-Este grunho dos CV deve se de Angola – fala de gweta cangundo como os da Luua** - 15.03.2019
Escrito por – José Eduardo Agualusa
Por
T´Chingange ...(ADENDAS). No Nordeste brasileiro
Livros em cima do criado mudo (mesa da cabeceira)
1 - A minha Empregada - Editorial Estampa de - Maggie Gee
2 - O ano em que Zumbi tomou o Rio - Quetzal - José E. Agualusa
3 - O Último Ano em Luanda - ASA - Tiago Rebelo
4 - BURLA EM ANGOLA – Burla em Portugal - Guerra e Paz – Susana Ferrador
5 - História da riqueza de brasil – Estação Brasil – Jorge Caldeira
6 - GLOBALIZAÇÃO de Joseph E. Stiglitz
7 – VIDAS SECAS – Graciliano Ramos
8 - A viagem do Elefante – José Saramago – Da Caminho
9 - O Livro dos Guerrilheiros de José Luandino vieira - Da Caminho
10 – O CORTIÇO - Romance de Aluísio de Azevedo – IBEP – S. Paulo, Brasil
:::::154 Euclides, o jornalista benguelense sai aturdido do Clube Francês, lugar da conferência de imprensa com negociações. Nesta zona libertada pelo CV – Comando Vermelho, Ernesto, o motorista, espera-o estendido de costas no passeio, uma garrafa de whisky servindo-lhe de almofada, as mãos cruzadas sobre o ventre. Nestes dias tumultuosos já quase não circulavam táxis nas ruas da zona Sul do Rio, zona libertada para o Comando Negro.
:::::155*
(O Rio estava a passar por uma situação muito parecida com a Luua do ano de 1975, tempo do Poder Popular com intervenção dos Pioneiros, uma Criação dos Comunas Tugas como Rosa Coutinho e outros FDP, para Angola e, que resultou na fuga dos gwetas colonos – O medo aqui tal como lá, dissuadia o cérebro… Foi o que eu, relator anotei por ter ouvido e, que não vem escrito neste Zumbi que tomou o Rio.)
:::::156 - Eu gostava de ser negro – diz o jornalista benguelense. Na sua voz melancólica pressente-se um arrebatamento que é nele pouco comum: - Sou sincero. Gostava de se um Leopold Senghor, um Aimé Sesaire ou mesmo Sam Nujoma. Gostava de saber dançar como um negro, ao som da música de Louis Armestrong… Entretanto a cidade ia ficando anoitecida; sombras remexem-se ao redor num bailado de espectros. Ao longo da praia, de quando em quando, as fogueiras tremelicam a escuridão. São as luzes dos soldados do morro; do CV – Comando Vermelho.
:::::157
Nas esquinas das ruas o lixo acumulado desprende um fedor insuportável. À medida que se aproximam da linha da frente da Glória – Frente Leste, surgem mais fogueiras, em pleno Calçadão multiplicando-se em número de homens armados. Um grupo de guerrilheiros com aspecto muito jovem, pioneiros afro-ameríndios-descendentes (de indígena do continente americano) manda parar o carro. Apontam a lanterna para o rosto de Ernesto: - Onde tu tá pensando que vai?
:::::158 - Euclides mostra a carteira de jornalista. Estende-lhe uma nota de cinquenta reais. Seguem. Quinhentos metros à frente a estrada, está cortada por pneus, rolos de arame farpado, uma cancela improvisada. Cinco ou seis carros aguardam na fila a vez para passar. Do lado de cá, formou-se uma feira livre, com gente a assar frango, em largas grelhas de ferro, a vender pasteis e cachorro-quente, cerveja fria e água - uma por três reais e duas por cinco.
:::::159
Vários jovens candengues, quase todos com uma metralhadora ao colo, estão sentados no asfalto diante de uma televisão. Há gente a jogar às cartas como se nada se passasse de anormalidade. Do outro lado o rugido de um gerador, fazia-se ouvir por detrás dos mukifos, um zumbido que parecia meter pregos mas, que davam luz em holofotes resplandecendo dezenas de carrinhas da Policia, ambulâncias e quatro blindados.
:::::160 - Euclides, o benguelense jornalista, salta do carro. Sabe que embora a fila de carros seja curta, a negociação de paz entre o Governo Estatal e do Rio com o Comando vermelho, pode demorar. Dois soldados do morro discutem com um policial. Escassos metros os separam. Toda uma vida parada num ritual de passagem: - Nós não somos o inimigo, não, malandro. Tu és bem pretinho, tu és um fodinha, feito agente… Com fobia de ser mulato, o benguelense ouvia já na dúvida de se era bom ser assim – um preto*.
:::::161
- Calma aí! Sou negro mas não sou bandido não. Trabalho duro. Não me meto em baderna (amigo de farra, considerado um inútil, desclassificado…*). Um outro policial, um tipo muito alto, rosto coberto por um capuz preto, apenas com uma estreita abertura para os olhos, aproxima-se do primeiro segredando-lhe qualquer coisa ao ouvido. O soldado do Comando Negro provoca: - Vais ser sempre um pau mandado do branco!? Se liga, meu, tu tá combatendo tua própria gente. Não ouviu o que o teu chefe Weissmann anda dizendo, não? O cara quer mandar todos os crioulos para África…
:::::162 - O CV contínuo: - Teu chefe gweta vai ter de encontrar um barco do tamanho do Brasil… Dito isto ri com gosto levantando o punho esquerdo desenhando um “C” e o direito fazendo um “V”*. Euclides fica na dúvida pensando - este grunho dos CV deve se de Angola – fala de gweta cangundo como os da Luua**… E, assim no meio destas periclitãncias vê que o policial encapuzado reage enraivecido. Grita com um forte sotaque gaúcho, voz roca de muito “chá-mate”*: - Está rindo de quê seu banana!? Vou aí e quebro a tua cara, sua bicha*!...
:::::163
Bartolomeu Katiavela surge nesse momento, vestido com o uniforme de general do Exército angolano, repreende o rapaz. O policial governamental volta-se contra ele: - E tu, porque não vais fazer a guerra no teu país? Katiavala enfrenta-o. Está ali tão firme, tão íntegro, tão prepotente, que parece ter sido aparafusado ao chão. Entretanto ainda ouve o outro a dizer: - Quanto dinheiro esses filhos da puta*, esses marginais estão te pagando? A voz de Katiavala, límpida e sem esforço, assim como a de Net King Cole, sai com decibéis, sotaque coimbrão, acima do ronco do gerador Honda: - Porque não tira essa mascara? – Assim como está, parece um bandido.
( Continua…)
Notas: *Item da autoria de T´Chingange; **gweta é branco; cangundo é branco de baixa condição, do musseque…
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA