à 9ª brigada.
Neto, quando soube de tudo isto, ficou completamente transtornado”. Neto vai à televisão e proclama o salvo-conduto para o banho de sangue: “Não haverá contemplações… Certamente não vamos perder tempo com julgamentos”. Os fuzilamentos sumários passaram logo a ser norma. Convêm dizer aqui que os cubanos após retomarem a Rádio Nacional, abrem fogo sobre todos os amontoados de população que eventualmente estavam ao lado dos revoltosos e, acto contínuo retomam o controlo das cadeias.
Mila Coelho, mulher de Rui Coelho fuzilado a 2 de Junho de 77 e, que na altura era chefe do gabinete do Primeiro-Ministro Lopo do Nascimento, conta assim: “Esperava Rui, vindo de Argélia e a 1 de Junho com a tragédia do 27 a decorrer, notei nele muita intranquilidade. No dia seguinte, dois de Junho, vieram buscar-nos a casa”.
“Dois soldados armados de metralhadora, exigiram que fôssemos com eles. Levaram-nos para o Ministério da Administração Interna aonde permanecemos toda a tarde, sentados em um banco corrido. Nessas horas falamos pouco; estávamos horrivelmente destroçados.
Era já noite quando nos foram buscar; meteram-nos num cubículo escuro. Pela madrugada levaram-nos para a Cadeia de S. Paulo. A separação de homens para um lado, mulheres para o outro afastou-nos definitivamente um do outro para nunca mais nos virmos”…
Em causa estavam no fundo divergências ideológicas entre Agostinho Neto, adepto de uma via “terceiro mundista” para Angola, com características semelhantes à argelina, e Nito Alves, advogado da ortodoxia soviética. Em Angola não podia haver contra revolução popular e, por isso, Neto, o presidente poeta, foi irredutível: “Não haverá perdão para quem penssasse de forma diferente da linha oficial do MPLA”.
Apesar da dimensão do massacre, o tema é tabu, explica José Milhazes: “É que alguns dos intervenientes ainda estão no poder. Quero recordar que o presidente José Eduardo dos Santos, naquela altura, era já um membro da direcção do MPLA e que participou directamente no conflito”, lembra o comentador e historiador português.
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"LUANDA NOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3573 – 30.04.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Cumcamano, disse eu depois de dizer um chorrilho de grossas asneiras ao pisar bosta de elefante já meia desfeita; assim era este paradisíaco sítio cheio de coisas “good” e, logo a seguir às cubatas feitas de barro e capim entalado em chinguiços. Paus tortos na vertical atados a mateba em outros paus tortos horizontais. Com dois por dois metros, dei-me a matutar de como caberia ali um par de gente sem ficar com os pés de fora.
Era só mesmo para dormir; as outras divisões eram um amplo mato a seguir à clareira avermelhada. Para ir ao cagadoiro, era só seguir o carreiro que levava ao buraco. Saltando um pouco no tempo sem definir datas ou horas exactas, o chefe Miranda referia algumas agruras do mato do Calai, Dírico e Mucusso, posturas antigas nunca esquecidas, a querer relembrar as surucucus de Angola, um pensamento, da sua fuga…
Neste meio tempo de reestruturação da UNITA e construção da JAMBA, vamos desviar a atenção para a Capital Luanda aonde Agostinho Neto se vê em apuros com um suposto golpe de estado. O golpe que ficou conhecido como o Fraccionismo, teve uma data a memorizar esses eventos: - O 27 de Maio!. Quatro homens do MPLA lideram um suposto golpe de Estado contra Agostinho Neto.
Esses homens foram: Bernardo Alves (Nito), Jacob Caetano (Monstro Imortal), José Van-Dunem e o comandante Bakaloff. Situando-nos a 27 de Maio de 1977 e, após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante, Neto continuava uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev.
O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio.
Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…
Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e o Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida.
O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”. Prisioneiros que foram enviados para o campo de reeducação em Calunga -Moxico, afirmariam que muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morrendo à fome ou simplesmente, foram alvejados ao tentarem fugir…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3572 – 27.04.2024
“DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A Jamba, “Estado Livre de Angola”, estava a ser preparada para em segurança, receber seu líder e seu Estado Maior no firme propósito de ali permanecer sem o serem bombardeados pelas chamadas forças governamentais coadjuvados por cubanos e assessores russos. A Jamba, que se tornaria numa dimensão mítica, estava a ser instalada. Neste meio tempo, a ausência de Savimbi prolongava-se por períodos que poderiam ir até três meses.
Na ausência de Savimbi, Eugénio Manuvakola assumia interinamente o cargo de presidente, tendo Abel Chivukuvuku como seu secretário. A partir de meados de 1979 Savimbi iria instalar-se em JAMBA, a base que já tinha todos os requisitos para funcionar com os requisitos técnicos optimizados e as infraestruturas básicas como por exemplo os misseis do tipo Sringer .
No tempo que medeia entre a formação militar dos enquadrados instruendos da UNITA nos campos Delta, Quadado e Ómega e, até se dar o início das actividades na Jamba em 1979, a inteligência militar da UNITA sabia tudo sobre cada unidade das forças armadas do governo do MPLA e aquartelamentos cubanos - a logística, por meio de seus oficiais formados em vários países com o aberto beneplácito dos EUA estava afinada e refinada…
Os novos oficiais da UNITA, eram já conhecedores das mais modernas e diversificadas tecnologias de guerra, nomeadamente da Segurança do Estado Stasi da polícia secreta da Alemanha Oriental, mas e também Israel, Marrocos entre outros afectos aos estados Unidos da América. Aos formandos foi-lhes proporcionado saber qual o melhor modo de pensar do MPLA e das forças expedicionárias comunistas.
Eram conhecidas as comunicações internas do regime de Luanda e até do próprio presidente Agostinho Neto e Eduardo dos Santos; Conheciam ao pormenor os relatórios da CIA e sabiam ao momento, vendo imagens de satélites espiões. Havia assim um perfeito conhecimento entre os movimentos do Galo Negro na interacção e utilização de armas estratégicas que lhes haviam sido fornecida tais como os misseis FIM – Stinger.
Qualquer disparo saído da Jamba, e outras bases estratégicas moveis, feito pelas FALA, acto continuo haveria comunicação de dados excênciais, do como e porquê segundo os parâmetros obrigatórios tai como coordenadas UTM entre outros meios criptografados com os Serviços de Inteligence Militar Sul-Africano e, com o Estado Maior das FALA. Isaias Samakuva era o oficial responsável situado na base Quadrado – Rundu.
A base “Quadrado”, era um lugar de máximo secretismo algures situado na Faixa de Kaprivi e, inserido na logística global das bases Delta e Ómega. As actividades de Abel Chiukuvuku que estava à frente dos Serviços de Inteligência, Informação e contra-informação, fazia-se notar pela lucida aptidão e ligeireza optimizada. Com valentia, o general Arlindo Pena (Ben-Ben), coadjuvado pelo general Demósthes Amós Chilingutlla sobresaiam em logística moderna na confluência entre os rios Lomba e Cuzumbia.
As actuais e futuras gerações aprenderão também lições da história política dos mais-velhos, militar, administrativa, de resistência em Angola e sequente trabalho de opinião e influenciação das individualidades e mentes públicas efectuada na diáspora, gente incógnita que na dissimulação tal como passarinhos que apagam com gotas de seu suor, incêndios na mata. Saberão como, uma parte de Angolanos que começaram em Fevereiro de 1976 numa caminhada para Sul, construíram uma capital dum Estado invicto e funcional - JAMBA…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3569 – 18.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Não sei precisar o dia do ano de 1997 em que me encontrei de forma esporádica com Pedro Rosa Mendes, creio que isto aconteceu no mês de Agosto mas, foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno; no entanto pareceu-me tendencioso demais em seu livro “Baia dos Tigres” no julgamento de Miranda o militar ex-búfalo e, agora comerciante do Okavango, de quem me tornei amigo.
Rosa Mendes, retractou Miranda como um brutamontes, um mercenário por ter pertencido à companhia militar Sul-Africana “Os Búfalos”. João Miranda do Mukwé - o mesmo que invadiu Angola no ano de 1975. Eu, seguiria para Vitória Falls no Zimbabwe, retrocederia mais tarde até Divundo e seguiria o rumo de Joanesburgo passando pelo Delta do Okavango…
Assim foi com uma paragem de dois dias em Maun. Enquanto Rosa andou 10.000 km, eu percorri 13.000. Quanto a Rosa, vi-o como um verdadeiro repórter comunista do M´Puto pago por encomenda. Posto isto entro de novo na recordação da descrição da 2ª Marcha de Savimbi entre Cuelei e a Faixa de Kaprivi no lugar de Divundu…
Nos dias que se seguiram após aquela fome junto à grande tenda mandada montar por Philip du Preez num lugar bem próximo de Mahango - Base Ómega 3, de instrutores Sul Africanos e recrutas de especialidades várias da UNITA, aquela delegação de guerrilheiros, nos dias que se seguiram, receberam centenas de quilos em armas…
Receberam munições, fardamento e mantimentos segundo o descrito nas memórias de Chivukuvuku no livro de José Agualusa** - Uma biografia para Angola… Para mim e, nestas andanças de “Xirikwata” em determinadas alturas, tal como Rosa Mendes, também o foram «Viagens sem bilhete, sem horário, sem transporte público, sem "vouchers" com pequeno almoço incluído», comento pão duro rusks e bolachas com marula por conta própria. No Divundu e Mukwé tive a protecção total de Miranda e D. Elisabete sem dispender um tostão que fosse, pelo que, sempre estarei grato a tanta hospitalidade - e, aconteceu por quatro vezes em anos distintos…
No Mahango da faixa de Kaprivi, os guerrilheiros da UNITA, para além de muitas e variadas armas de tiro tenso e curvo com munições, receberam fardamentos, mantimentos e variados medicamentos de primária necessidade. A questão seguinte que se punha naquele agora, era a de carregar todo aquele material para as bases da UNITA nas áreas do Cuelei e Jamba. Havendo ali várias gerações de pastores nómadas Cuvales, Himbas e Koisans, os primeiros entre os demais, foi sugestão unanime, utilizarem burros para levarem todo aquele material bélico e demais caixas, caixinhas e caixotes de géneros diversificados e material sanitário.
Cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi necessário arranjar redes, cordas, cintas e almofadas para ajustar os volumes e sacos à anatomia dos animais, carga tão diversificada poderia ferir ou causar transtornos para além do admissível os quadrupedes; ter em conta que eram uns 1200 quilómetros a percorrer, podendo levar uns cinquenta dias a percorrer tal distância, quase dois meses e, se tudo corresse dentro do planeado e sem ataques aéreos…
Entretanto, a norte, a coligação governamental MPLA-Cuba, praticava uma politica de terra queimada, a conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires desta “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina. O MPLA atribuiu á “UNITA” a responsabilidade pelo massacre quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelada para Sudeste no Cubango…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa e de “Baia dos Tigres” escrito por Rosa Mendes
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3568 – 14.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Anos mais tarde, com João Miranda Khoisan e sua filha Ana Maria, em Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi e, que mais tarde tomou o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”, do outro lado do Okavango relembraríamos. Foi ali o bivaque base Ómega aonde a UNITA, na pessoa de seu presidente Jonas Savimbi, entabularam negociações com os bóhers da África do Sul.
Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, ouço de novo João Miranda: - Isto é mato, amigo!; assim falou estalando a língua assolapada ao seu céu bem ao jeito dos bosquímanos. Continuando a descrição encetada no Cuelei, naquele então, fins do ano de 1976, decorridas largas horas, o coronel Philip du Preez, regressando de seu périplo vistoria às suas tropas ao longo da fronteira, desceu de seu helicóptero, entrou na tenda com seus homens, e todos eles comeram e beberam.
Comeram e beberam sem se cuidarem ou lembrarem sequer dos angolanos que os aguardavam lá fora, com uma fome negra. Assim é descrito no livro de “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” por Agualusa mas, quanto a mim, acho desmedida esta inventação de narrativa. Uma grande desfeita nada peculiar conhecendo-se a estatura e, até diplomacia dos intervenientes.
A descrição do encontro surge assim com detalhes sórdidos e inusitados. Aliás, nem creio que aquele coronel bóher assim se tenha comportado por me parecer pouco natural, até bizarro. Ter este calibre de comportamento com esta gente guerrilheira, parece-me ser de um torpe e grosseiro descuido, por o serem já tão conceituados e, sobretudo tendo essa conhecida figura, como chefe da delegação - uma afirmada lenda de guerrilheiro africano chamada de Jonas Savimbi.
Pois então, seus homens tiveram de esperar ainda algum tempo fora da grande tenda, antes de finalmente, conseguirem matar a fome. Aleluia! Por fim houve tempo para discutir ao que os levava ali às terras do Fim-do-Mundo. De forma brejeira é dito que o coronel du Preez, começou por sugerir que os guerrilheiros da UNITA se juntassem ao recém formado Batalhão 32; Sabimbi, indignado, recusou…
A UNITA era um Movimento de Libertação angolano. Não o seria, nunca, assim frisou indignado o Mwata guerrilheiro Jonas Savimbi, um simples instrumento de guerra nas mãos dos bóhers. Philip du Preez, duvidou da firmeza com tenacidade dos guerrilheiros angolanos: - Vocês estão mesmos dispostos a enfrentar sozinhos os cubanos? Têm coragem para isso? Sim, temos! Assegurou com firmeza Savimbi.
E continuou falando: - Necessitamos de vocês, nesta fase periclitante, para que nos forneçam material de guerra; é só o que queremos, reafirmou. E, vocês precisam de nós para conter o avanço do comunismo junto às vossas fronteiras. O Coronel Philip, prometeu nessa mesma noite falar com os seus superiores de Pretória, despedindo-se em seguida, subindo para o helicóptero bem à justa de forma a alcançar sua base ainda de dia…
Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda do Mukwé, a vida acontece…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3567 – 10.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Mais tarde e kota, andei pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge, Nunda River, Ngepi Camp ou Ndhovu Safari. Mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio que subimos numa barcaça.
E, passeando ao longo do Kavango até quase o Botswana; visitámos depois os rápidos e remansos, já com as águas do Kuito, águas que inundam o Delta do Okavango a jusante; um mar muito antigo a dar vida aos muitos n´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e outras muitos espécimes.
Em idos tempos, disse João Miranda apontando a margem: Savimbi esteve por ali; um lugar que serviu de acampamento, lugar aonde bivacaram as forças que formaram o Batalhão Bufalo, lugar chamado de Omega. Naquela outra já distante noite na segunda metade do ano de 1976, e, nesse lugar de Mahango, Savimbi e seus oficiais mais próximos, dormiram ao relento em um céu aberto, estendidos na lama seca.
Despertaram na manhã seguinte, com o ruido de outro helicóptero… O militar que saltou do aparelho, com um sorriso no rosto e braços abertos, era um já conhecido de todos: Philip du Preez, coronel das Forças de Defesa Sul-Africana, SADF e, que nos últimos meses tinha servido de elo de ligação entre as forças da UNITA e da FNLA com o regime do apartheid.
O coronel du Preez, depois de cumprimentar cada um dos dirigentes da UNITA, ordenou a seus subordinados que montassem ali uma enorme tenda. Dentro daquela enorme tenda foi disposta uma mesa larga e longa muito farta de géneros; pão com chouriço, queijo, cerveja e refrigerantes. Eduardo Agualusa em seu livro de “vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” descreve o encontro.
Diz que o coronel bóher Philip du Preez explicou a Savimbi que precisava visitar algumas bases militares situadas ao longo da fronteira com Angola e que voltaria mais tarde. Esta inusitada falta de atendimento a quem estava sob tensão, deve ter sido usada sob pretexto de poder ter o tempo necessário para falar com seus superiores, talvez o primeiro-ministro Vorster.
O mais previsível neste proceder aparentemente torpe, justificar-se ia em obter as directivas acertadas para comunicar ao guerrilheiro Savimbi; comunicar na volta, a decisão optada, falando com maior certeza e serenidade; é este o meu entendimento. E, porque a fome daqueles guerrilheiros era mais que muita, na ânsia de comer, ouve.se: vamos comer! Savimbi gritou: -Não toquem na comida.
Esses bóhers são racistas, todo o cuidado é pouco e, além do mais não nos disseram que comêssemos, então, não vamos comer! Será melhor esperarmos. Um suplicio para quem estava tão carecido de meter algo no bucho. E, assim esperaram ouvindo os rugidos dos estômagos carecidos – rugidos esfomeados depois de 1200 quilómetros caminhados entre secas espinheiras, secos capins. Esperaram…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024
“A 2ª MARCHA – DO CUELEI ATÉ KAPRIVI” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Já em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher do apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano.
Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do Sudoeste Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.
Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.
Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.
Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do Dondi, Epalanga Chivukuvuku e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até alcançar o lugar aprazado…
Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.
Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes. A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.
Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3565 – 05.04.2024
“APÓS A LONGA MARCHA ” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A UNITA, que no seu auge (ao final dos anos 1980) apresentou uma estrutura militar composta de 65.000 soldados, incluindo 28.000 soldados regulares, foi um dos maiores movimentos políticos do continente africano… No primeiro trimestre de 1976, a UNITA foi obrigada a se retirar para zonas mais seguras, bivacando-se em Cuelei a 28 de Agosto desse mesmo ano - 1976.
Cuelei, nome que ficou na história de Angola, situa-se na província de Kuando-Kubango, lugar inóspito até aí e, aonde, com o apoio da África do Sul, a UNITA, iniciou sua reorganização. Em 1979, o movimento já se consolidara outra vez, estabelecendo uma sede permanente na região, a chamada República da Jamba –Terras Livres de Angola.
A UNITA, até aos anos 1980, expandiu seu controle territorial estabelecendo uma estrutura organizacional muito semelhante a de um Estado, dispondo de uma burocracia, exército convencional, e governo. Sua estrutura de liderança assemelhava-se à do próprio MPLA, consistindo de um Bureau Político e um Comité Central.
No fim dos anos de 1980, a população da Jamba era estimada entre 8.000 e 10.000 pessoas, e 80.000 a 100.000 pessoas no sistema de aldeias vinculadas ao movimento. Chegados aqui e, antes de seguir o rasto da UNITA depois da “Grande Marcha” até Cuelei, teremos de recordar aqui, que em 14 de Outubro de 1975 (um ano antes), os Sul-africanos iniciaram oficialmente a Operação Savana embora já estivessem ocupando esta região sul de Angola desde Agosto desse ano.
Um ex-agente da CIA posteriormente afirmaria: "houve uma estreita ligação entre a CIA e os sul-africanos"… Era forçoso não deixar avançar os comunistas em território angolano - África. Isto levou a África do Sul do apartheid que apoiava a UNITA, a invadir Angola a 9 de Agosto de 1975.
Os cubanos, a pedido de Otelo Saraiva de Carvalho com anuência do Presidente Costa Gomes do M´Puto (que disse sempre, não reconhecer…) Também com a anuência revolucionária de toda a nomenclatura do C.R. (Concelho da Revolução) que formatava o M.F.A. (Movimento das Forças Armadas), os cubanos não tardaram em desembarcar em Angola, o que aconteceu a 5 de Outubro de 1975.
Aquela Força Operacional Zulu da África do Sul, cruzou da Namíbia para o Kuando-Kubango na fronteira da Faixa de Kaprivi na conhecida Ovoboland afecta ao grupo de guerrilheiro SWAPO sob o comando de Sam Nujoma. Esta operação previa a eliminação do MPLA da zona da fronteira sul angolana, depois o sudoeste, a região central e finalmente a captura de Luanda, o que não veio a acontecer…
Otelo Saraiva de Carvalho, o estratego do 25 de Abril, agora (2024), com cinquenta anos de estória, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se a fundo na entrega de Angola ao MPLA, conseguindo-o em absoluto! Assim, falando do tempo conturbado de reestruturação da UNITA após Cuelei, se irá recordar a participação dos jovens saídos da Missão do Dondi no comando do capitão Vinama Chendovava com a designação de “jovens intelectuais”, fazendo renascer a UNITA das cinzas, com destaque para Abel Chivukuvuku, nesse então com 19 anos e, dando novas perspectivas ao Galo Negro…
Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange com consulta a publicações de Jéssica da Silva Höring e José Agualusa…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024
“APÓS A LONGA MARCHA ” – No Cuelei, com Savimbi…
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.
O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.
Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou… E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.
Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?
Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.
E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.
Questionado pela agência Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.
Philip du Preez em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.
O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…
Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.
Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros da UNITA estavam familiarizados.
Às primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.
Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra compreensão numa situação de desespero.
Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».
Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.
Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3549 – 13.02.2024
“A LONGA MARCHA COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
(…) Em Gago Coutinho - Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu. Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda.
A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha.
Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.
A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.
A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos....
Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo. Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.
Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada.
O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3546 – 04.02.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “O 11 de Novembro de 1975 em Luanda”
- Escritos boligrafados da minha mochila aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Via Wikipédia:
Cerca de 12 horas da tarde de 10 de novembro de 1975, o Alto-Comissário português, Almirante Leonel Cardoso, realizou uma cerimônia solene no salão nobre do Palácio do Governador, onde declarou o fim da administração portuguesa e "entregava a soberania ao Povo Angolano". A passagem da soberania não teve um destinatário, facto que inclusive deu margem para a continuação da Guerra Civil Angolana…
O Alto-Comissário e os membros de seu gabinete retiraram-se do Palácio com destino à Fortaleza de São Miguel de Luanda, onde foi arreada a "última bandeira portuguesa em solo angolano". O Alto-Comissário, seu gabinete e o Comando Militar dirigiram-se para a Base Naval de Luanda, onde embarcaram nos navios "Niassa" e "Uíje", marcando o encerramento definitivo da colonização portuguesa.
Na proclamação de independência o controle de Angola estava dividido pelos três maiores grupos nacionalistas — União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), pelo que a independência foi proclamada unilateralmente, pelos três movimentos em três diferentes lugares.
Proclamação oficial… O MPLA, que acabara de garantir o controle de Luanda, proclamou a Independência da República Popular de Angola (RPA) às 23h de 11 de novembro de 1975 no Largo da Independência (ou Primeiro de Maio), pela voz de Agostinho Neto dizendo, "diante de África e do mundo proclamo a Independência de Angola”, culminando assim o périplo independentista, iniciado no dia 4 de fevereiro de 1961, com a luta de libertação nacional, estabelecendo o governo em Luanda.
Coube a Lúcio Lara, o presidente do "Conselho Revolucionário do Povo" (actual Assembleia Nacional), investir Neto no cargo de Presidente da República Popular de Angola no dia 12 de novembro de 1975, quando era cerca de meio-dia, numa cerimónia que teve lugar na Câmara Municipal de Luanda (actual Governo da Província de Luanda). Foi investido no dia 12 com efeitos retroativos ao dia 11, dado que já era o líder do processo revolucionário de independência.
O Presidente Neto, relativamente a Portugal, afirmava que a luta do movimento que liderava não era contra os portugueses: "Que pelo contrário, a partir de agora, poderemos cimentar ligações fraternas entre os dois povos". O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em sessão conjunta com o Comité Central do MPLA, o hino nacional…
A bandeira e o emblema, bem como a Constituição Angolana de 1975, foi promulgada por Lara no mesmo acto solene de proclamação da independência. O Conselho Revolucionário do Povo aprovou, em seguida, a Lei da Nacionalidade em 1975. A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la formalmente a 22 de Fevereiro de 1996
Mesmo sendo um dos intervenientes na batalha de Kifangondo ao lado da FNLA, com um total de 12 especialistas militares, o Brasil rapidamente abandonou a batalha e, o presidente general Ernesto Geisel decidiu reconhecer em 6 de Novembro de 1975, o MPLA como legítimo representante do povo angolano com as tropas das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que defendiam Luanda comandadas por Agostinho Neto, estabelecendo relações diplomáticas com a nova República que se instalara unilateralmente. O Brasil fez isso antes mesmo de qualquer país do bloco socialista (cinco dias antes da proclamação a 11 d Novembro)…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3544 -30.01.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
A CARAVANA.5 – A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila
- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Eu e minha mãe fomos para casa de um casal idoso que nos acolheu com uma refeição quente, um banho e uma cama quentinhos. Estava tanto frio. Pela manhã, logo depois do café, nos levaram à loja da filha deles, onde já estavam a minha futura cunhada e sogra. Disseram para escolhermos as roupas que quiséssemos. Nesse dia fiz as pazes com Deus.
Aquelas pessoas me apresentaram o outro lado da humanidade, feita de bondade com quem está refém da tragédia. Só podiam ser emissários do Divino, anjos perdidos no interior da África. Em Tsumeb, um novo acampamento, as mesmas barracas de campanha. Mas a comida era melhor, assim como o tratamento que recebíamos. Ficamos pouco tempo.
Conseguimos ser aprovados na seleção, graças a meu futuro cunhado e por eu ter começado a servir como intérprete. Benditas aulas de inglês. Mudamos de campo outra vez. Fomos para Grootfontein, mais próximo a Pretória. O campo era um presidio que estava sendo desativado.
Restavam lá uns 3 ou 4 presos, todos idosos. O presidio era formado por várias casernas e eles nos separaram. Tinhamos refeitório com mesa e bancos, e a comida era surpreendente. Imagine, senhor, que comemos até sobremesa de maçã caramelada no forno. É que os presos eram os cozinheiros. Fiz amizade com um deles. Tinha 65 anos e estava preso há 30 pelo assassinato da esposa num acesso de ciúme. A filha não o visitava.
Depois que saí do campo e ele da prisão, fui à casa dele. Era um homem gentil – como pudera fazer aquilo? Mistérios do coração humano que jamais saberei. Continuei sendo intérprete junto à assistente social e ao director do campo. Meu futuro cunhado arrumou emprego numa fazenda. Meu namorado logo sairia, mas eu era menor de idade e não poderia deixar o campo.
Estava dificil para minha mãe. Ir para Portugal estava fora de questão, dado o desprezo com que nos tratavam. Eu e Zé decidimos casar. Minha mãe passou a ser minha responsabilidade (acredita que até hoje ela fica muito zangada quando lembra disso?). E assim, no dia 6 de novembro de 1975, casei dentro de um presidio que funcionava como campo de refugiados. O diretor e a assistente social foram nossos padrinhos.
Os soldados que tomavam conta do campo fizeram uma cotinha (vaquinha) e pagaram a nossa festa e a lua de mel num hotel na cidade. O casório teve bolo, vestido de noiva e tudo, viu? O Jeep do exército nos levou ao hotel. Os soldados ficaram dentro do Jeep vigiando para que não fugíssemos. De madrugada, acordei com dor de ouvido.
Na recepção não havia remédios, as farmácias só vendiam medicação com receita. Os soldados me levaram para o hospital, onde fui atendida. Ao voltarmos para o campo, os soldados contaram para todo mundo a aventura. Não escapamos à gozação geral: “Nem os ouvidos poupaste à miúda, Zé?” Casada pelas leis sul africanas, no dia 11 de Novembro casei na Igreja e duas semanas depois casei novamente no consulado português.
(Continua…)
(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3543 -28.01.2024
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
A CARAVANA.4 – A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila
- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aprendi, nessa época, que tudo o que está ruim pode piorar. Minha familia deixou Nova Lisboa, assim como meu namorado e a mãe dele. Eu fiquei. Aguardava minha mãe, que tentava sair de Luanda. De repente me vi sozinha, aos 16 anos, num país que se esfacelava e numa cidade em que os grupos guerrilheiros se enfrentavam para dominar o território. Agora havia tiroteios em toda parte. Passei a morar na sede da Cruz Vermelha.
Finalmente minha mãe chegou e conseguimos uma carona para Sá da Bandeira, mais ao sul. Fomos de camião, minha mãe na boleia com o motorista e a esposa dele; eu e os filhos dele no meio da carga de batata. Até hoje, meu senhor, o cheiro de batata me agonia. É cheiro de fuga, de desesperança e perda. Em Sá da Bandeira reencontramos meu namorado e a familia dele, com quem tinhamos combinado sair de Angola. A confusão era enorme.
Gente andando de um lado pro outro, tentando encontrar familiares ou arrumar um jeito de sair dali, gente sem um centavo até para comprar água. Faltava comida, além de esperança. Não lembro exatamente da data em que finalmente saímos em caravana (onze carros e um camião) à noite pelo meio da mata, com destino à fronteira com a África do Sul. Sei que era início de Agosto. Durante a viagem encontramos duas patrulhas de guerrilheiros.
A primeira foi mais tranquila, aceitaram o suborno de cigarros. Já a segunda foi apavorante: queriam nos prender de qualquer jeito. Segundo eles, éramos ladrões das riquezas de Angola. Todo aquele zelo patriótico não resistiu à propina. Além de cigarros e bebida alcoólica, demos dinheiro para que nos deixassem seguir. O sol começava a nascer quando encontramos uma coluna do exército da África do Sul.
Ainda estávamos em território angolano, a cerca de 10 quilômetros da fronteira, mas eles nos escoltaram até um campo de refugiados já em território sul-africano. Foi o primeiro campo em que ficamos. Eu sentia raiva, meu senhor. Muita raiva! Uma revolta surda contra os brancos portugueses de Portugal, que nos exploraram durante séculos e agora nos viravam as costas dizendo que éramos brancos de segunda classe.
Revolta contra os negros, por acharem que a diferença na cor das nossas peles fazia que fôssemos diferentes deles. Éramos todos angolanos, mas apenas nós estávamos sendo expulsos de nossa terra e não tínhamos para onde ir. O acampamento era feito de barracas de campanha. Sabes como é, senhor, aquelas barracas verdes do exército? Na nossa barraca dormiam seis adultos e duas crianças.
Cada um recebia um um cobertor e três refeições por dia. Comida pouca, ninguém ficava saciado, mas matava a fome. Estávamos agradecidos, pois os sul-africanos faziam mais por nós do que o governo de Portugal. Esse acampamento – destinado a angolanos e moçambicanos – era um local de filtragem. A alguns era vedada a possibilidade de ficar no país. Esses eram logo encaminhados ao grupo consular português e enviados ao aeroporto, onde aviões da África do Sul os levavam para Portugal. Outros eram mandados a outros campos de refugiados.
Nós, graças a meu futuro cunhado, que era engenheiro agrícola e já tinha uma promessa de emprego, fomos para outro campo. Escoltados por uma coluna do exército, seguimos para Tsumeb. Na estrada para Windhoek, havia uma cidadezinha. Avistamos gente nos esperando. Abordaram o oficial do exército que nos conduzia e pediram para nos dar abrigo naquela noite. Desconhecidos encharcados de solidariedade, que queriam nos oferecer o alimento mais precioso, esperança…
(Continua…)
(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)
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