Peguei aleatoriamente no ANO EM QUE ZUMBI TOMOU O RIO - 06.02.2019
Escrito por José Eduardo Agualusa
Por
T´Chingange, vulgo António Monteiro . No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
Hoje choveu e por isso espreguiço aqui mesmo em meu mukifo. No meu olhar de xicululu, assim um olhar de esguelha ou olho gordo, martelei por cima do meu sobrolho a frase de que “Os portugueses são o povo mais atrasado da Europa porque há séculos que se misturam com os negros” e, fiquei assim um pouco a remoer muxoxos asneirentos por o caso ter raspas melindrosas e, calhou na página 94 do Zumbi ler uma passagem em que mete um negão repentista na prosa e poesia de nome Jacaré.
Jacaré, um moço alto, soturno e com uma pesada cabeleira de rastafári chega chegando, molengão, dando um leve toque de dedos no Louis Armstrong, o “procurador” que vós conheceis:
- E aí, meu irmão?!
- Beleza, chefe.
- Canta aqui para o Frank Sinatra (eu) teu rap, «Preto de Nascença», tá ligado?
- Jacaré começou imediatamente a sacudi o copo ao mesmo tempo que declama:
«Era um preto com alma de branco dizia a tudo, sim doutor, está muito certo doutor, só queria trabalhar mas exigiam boa aparência, sim, doutor, está certo doutor (ele tinha uma infinita paciência).
Era um era, num era, um preto que sabia o seu lugar sim doutor, sim doutor seu filho em casa de barriga vazia e ele: sim doutor, está certo doutor.
Sua mulher morreu de bala perdida e ele: a vida doutor, esta nossa vida.
Seu pai morreu de bebida e ele sempre: sim, doutor, está certo doutor, seu filho morreu de fome.
E então um dia o crioulo endoidou, mudou de atitude, mudou de nome, chega de tanta dor.
Agora sou Zumbi, sou Xangô, sou Lampião. Agora sei qual é o meu lugar sim, doutor, é no meio dessa briga meu lugar é no Morro da Barriga.
E se você é o elefante e eu sou a formiga ainda assim deixe que lhe diga, não tenho medo, perdi o medo. Sou preto, sim, conheço minha cor a cor do seu medo, doutor mas minha alma é azul anil conheço meu lugar esta terra adorada entre outras mil, és tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo mãe gentil, Pátria amada, meu Brasil»
Jacaré sacode o suor do rosto, senta-se náreia, pede uma Coca-Cola. Sorri para o procurador, para mim também:
- Gostaram?
Ambos ficamos impressionados e falei:
- Os versos são ruins
- As rimas, um desastre.
- Mas a mensagem parece-me forte, muito forte na verdade, não esperava por isto. Jacaré explicou que os últimos versos pertencem ao hino nacional. Os burgueses irão ficar chocados quando escutarem isto. Bom! Falo eu: - Portugal recebeu os primeiros escravos negros em meados do século XV. Dezenas de anos depois, os negros já eram 10 por cento do total da população lisboeta. Essa percentagem viria a crescer para 13 por cento no século seguinte.
A pergunta imediata é a seguinte: Que destino tiveram estes africanos? Regressaram a África? A resposta é não! Eles foram absorvidos, misturaram-se do ponto de vista genético, social e cultural. Eles ajudaram a construir a Portugalidade introduzindo valores e dados culturais novos. A palavra minhoca é apenas uma de dezenas de outras marcas no domínio linguístico. Olhem que no Ribatejo havia aldeias cuja população era maioritariamente negra. Jacaré e o procurador olham reticentes curvando as pálpebras. É mesmo?
Minha amiga Maria Carapinha tem este nome porque seus trisavôs eram negros retintos e, hoje já nem os traços negróides têm. Basta ir beber uma ginjinha ao largo S. Domingos em Lisboa para termos esta sensação; no Cais do Sodré já não resta nenhum sinal das negras que ali vendiam mexilhões. Podemos descobrir testemunhos dessa presença em quadros, azulejos e cerâmicas variadas. Falando com meus amigos aqui na praia da pajuçara relembro um tal de Thomas Malthus que na sua visão religiosa de ver o mundo a nuo, disse disparates grossos.
Palavra puxa palavra, cheguei a Hitler e às técnicas segregacionistas do Apartheid na África do sul para não falar dos próprios americanos e, os seus primos Australianos. Nem sei porquê os brasileiros gostam tanto assim, dos gringos. A conversa ficou por aqui mesmo… Até amanhã doutor (era eu). Assim se despediram de mim e, ali fiquei especado olhando o vento sem saber se eles entenderam metade do que disse.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA