Estou de range rede…! O tempo da Kalunga, ruge…
Em Cabassa de Angola nasceu N´Zinga M´Bandi N´Gola que mais tarde ficou conhecida como Rainha Ginga – 09.02.2020
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
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15 – GINGA – Rainha de Angola de Manuel Ricardo Miranda
Em Cabassa de Angola nasceu N´Zinga M´Bandi N´Gola que mais tarde ficou conhecida como Rainha Ginga. Foi de 15 para 16 de Janeiro do ano de 2009 que eu e minha cara-metade de nome Ibib, passamos a noite na Residência Camões, uma residencial modesta situada bem perto da Praça também de Camões e, tendo mesmo em frente a Embaixada do Brasil. Ficamos na Rua do Poço dos Negros, Bairro Alto, um lugar em que os escravos de tempos passados levavam em baldes a merda e o mijo dos Nobres de Lisboa.
As barricas de penicadas eram despejadas num poço ou directamente no Rio Tejo. Neste então havia no ar um cheiro constante de bosta com coisas nauseabundas à mistura como gatos e cães mortos e vísceras indiscriminadas. Arrepia até escrever isto mas assim era naquela época medieval da qual saíram pestes negras e de outras indefinidas “cores”. A toponímia local faz-nos lembrar também o mar, a kalunga distante com kiandas, gaivotas e pescadores mas, o sítio será sempre restos de má memória porque assim se caracterizou.
Fala-se na existência de uma carta régia de D. Manuel I, datada de 13 de Novembro de 1515, escrita em Almeirim e dirigida à cidade de Lisboa, sobre a necessidade de ali se depositarem os corpos dos escravos mortos, sobretudo aquando de surtos epidérmicos que diga-se, deveriam ser muitos. Diz a carta que os escravos eram mal sepultados e muitos seriam mesmo lançados na lixeira Cruz da Pedra na actual, Rua Marechal Saldanha que está no Caminho que vai da porta de Santa Catarina para Santos, ou para a praia, onde ficavam à mercê da voracidade dos cães. Posso imaginar a nojeira que era nesse então.
Se falar de Paris daquele tempo talvez tenha uma visão ainda mais aterradora se rebuscarmos nas Tulherias esse então tão revolucionário aonde os cavalos relinchavam entre valas escorrendo negrura para o rio Sena; por este motivo os franceses apuraram cheiros tornando-se os melhores fabricantes de perfumes. Esses tempos medievais eram tão nojentos que o ar era empestado pelas fezes dos muitos cavalos que talvez aos milhares salpicavam o agora Arco do Triunfo ou os Campos Elísios.
Foi no dia seis de Janeiro que obtive o visto de residência no Brasil e, com a assinatura dum tal senhor adjunto do Cônsul de nome M. Novaes que me pareceu muito cheio de nove horas. Nesse então já era proprietário há três anos de uma casa na Praia do Francês. Bom! Mas vamos então à descrição muito parcial do livro do dia e sem maka porque diz um provérbio do Catambor da Luua que em maka de brancos, só os burros se metem! E, assim chegamos aos engenhos de assucar num mês de Agosto, a altura certa da moagem da cana.
A moagem tinha início logo pós o despontar do dia e ia até o pôr-do-sol; durante os três meses de trabalho intenso tudo teria d funcionar como um relógio. Quando algo corria mal, haveria sempre um culpado a apontar! Munidos de foices, catanas ou facões, os homens cortavam a cana e as mulheres amarravam-nas em feixes de doze unidades. Cada escravo era obrigado a cortar diariamente trezentos e sessenta feixes, que as mulheres a seguir, teriam de amarrar.
O sonho da liberdade não se desvanecera, contudo a fuga do engenho só era possível em direcção ao agreste e depois sertão. Kanjila, já por várias vezes vira o que acontecia aos escravos fujões; eles voltavam quase sempre ao engenho, normalmente ao fim de alguns dias, debilitados e até feridos pelas dentadas dos cães de fila que acompanhavam o guardas nas buscas. Vinham carregados de ferros!
Por último, quando regressavam ao engenho, eram submetidos a castigos no tronco. Eram chicoteados e por vezes ou quase sempre era-lhes aplicado um ferro em brasa na cara gravando-lhes um “F” de fugitivo. Os que não regressavam eram possivelmente capturados pelos índios selvagens e, certamente comidos. Kanjila interrogava-se muitas vezes sobre qual seria a situação do seu reino do outro lado da kalunga.
E, sempre que chegavam novos escravos ao engenho, procurava sabe por eles, notícias da Matamba, do seu Kongo de N´Dongo mas nem sempre com resultados pois que ou eram de Minas, gente do Zaire, ou Muçulmanos e, muito raramente da sua etnia. Assim pensando e metidos num atoleiro apareceu o capataz, um encorpado mulato mazombo que por via deste empate e quebra de rendimento, logo o ameaçou levar ao pelourinho, o tal tronco das calamidades…
Assim e afastando-se o capataz ainda deu para ver seu sorriso maldoso, batendo o chicote no cano alto de sua bota. Naquele engenho era prática em cada qual fazer sua comida, farinha de mandioca, feijão de corda numa mistura de charque trazido das terras do sul, Cisplatina; Pampas aonde havia muitos animais em estado de soltura. Hoje podemos apreciar esta carne na forma de sarapatel ou carne de sol mastigando por vezes gengibre em defesa dos muitos infestantes na forma de parasitas; este costume ficou e, recomenda-se quando se come o tal de sururu (mabangas da lagoa…).
ADENDA DO PROFESSOR JÚLIO FERROLHO
Gostei muito desta crónica tropical-afro-lusa do nosso Soba mas a questão (do Poço dos Negros) é muito polémica. Interessei-me por esta matéria porque vivi a minha juventude de estudante naquele bairro de Santa Catarina, Bairro Alto, S. BENTO nas décadas de 1960-70. Percorri a pé milhares de vezes nos anos de solteiro e depois de carro a Rua do Poço dos Negros. Há quem afirme que o Poço dos Negros não deve o seu nome ao facto de se atirarem para dentro dele os ditos mortos, mas sim a uns frades. (Devo confessar que não tirei ainda a limpo a Carta Régia de D. Manuel que o António cita). O que é certo é que no séc.XVI, quando Lisboa era assolada por epidemias de peste, sabe-se que o rei D. Manuel mandou abrir valas comuns para recolher cadáveres pestíferos, quer pelo facto das igrejas estarem sobrelotadas, quer para evitar contágios. Sabe-se mesmo que uma dessas valas foi aberta não longe desta zona do atual Poço dos Negros, então área erma na periferia da cidade. Após o concílio de Trento, os dois ramos dos frades beneditinos (patrono mor S. Bento), ordens até então instaladas no mundo rural, começaram a construir conventos dentro das cidades. Os cistercienses, ditos os Brancos dada a cor das suas capas, abriram no convento do Desterro uma "sucursal" da casa-mãe de Alcobaça. Quanto aos cluniacenses, chamados os Negros, por ser dessa cor a sua larga capa, vieram de Tibães e Santo Tirso para a capital. Adquiriram uma enorme propriedade na encosta que hoje chamamos a Estrela, limitada em baixo pelo vale que rapidamente se chamou de São Bento. No princípio da encosta, construíram, a partir de finais do século XVI, um enorme mosteiro, dito de São Bento, que hoje é a Assembleia ds República, que já foi as Cortes e a Assembleia Nacional do estado novo. Como é sabido a zona ocidental de Lisboa foi sempre carenciada de água, pelo menos até D. João V construir o Aqueduto.
Por isso qualquer nascente era uma bênção. Acontece que os padres Negros, como todos lhes chamavam, dispunham, no limite sul da propriedade, mesmo no vale verdejante, de um poço farto que rapidamente - talvez até para ganhar simpatias - puseram à disposição da vizinhança. Daí, agradecidos, os beneficiários usufruíam a água preciosa que os padres lhes ofereciam, chamando-lhe por isso o Poço dos Padres Negros, ou, para encurtar, o Poço dos Negros. Pela lógica das coisas e dos usos e costumes destas gentes parece-me pouco provável que se atirassem para dentro de um poço com água para beber e cozinhar cadáveres empestados. Acresce que os negros escravos de que se fala eram normalmente batizados pela igreja católica, como era costume e como condição prévia para serem negociados. Não se compreende que se atirassem para poços cadáveres de criaturas crentes de Deus sem os sepultar. Daí a minha convicção de que esses deveriam ser enterrados nas grandes valas comuns que o rei Manuel mandou construir.
J.F.
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