Quinta-feira, 18 de Abril de 2024
VIAGENS . 158

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3569 – 18.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg Não sei precisar o dia do ano de 1997 em que me encontrei de forma esporádica com Pedro Rosa Mendes, creio que isto aconteceu no mês de Agosto mas, foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno; no entanto pareceu-me tendencioso demais em seu livro “Baia dos Tigres” no julgamento de Miranda o militar ex-búfalo e, agora  comerciante do Okavango, de quem me tornei amigo.

Rosa Mendes, retractou Miranda como um brutamontes, um mercenário por ter pertencido à companhia militar Sul-Africana “Os Búfalos”. João Miranda do Mukwé - o mesmo que invadiu Angola no ano de 1975. Eu, seguiria para Vitória Falls no Zimbabwe, retrocederia mais tarde até Divundo e seguiria o rumo de Joanesburgo passando pelo Delta do Okavango

guerra18.jpgAssim foi com uma paragem de dois dias em Maun. Enquanto Rosa andou 10.000 km, eu percorri 13.000. Quanto a Rosa, vi-o como um verdadeiro repórter comunista do M´Puto pago por encomenda. Posto isto entro de novo na recordação da descrição da 2ª Marcha de Savimbi entre Cuelei e a Faixa de Kaprivi  no lugar de Divundu…

Nos dias que se seguiram após aquela fome junto à grande tenda mandada montar por Philip du Preez num lugar  bem próximo de MahangoBase Ómega 3, de instrutores Sul Africanos e recrutas de especialidades várias da UNITA, aquela delegação de guerrilheiros, nos dias que se seguiram, receberam centenas de quilos em armas…

guerra17.jpg Receberam munições, fardamento e mantimentos segundo o descrito nas memórias de Chivukuvuku no livro de José Agualusa** - Uma biografia para Angola… Para mim e, nestas andanças de “Xirikwata” em determinadas alturas, tal como Rosa Mendes, também o foram «Viagens sem bilhete, sem horário, sem transporte público, sem "vouchers" com pequeno almoço incluído», comento pão duro rusks e bolachas com marula por conta própria. No Divundu e Mukwé tive a protecção total de Miranda e D. Elisabete sem dispender um tostão que fosse, pelo que, sempre estarei grato a tanta hospitalidade - e, aconteceu por quatro vezes em anos distintos…

No Mahango da faixa de Kaprivi, os guerrilheiros da UNITA, para além de muitas e variadas armas de tiro tenso e curvo com munições, receberam fardamentos, mantimentos e variados medicamentos de primária necessidade. A questão seguinte que se punha naquele agora, era a de carregar todo aquele material para as bases da UNITA nas áreas do  Cuelei e Jamba. Havendo ali várias gerações de pastores nómadas Cuvales, Himbas e Koisans, os primeiros entre os demais, foi sugestão unanime, utilizarem burros para levarem todo aquele material bélico e demais caixas, caixinhas e caixotes de géneros diversificados e material sanitário.

ROXO195.jpg Cada burro poderia carregar entre trinta a cinquenta quilos, resistindo bem ao calor e à sede. Foi necessário arranjar redes, cordas, cintas e almofadas para ajustar os volumes  e sacos à anatomia dos animais, carga tão diversificada poderia  ferir ou causar transtornos para além do admissível os quadrupedes; ter em conta que eram uns 1200 quilómetros a percorrer, podendo levar uns cinquenta dias a percorrer tal distância, quase dois meses e, se tudo corresse dentro do planeado e sem ataques aéreos…

Entretanto, a norte, a coligação governamental MPLA-Cuba, praticava uma politica de terra queimada, a conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola.  Entre as aldeias mártires desta “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina. O MPLA atribuiu á “UNITA” a responsabilidade pelo massacre quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelada para Sudeste no Cubango…

ama3.jpg

Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.

Nota2: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa e de “Baia dos Tigres” escrito por Rosa Mendes

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:12
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Domingo, 14 de Abril de 2024
VIAGENS . 157

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3568 – 14.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”Na Faixa de Kaprivi, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba13.jpgAnos mais tarde, com João Miranda Khoisan e sua filha Ana Maria, em Suclabo Lodge propriedade duma madame de nome Suzi e, que mais tarde tomou o nome de Divava Okavango Lodge e Spa, cinco estrelas de “elegant style and luxury”, do outro lado do Okavango relembraríamos. Foi ali o  bivaque base Ómega aonde a UNITA, na pessoa de seu presidente Jonas Savimbi, entabularam negociações com os bóhers da África do Sul.

Sabendo de antemão que neste mundo só os anjos não têm costas, ouço de novo João Miranda: - Isto é mato, amigo!; assim falou estalando a língua assolapada ao seu céu bem ao jeito dos bosquímanos.  Continuando a descrição encetada no Cuelei, naquele então, fins do ano de 1976, decorridas largas horas, o coronel  Philip du Preez, regressando de seu périplo vistoria às suas tropas ao longo da fronteira, desceu de seu helicóptero, entrou na tenda com seus homens, e  todos eles comeram e beberam.

jamba11.jpg Comeram e beberam sem se cuidarem ou lembrarem sequer dos angolanos que os aguardavam lá fora, com uma fome negra. Assim é descrito no livro de “Vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” por Agualusa mas, quanto a mim, acho desmedida esta inventação de narrativa. Uma grande desfeita nada peculiar conhecendo-se a estatura e,  até diplomacia dos intervenientes.

A descrição do encontro surge assim com detalhes sórdidos e inusitados. Aliás, nem creio que aquele coronel bóher assim se tenha comportado por me parecer pouco natural, até bizarro. Ter este calibre de comportamento com esta gente guerrilheira, parece-me ser de um torpe e grosseiro descuido, por o serem já tão conceituados e, sobretudo tendo essa conhecida figura, como chefe da delegação - uma afirmada lenda de guerrilheiro africano chamada de Jonas Savimbi.

jamba12.jpgPois então, seus homens tiveram de esperar ainda algum tempo fora da grande tenda, antes de finalmente, conseguirem matar a fome. Aleluia! Por fim houve tempo para discutir ao que os levava ali às terras do Fim-do-Mundo. De forma brejeira é dito que o coronel du Preez, começou por sugerir que os guerrilheiros da UNITA se juntassem ao recém formado Batalhão 32; Sabimbi, indignado, recusou…

A UNITA era um Movimento de Libertação angolano. Não o seria, nunca, assim frisou indignado o Mwata guerrilheiro Jonas Savimbi, um simples instrumento de guerra nas mãos dos bóhers. Philip du Preez, duvidou da firmeza com tenacidade dos guerrilheiros angolanos: - Vocês estão mesmos dispostos a enfrentar sozinhos os cubanos? Têm coragem para isso? Sim, temos! Assegurou com firmeza Savimbi.

jamba10.jpg E continuou falando: - Necessitamos de vocês, nesta fase periclitante, para que nos forneçam material de guerra; é só o que queremos, reafirmou. E, vocês precisam de nós para conter o avanço do comunismo junto às vossas fronteiras. O Coronel Philip, prometeu nessa mesma noite falar com os seus superiores de Pretória, despedindo-se em seguida, subindo para o helicóptero bem à justa de forma a alcançar sua base ainda de dia…

Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Com encontros decisivos de nula ou muita importância, um simples dia de vida com rooibos tea and rusk bread, Windhoek lager, biltong bóher e bacorinho no espeto, assado pelo Thinus de Outjo, o mais genuíno carcamano bóher da família Miranda do Mukwé, a vida acontece…

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:38
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Quarta-feira, 10 de Abril de 2024
VIAGENS . 156

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3567 – 10.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI”No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

okavango08.jpeg Mais tarde e kota, andei pela picada de macadame encrespada de ondinhas já para lá do Divundo, dos vários cuca-shops e cola-colas dos chineses, passamos locais de kimbos dispersos e lodges junto ao rio como o Rainbow Lodge,  Nunda River,  Ngepi Camp ou Ndhovu Safari. Mas foi no Mahango Safari Lodge escondido no denso arvoredo verde e bem na margem do rio que subimos numa barcaça.

E, passeando ao longo do Kavango até quase o Botswana; visitámos depois os rápidos e remansos, já com as águas do Kuito, águas que inundam o Delta do Okavango a jusante; um mar muito antigo a dar vida aos muitos n´dovus ou jambas que conhecemos por elefantes, entre hipopótamos búfalos e outras muitos espécimes.

okavango09.jpeg Em idos tempos, disse João Miranda apontando a margem: Savimbi esteve por ali; um lugar que serviu de acampamento, lugar aonde bivacaram as forças que formaram o Batalhão Bufalo, lugar chamado de Omega. Naquela outra já distante noite na segunda metade do ano de 1976, e, nesse lugar de Mahango, Savimbi e seus oficiais mais próximos, dormiram ao relento em um céu aberto, estendidos na lama seca.

okavango001.jpeg Despertaram na manhã seguinte, com o ruido de outro helicóptero… O militar que saltou do aparelho, com um sorriso no rosto e braços abertos, era um já conhecido de todos: Philip du  Preez, coronel das Forças de Defesa Sul-Africana, SADF e, que nos últimos meses tinha servido de elo de ligação entre as forças da UNITA e da FNLA com o regime do apartheid.

O coronel  du Preez, depois de cumprimentar cada um dos dirigentes da UNITA, ordenou a seus subordinados que montassem ali uma enorme tenda. Dentro daquela enorme tenda foi disposta uma mesa larga e longa muito farta de géneros; pão com chouriço, queijo, cerveja e refrigerantes. Eduardo Agualusa em seu livro de “vidas e mortes de Abel Chivukuvuku” descreve o encontro.

kasane5.jpg Diz que  o coronel bóher Philip du Preez explicou a Savimbi que precisava visitar algumas bases militares situadas  ao longo da fronteira com Angola e que voltaria mais tarde. Esta inusitada falta de atendimento a quem estava sob tensão, deve ter sido usada sob pretexto de poder ter o tempo necessário para falar com seus superiores, talvez o primeiro-ministro Vorster.

O mais previsível neste proceder aparentemente torpe, justificar-se ia em obter as directivas acertadas para comunicar ao guerrilheiro Savimbi; comunicar na volta, a decisão optada, falando com maior certeza e serenidade; é este o meu entendimento. E, porque a fome daqueles guerrilheiros era mais que muita, na ânsia de comer, ouve.se: vamos comer! Savimbi gritou: -Não toquem na comida.

okavango002.jpeg Esses bóhers são racistas, todo o cuidado é pouco e, além do mais não nos disseram que comêssemos, então, não vamos comer! Será melhor esperarmos. Um suplicio para quem estava tão carecido de meter algo no bucho. E, assim esperaram ouvindo os rugidos dos estômagos carecidos – rugidos esfomeados depois de 1200 quilómetros caminhados entre secas espinheiras, secos capins. Esperaram…     

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:05
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Domingo, 7 de Abril de 2024
VIAGENS . 155

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3566 – 07.04.2024

 “A 2ª MARCHA – DO  CUELEI ATÉ KAPRIVI” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

herero4.jpg em Cuelei e, após o 28 de Agosto do ano de 1976, Jonas Savimbi compreendeu que a UNITA só se conseguiria reorganizar e fortalecer, a partir do apoio do governo sul-africano, o regime bóher  do  apartheid que governava a Namíbia, nesse então, um protectorado saído a partir da ausência dos alemães, por sua derrota na Segunda Guerra Mundial, o chamado Sudoeste Africano

Assim e depois de acalorados debates no bivaque provisório de Cuelei pelos dirigentes disponíveis, os mais destacados da UNITA, decidiu-se pedir apoio às autoridades sul-africanas. Numa primeira decisão, Samuel Chiwale, foi o escolhido a chefiar um pequeno grupo de guerrilheiros na missão de cruzar a fronteira da Ovoboland do  Sudoeste  Africano - Namíbia, na designada Faixa de Kaprivi a fim de conversar com os chefes militares bóhers.

herero5.jpg Este projecto, rápidamente foi suplantado por outro perante a evidência de que só o próprio Jonas Savimbi conseguiria convencer os sul-africanos. Os oficiais do Movimento queriam em realidade poupar seu Mwata em mais um novo esforço, uma nova marcha de 1200 quilómetros até aos limites do território angolano, fronteira nas terras do fim do mundo. Lugares distantes entre si, algures entre a cidade do Rundu  e o rio Cuando, bem no extremo Sul, o canto que liga Angola com a Zâmbia e a Faixa de Kaprivi, santuário de elefantes. Relembrar aqui a frase de “Andaram e andaram e andaram” proferida por Philip du Preez, o oficial superior sul-africano que estabeleceu o contacto com esta delegação da UNITA.

Posto isto, àquele pequeno grupo inicial de Samuel Chiwale, grupo defensor de flancos, juntava-se-lhes a Delegação constituída por Savimbi, N´zau Puna, Jaka Jamba e António Dembo. Haveria antes de demais diligências, enviar alguém com a missão de alertar a policia de fronteira da chegada desta delegação.

cuelei3.jpg Para o efeito foram enviados os ainda jovens guerrilheiros saídos da Missão do DondiEpalanga Chivukuvuku  e Vituse. Estes dois jovens, penosamente chegaram à região do Rundu através de anharas secas com milhares de espinheiras; lugares por onde a delegação de Savimbi e seus notáveis companheiros também tiveram de passar até  alcançar o lugar aprazado…

Ali pararam algures num vasto capinzal, numa anhara não distante de Andara do Divundu, lugar aonde o rio Cubango passa a ter o nome de Okavango. Lugar cercano, aonde o rio atravessa a Faixa de Kaprivi, que se espraia em lagoas repletas de cacussos e hipopótamos e, cujo curso viram rápidos antes de chegar ao Botswana.

miran09.jpg Ao entardecer surgiu um helicóptero que os acolheu no capinzal raso; meia hora depois seriam largados em um outro terreno deserto junto a uma daquelas lagoas, não muito distante daqueles rápidos do Okavango, um lugar conhecido por Mahango… Muito mais tarde, fins do século, andei por ali fardado de caçador de elefantes.  A vida faz pouco das previsões e coloca palavras no lugar de silêncios.

Naquele, Epopa Falls do Okavango, sem presunção, era um desses lugares quem que o vento frio surge sem ser convidado. Ali, bem perto, ficava o Omega 3 - um antigo bivaque da UNITA. Enquanto observava os hipopótamos, pescando peixe tigre, pude ainda ver os telhados de capim preto por entre amarulas e embondeiros majestosos; lembro-me de sonhar - da muita saca-saca e mopane com pirão e jindungo, que por ali, não comi.

miran01.jpeg Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e do livro de Abel Chivukuvuku de José Agualusa…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:27
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Sexta-feira, 5 de Abril de 2024
VIAGENS . 154

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3565 – 05.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ”No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

guerri4.jpg A UNITA, que no seu auge (ao final dos anos 1980) apresentou uma estrutura militar  composta de 65.000 soldados, incluindo 28.000 soldados regulares, foi um dos maiores movimentos políticos do continente africano… No primeiro trimestre de 1976, a UNITA foi obrigada a se retirar para zonas mais seguras, bivacando-se em Cuelei a 28 de Agosto desse mesmo ano - 1976.

Cuelei, nome que ficou na história de Angola, situa-se na província de Kuando-Kubango, lugar inóspito até aí e, aonde, com o apoio da África do Sul, a UNITA, iniciou sua reorganização. Em 1979, o movimento já se consolidara outra vez, estabelecendo uma sede permanente na região, a chamada República da Jamba –Terras Livres de Angola.

jamba10.jpg A UNITA, até aos anos 1980, expandiu seu controle territorial estabelecendo uma estrutura organizacional muito semelhante a de um Estado, dispondo de uma burocracia, exército convencional, e governo. Sua estrutura de liderança assemelhava-se à do próprio MPLA, consistindo de um Bureau Político e um Comité Central.

No fim dos anos de 1980, a população da Jamba era estimada entre 8.000 e 10.000 pessoas, e 80.000 a 100.000  pessoas no sistema de aldeias vinculadas ao movimento. Chegados aqui e, antes de seguir o rasto da UNITA depois da “Grande Marcha” até Cuelei, teremos de recordar aqui, que em 14 de Outubro de 1975 (um ano antes), os Sul-africanos iniciaram oficialmente a Operação Savana embora já estivessem ocupando esta região sul de Angola desde Agosto desse ano.

jamba01.jpg Um ex-agente da CIA posteriormente afirmaria: "houve uma estreita ligação entre a CIA e os sul-africanos"… Era forçoso não deixar avançar os comunistas em território angolano - África. Isto levou a África do Sul do apartheid que apoiava a UNITA, a  invadir Angola a 9 de Agosto de 1975.

Os cubanos, a pedido de Otelo Saraiva de Carvalho com anuência do Presidente Costa Gomes do M´Puto (que disse sempre, não reconhecer…) Também com a anuência revolucionária de toda a nomenclatura do C.R. (Concelho da Revolução) que formatava o M.F.A. (Movimento das Forças Armadas), os cubanos não tardaram em desembarcar em Angola, o que aconteceu a 5 de Outubro de 1975.

kariba7.jpg Aquela Força Operacional Zulu da África do Sul, cruzou da Namíbia para o Kuando-Kubango na fronteira da Faixa de Kaprivi na conhecida Ovoboland  afecta ao grupo de guerrilheiro SWAPO sob o comando de Sam Nujoma. Esta operação previa a eliminação do MPLA da zona da fronteira sul angolana, depois o sudoeste, a região central e finalmente a captura de Luanda, o que não veio a acontecer…

Otelo Saraiva de Carvalho, o estratego do 25 de Abril, agora (2024), com cinquenta anos de estória, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se a fundo na entrega de Angola ao MPLA, conseguindo-o em absoluto! Assim, falando do tempo conturbado de reestruturação da UNITA após Cuelei, se irá recordar a participação dos jovens saídos da Missão do Dondi no comando do capitão Vinama Chendovava com a designação de “jovens intelectuais”, fazendo renascer a UNITA das cinzas, com destaque para Abel Chivukuvuku, nesse então com 19 anos e, dando novas perspectivas ao  Galo Negro… 

Nota: Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange com consulta a publicações de Jéssica da Silva Höring e José Agualusa

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:58
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Quarta-feira, 3 de Abril de 2024
VIAGENS . 153

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3564 – 03.04.2024

 “APÓS A LONGA MARCHA ” No Cuelei, com Savimbi…

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

cuelei6.jpg O tenente general Philip du Preez, oficial sul-africano, representando seus militares, relembra anos mais tarde que, em Agosto de 1976 e, após a “Grande marcha”, estavam no Moxico, começando nesse então a cooperar com a UNITA. Era um pequeno número de pessoas e com poucas munições, mas tomando conta do grupo líder que até então estava sob o comando do major Katali. Acomodámo-los e treinámo-los", salientou o oficial sul-africano na reserva.

O tenente general Philip du Preez indicou ter estado na origem da formação de comandos africanos angolanos em Angola para combater as forças governamentais e, que começaram então a ser apoiados pelos soviéticos e cubanos, numa guerra civil que só terminaria em 2002. O mesmo oficial afirmou: Que em Angola e, "Após o final da grande guerra de  TUNDAMUNJILA 1975, que se estendeu até Fevereiro de 1976, quando parou.

cuelei5.jpg Os militares sul-africanos aconselharam Savimbi a não tentar avançar no terreno sem mais nem menos (para combater as forças governamentais), mas entrar sim num esquema de guerrilha. Savimbi preferiu flectir para o leste, para a província do Moxico, para descansar e preparar as suas tropas", sublinhou…  E, o tenente general Philip du Preez continua: "Depois enviámos uma mensagem a Savimbi a perguntar se queria a nossa ajuda, que nós enviaríamos pessoal para o Moxico.

Parece não ter sido bem nestes moldes mas, nas descrições que se seguirão serão percebidas as narrativas; veremos isso, quando se descrever o encontro na Faixa de Kaprivi no estão Sudoeste Africano - Namíbia. Disse que sim e enviámos cerca de 100 pessoas. Consegue imaginar o mapa da Angola de então?

cuelei4.jpg Do Moxico (Luena, base principal) para Catuiti (província do Cuando Cubango, próximo da Faixa de Kaprivi, na Namíbia) são cerca de cerca de 1.200 quilómetros. Andaram e andaram e andaram. Foi a verdadeira expressão … O oficial sul-africano lembrou que já não estava presente na criação do Batalhão 32 (ou Batalhão Búfalo), pois entregara a operação a um "jovem militar, muito bom", o então coronel Jay Breytenbach, militar de infantaria do exército sul-africano.

E, Continua: -"Pegou nesse grupo e foi para a guerra, não como Batalhão 32, mas como o “Grupo Bravo”, a que se juntariam, em fins de Agosto de 1976, vários outros elementos, maioritariamente da UNITA, que criaram o muito eficiente Batalhão Búfalo", explicou.

cuelei3.jpg Questionado pela  agência  Lusa sobre as razões de o exército sul-africano ter decidido envolver-se na guerra civil em Angola, lembrou que, na altura a palavra "comunista" era "muito, muito mal vista" na África do Sul e que a presença de militares soviéticos e cubanos nas proximidades do então Sudoeste Africano não agradava a ninguém do mundo ocidental.

Philip du Preez  em síntese disse: -"Trabalhámos muito com Savimbi, de 1975 até 1976 e, depois, até 1990", lembrou o oficial sul-africano, que considera o líder histórico da UNITA como um homem "muito carismático, um grande líder e adaptável". "Estive presente quando falava com os reis tradicionais locais, com os seus súbditos. Não se pode imaginar a impressão que causava. Falava sempre com uma linguagem popular e não havia nenhum chefe tradicional que se lhe opusesse. Nós, sul-africanos, gostávamos muito de Savimbi", realçou…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:55
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Sábado, 30 de Março de 2024
VIAGENS . 152

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3563 – 28.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba1.jpg Hodiernamente, não sei se voltarei a passar nas ruas da Luua que me viram crescer numa mulola chamada de Rio Seco da Maianga porque, também minha passada irá entristecer-se na recordação, do que foi e, já o não é. A sombra que preside aos tempos de agora (2024) e, que por dá cá aquela palha, se ateia a mente, queimando os fusíveis dos coiros, sempre lembrará o tempo em que o fui, feliz, na compreensão muda e queda, das muitas e, alheias infelicidades circunscritas.

Em 1975, embarquei para o M´Puto sem o querer, pela inquieta, medonha ou desolada guerra do tundamunjila. A terra do futuro ficou tardia, sarando-me das pústulas feitas vulcões  na diáspora, comendo sandes na “Tendinha” de Lisboa do Rossio do M´puto, um panado ou posta de bacalhau regada com um penalti. Mais tarde comendo arepas com carne mechada na Venezuela, biltong na África do Sul e coxinhas de galinha no Brasil.  Agora, recordo a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, como uma prometida vontade a mim mesmo: sentir com a UNITA, essa nova era da mudança para Angola.

vermelho 04.jpg Algures na mata. «Estávamos preocupados com medo de que algum helicóptero pudesse sobrevoar-nos», disse Savimbi. «Disse-lhes que esta não era a maneira de conduzir uma guerra de guerrilha; não queremos riscos. O povo, porém, disse que não nos preocupássemos, que não fora ainda molestado naquele lugar. Numa aldeia, apenas a dois dias de caminho da base, estavam milhares de pessoas a dançar e a cantar. Disseram que nos acompanhariam até à base.

Respondi ao soba que isto  não seria bom, que se a população se portasse assim, não teríamos segurança. Um dia eles seriam descobertos e atacados pelo MPLA e pelos cubanos. Afirmei ao soba que não queria o povo atrás de mim. Chamá-los-ia dentro de uma semana, para um grande comício, já na base. Falhei porém, seguiram-nos sempre, a cantar durante todo o caminho.

jamba2.jpg Desisti e afirmei, vamos correr o risco. Por isso, eles vieram connosco até o Cuelei e foi  este o fim da longa marcha. A  base do Cuelei ficava a cerca de 150 quilómetros para sudeste do Huambo. Estava sob o comando do major Katali, que reunira nesse acampamento cerca de oitocentos guerrilheiros e, duzentas mulheres com crianças.

A “Longa Marcha” terminou com a entrada de Savimbi no Cuelei a  vinte e oito de Agosto de 1976, cerca de sete meses, com três mil quilómetros percorridos após a sua fuga do Luso, seguido por dois mil adeptos. Destes, apenas setenta e nove, incluindo 9 mulheres, estavam com ele, tendo os demais morrido, sido separados para outros locais ou, simplesmente, ficando para trás.

arau1.jpg Foram alguns meses trágicos; porém contra todas as probabilidades e contra todas as espectativas dos estranhos, Jonas Malheiro Savimbi, sobrevivera. A guerra que muitos comentadores anunciaram ter terminado com a victória cubana, em Fevereiro de 1976, iria continuar. Seguem-se agora entre estórias recolhida do baú de lata cravadas com ripas de pau kibaba, o desenrolar da odisseia de sobrevivência de um punhado de gente resiliente  com o espirito sempre presente da UNITA…

E, porque já em tempos disse de quem pensa que sabe tudo, um dia vem a saber mais um pouco, de novo o digo. E, para não ficar só no espírito,  volto à carga com a estória que me liga a uma felicidade estrangulada. Foi assim que arrumando meus cacifos de memória, achei ser justo neste espírito de letras e valores, passado que é meio século após o ano de setentaecinco,  retroceder aos itens de dignidade que persistem passeando um galo de cerâmica na lapela do terno diplomático…

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:00
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Quarta-feira, 27 de Março de 2024
VIAGENS . 151

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3562 – 27.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

ama3.jpg Pude ler recentemente - ano de 2024, que já estamos a viver no FUTURO. Que este VÍRUS MUTANTE, pode ser ALIANIGENA, um mecanismo preliminar de nosso salto genético espacial. Partir a gente feitos pedras parideiras  algoritmos, que exige especial atenção para descortinar os pensamentos de querer fazer rebelião como algo inerente às "torpes" eficácias cientificas e também duma covarde gravidade vinda de GOVERNOS formatados por gente igual a nós. Não podemos condescender com aqueles que bestializam um passado que já o foi PRESENTE…

Li também que, somos um projecto de bioengenharia e, que tudo começou algures há 75 mil anos atrás, muito antes de Cristo surgir e, muito antes de quando saímos das algas como micróbios alienígenas. A cultura e o conhecimento, elevando-a de parvidades nem consentir com tolices ou pecados, por assim andarmos cativados numa burlesca depravação e, também enfrascados numas quantas hipóteses de vontade libertadora...

jamba6.jpg Posto isto, relembro o passado, continuando a descrição da saga do  Mwata  chamado de Jonas“A grande Marcha de Savimbi”… Naquele dia, já em finais de Agosto de 1976, Savimbi queria dissipar qualquer ideia de que viria a ter ajuda do exterior, antes de o povo se ajudar a si próprio. Afirmou: «Teremos de lutar primeiro e, só depois, vocês verão que as pessoas do exterior quererão entrar de novo em contacto connosco».

O Presidente também afirmou que os cubanos detinham uma vantagem evidente, em termos de qualidade das suas armas e, da crueldade com que estavam habituados a actuar. E, acrescentou «Porém, estavam em total desvantagem em termos de conhecimento do território, da população e da língua».

jamba5.jpg Savimbi despediu-se do soba  e dos mais-velhos duas horas antes do romper do dia vinte e quatro de Agosto. Durante algum tempo, ainda, a coluna caminhou em direcção ao Norte, através da mata que ficava paralela e à vista da estrada. Às nove horas da manhã um comboio de blindados e camiões, transportando tropas cubanas e do MPLA, começou a passar rumo ao Sul.

Ao longo da estrada e à vista dos homens de Savimbi, era perceptível ouvirem o inimigo a cantar de forma descontraída. Os guias da aldeia  disseram à coluna que continuasse a avançar, assegurando a Savimbi que os seus homens não podiam ser vistos da estrada. Savimbi tencionava progredir  rápidamente em direcção à zona da nova base. Ele sabia que avançava por entre uma cadeia de camponeses pró UNITA.

jamba4.jpg Savimbi afirmou-se, nessa aldeia, com um  perfil  bastante mais elevado do que pensava. As patrulhas de guerrilheiros oriundos da área para onde se dirigia, a cerca de 120 quilómetros para oeste da estrada principal, vinham estabelecendo contactos com a coluna e espalhando a notícia, à medida que  avançavam, da sua chegada iminente. As pessoas vinham ao seu encontro, em plena luz do dia, com bandeiras, cantando e dançando.

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:04
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Sábado, 23 de Março de 2024
VIAGENS . 150

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3561 – 21.03.2024

 “A LONGA MARCHA  DE SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto

jamba01.jpg (…) Cada um de nós tem uma lenda! A minha foi preterida por ser o que ainda estava para ser, uma inventação lançada para fugir às realidades da Luua. Para encobrir eventos desonrosos, coisas sem heroicidade, um quarto de hora antes da meia-noite do dia 11 de Novembro de 1975, minha “nação”, meu barco, levantou âncoras ao largo da Luua – Niassa...

A bandeira do M´Puto era embrulhada num baú dum velho carcamano de colono aonde tiveram de caber todas as ilusões. Foi assim que me tornei Niassalês. A bandeira verde-vermelha, tornada num trapo vulgar, estava condenada a criar bolor. Minha nação Niassa fez-se ao alto mar vendo-se de longe os festejos celebrando de forma dantesca o nascimento dum país. Eram tiros e rajadas a fingir de fogo-de-artifício.

jamba1.jpg Agora que passam já 48 anos desse tempo, relembro a odisseia da “Grande Marcha de Savimbi”, um ano depois de eu já  ter saído de Angola, a terra que me viu crescer - A terra que nunca saiu de mim.  Estávamos a 23 de Agosto de 1976… O caminho a partir da mata, levou a coluna da UNITA através da estrada do aglomerado central de cubatas e, das demais espalhadas ao longo da estrada, para Norte.

Se tivessem atravessado mais para o extremo Norte, para além dos limites  do aglomerado de cubatas, teriam feito com que os cães uivassem e, isso teria atraído a atenção dos cubanos; qualquer movimento na aldeia, por parte dos homens da milícia local, armados apenas com arcos e flechas, não provocaria nos cães qualquer reacção invulgar.

jamba2.jpg Uma vez do outro lado da estrada, no sentido oeste, os grupos de homens da UNITA caminharam entre o aglomerado principal do kimbo e as trincheiras vazias para um ponto de encontro na mata, a cerca de um quilómetro para sudeste dos limites da aldeia. Completada a travessia, um grupo de vinte aldeões, o soba, os mais-velhos e suas mulheres, reúnem-se a Savimbi na mata.

A coluna e os aldeões caminharam durante  mais dois ou três quilómetros para o interior, de maneira a que Savimbi pudesse discutir com os sobas  e os mais-velhos, explicando-lhes os seus planos para o futuro e, de que forma os aldeões podiam ajudá-lo. «O presidente argumentou que a UNITA não teria quaisquer probabilidades de sucesso a não ser que o povo estivesse do lado do Movimento».

jamba3.jpg Fizeram perguntas embaraçosas e, não haveria maneira de essas perguntas poderem ser evitadas. Perguntavam por exemplo se a guerra acabaria em breve ou se seria longa. Era evidente que nenhuma vitória seria rápida; a situação era por demais incerta e periclitante e, só a destreza, a astúcia e a sorte, poderia mudar os acontecimentos. Savimbi, afirmou ao soba que um dia, o inimigo iria descobrir que esta aldeia estava a ajuda a UNITA e, consequentemente, ela seria atacada.

«Aquele povo, deveria sem demora, iniciar a armazenar alimentos na mata, para quando chegasse o dia em que tivessem de fugir», frisou Savimbi. Disse que não podia esconder que todos os amigos da UNITA pensassem que nós não eramos capazes de resistir, que estávamos liquidados. O Presidente disse que a UNITA  já não tinha quaisquer aliados efectivos. Teríamos de confiar nos nossos próprios esforços, no apoio da população, nas armas que estavam escondidas e, nas que viessem a ser capturadas… 

tonito19.jpg Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:43
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Sexta-feira, 22 de Março de 2024
VIAGENS . 149

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3560 – 17.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

acácia rubra3.jpeg Algum tempo atrás, desconhecia que podíamos fechar o tempo dentro de casa e, atazanado, comecei a beber dez gotas de cannabis para truncar as vicissitudes, misturando o gosto estranho com kefir, um pouco de café pilão e um pouco de mel com um ou dois croissants para entulhar a malga. E assim, lá pela tarde, na kúkia do sol, meto também num pão tipo da avô os trocadilhos com chouriço e, por vezes pão rust do Calahári…

Intercalando este intróito antes da continuação na descrição da “Grande Marcha  de Savimbi com seu povo” e, porque o tempo esvoaçou desperdiçado, a fim de sentir algum prazer de viver matabichando resiliências e, outros desmandos de tantas maleitas sociais, descrevo isto olhando para as roupas manchadas do tempo a abanar no quintal com os pássaros chamados de  charnecos e melros a alegrar-me com seus voos e seus cantares.

flor de maracuja3.jpg Continuando a epopeia da UNITA, um dia depois, Savimbi ordenou a cerca de vinte soldados, que tinham rápidamente perdido as forças, que voltassem para trás e se juntassem ao povo, que se ia dispersando  da coluna, até convalescerem. Ao fim de mais de um dia, avistaram uma aldeia amiga, na estrada principal. Durante a noite, o soba e os mais-velhos trouxeram comida, reunindo-se a Savimbi na mata.

O soba disse-lhe para descansar ali durante o dia e mudar-se depois, para a aldeia, quando as condições lhe fossem mais favoráveis. Ali ficaram durante dois dias, sendo informados acerca de potenciais pontos e passagem ao longo da estrada fortemente patrulhada. A travessia teria de ser feita aonde os cubanos menos esperassem e, aonde fosse menos provável estarem os seus pisteiros e batedores em acção,

CABINDA3.jpg Tomou-se a decisão de atravessar directamente através da berma da estrada da aldeia com cerca de quinhentos habitantes, protegida por uma paliçada e um posto defendido por dez cubanos e, com alguns soldados do MPLA, colocados nas imediações. «conseguimos ver os cubanos e os soldados do MPLA a movimentarem-se à volta da paliçada, empunhando suas armas», disse Savimbi.

«O soba, porém, disse que eles eram tolos. Nunca se dirigiam à mata a pé e, não supeditariam de nada, desde que não fizéssemos barulho. Confiamos nele porque era um antigo membro do nosso partido». Cerca de uma hora antes do anoitecer, no dia da travessia, dia 22 de Agosto, o soba regressou e disse ter organizado um espectáculo na aldeia nessa mesma noite, para os cubanos da guarnição e, também para o professor da escola, um activista do MPLA  que fora nomeado pelo governo.

ara3.jpg Oito deles, estariam a beber nas cubatas para leste da estrada e, os outros três nas cubatas situadas a oeste. Os homens de Savimbi deveriam atravessar em grupos de quatro ou cinco, guiados por homens das Milicias da aldeia, cujos piquetes dariam o alarme se os cubanos alterassem suas posições. O soba, embora os cubanos não o soubessem, era presidente do Comité civil da UNITA.na aldeia.

A partir do centro da aldeia, as cubatas estavam dispersas e isoladas, numa área de cerca de dois quilómetros ao longo da estrada principal. A vinte e dois de Agosto, á coluna de Savimbi foi reunir-se um grupo de cinquenta soldados, comandados pelo major Bandeira, que fugira do Lobito em Fevereiro e, tomara o rumo do Vale Lungué-Bungo.   Com Bandeira, estava Jorge Valentim, um notável da UNITA.

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:41
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Quinta-feira, 21 de Março de 2024
VIAGENS . 148

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3559 – 15.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

angola5.jpg Como parte de um rosário feito de búzios e ao jeito de missangas, continuo a descrever realidades passadas quase-quase como se o fossem de um  imaginário tempo, dias de graça com desgraça do já distante ano de 1976, com a “Grande Marcha de Savimbi”. Fazendo fintas ao instinto, driblando premonições entremeadas de medo na busca sobrevivente, olhando o céu  para além das copas a conferir os aviões migues feitos urubus pretos.

E, ouvidos à escuta dos abutres camuflados com  rotativas e tubos de estrias de fazer tiro tenso procurando dar fim a gente; fugir das abertas clareiras é a condição de sobrevivência. Em sua reactividade humana, a esta estória recordo a  frase do espírita pensador Chico Xavier: -Você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas você pode começar agora e fazer um novo fim! Desconseguiu-se levar adiante este conselho…

guerra20.jpg Aquela aldeia estava bastante isolada. Nenhuma patrulha cubana ou do MPLA tinha lá chegado, ainda, mas, ao fim de cinco dias, quando a maioria das pessoas já se alimentava com comida sólida, um helicóptero cubano sobrevoou a zona. «Foi apenas pouca sorte», recorda Savimbi. «Embora os cubanos não pudessem saber que lá estávamos, decerto, assinalaram a aldeia em seu mapas e, eventualmente, regressariam.

Em face disto, ordenei aos camponeses que se dispersassem e, encontrassem um novo local para se instalarem». A sua intuição dizia-lhe que os cubanos e o MPLA tentariam cobrir tantas aldeias quanto lhes fosse possível, para o forçar a confinar-se inteiramente às matas. Mais de metade do grupo de Savimbi ainda sofria muito pela exaustão, envenenamento pelos cogumelos e generalizada fraqueza.

ÁFRICA1.jpg Os mais frágeis, teriam assim de permanecer com os camponeses. Quanto aos restantes, Savimbi ordenou uma marcha rápida em direcção à estrada do Bié, que serve Serpa Pinto e, em seguida, prosseguir paralelo a ela, para a área aonde planeara instalar o acampamento de carácter mais definitivo.  Os aldeões cederam dois guias a Savimbi para os conduzirem a um acampamento de guerrilheiros da UNITA, a cerca de trinta e seis horas de marcha.

Uma marcha  pedestre pode ir de quatro a sete horas;  a lenta  pode considerar-se em quatro quilómetros, a rápida com seis e, a  muito rápida com sete quilómetros. Isto dará uma ideia das distâncias, pelo que, 36 horas em terreno limpo significa um dia de marcha rápida. Esta marcha seria feita ao longo de um afluente do rio Cuanza.  Pela logica seguir para montante era caminhar para sul e, o inverso, seria caminhar para norte, no sentido em que as águas correm.

selos8.jpg É muito importante a um guerrilheiro ser conhecedor da topografia da região, saber dos ventos dominantes vendo a inclinação de árvores ou arbustos, o musgo que se acumula nos troncos das mesmas e a ideia correcta de onde  nasce e se põe o sol. Neste caso, se o Cuanza corre para norte, em direcção a Luanda, o caminho do afluente seria nessa mesma direcção pelo que neste caso, seguiriam o sentido sul, contrário da  correnteza,  o rumo à fuga.

O objectivo, era recrutar no acampamento, guias que ainda não estivessem cansados para efectuarem a passagem da estrada. A cerca de trinta minutos de marcha do acampamento, viram dois helicópteros cubanos a metralhar o local e a desembarcar tropas. Savimbi, mudou imediatamente de direcção, cortando a direito para a estrada: mais tarde chegaram até ele notícias, de que mais de trinta pessoas, principalmente mulheres, tinham sido mortas durante aquele ataque.

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:45
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Sexta-feira, 8 de Março de 2024
VIAGENS . 146

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3557 – 08.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita04.jpg Na percepção parcial das vitais contingências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo ou distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado, nem por onde fazer o rego que influiu na  mudança de nossas vidas. E, lembrando esse passado difícil de Jonas Savimbi e seu povo, algures nas matas do Moxico, relembra-se:

Nas margens do rio Cuíto, Savimbi enviou uma patrulha de batedores constituída por três homens, através da escuridão, para o local da travessia da noite anterior. Nenhuma das três emboscadas armadas pelo inimigo se situava ali, mas, apesar disso, Savimbi estava preocupado com o facto de  o resto da coluna poder cumprir estritamente as ordens dadas na noite anterior, de começarem a atravessar o rio, e de que fossem descobertos .

unita003.jpg Uma patrulha de dois homens vindos do outro lado, tinha atravessado o rio e estavam à espera um pouco mais a norte do local da travessia. A estes, foram-lhes transmitidas novas ordens no sentido de ser abandonada a ideia de atravessarem em massa: a coluna oriental deveria, em vez disso, tomar o rumo do norte, ao longo do rio Cuíto, em direcção à região do Bié e, reunir-se a quaisquer guerrilheiros da UNITA.

Que espalhassem a notícia entre a população de que Savimbi estava vivo e, organizassem a resistência. Todavia, se Mulato fosse encontrado, ele deveria tentar atravessar juntamente com mais vinte homens reunindo-se a Savimbi. Mulato acabou por ser encontrado por um grupo de buscas. Perdera-se ao seguir o rasto de antílopes que ele pensava serem os do grupo  de Vanguarda.

luua24.jpg Mulato, atravessou o rio e conseguiu juntar-se a Savimbi 24 horas depois. «Quando Mulato se reuniu a nós, elevou-se a moral dos homens», disse Savimbi. «Ele era o nosso companheiro de armas e, gostávamos muito dele. O facto de ele estar a salvo, permitia mantermos  os nossos planos inalterados». O grupo era agora formado por 250 homens.

Eram em sua maioria soldados, mas também havia quinze mulheres e dez homens civis, em grande parte, administradores experimentados. O tamanho reduzido da coluna do próprio Savimbi proporcionava certas vantagens. O grupo poderia assim, ser mais facilmente controlado, deixando rastos menos pronunciados e poderia movimentar-se mais habilmente para longe das zonas de maior perigo.

besanga2.jpg A carne proporcionada pelo gado abatido depressa acabou e, a velocidade da marcha abrandou transformando-se numa caminhada muito lenta. Ao fim de uma semana estavam todos tão fracos que Savimbi foi obrigado a fazer uma paragem. Em defesa da moral dos guerrilheiros, o contacto com os camponeses teria de ser restabelecido para se conseguir comida: o contacto era também necessário por razões politicas.

Foram por isso, enviadas patrulhas desde o local em que descansavam, bivacados  na mata, para tentar estabelecer os contactos com as aldeias. Todavia, esta área era esparsamente povoada e, porque os homens estavam muito debilitados, não o podiam por isso, patrulhar a zona a fundo e, não conseguindo encontrar povoados tão rápido como o seria desejável.

ÁFRICA10.jpg Havia pouca caça acessível mas, os guerrilheiros Tchokwes, que eram exímios caçadores há gerações, conseguiram matar um javali. A coluna, esfomeada, comeram não só a carne mas, também os ossos; estes foram fervidos proporcionando uma sopa rala com folhas comestíveis. Sopa de ossos que depois  de amolecidos e esmagados o fora bebida, com sofreguidão. A outra fonte de sustento eram bagas silvestres de cor vermelha  que após o serem apanhadas, eram cozidas, tirando-se-lhe a pele e seu interior que ere venenoso.  

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:42
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Sexta-feira, 1 de Março de 2024
VIAGENS . 144

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita01.jpg Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me  a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta,  já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo!  E, foi!

Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…

guerri3.jpg Mas lá,  às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas.  Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.

Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.

unita04.jpeg Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a  frente e  a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.

Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.

piram3.jpg Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…

Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas  descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma  enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros.  Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário… 

Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:52
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Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 143

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3554 – 27.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mucuisse.jpg Da singeleza de tudo, descrevendo o medo com vontade de viver, risco o  anseio feito odisseia nas desventuras medonhas de um povo seguindo seu líder. É Savimbi que traça suas argutas, astutas de ladinas, premonições para alcançar a liberdade através da “Longa Marcha”. Atravessando rios, charcos e pântanos com sanguessugas e muitas bichezas rastejantes, risco também e, deste modo, o chão das savanas pisadas pela fuga.

Ungindo sem regras no linguajar, revolucionárias só no pensar, despromovo-me num sonho que ainda sobrevive. Nesta vanguarda estética em que as futilidades suplantam o óbvio, passados quase 48 anos, dizer que desgostei ou o inverso disto, não faz parte do meu adeus à estória que inexoravelmente continua… «Podia ter ordenado a todos que continuassem; porém, queria verificar se o piloto tinha conseguido enviar qualquer mensagem pela rádio», recorda ele – Savimbi.

maun08.jpg «Se os cubanos não viessem, era certo que eles não sabiam onde tinha caído o helicóptero; neste caso, estávamos a salvo. Se eles viessem dentro de um curto espaço de tempo, então, é porque sabiam onde fora abatido o helicóptero e, nós saberíamos que eles estavam no nosso encalço com todos os meios de que dispunham, já amanhã». Ao fim de meia hora, os helicópteros chegaram e descobriram imediatamente, o local do desastre.

Sabendo que os helicópteros regressariam às primeiras luzes do dia a seguir, Savimbi ordenou uma rápida marcha nocturna em direcção a oeste. A densidade das matas dessa área dava vantagem aos guerrilheiros, mas estava demasiado escuro porque não havia luar. Por isso, Savimbi teve de ordenar uma paragem. Deu ordens a Ernesto Mulato que fosse à frente e dissesse à vanguarda das tropas para parar também e, assumir posições defensivas para a eventualidade de emboscadas.

ÁFRICA11.jpgA manada, cujo numero baixara para 12 cabeças, de um total inicial de sessenta, não avançou com os guerrilheiros para não se deixar um grande rasto. O boiadeiro, recebeu instruções para espalhar o gado numa frente ampla e, reunir-se mais tarde ao grupo de Savimbi. Após o descanso, Savimbi avançou com o grosso da coluna para se juntar à vanguarda. Mulato não estava lá e ninguém pareceu tê-lo visto. Savimbi ficou seriamente preocupado. Os cubanos poderiam chegar a qualquer momento e Mulato ficaria em perigo de ser capturado.

Isso era particularmente perigoso porque Savimbi tinha tomado a decisão apenas partilhada com N´Zau Puna, Chiwale  e Mulato, de abandonar a ideia de adoptar o Muyé como zona ideal para um futuro acampamento-base , em vez disso, estabelecê-la na área do Cuelei, a oeste de Serpa Pinto. Se Mulato fosse capturado seria logico pensar que seria torturado e, pressupunha-se que, eventualmente revelaria o segredo.

cubango4.jpg Savimbi decidiu avançar mais par oeste: não haveria alteração dos planos durante quatro dias, altura em que se saberia, ao certo, se Mulato se perdera ou não. Os batedores informariam se estavam a ser largados cubanos na retaguarda. Se assim fosse, então Savimbi, teria de concluir que Mulato fora capturado, precisando de traçar planos inteiramente novos. Mais um dia de marcha trouxe a coluna principal para a mata, podendo dali avistar a anhara, bordejando as margens  do Cuito.

Savimbi enviara um grupo avançado de três homens, em marcha muito rápida, para tentarem encontrar uma canoa que servisse para se fazer a travessia do rio com 400 metros de largura.  Existiam problemas, informaram eles. Apenas tinham encontrado uma canoa que poderia levar três pessoas; isto significava na prática que apenas duas pessoas poderiam ser transportadas de cada vez.

papalagui5.jpg Nas proximidades, a leste da margem do rio, existia uma área pantanosa profunda, com Ceca de 300 metros de extinção. Significaria também que o gado não poderia atravessar o rio… Savimbi ordenou que as doze cabeças fossem abatidas e cortadas em pedaços, de modo a que poessem ser transportadas. Estava-se no início de Agosto e, o gado fora a única fonte de alimento durante o último mês de Julho. As pessoas foram transportadas para a outra margem do rio Cuito durante toda a noite. Sucede que quando Savimbi ordenou uma paragem cerca das quatro horas da madrugada, muita gente do grupo estava ainda na margem leste. 

Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:09
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Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 142

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3553 – 23.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

lua54.jpg Lá nas matas do Moxico  a “Longa Marcha com Savimbi”, prosseguia rumo a um futuro incerto, permanentemente atentos aos ruídos de helicópteros, escolhendo os melhores rumos de fuga. Quando a coluna se aproxima das margens do rio Gunde, um afluente do grande rio Cuito, todos se sentiram mais aliviados: o MPLA e os cubanos pareciam ter-lhes perdido o rasto e, não tinham avistado aviões desde o dia de partida.

Às margens do rio Gunde, tal como a maioria das margens dos rios angolanos, eram ladeados por anharas com capim de quatro metros de altura e, nalguns locais com 500 metros de extensão. Savimbi mandou parar a coluna na mata e enviou dez guerrilheiros através das faixas da anhara e, através do rio para se assegurar, que a margem ocidental era segura.

moxico2.jpg N´Zau Puna levou também consigo cinco homens através da anhara para a margem oriental a fim de encontrar qual o melhor ponto de passagem para a coluna. Foi quando se ouviu um helicóptero que se aproximava, vindo do sul. Savimbi ordenou de imediato a todos da coluna principal, para que se espalhassem sob as árvores. O grupo de N´Zau Puna começou a recuar da margem do rio para um pequeno grupo de árvores formando como que uma pequena ilha na anhara circundante e, a cerca de duzentos metros do Gunde.

Puna e dois dos seus homens conseguiram chegar às árvores antes do helicóptero pairar por cima de suas cabeças mas, os outros três estavam ainda em campo aberto. Foram localizados e, o helicóptero começou a metralhar a baixa altitude. Os três responderam com armas de fogo ligeiras, tiro tenso e, o helicóptero rodou descontrolado, caiu e explodiu  a cerca de três quilómetros mais adiante.

moxico4.jpg Da sua posição na mata, Savimbi observou o percurso da queda do aparelho. Voou para além dos três guerrilheiros que estavam parados, parecendo dali mergulhar em direcção ao solo, ergueu-se de novo para, em seguida precipitar-se em terra. Savimbi calculou que o piloto teria mantido controlo do helicóptero  até aos últimos instantes: por consequência; decerto teve o tempo suficiente para transmitir para a base, seu SOS.

Teria via rádio, dado a sua posição com outros breves detalhes sobre o que tinha acontecido. Dentro de pouco tempo outros helicópteros estariam no local. «Todos estavam confusos», recordou Savimbi  anos mais tarde. «cada qual davam ordens separadas». “voltem para trás”, dizia Chiwale. “Ide para norte, ao longo da margem do rio”, dizia N´Zau Puna. Eu disse que devíamos seguir em frente, nunca recuar, e ordenei a imediata travessia do rio.

mucuisse.jpg Tinhamos esperado encontrar uma pequena ponte de madeira para pedestres, tipo daquelas que são construídas pelos caçadores locais. Agora não havia tempo a perder. Disse às pessoas que atravessassem em qualquer lugar. «Mergulharam nas águas até o pescoço e, minha mulher, perdeu os sapatos no rio». Tendo atravessado o Gunde, a coluna de Savimbi agora com 350 pessoas, atingiu a mata mais densa a quilómetro e meio para além da anhara. Ordenou a todos que parassem um pouco, dentro dos limites da mata.

Todos nós vivemos em um país, é um facto! É a partir da singularidade legal de uma nação, suas características peculiares e sua identidade conforme a lei que surge o conceito de soberania. Os componentes desta grande marcha buscavam isso! Sua singularidade. Ter uma nação com símbolos próprios com os órgãos instituídos que representassem a sua Nação; com dificuldade, posso imaginar um tal acto de resiliência a pensar numa soberania, visar ter uma identidade naquele espaço no meio do nada, um manto verde onde e aonde, encontrar dois habitantes, já o é: um milagre…

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 141

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3552 – 21.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

nasc3.jpgEnquanto transcrevo a “Longa Marcha de Savimbi”  na Luanda de então, a vida mantinha-se claustrofóbica, periclitante e sem saídas fáceis para a província; os corredores aéreos encontravam-se ameaçados. Iam abrindo lojas de kinguilas nos muros de quintais, o trânsito ia ficando já com algum parque automóvel moderno e caro, também muito mais caótico. O  contraste da “cidade capital e o musseque” iam ficando entre o abandono e a  deterioração com amontoados de chapas de zinco e placas ratadas de fibrocimento.

Ainda se podia visualizar entrelaçadas com velhas portas arrancadas de um qualquer armazém as aduelas de barris de vinho “Camilo Alves” idos do M´Puto e até latas espalmadas de azeite galo ou, latas das grandes de  tinta pintal, com ripas de madeira das antigas caixas de sardinha ou atum  importadas de  Portimão do M´Puto. No centro da Luua as caixas de elevadores dos prédios mais antigos, iam ficando atulhados de lixo vasculhado por gatos e ratos com  o mau cheiro inerente…

luanda6.jpg As ruas da baixa da Luua iam ficavam envoltas em nuvens de fumo com cheiro intenso de gasóleo queimado saído dos escapes de geradores construídos a partir de velhos motores de GMCês, Magiros e Fordes e outras ainda não seleccionados pelos cubanos para levar para Cuba; assim, património como coisas de “tecnologia de ponta”, assim consideradas lá na ilha – troféus de guerra para o Fidel. Esta guerra de Angola que nos era servida, não se diferenciava das atrocidades do Corno de África ou das escaramuças do Iraque.

Mas, lá nas matas do Moxico  a “Longa Marcha” continuava com seu líder – o melhor chefe de guerrilha em África. Enquanto Savimbi instruía seus oficiais, o condutor de gado reapareceu como por milagre com a manada de rezes. Savimbi, mandou-o directamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna. Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste.

Cubango1.jpg Cerca de quatro horas e trinta minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os cinquenta homens que constituíam a sua retaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à retaguarda que também partisse. A coluna de Savimbi não parou de andar até às três horas e trinta minutos da tarde para um descanso, mas já ao romper de um novo dia, os caminhantes ouviram explosões  e  tiroteio na direcção do local de onde tinham descansado na mata.

Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decididamente, mais tarde os cubanos informaram dirigirem as suas buscas em direcção às colunas de engodo. O resultado do desencontro com o MPLA e os cubanos, resultou no desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As crianças, as mulheres e a sua  escolta de guerrilheiros permaneceram sem o serem detectados ou molestados durante várias semanas, na que ficou sendo a “aldeia segura” porque nunca o foi visitada por tropas inimigas.

cubango2.jpg O grupo de Chivinga formada por cinquenta pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissima; durante várias horas e, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: Em consequência disso dispensaram levando o comandante mas, não conseguiram reunir-se às colunas principais, nem mesmo com a coluna das crianças e mulheres. Só meses depois é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres, as crenças e Chivinga com seus homens, estavam a salvo.

Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes, conduziram as suas colunas de forma segura para longe do perigo. Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto quando da travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudou a atravessar o canal de águas profundas. Isto, deixou-os expostos em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. Aqui chegados direi (do relator): que a logística do MPLA já nesta fase, alegava ser o dono da história seguindo subserviente à mentirosa versão russa.  Isto iria continuar sem se vislumbrar um sine die, com revolta musculada de todo o mundo democrático ocidental – eternas fragilidades das democracias…

Nota: -  Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:55
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Domingo, 18 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 140

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moxico1.jpg Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.

O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter  havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…

moxico01.jpg Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.   

Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram  que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros  da UNITA estavam familiarizados.

moxico2.jpg Às  primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se  para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.

Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem  o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra  compreensão numa situação de desespero.

moxico5.jpg Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem  esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».

Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:39
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Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 139

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3550 – 16.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Acácia rubra1.jpg ( Na mata…) Ao Longo da Caminhada Surge a Senhora Vinona que pressentia que a qualquer momento a caravana da UNITA poderia ser atacada não escondendo seu pensamento. «Sinto que vamos ser atacados», disse ela a Savimbi. A voz de Vinona não era uma voz que se pudesse ignorar. Era uma mulher decidida, de poucas palavras, capaz de mobilizar e disciplinar outras mulheres com o seu exemplo. «Savimbi, porém, não lhe concedia privilégios especiais nem se dirigia de maneira diferente à própria mulher. Ela era apenas uma pessoa mais, na coluna».

Savimbi chamou N'Zau Puna e Chiwale e falou-lhes sobre o aviso que Vinona lhe fizera. Savimbi não ignorou completamente aqueles pressentimentos: «É verdade, quando se está há muito tempo numa guerra de guerrilha desenvolve-se um discernimento instintivo, um sentimento de que, vai ou não haver um ataque».

zem4.jpg Não obstante, Vinona insistiu que tencionava partir e juntar-se aos filhos, enquanto os pais chegavam da sua aldeia natal para saudarem a filha e o genro. Vinona pediu a Savimbi para vir falar-lhes, antes de regressarem a casa. Savimbi mal tivera tempo de dizer adeus aos sogros, quando Chivinga voltou para trás a correr, com notícias de que tinham sofrido uma emboscada, por parte das tropas do MPLA, justamente a norte de Chissimba.

Fora capturado um guerrilheiro da UNITA e era virtualmente certo admitir por parte da força conjunta MPLA/cubanos, que Savimbi estaria por perto. «Dificilmente acreditei que fosse possível a presença do MPLA», afirmou Savimbi. «Todavia, a minha mulher tinha tido razão na sua insistência por isso, dei imediatamente ordens para partir». A coluna mal podia dirigir-se para sul, na direcção do local da emboscada.

zem3.jpg Não ousavam voltar para norte e qualquer retirada em direcção a leste estava bloqueada Quembo. Só lhes restava tomar o rumo oeste, atravessando uma vasta área de cultivo com dois quilómetros de extensão, zona desbastada de árvores. Savimbi reforçou o grupo de Chivinga elevando-a para cinquenta homens enviando-o rumo ao sul para Chissimba de modo a aguentar o MPLA, enquanto fosse possível. Cerca de meia hora depois de Chivinga ter partido, começou a cair fogo de morteiros e rochets no local aonde Savimbi se encontrava.

Por via disto, Savimbi ordenou ao seu grupo que também partisse. Apenas tinham travessado a área cultivada e atingido a mata quando, à distância, apareceram dois helicópteros. «Assumi pessoalmente o comando porque compreendi que estávamos perante uma situação muito grave», disse ele. Mandei que todos se deitassem no chão. Disse que ninguém mais daria ordens, fosse em que circunstâncias  fosse, nem mesmo N´Zau Puna ou Chiwale. Não queria confusões».

zem2.jpg Havia um posto avançado de guerrilheiros da UNITA acerca de dois quilómetros para Norte do local onde estavam escondidos e aonde Savimbi queria chegar. Eram necessários suprimentos de comida para a fuga e, ele, estava agora a planear com base em informações recentes trazidas por mensageiros: No posto avançado, tinham reunido grandes stocks de carne seca de antílope. Savimbi conduziu o seu grupo mais para o interior da mata e mandou oficiais com instruções para o comandante do posto avançado, major Samalambo.

Quando descansava durante o dia, o povo de Savimbi avistou helicópteros movimentando-se de Chissima em direcção à posição de Samalambo e já quase ao anoitecer, chegaram noticias alarmantes. Um mensageiro de entre os oficiais que tinham sido enviados até Samalambo, disse que um helicóptero o tinha sobrevoado, quando se deslocavam em terreno aberto: estavam certos de terem sido localizados. Não havia tempo a perder.  A estratégia delineada para confundir o MPLA e os cubanos, tinha de estar concluída ainda antes da noite acabar…

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:31
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 138

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3549 – 13.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valdir5.jpg (…) Em Gago Coutinho - Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu. Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda.

A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha.

kifangondo 1.jpeg Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.

A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.

valdir2.jpg A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos....

Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo. Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.

guerra22.jpg Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada.

O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Domingo, 11 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 137

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3548 – 11.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

selos1.jpg Continuando a descrição de Fred Bridgland, a coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico».

Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizar uma evacuação calma. «Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater». Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste. Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar.

tukya13.jpg Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível, antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios. O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA.

A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo proferido por Savimbi que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.

tuiui3.jpg Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.

Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março. Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, agora  formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho.

lifune01.jpg Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola. A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros.

Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:49
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 134

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Crónica 3545 -01.02.2024 ::: A CARAVANA.6 – A FUGA

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fui.jpeg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Em menos de um mês casei três vezes. Felizmente, com o mesmo homem. E assim deixei minha terra - Angola. Um ano na África do Sul foi suficiente para sabermos que lá não era o nosso lugar. Além da cultura muito diferente, começavam a ocorrer ali os mesmos episódios violentos que havíamos testemunhado em Angola. Decidimos mudar.

Escolhemos o Brasil, país que desde minha pré-adolescência eu sonhava conhecer. Partimos para Portugal a fim de cuidar da burocracia. No dia 7 de Fevereiro de 1977 zarpamos num navio italiano rumo a Santos, onde desembarcamos dez dias depois. Eu estava com seis meses de gravidez. A imensa maioria dos brasileiros nos recebeu de braços abertos, principalmente as pessoas mais humildes.

fumo de caricoco.jpg Alguns, mais abastados, nos tratavam friamente, mas nunca fomos hostilizados. Aos poucos aprendi a amar a terra nova, a querê-la a ponto de ficar amuada quando falam mal dela. Percorri este Brasil quase todo, conheci cada lugar que nem tens idéia, senhor. Andei por picadas, atravessei pontes que eram apenas duas tábuas paralelas, morrendo de medo que elas quebrassem e o carro despencasse.

Comi queijo de coalho em casebres de gente muito simples e coração enorme. Ah, senhor, que país maravilhoso é esse teu Brasil! Descasei, casei de novo. Quando a  saudade dava botes sobre a gente, o Walter fazia a muamba. Comprava cachos de dendê e tirava o óleo em casa mesmo. Era o único jeito de ficar igualzinho ao de Angola. Aqui as frutas são praticamente as mesmas que tínhamos, a temperatura  e as praias também, mas não é a minha casa, entendes senhor?

chai4.jpgAqui eu me sinto bem, mas falta o cheiro da minha terra, falta o cacimbo e a silhueta única do imbondeiro em meio à névoa. Há uma ausência que não consigo definir. Tudo tão igual, mas ao mesmo tempo  diferente. Talvez a gente seja mesmo filho de nosso chão, não sei. Parece que nesta paisagem familiar falta a alma da minha terra, a casa que posso realmente chamar de minha.

Eis-me aqui, senhor, aos 60 anos, com três filhos e dois netos brasileiros. Sou feliz, bem sabes, mas a saudade é bicho traiçoeiro: quando a gente menos espera, ela surge, arrepiando a pele, cravando as unhas na carne, abrindo ocos no peito. Recolho então minhas lembranças, as músicas e fotos de minha terra, e choro mansamente! 

luis33.jpg Angola ainda vive em mim. Como tatuagem de alma…  O relacto de Sonia chega ao fim deste modo e eu T´Chingange, na qualidade de relator, ouso dizer que muitos mais estórias houve nesta odisseia, fuga de Angola. A partir do dia 11 de Novembro de 1975, dia da independência de Angola, mais de 30 países envolveram-se na longa guerra civil que se seguiu, apoiando ao nível logístico e em equipamentos os três movimentos.

A União Soviética e Cuba aproveitaram o momento - a saída de Portugal (as últimas tropas - NT, chegam a Lisboa a 23 de Novembro de 1975) e situação de fragilidade dos EUA, para aumentarem o seu apoio ao MPLA. Pela frente iriam encontrar a ajuda do Zaire e da África do Sul que não queriam ficar para trás no processo de descolonização de Angola.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:40
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Terça-feira, 30 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 133

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3544 -30.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.5A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namibia31.jpg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Eu e minha mãe fomos para casa de um casal idoso que nos acolheu com uma refeição quente, um banho e uma cama quentinhos. Estava tanto frio. Pela manhã, logo depois do café, nos levaram à loja da filha deles, onde já estavam a minha futura cunhada e sogra. Disseram para escolhermos as roupas que quiséssemos.  Nesse dia fiz as pazes com Deus.

Aquelas pessoas me apresentaram o outro lado da humanidade, feita de bondade com quem está refém da tragédia. Só podiam ser emissários do Divino, anjos perdidos no interior da África. Em Tsumeb, um novo acampamento, as mesmas barracas de campanha. Mas a comida era melhor, assim como o tratamento que recebíamos. Ficamos pouco tempo.

okavango 01.jpeg Conseguimos ser aprovados na seleção, graças a meu futuro cunhado e por eu ter começado a servir como intérprete. Benditas aulas de inglês. Mudamos de campo outra vez. Fomos para Grootfontein, mais próximo a Pretória. O campo    era um presidio que estava sendo desativado.

Restavam lá uns 3 ou 4 presos, todos idosos. O presidio era formado por várias casernas e eles nos separaram. Tinhamos refeitório com mesa e bancos, e a comida era surpreendente. Imagine, senhor, que comemos até sobremesa de maçã caramelada no forno. É que os presos eram os cozinheiros. Fiz amizade com um deles. Tinha 65 anos e estava preso há 30 pelo assassinato da esposa num acesso de  ciúme. A filha não o visitava.

okavango3.jpeg Depois que saí do campo e ele da prisão, fui à casa dele. Era um homem gentil – como pudera fazer aquilo? Mistérios do coração humano que jamais saberei. Continuei sendo intérprete junto à assistente social e ao director do campo. Meu futuro cunhado arrumou emprego numa fazenda. Meu namorado logo sairia, mas eu era menor de idade e não poderia deixar o campo.

Estava dificil para minha mãe. Ir para Portugal estava fora de questão, dado o desprezo com que nos tratavam. Eu e Zé decidimos casar. Minha mãe passou a ser minha responsabilidade (acredita que até hoje ela fica muito zangada quando lembra disso?). E assim, no dia 6 de novembro de 1975, casei dentro de um presidio que funcionava como campo de refugiados. O diretor e a assistente social foram nossos padrinhos.

quitandeira5.jpg Os soldados que tomavam conta do campo fizeram uma cotinha (vaquinha) e pagaram a nossa festa e a lua de mel num hotel na cidade. O casório teve bolo, vestido de noiva e tudo, viu? O Jeep do exército nos levou ao hotel. Os soldados ficaram dentro do Jeep vigiando para que não fugíssemos. De madrugada, acordei com dor de ouvido.

Na recepção não havia remédios, as farmácias só vendiam medicação com receita. Os soldados me levaram para o hospital, onde fui atendida. Ao voltarmos para o campo, os soldados contaram para todo mundo a aventura. Não escapamos à gozação geral: “Nem os ouvidos poupaste à miúda, Zé?” Casada pelas leis sul africanas, no dia 11 de Novembro casei na Igreja e duas semanas depois casei novamente no consulado português.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Domingo, 28 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 132

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3543 -28.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.4 – A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

cluny1.jpg Aprendi, nessa época, que tudo o que está ruim pode piorar. Minha familia deixou Nova Lisboa, assim como meu namorado e a mãe dele. Eu fiquei. Aguardava minha mãe, que tentava sair de Luanda. De repente me vi  sozinha, aos 16 anos, num país que se esfacelava e numa cidade em que os grupos guerrilheiros se enfrentavam para dominar o território. Agora havia tiroteios em toda parte. Passei a morar na sede da Cruz Vermelha.

Finalmente minha mãe chegou e conseguimos uma carona para Sá da Bandeira, mais ao sul. Fomos de camião, minha mãe na boleia com o motorista e a esposa dele; eu e os filhos dele no meio da carga de batata. Até hoje, meu senhor, o cheiro de batata me agonia. É cheiro de fuga, de desesperança e perda. Em Sá da Bandeira reencontramos meu namorado e a familia dele, com quem tinhamos combinado sair de Angola. A confusão era enorme.

fuga001.jpg Gente andando de um lado pro outro, tentando encontrar familiares ou arrumar um jeito de sair dali, gente sem um centavo até para comprar água. Faltava comida, além de esperança. Não lembro exatamente da data em que finalmente saímos em caravana (onze carros e um camião) à noite pelo meio da mata, com destino à fronteira com a África do Sul. Sei que era início de Agosto. Durante a viagem encontramos duas patrulhas de guerrilheiros.

A primeira foi mais tranquila, aceitaram o suborno de cigarros. Já a segunda foi apavorante: queriam nos prender de qualquer jeito. Segundo eles, éramos ladrões das riquezas de Angola. Todo aquele zelo patriótico não resistiu à propina. Além de cigarros e bebida alcoólica, demos dinheiro para que nos deixassem seguir.  O sol começava a nascer quando encontramos uma coluna do exército da África do Sul.

etosha1.jpg Ainda estávamos em território angolano, a cerca de 10 quilômetros da fronteira, mas eles nos escoltaram até um campo de refugiados já em território sul-africano. Foi o primeiro campo em que ficamos. Eu sentia  raiva, meu senhor. Muita raiva! Uma revolta surda contra os brancos portugueses de Portugal, que nos exploraram durante séculos e agora nos viravam as costas dizendo que éramos brancos de segunda classe.

Revolta contra os negros, por acharem que a diferença na cor das nossas peles fazia que fôssemos diferentes deles. Éramos todos angolanos, mas apenas nós estávamos sendo expulsos de nossa terra e não tínhamos para onde ir. O acampamento era feito de barracas de campanha. Sabes como é, senhor, aquelas barracas verdes do exército? Na nossa barraca dormiam seis adultos e duas crianças.

namib5.jpg Cada um recebia um um cobertor e três refeições por dia. Comida pouca, ninguém ficava saciado, mas matava a fome. Estávamos agradecidos, pois os sul-africanos faziam mais por nós do que o governo de Portugal. Esse acampamento – destinado a angolanos e moçambicanos – era um local de filtragem. A alguns era vedada a possibilidade de ficar no país. Esses eram logo encaminhados ao grupo consular português e enviados ao aeroporto, onde aviões da África do Sul os levavam para Portugal. Outros eram mandados a outros campos de refugiados.

Nós, graças a meu futuro cunhado, que era engenheiro agrícola e já tinha uma promessa de emprego, fomos para outro campo. Escoltados por uma coluna do exército, seguimos para Tsumeb. Na estrada para Windhoek, havia uma cidadezinha. Avistamos gente nos esperando. Abordaram o oficial do exército que nos conduzia e pediram para nos dar abrigo naquela noite. Desconhecidos encharcados de solidariedade, que queriam nos oferecer o alimento mais precioso, esperança…

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:38
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 131

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3542 -25.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.3 A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valentina3.jpg No Baleizão comi prego no pão com Coca-Cola. Nos bares à beira da praia comi santola, camarão, peixe no molho de dendê, muamba com pirão de milho. Eu nem sabia, senhor, que fabricava as lembranças mais caras. Um dia elas seriam os retalhos coloridos da minha colcha de saudades.

Tudo mudou em Abril de 1974. Angola ansiava pela justa independência; estávamos numa entressafra de tranquilidade. O terrorismo de 1960 quase não existia mais – não sentíamos isso. Os guerrilheiros tinham sido rechaçados pelas tropas portuguesas. Porém, com as mudanças na política de Portugal Continental, tudo mudou nas colónias lusitanas da África. Grândola Vila Morena deu a senha para os cravos florescerem nas armas. Marcelo Caetano caiu!

luua9.jpg O socialismo venceu em Portugal: Álvaro Cunhal, Mário Soares e seus camaradas no poder de então, apoiaram a independência e o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e patrocinado pela ex-URSS, Cuba e Alemanha Oriental. Mas no país existiam também a Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, apoiada pela França e pela Bélgica; e a União Nacional pela Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, apoiada pelos Estados Unidos. FNLA e UNITA não aceitaram os favores de Portugal ao MPLA.

Iniciou ali, senhor, a grande guerra civil que devorou o meu país por três décadas. A violência aumentava a cada dia. Balas perdidas, rajadas de metralhadora, morteiros de bazuca e granada passaram a ser rotina. Quantas vezes, tínhamos que nos jogar no chão, dentro da sala de aula ou do cinema? Lembro de um dia em que Jesus Christ Superstar estava na tela enquanto eu, deitada no chão no cine Tivoli, ouvia as balas assoviarem por cima.

xiricuata5.jpg Era difícil para todos, mas quem tinha pele branca, como eu, caia em um limbo. Eu não era colonizadora, nem exploradora. Era uma adolescente angolana, pobre e agora considerada inimiga. Em meados de Março de 1975, começamos a cumprir o toque de recolher. A partir das 16 h, brancos não podiam andar nas ruas sob pena de serem presos ou mortos por grupos guerrilheiros. Estes não eram mais chamados terroristas e sim aclamados como heróis da libertação.

Havia assassinatos de homens brancos todo santo dia. As mulheres sofriam mais: eram seviciadas antes de morrer. Minha mãe rendeu-se ao medo: em Junho daquele ano me mandou para Nova Lisboa, onde tínhamos familiares e as coisas estavam mais tranquilas. Muitas famílias estavam fugindo do norte do país e indo pra a nossa região, onde recebiam apoio da Cruz Vermelha Internacional para deixarem o País com destino a Portugal ou à África do Sul.

camionista1.jpg Comecei a trabalhar como voluntária num dos postos da Cruz Vermelha. As caravanas do norte se multiplicavam. Eram tantas, que houve dias em que não dormíamos. Engolíamos pedaços de pão enquanto limpávamos ferimentos, distribuíamos comida e dávamos informações. Quando conseguíamos parar por alguns minutos, encostávamos o corpo nas caixas de alimentos e dormíamos em pé mesmo.

A multidão rugia em desespero. Gente à procura da família, gente abatida e sem rumo. Derramavam grossas lágrimas, lamentavam-se em alta voz pelos parentes mortos, pelos bens perdidos, pelas emboscadas às caravanas. O bicho homem é bruto, meu senhor. Lembro muito bem, ainda hoje, de uma caravana. De um dos carros desceu uma família atacada na estrada. A mãe tinha uns olhos perdidos e carregava o filhinho no colo. Seu choro era um chicote que arrancava lascas da gente e tingia de cinza o vasto mundo. Implorava que lhe salvássemos o menino, mas ele, senhor, já estava morto. Nesse dia, lembro-me bem, rompi com Deus. Reneguei-o. Era bem certo que nenhum ser supremo e bom poderia ter criado tal humanidade perversa e tanta dor a fustigar as costas dos inocentes.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:11
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Quarta-feira, 24 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 130

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3541 -24.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.2 - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga8.jpgÉ Sónia, Sonia Zaghetto que continua a falar: - A casa do avô, em Nova Lisboa, tornou-se lugar das férias até os meus 10 anos. O avô trabalhava de sol a sol na chitaca. Levantava-se   às 5 da matina e ia para os campos de sisal, abacaxi, laranja, goiaba, tangerina, caju. Às 9 horas, eu e os primos levávamos o matabicho para ele e para os trabalhadores. Era bom aquele tempo de brincar, nadar no lago, subir nas árvores, cravando os dentes nas frutas colhidas no pé…

Correr atrás de patos e galinhas e dar cigarro aos camaleões só para vê-los mudar de cor e despencar do galho completamente chapados. Até hoje, senhor, não encontrei comida melhor que a da senzala. Todos juntos, brancos e negros, comendo pirão ao molho de dendê e peixe-seco. Que saudade agora me dá de pegar o pirão com a mão, molhar no dendê e depois lamber os dedos besuntados. Não há nada melhor, visse?

kuito2.jpg Quando eu e minha mãe saímos de Nova Lisboa, fomos para Luanda. Ela trabalhava como costureira. Foi assim que me criou, sentada na máquina de costura. Cresci entre tesouras, linhas e tecidos, rendas e fitilhos. Grandes espelhos reflectiam as senhoras elegantes que chegavam a toda a hora.

Minha mãe era a melhor: só trabalhava pro high society de Luanda. Noivas? Eu juro, senhor, que perdemos a conta de quantas ela vestiu – uma mais bela que a outra. Adolescente, estudei num colégio de freiras, o melhor de Luanda (creio eu ser o São José de Cluny), o mais caro. Era bolsista e tinha a obrigação de ter notas altas.

fuga9.jpgEntrei no colégio por recomendação do presidente da Câmara de Luanda, cuja esposa era cliente da minha mãe. Gosto de lembrar desse colégio. Ali fiz grandes amizades, algumas duram até hoje, embora separadas por oceanos. Foi lá, também, que aprendi a me defender. Filha de mulher solteira, quantas vezes me chamaram de bastarda? Nem lembro. Eu reagia. Não nasci para baixar a cabeça, não senhor.

Morávamos num apartamento bem pequeno. Quarto e sala, cozinha, banheiro e uma sacada minúscula, de frente para o mercado municipal, que a gente chamava de Kinaxixi ou Mercado da Maria da Fonte. Na época de provas eu acordava às 3 da madrugada. Quando os feirantes começavam a arrumar as bancas, eu aparecia na sacada e berrava para que parassem de fazer barulho, que eu precisava estudar. Eles riam e moderavam a barulheira. Depois de um tempo, eles se acostumaram a conferir: se a luz do quarto estava acesa, já gritavam “Hoje vamos ficar quietos. Vai estudar, miúda!”.

kina1.jpg Meu pai só vi duas vezes. Na primeira eu tinha seis anos e ele me levou pra passar o dia na casa dele e conhecer sua esposa e filhos. A segunda vez foi aos 16 anos. Ele me encontrou na rua, na garupa da moto de um amigo e repentinamente se lembrou de que era pai. Mandou eu descer e ir pra casa, que filha dele não andava de moto. Ah, meu Senhor, filho mal havido nem sempre engole sapo – anote aí. Disse-lhe que não era meu pai, que não passava de um reprodutor. Depois disso nunca mais o vi. Tudo o que sei dele é que vive em Portugal.

cluny1.jpg A vida em Angola enchia de festa meu coração adolescente. Com os Escoteiros Marítimos da Praia do Bispo acampei em ilhas e praias distantes, participei de paradas militares, visitei hospitais e presídios. Com o grupo de dança folclórica do Rancho da Casa do Minho de Luanda, dancei em campeonatos e apresentações. Vi o nascer do sol na praia da Ponta da Ilha, andei de moto nas dunas da praia do Sol e acampei na paradisíaca ilha do Mussulo.

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:48
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Domingo, 21 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 129

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3540 -18.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.1 - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga9.jpg Em Outubro de 1975, no dia 23, militares sul-africanos praticam a primeira invasão de Angola, dominando uma faixa ao longo da fronteira com a Namíbia, de modo a travar os movimentos das tropas da SWAPO, então apiadas por Luanda. A Organização de Unidade Africana tenta desesperadamente a reconciliação, enviando a Luanda uma missão que propõe um governo de unidade nacional.

Com o apoio dos seus respectivos aliados (via Wikipédia) o MPLA, a UNITA e o FNLA dão início a uma guerra civil que durará de 1975 até 2002. O principal confronto será entre o MPLA, apoiado pela União Soviética e por Cuba, e a UNITA, na zona sudoeste de Angola; as forças do FNLA encontravam-se inseridas no exército da África do Sul.

144.jpg Nesta parte final que medeia entre a Ponte Luualix e o 11 de Novembro terei de descrever uma crónica maravilhosa para os meus amigos de Angola, especialmente para os que fizeram a CARAVANA de fuga pelo deserto até à África do Sul.

Já sentiu saudade de sua terra, senhor? “É uma coisa que brota na fundura do peito, percorre bem devagar a pele, arrepia os pelos dos braços, bambeia as pernas. Garra de unhas pontudas, pega o coração da gente e espreme lentamente". Pingam gotas vermelhas que abrem uns vazios na alma dos homens. Houve um tempo em que eu não sabia o que era saudade de casa.

fuga13.jpg É Sónia que conta sua própria lenda: Nasci numa cidade do sul de Angola, Nova Lisboa. Hoje ela se chama Huambo. Era o dia 2 de abril de 1958 e minha mãe tinha 16 anos. Solteira. Meu avô não queria que eu nascesse, não. Minha mãe bateu o pé e foi enfiada num convento para que eu nascesse lá. Depois eu seria dada para adopção. Minha mãe bateu o pé de novo: agarrou-se a mim – sua carne, seu sangue.

Fiquei. Até completar um ano, vivi entre os hábitos das freiras, ninada pelo som das orações, dos cânticos, dos sinos, filha das Ave-Marias, das Salve-Rainhas, dos Pai-Nossos sentidos.Talvez minha mãe tenha rezado muito, não sei. Talvez os santinhos que me viram chegar ao mundo tenham adoçado o coração de meu avô. O certo é que de repente ele se viu apaixonado por mim. Veio nos buscar.

fuga1.jpg O que sei sobre essa época é o que minha mãe contou. Eu mesma de nada lembro. O que ela conta é que eu e meu avô não nos separávamos. Alto, de cabelos grisalhos e sorriso largo, ele me carregava nos ombros pra todo lugar e me mimava, me ensinava a ser respondona, não permitia que a mãe me castigasse.

Só ficamos na casa dele até eu completar três anos. Mamãe não tolerava a “madrinha”. A bem da verdade, não era madrinha – era madrasta. Minha avó morreu quatro anos antes do meu nascimento. Assassinada. Estava na cozinha e um homem chegou. Disse estar com fome, pedia comida. Minha avó se compadeceu: sabia dos sofrimentos dos homens negros em Angola. Mandou-o entrar e sentar-se à mesa. Enquanto servia o prato, o homem se levantou. Como uma pantera, veio por trás e a estrangulou. Minha mãe e meus tios menores estavam no quintal, brincando. Nada viram. Ficou a lição de que algumas criaturas – não importam a cor da pele – são diabos. Ah, se são…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:25
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Quinta-feira, 18 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 128

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3539 – 18.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

luua01.jpg Naquele dia sete de Agosto, pelas dez horas da noite eu e família, dois filhos, mulher e sogra embarcávamos no vôo 7 da “ponte LUUALIX” como desalojados via LISBOA. Recordando vivências recentes, tinha recebido a minha dose em Kaluquembe; meu carro, um Renault Major, tinha sido sabotado no dia anterior indo eu a caminho do Sul - Namacunde aonde tinha um cunhado; em verdade preparava a fuga de Angola…

O General Kamalata Numa da UNITA, mais tarde, relembra: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Já se tinha dado  o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes; todas as precauções estavam na forja da acção.

kamangula4.jpg A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácita oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses … 

Em meados de Outubro, o terminal aéreo de Nova Lisboa (Huambo) encerrava, e Luanda passou a receber entre quinze a vinte aviões por dia. Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!

ong5.jpeg O General Kamalata Numa já citado, ainda relembra na primeira pessoa: -Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”.

Continuando com o General Numa: - Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.

sorte2.jpg A finalizar um momento, o General Numa da UNITA refere: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um sofrivel poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). O MPLA fica assim dono e senhor da capital - Luanda.

Pois assim foi. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:03
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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 127

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3538 – 17.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

matrindindi1.jpg Eu, era um dos que preparava essas listas de embarque – Guias de Marcha para o M´Puto, sem retorno - GUIAS DE DESEMBARAÇO. Naquela Luanda, pairava no ar promessas de morte, vinganças avulsas; continuavam as manifestações com mortos transportados em macas reclamando por insegurança e coisas variadas agitadas com catanas de furia.

Tudo o era feito, para seguir as novas técnicas de meter medo com horror; instrucções seguidas pela cartilha de Rosa Coutinho. No aeroporto de Belas já neste início de Agosto de Setentaecinco, podia ver-se milhares de famílias pernoitando de qualquer jeito junto aos seus haveres no largo frontal da zona do check-in e jardins do aeroporto, malas, caixotes e bugigangas.

soba23.jpg Ali permaneciam dia e noite protegidas com cobertos de lonas presas a caixotes usando como banheiro áreas improvisadas ou as bissapas, arbustos circundantes do jardim; o cheiro era nauseabundo. É confrangedor só de pensar em estas turbas de gente que às pressas colocaram umas peças de roupa, uns agasalhos, umas fotos de recordação prontos a ir ao encontro dum desconhecido maior que o mundo.

E, as despedidas de gente serviçal, vizinhos ou até um amigo próximo que por ali iam ficando – na Luua: toma lá a chave do meu carro, da minha casa, cuida dos animais meu amigo João, Napumoceno, num catravês de incógnitas,  num porque não sei quando voltarei, nem se volte. Na mira de voltar havia mesmo falas muito penetradas de sonhos…

soba05.jpg Olha pelos meus cães, o aspirina mais o tarzan que ficam na casota lá junto ao gerador e perto do galinheiro. Doeu e ainda dói! Coisas de partir o coração aconteciam como sendo coisa pouca – a frieza das pessoas, do governo, da Metrópole em um todo, afligiam-nos sobremaneira. Minha revolta era imensa!

No dia 4 de Agosto de 1975, na cidade da Gabela os partidos entram em confrontos e a população organiza uma caravana; com mais de duzentos veículos, serão acompanhados por militares portugueses e da UNITA, escoltados até à cidade de Nova Lisboa (Huambo). Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar d Luua. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes na via para o Sul - de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, Ambriz, Cabinda e santo António do Zaire.

dia230.jpg A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA  e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da independência, o 11 de Novembro de 1975. O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) de Portugal, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor.

Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo assistia a isto!

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:53
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Domingo, 7 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 125

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3536 – 07.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila

– Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

roxo169.jpg Pude saber pela Wikipédia e outras vias, que o Coronel Raúl Diaz Arguelles que desembarcou em Luanda em Agosto de 1975, utilizando o pseudónimo de Domingos da Silva, era o encarregado de supervisionar e treinar as tropas do Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA. Distinguiu-se, em particular, na Batalha de Kifangondo, ocorrida a 10 de Novembro de 1975.

Apoiado por 88 soldados cubanos, pseudo “exército do MPLA”, esmaga as tropas da FNLA de Holden Roberto, que estavam em número muito superior contando com apoio de combatentes do Zaire, mercenários portugueses, tropas sul-africanas e brasileiras, além de agentes da CIA. Ele, foi o comandante da Operação Carlota, numa altura em que os grupos guerrilheiros deixaram de combater as tropas portuguesas já no seu estágio final.

cazumbi2.jpeg No desenvolver da contenda militar, este Coronel Arguelles, a 11 de Dezembro, consegue com uma pequena coluna, emboscar por detrás a aldeia de Galengo, tomando-a durante a batalha designada de Ebo. Porém, os estilhaços de uma mina antitanque, que explodiu, cortaram a artéria femoral do coronel Arguelles, tendo  sucumbio aos ferimentos.

Saltando os acontecimentos, teremos de recordar Arnaldo Tomás Ochoa Sánchez que foi um general-de-divisão das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba.  Considerado Herói da República de Cuba acbou por ser condenado em julgamento militar público junto aos outros altos oficiais Antonio "Tony" de la Guardia Font, Jorge Martínez Valdés e Amado Padrón Trujillo, à pena capital.

demo1.jpg Assim, por alta traição à pátria produto de acusações de atividades de narcotráfico, foi fuzilado a 13 de julho de 1989. Teatralmente, acusou-se a ele e a mais treze implicados de se contactar com narcotraficantes internacionais; traficar ilicitamente cocaína, diamantes e marfim; também por utilizar o espaço aéreo, o solo e as águas cubanas para actividades de narcotráfico; e envergonhar à Revolução com actos qualificados como de alta traição…

Segundo “O Observador”, Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro, revela num livro, o alegado envolvimento do líder histórico cubano Fidel de Castro, no tráfico de droga, tendo dito à Lusa que Havana queria controlar os recursos naturais em Angola. Assim relatou: “Fidel Castro queria mais de Angola. Dizia que ia levar de Angola apenas os mortos, mas em realidade, não foi assim.

kifangondo3.jpeg Juan Reinaldo Sánchez afirma: - Eu vi no gabinete de Fidel Castro uma caixa de tabaco repleta de diamantes - a caixa estava cheia”… “Fidel, através do seu ajudante José Naranjo e do secretário Chomy, mandou vender esses diamantes e depositar o dinheiro nas suas contas bancárias fora de Cuba”; foi o que disse à “Lusa” o homem que tinha sido guarda-costas do Presidente cubano durante 17 anos. “Eu tenho informações e, além do mais vi. Fidel tinha outra ideias com Angola. Essa ideia sobre o internacionalismo proletário; essa ideia de ajudar os irmãos africanos; essa ideia de ajuda entre os povos é pura propaganda. É um mito”…

Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel sublinhou, referindo-se ao envolvimento de Cuba com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). As memórias do elemento do círculo de segurança mais próximo da cúpula do regime cubano é autor do livro “A Face Oculta de Fidel Castro” que foi lançado em Portugal. Um livro que inclui não apenas questões internas de Cuba, mas também o envolvimento de Havana na guerra em Angola, sobretudo a “Operação Carlota” em 1975 e a batalha do Cuíto Cuanavale, no final dos anos 1980.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:23
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Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 124

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3535 – 05.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mfa1.jpg Os novos mandantes do M´Puto, a reboque do PCP, mudariam funcionários, quadros e militantes com acções reais no terreno. Preparava-se mais uma cimeira no Quénia mas ninguém acreditava nisto; Nem os próprios intervenientes! Face à situação, quatro presidentes africanos reúnem-se numa mini-cimeira em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzânia, país surgido da fusão das antigas Tanganica e Zanzibar.

Nenhum acordo é conseguido. Julius Nyerere da Tanzânia e Samora Machel de Moçambique, defendiam o domínio do MPLA de Neto sobre Angola.  Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama do Botswana, eram partidários de um governo de unidade nacional que incluísse representantes da FNLA e UNITA.  Era chover no molhado… Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade!

mocnda10.jpg Irão dizer que não pois que em realidade parece uma grande peta feita mas, o certo é a de que militares pagos pelo M´Puto e inteiramente destacados naquele Movimento como se dele fossem, com fardamento próprio do MPLA; gente seleccionada  pelo PREC de Otelo Saraiva (o Ché tuga…)  Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais resguardado e, só alguns oficiais o sabiam.

Até surgiu um  selo mentiroso do M´Puto alusivo ao MFA.  A mim sempre me pareceu muito feito a propósito por o ser verdadeiro! Nakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem.

tesouras.jpg Neto reclamava a saída deste! Ele, Neto, o poeta, queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andava a assobiar ao vento! Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento, tornados heróis como se isso o fosse de forma “avulso”.

O MPLA venceu a Batalha de Luanda expulsando a UNITA e a FNLA com a inequívoca ajuda do glorioso MFA do M´Puto (isto sempre o será repetido…). Em verdade a Batalha de Luanda resumiu-se ao duelo entre MPLA e a FNLA, enquanto os soldados e militantes da UNITA, sem armas para retaliar, se tinham simplesmente resignados a fugir.

guerra13.jpg Os que não puderam fugir, foram simplesmente massacrados aos milhares (maioritariamente negros mas e também, alguns brancos). Recordem-se do massacre na sede Pica-Pau em que abateram homens quase desarmados, mulheres e muitas crianças…  Angola era a nossa terra, nossa capital era a Luua, o nosso rossio era a Mutamba e o M´Puto estava lá longe…

Mandavam-nos os magalas, o azeite, os carros, as modas e uns quantos gozavam de quatro em quatro anos férias graciosas. De volta levavam chouriços, salpicão, enguias em potes especiais e sardinhas gostosas! Negros e brancos seguiam seus sonhos, suas ambições.Uns pensavam em mudar tudo e de catanas nos pensamentos julgavam o que lhes parecia o mais certo para a terra deles, que também era a nossa! Pensávamos nós!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:07
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Quinta-feira, 4 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 123

KWANGIADES - NO M´PUTO

MOKANDA DO ZECA – Crónica 3534 - 04.01.2024

- As falas muito antigas N´dele – Sem chapéu de chuva, vais ficar molhado - TONITO (era o meu nome de candengue da Luua)

Por:T´Chingange . Em Arazede do M´Puto

zebra1.jpg Carta de José Santos - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga. Tornou-se ali professor katedrático e agora lecciona no M´Puto quando não fica com o catolotolo - Anda desaparecido… MAIS UM FANTÁSTICO MISSOSSO TEU....! JURO, JURO QUE DELIREI NAQUELE MAMBO " -  Já estava farto de usar ceroulas até o pescoço a fim de aguentar o frio do M´Puto,..." SIM KIMA KAMBA MUXIMA, DO FRIO DO M' PUTU DE TER DE ANDAR DE CEROULAS, MEIAS DE LÃ ATÉ AO JOELHO, CAMISOLA INTEROIR LÃ DE MERINO, LUVAS, CASCHECOL... AI-IU-É…

TUDO, TUDO PARA TIRAR A HUMIDADE DO SALALÉ SECO QUE BERRA POR QUENTURAS E AS TUJE DAS FRIEIRAS DA CUSPIDEIRA FRIA DAS "CALOTES DE CHORO CAIDAS COMO TREPADEIRAS DO ALASCA PARA A KALUNGA" QUE ESTE INVERNO AS KALEMAS ALTAS TROUXERAM PARA A IBÉRICA, PARA A EUROPA...

Zeca000.jpg POR CULPA DO HOMEM KIAVULU VULUKIA VULUVULU CACHIMBO QUE ENVENENA A ANHARA DO NOSSO SENHOR NO ALÉM. OH! SIM, SIM, TU GOSTAS BWÉ DO NU QUENTE DA NATUREZA..., DE MACEIÓ DO BRASIL, PAJUÇARA, PALMARES... QUE DIZES SER DE RENOVAÇÃO DE PELE COM ÓLEO DE COCO DO SOL REDENTOR...

OS BICHOS, AS PLANTAS MEDICINAIS..., TUDO, TUDO, NATUREZA TE CONHECEM E TE CHAMAM O KUUABA N'GANA VATA T`CHINGANGE! SEI QUE DELIRAS, TOPANDO A TEXTURINHA DA BELEZURA NUA NATURAL BATUCANDO DE SALTOS ALTOS NO CALÇADÃO NO CORSO DO CARNAVAL! UÉ!

soba001.jpg TU PRÓPRIO FIGURANTE DOISIMILDEZOITO VESTIDO DE "CAPATAZ" DE BARRIGA DE JINGUBA DE FORA E DE CHICOTE NA MÃO NO CORSO DE PRAIA DA GUAXUMA.... RECORDANDO OS TEMPOS DOS CORONÉIS E DA SINHÁ...

AMAM'IÉÉÉ´! TUA SORTE MERMÃO DO RIO SECO DA MAIANGA, TU SERES PÁSSARO DE VOO DE MUITOS MUNDOS COMO O KWETZAL.... AGORA, TAMBULA CONTA! UÉ! COMO É? FEIJOADA Á TRANSMONTANA, TRIPAS À MODA DO PORTO, ENSOPADO DE CABRA VELHA, BODE MESMO... A BORDO DO ESTIBORDO...!

zeca01.jpeg SIM, SIM, MAS BREVE TERÁS E LOGO AO DESCERES, PISARES A TERRA E SENTIRÁS O CHEIRINHO DO CHURRASCO PITA VIRGEM. MESMO TABAIBO DO MATO NA GRELHA, NO ESPETO PAKASSA TENRA E A PICANHA NA GRELHA A ESTALAR.... OS TEUS CAMINHOS SÃO DE DEAMBULAR FELIZ NA KUKIA DA VIDA QUIÉ SUMAUMA.

QUE A TUA VIDA DOCE CONSOME, É O TEU PREPARO, É O TEU ELIXIR QUE ESMAGAS NO TEU PILÃO E, BWÉ CONSOMES..., TAL COMO OS TORRESMOS DA BELA MOPANE.... NESTE TEMPO DE ESTUPOR, TERRA DE “FIADO CIVILIZADO” DE SEM RESPEITO, CURRICULO SUSPEITO … OH! N´GANA N´ZAMBI! KAPIANGO, PÉS DE PATRANHA, EDIFICAM-SE NOS POLEIROS DE NOSSOS CELEIROS…. E, NÓS SÓ XIMBICANDO N´DONGUS  NAS MULOLAS DO RIO SECO NA SAUDADE…

KANDANDU - ZECA2018020722H00

Das escolhas de Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:45
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Sexta-feira, 22 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 121

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3532 – 22.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

t´chingange 0.jpg Ainda sobre a tese de Pesarat Correia – Nesse quadro qual era o papel de Portugal? – Portugal ia diminuindo a sua presença militar em Angola, no cumprimento dos Acordos do Alvor, acção que devia ser compensada com os movimentos de libertação a contribuirem para a formação de uma força militar mista.

Ora, os movimentos de libertação (destaque para o MPLA, o grande infractor…) em vez de procederem nos termos acordados em Alvor participando nessa força, armaram-se constituindo exércitos partidários e entraram em guerra civil, com apoios externos, perante a impotência de Portugal.

cross2.jpg Já próximo ao 11 de Novembro, o Zaire via USA entra pelo norte em apoio da FNLA; depois a Sul, a África do Sul ao lado da UNITA e mais tarde Cuba a apoiar o MPLA – O Acordo do Alvor foi rasgado pelas partes…(fim de citação de Pesarat Correia).

Quanto ao "Documento dos Nove" foi em verdade, a primeira demonstração publica de divergências no seio do MFA e a marcação de uma posição clara contra a tentativa de tomada de poder pelo PCP “o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, o caminho de levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético”.

dia220.jpg Aquele "Documento dos Nove", defendia um entendimento à esquerda, do qual o PCP não estava à partida excluído, desde que colocasse de lado os seus intentos hegemónicos, de forma a “conduzir o país na ordem democrática e na ordem económica e social”. Para terminar com essa tal de tese de Pesarat Correia refiro o que diz em seu final: “A participação de Portugal na descolonização nas colónias de África foi a que tinha de ser feita” -  Esta foi a frase de Melo Antunes que acompanho, diz Pesarat Correia. Nunca tão poucos decidiram por tantos na passividade e  anuência de um povo do M´Puto gerido por um rolha e um louco - Costa Gomes e Vasco Gonçalves…

E, pude assim ver-me no mato de Angola, quando uma delegação do MFA foi ao Lungué Bungo em 15 de Junho de 1974 negociar a cessação das hostilidades com a UNITA; Foi aqui que Portugal reconheceu a UNITA como movimento de libertação. E pude visulizar Savimbi a defender a transição de Angola para a sua independência em sete anos e dizendo preto no branco que angola não dispunha de quadros e, nem os movimentos estavam preparados para governar a curto prazo.

mud13.jpg O nosso entre aspas, presidente Rolha Costa Gomes referiu então que: “Se fossem cinco já ficava contente. Até dois anos seria tão bom!”. Afinal quem prevaricou no pensamento? O matumbo pré-mwata da mata ou o Sua Excelência, o Rolha Presidente do M´Puto! Hoje tudo, mesmo tudo, pode virar verdade num milionésimo de segundo e logologo virar uma descarada mentira! Eu, T´Chingange, sempre o disse: é muito perigoso pensar!...

Mas, e, então aonde ficam os dez mandamentos!? Nós ficamos só assim, feitos sementes; numa obra dum acaso iludido assim como um imbondeiro de raízes ao ar. Sem nunca ter interpretado as intermitências da morte ou separação de duas febres sem arco-íris. Arco que por linhas tortas me é explicado por Deus, num espesso nevoeiro e aos soluços! Sempre! Bem que tudo o  podia ser, bem mais claro, sem ter que puxar pela minha cachimónia de fundir a cuca!

Usukula mundué ú hima kujibha nzapá... Tradução: lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão! Mensagem: Por mais conselho que se dê ao tolo, jamais chegará a sábio! Aiué…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:30
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Quarta-feira, 20 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 120

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3531 – 20.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

banco de angola1.jpg Convém agora relembrar o que alguns notáveis do M´Puto afirmaram em seu tempo, já após os acontecimentos no qual tomaram parte - Nos escritos de Pesarat Correia em Histórias de Abril pode ler-se: Sem o 25 de Abril Portugal teria falhado o seu encontro com a descolonização. No livro editado pela BKC – Book Cover Editora, Lda pôde confirmar que “até julho de 1974”, a guerra não só prosseguia  morna como se suavizava em alguns teatros de operações.
Só a UNITA aceitou negociar nas condições inicialmente propostas por Portugal. Acresce, que os movimentos de libertação eram apoiados pela ONU e OUA nas exigências que faziam a Portugal. Assim, só com a “Lei n.º 7/74 Portugal reconhece o direito das colónias à autodeterminação e independência.” – Portanto, é a lei n.º 7/74 que conduz, digamos assim, às negociações para o acordo de cessar-fogo e, mais tarde, às transferências de soberanias.

mfa2.jpg - O MFA e os militares estiveram sempre na liderança do processo que, evidentemente, contou com a participação de civis, nomeadamente, Almeida Santos e Mário Soares, em virtude das funções políticas que ambos desempenhavam. Os dois tiverem papéis importantes inseridos num contexto geral que era “determinado por militares”.
– Os membros da Junta de Salvação Nacional e todos os militares que, no seu conjunto, representavam uma emanação do MFA; a Comissão Coordenadora do MFA que tinha uma força política determinante; o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, o ministro sem pasta e depois dos Negócios Estrangeiros que passou a ser Melo Antunes; e ministros e secretários de Estado com influência decisiva, caso de Vítor Crespo que foi o primeiro ministro da Cooperação.

mfa1.jpg – Quem teve a maior importância nas transferências de poderes em Angola foi Melo Antunes - primeiro como ministro sem Pasta, depois como ministro dos Negócios Estrangeiros. – Na altura da transferência de poderes do colonizador para os representantes das antigas colónias que então se tornaram novas nações, meio milhão de portugueses regressou à “Metrópole”, número onde se destacam os oriundos de Angola que representam 61 por cento desse universo.
Em sua tese, Pesarat Correia diz que Portugal foi ultrapassado e não teve capacidade para evitar a derrapagem do processo. Via Wikipédia pude saber do surgimento do Grupo dos Nove, um grupo de oficiais liderados por Melo Antunes pertencente ao MFA de tendência moderada. Publicaram em 7 de Agosto de 1975 um documento que ficou conhecido como "Documento dos Nove".  Em realidade Rosa Coutinho e Otelo Saraiva de Carvalho do PREC, já tinham deteminado tudo; pintaram  e bordaram como bem o quizeram. Tudo  a contento emudecido dos ilustres  camaradas da Abrilada  e  Costa Gomes, o presidente Rolha mancumunado com Castro  de Cuba e  Cunhal do PC da URSS... O homem do pingalin, botas de cano alto, luvas pretas e monóculo da banga de nome Spinola, já era carta fora do baralho...

moka15.jpg Este documento tinha em vista a clarificação de posições políticas e ideológicas opondo-se às teses políticas do documento "Aliança Povo/MFA”, apresentado a 8 de Julho de 1975. Os nove conselheiros da revolução foram: Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pedro de Pezarat Correia, Manuel Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vitor Crespo.

moita2.jpg Os pressupostos do Acordo do Alvor nunca foram cumpridos, a guerra civil instalou-se e foi agravada ainda por interferências externas. Com os EUA muito presentes no terreno e a URSS a apoiar a intervenção cubana, contribuiu para que a guerra civil se reacendesse mais intensamente e arrastasse as intervenções externas. Por motivos desvirtuantes ao processo, o MPLA foi tendo a preponderância consentida e auxiliada pelas NT (digo eu) acabando por retirar do processo os outros dois movimentos: UNITA e FNLA…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Sábado, 16 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 118

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3529 – 16.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

dia207.jpg Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!

Na vinda ou ida dos refugiados de um para outro lado (como kissondes) mas e, principalmente para os lugares de embarque da Luua, praticamente não havia triagem; o controlo era precário. Nunca pude entender esta falta de cuidado na logística das coisas. Não havia tempo para decidir de quem estava ou não nas condições de perseguido, refugiado ou o que quer que fosse.

cafu13.jpg Não importava ser-se quem era e de onde vinha ou do porquê de estar ali. Era tudo ao monte e fé em Deus num sofrível seja o que Deus quiser, aos magotes com o natural berreiro e choros de adultos e crianças, ordens e contra ordens desencontradas ou nem tanto. Cães, gatos e outros animais de estimação foram largados ao descaso como heresia apócrifa!

Era mesmo um Adeus dado aos trambolhões às coisas, à casa, ao carro chevrolette, ao motor da GMC a fazer de gerador, dos gansos guardadores, mais o pavão e as galinhas fracas debicando miudesas debaixo do DKV. Ele, Deus, era só uma questão de fé interior, a vontade de querer e acreditar, mas Ele não surgiu a muitos; a lei da vida e da morte era um traço disforme, desfeito em cotão a confirmar que só somos enquanto somos, uma ilusão!

fuga6.jpg Desde sempre e, que me lembre de ser gente, observei que as leis foram inventadas pelos fortes para dominarem os fracos que são muitos mais; mas aqui não havia fracos ou fortes, só deprimidos… Num repentemente viramos escarro, nada ou ninguém - triste; cada qual cuspia para onde quer que fosse que nem monandengues. E entre estes, até surgiam rufias catadores de desaconchegos, gente do MPLA usando prepotência.

Aqueles rufias, para além dos cigarros, exigiam  com um extremo desprezo tudo o que lhes aprouvesse, pedindo relógios ou valores para se ficar sem dissabores nesta hora de partir; uma forma de pressionar o medo ou resquícios de ódios. Havia uma restea de ordem por alguns militares de Nossas Tropas mais conscientes! Valha-nos isso porque nem todos viam este desmando na forma do PREC, dos guedelhudos do M´Puto às ordens do diabo.

fuga9.jpg As leis, as atitudes, o MFA, nossos patrícios do M´Puto, os generais de aviário, mesmo que absurdas, já nos parecia tornarem o impossível em admissível e hoje, que penso muito e rezo pouco, recordo isto, procedimentos sem que ninguém averiguasse as diferenças aturdidos por pudor. Pudor, palavra complicada de entender - qual pudor qual quê!? Era um acaso feito lei, ali…

E, a frio, ora marcial ora uma prepotente aberração feita de coisa feito gente, drogados no cérebro, nas kinambas ou nos calcanhares. Nesse então, nós gente desavinda, podíamos ver já a força da crise com roubos subtraídos pela lei dos homens, pelas nossos guardiões militares com seus amigos, nossos algozes  – o MPLA, sem lei - nem velha nem nova ou tampouco ordinária ou arbitrária, nenhuma! Um salve-se quem puder! Mas, ainda há quem use paninhos de flanela para amenizar o inadmissivel…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:17
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Terça-feira, 12 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 116

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3527 – 12.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

guerra14.jpg (…) O Batalhão do Luso, o de “pé descalço ou em cuecas” (Segunda comp.ª do Cart/Bart 6221/74), deixou armas, rádios, munições e até material cripto. O comandante deste batalhão disse ter preferido ser enxovalhado do que pôr em risco a vida de 600 civis, deslocados com mulheres e crianças.  Uns dias depois a UNITA apresentou oficialmente desculpas a Ferreira de Macedo, o interino Alto-comissário.

Este procedimento das tais NT,  foi uma nodoa negra que se justifica talvez porque só tinham 3 meses de comissão; deduz-se que os instrutores seriam esses tais do PREC do CR que foi mandada para uma Angola desconhecida. Recordar que a UEC – União Estudantil Comunista chefiada por Zita Seabra tinha por função em Portugal de provocar a tal de IPA – Inssurreição Popular Armada que logologo, se estendeu até às hostes do MPLA em Angola.

guerri5.jpg Eu próprio (T´Chingange), vi na Caála – Robert Williams, estudantes da  UEC a darem instrução milirar aos candengues pioneiros do MPLA – jovens com seus 10 a 12 anos carregando armas de fingir feitas em madeira. Alguns militares daquele Batalhão do Luso, vim a saber que eram estudantes daquela leva da UEC e. que por este facto, ao regressarem tiveram passagens administrativas nos cursos que acabaram por concluir.

Muitos destes, passaram a gerir serviços técnicos nos organismos camarários e outros oficiais sem estarem minimamente preparados. Saíram arquitectos quando nem desenhadores se poderiam considerar e, por aí! Outros técnicos de aviário fizeram e fazem carreira sem terem a correcta aptidão para além de o serem uns abnegados militantes da esquerda, da onda do Ché Guevara via Zita Seabra (…) - gente preparada átoa, com devaneios por ideologias e, sem apego ao brio e ética.

gado1.jpg Aquele despontar sem preparo de oficiais de aviário espetando os peitos abrilescos, heróis de cinco minutos, o suficiente para a fotografia, fizeram a merda que fizeram. O baixar de guarda desta feita foi demasiado humilhante para um exército que se preze! Dá para entender todas estas ocorrências entre Agosto e o 11 de Novembro com escandalosa ajuda ao MPLA. Alguém disse e eu terei de concordar - “tropa de cáca”.

Nunca cheguei a saber se o Furriel indignado que deu uma chapada a um soldado das FALA foi ou não fuzilado como já li em qualquer parte! As fontes só dizem que foi levado para ser fuzilado ao qual o comandante afirmou: Fiquem com tudo, mas não façam mal a ninguém! Só quem lá esteve, poderá confirmar e acrescentar se sim, ou se não; se o Furriel foi mesmo fuzilado!

tonito11.jpg As confrontações em Sá da Bandeira tiveram início no dia 21 de Agosto pelos militares das FAPLA do MPLA acantonando as FALA e ELNA no quartel português; no dia 22 de Agosto, Costa Gomes, o presidente rolha do M´Puto, pediu formalmente o auxílio dos EUA. Precisava de ajuda para evacuar os restantes 330.000 refugiados que queriam sair de Angola. Carlucci reiterou as instruções chegadas a ele desde Washington para não negociar com o Governo de Vasco Gonçalves.

O auxilio dos EUA só se tonaria viável com a remodelação do governo do M´Puto com a saída de Vasco Gonçalves “o doidinho da esquerda” e, também as FAP em Angola não darem apoio ao MPLA (o que não se verificou…). Nós “retornados ou refugiados!” fomos a moeda de troca para virar Portugal para a direita pró USA! Fomos manipulados por nossos supostos irmãos do M´Puto… Fomos uns milhares de carneirinhos despojados de tudo; do periclitante direito à cidadania, do direito aos seus haveres, do direito à dignidade. Isto, nunca irei deixar de dizer, nem que me matem de morte morrida…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:35
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Domingo, 10 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 115

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3526 – 10.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moka24.jpg Em meados de Agosto de 1975 a luta era generalizada em Angola atingindo zonas que até aí tinham estado relativamente calmas. O MPLA dominava praticamente todo o litoral com excepção do distrito do Zaire. O Director da Companhia Mineira do Lobito, Horta Carneiro foi morto nas hostilidades entre a UNITA e o MPLA. Tornava-se cada vez mais difícil a deslocação das colunas militares portuguesas devido à falta de garantias por parte da UNITA.

Pela UNITA, havia o receio de serem atacados, acossados que estavam pelos constantes atropelos e, pela razão de as  tropas portuguesas designadas de NT, sempre ajudarem o MPLA. No Luso, o Batalhão e população civil que deveria ter saído no dia 16 de Agosto, teve de ali ficar retido por via das confrontações. Na base do Luso ainda havia 600 pessoas para retirar e só tinham alimentos para mais seis dias.

moka25.jpg A coluna que seguia para o Luso em apoio àquelas 600 pesoas,  foi barrada na noite de dezoito para dezanove; pela UNITA foi-lhes apreendido todo o material, inclusive as viaturas que iam nos vagões; foram saqueados, insultados e obrigados a se desfardarem. Chegaram a Nova Lisboa em cuecas e descalços tendo o próprio comandante do Batalhão Luso sido espancado e posto de forma igual aos demais.

Um Batalhão em cuecas e sem botas! Jorge Serro recorda que isto ocorreu com o Batalhão de Caçadores do Moxico. Se não erro, Rui Perestrelo, um amigo, com quem nunca dialoguei sobre este assunto, neste então, era o indigitado Governador por parte da UNITA. Também ele acabou por se juntar como refugiado para o M´Puto usando a ponte e instalando-se em Silves no Algarve. Veio a ser funcionário da Câmara Municipal de Lagoa e empresário na Vila de Carvoeiro (actualmente, algures em Angola).

moka12.jpg Após a morte de Savimbi, acomodou-se de novo junto à nomenclatura situada na Luua vendendo talvez a alma ao diabo – que sei eu…; um procedimento que se tornou no tempo, típico a qualquer militante e, de um qualquer partido. O Kumbú (dinheiro) sempre falou mais alto! A lassidão do trato português era tão elástica que tudo veio a rebentar-lhe na cara com a máxima tensão.

Em Portugal ainda se coabita com gente que ou foi carrasco ou procedeu duma forma desleal e, no entanto foram aceites como funcionários sem retaliação notória. Também esta, pode se considerada uma forma de trair! O lugar de muitos, seria em outro qualquer lugar, menos no M´Puto. Mas, quanto ao Batalhão de “pé descalço ou em cuecas” deixou armas, rádios, munições e até material cripto.

moka15.jpg Foi o próprio Chiwale, segundo comandante militar da UNITA daquela região, que ordenou esta acção contra este Batalhão; diz ter sido como represália ao comportamento das NT que era de lamentar… (quando escrevo estas duas letras até me arrepio) em Sá-da-Bandeira houve sim altercações por parte da UNITA. E, porque conteceu ser verdadeira esta afirmação! Pois, porque foi assim com as FAP a distribuíram armas ao Poder Popular na tutela do MPLA do Lubango! A eles entregaram todo o armamento da “OPVDCA” fardas, variado equipamento e explosivos…

Quem lá permaneceu neste meio tempo, no pré e pós-independência, sabe que isto é verdade! Mentem quando tentam sanar o envolvimento do exército português; também por ali havia bastantes comunistas que se enfileiravam na victória ou morte mas, também para eles a coisa mudou e, lá foram regressando dizendo-se refugiados; uma coisa diferente daquele carisma típico adquirido por retornados! Uma hipocrisia que só em surdina reconhecem! Muxoxos de N´Gola! Dirão agora:- como fomos torpes! Muitos amigos sabem disto e até já nem o escondem! Será bem melhor darem a conhecer ao mundo o que em verdade, se passou! Assim se ressarcirão de algo menos correcto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:44
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Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 114

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3525 – 07.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

quem1.jpg (…) - Um Deus nos acuda com um salve-se quem puder! Entretanto as tais Nossas Tropas já eram poucas para controlar quem quer que fosse. A UNITA boicotava enquanto os homens de Chipenda, agora da FNLA, escoltavam com pagamento de 3000 contos os refugiados até à fronteira Sul. Oshakati era o ponto de encontro das caravanas saídas de Malange, Uíge, Nova Lisboa, Lobito, Novo Redondo ou Benguela e mesmo da Luanda já tão martirizada.

Um pouco de todos os lados, em grupos ou deslocados como formigas sem tino, fugiam simplesmente. Alguém lhe desfazia o carreiro do rumo acertado. E, o rumo era a paz, a fuga aos tiros, às atrocidades gratuitas, regra geral para o Sul e para a costa Atlântica. O destino era Grootfontein com a supervisão de militares e autoridades Sul-Africanas.

step6.jpg Era ali que se situava o campo de recepção aos refugiados. Ali chegavam camiões, automóveis e veículos de toda a ordem e também máquinas de terraplanar, caterpílares e tractores com alfaias. Em uma destas caravanas seguia meu compadre José Matias que resultado de um desencontro, ele foi e eu fiquei! Tinha-me deslocado a Luanda a fim de levar minha sogra para casa de um outro filho que vivia na Maianga da Luua.

Pois aconteceu que o que vi nesta viagem por terra, desvaneceu-me por completo a vontade de ficar na N´Gola que tanto queria. E, vi casas queimadas, povoações abandonadas, gente deambulando de um lado para outro sem uma precisa orientação. Em Muquitixe estive encostado a um muro velho com minha sogra idosa!

tio Sam01.jpg Não se sabia o que poderia sair daqueles drogados que revistavam o autocarro aonde seguíamos. Podíamos ter sido ali, metralhados, como num filme de revolução, cuja morte parece sempre surgir junto a um já esburacado muro! Simplesmente isto, não aconteceu. Ninguém se culparia e nem haveria de jurar a alguém! Parecia não haver esse tal de alguém; simplesmente, assustador!

Estes comboios de refugiados eram escoltados por norma pelas tropas portuguesas e também do MPLA numa já perfeita parceria de zelo de estado. Criou-se assim um autêntico corredor entre as cidades do Centro e Norte a Namacunde pela estrada principal do Sul. A falta de gasolina, água e alimentos tornava-se cada vez mais dramática pela carência.

guerra20.jpg Trocavam-se contos ao desbarato por tambores de gasolina. A tropa portuguesa assistia agora à fuga de milhares de ex-colonos e naturais com um sentimento de impotência, coisa confrangedora para alguns. Não haveria desculpas para esses militares (a maioria)  que obedeciam cegamente a seus comandantes de aviário, os cérebros do Concelho da Revolução com  muitos civis que se ufanavam deste feito como sendo coisa exemplar.

Prometi a mim próprio recordar estas tristes passagens, tempo de tão mau augúrio para um Império que ruiu da pior forma, sem dignidade; tudo feito por empedernidos fanáticos que a troco de uma centelha ideológica empederniam-se num regime despótico e anárquico entregando as gentes à sua guarda ao descaso, aos entretantos …

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Terça-feira, 5 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 113

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3524 – 05.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

roxo60.jpg Havia uma junta Governativa em Angola mas o MPLA fazia tábua rasa desta, assumindo suas antigas funções ministeriais, assinando diplomas sem respeitar a restrição imposta pelo Decreto-Lei de 14 de Agosto de a 1975. O Ministro Said Mingas (Dias Mingas), um meu antigo colega de carteira na E.I.L. por uns bons cinco anos, introduzia restrições à exportação de viaturas, só autorizando a saída de uma viatura ligeira por agregado familiar.

Em verdade o MPLA estava a proceder como um governo sem cumprir os acordos preestabelecidos com as demais partes do Acordo de Alvor - Penina. Seria obrigatória a verificação aduaneira rigorosa de todas as bagagens e mercadorias com destino ao exterior de Angola. O curioso de todas estas medidas foi ver mais tarde gente que fazia o controlo de bagagens nos portos e Aeroportos inscreverem-se em Portugal no Quadro Geral de Adidos e ocuparem até lugares públicos no aparelho de Estado Português.

t´chiku3.jpg Não se verificou nenhuma retaliação ou marginalização a estes caras-de-pau que dizendo-se uns mwangolés de primeira apanha, fugiram também para a segurança da Metrópole. Outros houve destes pseudopatriotas mwangolés que nem sendo funcionários no Ultramar arranjaram testemunhas e por declaração integraram-se como funcionários no M´Puto; a mesma que eles tanto abominavam.

Não vou aqui denunciar este ou aquele nominalmente embora me tivesse inteirado desta irregularidade grave; gente com quem lidei e que ainda anda por aí. Uma grande parte de quem lê esta Viagens, sabe que isto é uma verdade. Pode dizer-se assim que os carrascos, os mesmos que nos retiraram os anéis, ainda tiveram o gozo de usufruir benesses quando mereciam o inverso - ficar confinados às  suas masmorras. Para estes vou só dizer: “Usukula mundué ú hima kujibha nzapá...” (lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão!)

guerri6.jpg Nenhum destes que retornaram a Angola, agora bem acomodados por lá e, alguns pertencendo à nomenclatura do governo podem dizer que foram destratados no M´Puto. Entretanto as FAP (Forças Armadas Portuguesas) limitavam-se só a garantir a integridade dos refugiados sem actuar na gestão da governação. Em meados de Agosto, Mingas, assinou o Decreto que limitava os levantamentos de depósitos bancários a vinte contos por mês em vez dos quinze contos semanais permitidos e, passava a ser interdita a saída da moeda angolana do país bem como a loteria premiada.

Leonel Cardoso, o novo inquilino como Oficial Superior do sinistro C.R. mais Ferreira de Macedo, o Alto-Comissário interino, mantinham-se encerrados no Palácio da Cidade Alta servindo os interesses do MPLA por imposição do Concelho da Revolução, em verdade o auto intitulado governo - os genuínos donos de Angola por afronta permitida. Forneciam a estes dados estratégicos e fotografias aéreas para desmantelar tanto a FNLA como gente descontente.

fuga1.jpg Muitos portugueses foram parar às prisões da Boavista ao Bungo e praça de toiros do Bairro Caputo. Muitos saíram de lá metidos em lençóis para as covas do Cemitério de Catete ou para os jacarés do Lifune, Kifangondo ou Panguila. No Caxito, havia avanços e recuos da FNLA e MPLA; O ELNA controlava a 13 de Agosto a Barra do Dande tendo reconstruido a ponte e mantendo três colunas militares em suas margens e um outro menor grupo na estrada do Cacuaco.

As FAPLA recuavam para Sul da picada da Barra do Dande-Kifangondo. Em Cabinda as FAPLA eram donas da situação em todo o enclave. O alargamento da guerra para Sul leva milhares de pessoas a efectuar uma penosa epopeia, romaria sem retorno em direcção ao deserto do Namibe com muitas e variadas peripécias de chantagens como garantia de protecção, isto ate chegarem ao Sudoeste Namibiano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:04
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Domingo, 3 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 112

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3523 – 03.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

quem4.jpg(…) E, tinha gente treinada na Metrópole (Lisboa), propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA. Do vinticinco de abril de 1974 até ao 25 de novembro de 1975 muita coisa se fez à revelia da vontade do povo e, por muito pouco não ficamos debaixo da alçada da União Sovietica. Alguns, irão sempre dizer que não, pois que em realidade parece uma peta feita mentira; o certo é a de que militares pagos pelo M´Puto, com ideário afecto ao Concelho da Revolução ficam inteiramente destacados naquele movimento terrorista como se dele fossem, com camuflado igual ao do MPLA.

Havia gente seleccionada pelo PREC de Otelo Saraiva (o Ché tuga…) Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais encafifado e, só alguns oficiais o sabiam; os não alinhados destes ou do contra, seriam logo conotados como fascistas. Até surgiu um selo mentiroso do M´Puto alusivo ao MFA com dois populares, um com um chapéu de campino e outro segurando uma arma. A mim sempre me pareceu muito feito a propósito por o ser verdadeiro!

chai0.jpgNakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem. Neto reclamava a  saída deste! Ele, Neto, o poeta, queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andavam a assobiar ao vento!
Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento, tornados heróis como se isso o fosse de forma “avulso”. O MPLA venceu a Batalha de Luanda expulsando a UNITA e a FNLA com a inequívoca ajuda do glorioso MFA do M´Puto (isto sempre o será repetido…)

mfa1.jpg Em verdade a Batalha de Luanda resumiu-se ao duelo entre MPLA e a FNLA, enquanto os soldados e militantes da UNITA, sem armas para retaliar, se tinham simplesmente resignados a fugir. Os que não puderam fugir, foram simplesmente massacrados aos milhares (maioritariamente negros mas e também, alguns brancos). Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo…
(…) A UNITA não permitia a entrada da tropa portuguesa em Nova Lisboa (Huambo) alegando que em outros pontos do território as FAP assumiam atitudes favoráveis ao MPLA e tinham toda a razão para assim procederem. A UNTA deu 24 horas às FAPLA para saírem de Nova Lisboa e assim veio a acontecer com a escolta protectora das Nossas Forças (NT) até ao Dondo, um bastião carbonizado em posse do “glorioso” MPLA…

chai1.jpg Pode notar-se nesta descrição o comportamento diferenciado por parte da UNITA em relação às outras forças; certo que tudo iria descambar mais tarde para coisa ruim mas as contingências da guerra aberta e sem mando capacitado, já não permitiam manter o aprumo desejável. Neste então a UNITA deu tempo às FAPLA para recuarem ao invés destes e das FALA que atacavam sem prévio aviso e com todo o potencial mortífero.

No Cunene, as tropas da UNITA já faziam rusgas aos trabalhadores Sul-africanos nas barragens de Caluéque e Ruacaná por se recusavam a regressar ao trabalho. Recorde-se que estas estações hídricas estavam cercadas pelas FALA, o braço armado do MPLA e os naturais Ovambos negavam-se a trabalhar sem garantias de segurança; foi assim que a queixa de Pretória chegou à Embaixada Portuguesa.
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:25
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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