NAS FRINCHA DO TEMPO – KIANDA COM ONGWEVA - Com Zé Peixe de Aracaju e as Sereias Roxo e Oxor, algures num recife, por vezes numa bóia… 5ª de várias partes…
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Prometi a Assunção Roxo que iria socorrê-la com uma lenda do mar um verdadeiro golfinho feito homem; uma parcial inventação falando do personagem que vi em vida, e com quem falei algures em Aracaju de Sergipe.
E, tudo teve início para a livrar Roxo do tormentoso “Princípio da Incerteza” que formata a matemática quântica. Como em todas as novelas, os dramaturgos mudam no correr do suspense os episódios e, agora com este desafio de avançar com a estória de Zé Peixe e as Sereias Roxo e Oxor, vejo-me forçado a recorrer a um amigo tão, tão antigo, que anda por aqui e ali, volatilizado no tempo; chama-se Januário Pieter. Esta lendária figura, surge-me sem hora marcada nem outros entretantos, quando fico encafifado, descomplicando-me as verdadeiras vistas do paralém, paratrás e paracima com suas vertiginosas chiadeiras na fricção do tempo, subindo e descendo sem curvas, assim como se entrasse num portal muito tapado de cacimbo!
Com ele, já será possível esticar a estória andando no espaço-tempo de forma aleatória e acrescentando mais episódios com sereias e kiandas da Calunga com gente normalíssima da silva assim como um tal de Joaquim de Lisboa que em dada altura e para sobreviver em sua traineira teve de fazer uma caldeirada de peixe voador com solas variadas de sapatos mais quedes com sola de pele de boi, marca macambira e umas cascas de mandioca que serviam de isco na apanha desse tal peixe com asas.
Lá atrás expliquei que Sereias são Kiandas que fazem parte da kalunga, "grande mar", entidades fortemente ligadas aos Orixás e Iemanjás das águas do mar, um poder regenerador no campo sentimental. Chamarei de kwangiadas às ninfas do Kwanza e de Zairiardes às do rio Zaire ou Congo em Angola. Lá mais para a frente iremos reencontrar as sereias ou kiandas de Guaxuma com que tive a experiência mais recente e aonde pude ver sentada a Serei Roxo, tetraneta daquelas, rogando socorro a um mortal como eu. Só mais tarde me dei conta de existir uma outra igual, uma gémea vista por reflexo ao espelho.
Pois então, num pedaço de nada, acabado de cochilar na minha rede de Pambu N´jila a escassos metros da Calunga, lugar de antigas Sesmarias do M´Puto jiboiando no sopro da primavera ele, veio até mim. No cumprimento do sonho, dei-lhe um abraço de completo vácuo; era Januário Pieter, meu guia-surpresista. Quase chorei de comoção por uma tão grande e distinta deferência. Nós que vivemos no além (referindo-se a ele e, curiosamente incluindo-me), podemos fazer diversas coisas, mesmo sem entender como as realizamos tais como locomovermo-nos e plasmarmo-nos, disse em jeito de comovida explicação (pude ver isto pelo seu semblante e ruga de seu templo, testa. Neste meio tempo e depois de ter estado contigo em Zanzibar, formei-me “engenheiro espiritual” em Toledo; dizendo isto como se tudo tivesse acontecido escassos dias antes, disse que por via dessa formação e, através dos fluidos da natureza, conseguia pelo pensamento, criar no espaço, paisagens de multicolores holografias. Só apareço porque as pinturas relampejantes de Assunção Roxo me chamaram a atenção; foi quando reparei no assunto embrulhado de cacimbo, em que te meteram ou te meteste.
Desde que sou “engenheiro espírita”, explico o que custa a apreender às gentes desavindas mas, boas como tu (referia-se a mim) que nutres de paixões, orações e bons pensamentos. Neste meu estado, luto contra atitudes de espíritos que não são evoluídos, que não possuem compreensão e que ainda estão arreigados em paixões inferiores. Apontando para o jardim, foi falando, estás a ver aquele melro a esgadanhar tuas sementeiras, coisas que tu aprecias, e as gralhas que por aí vão passando em bandos! São condicionantes a que eu recorri para teu exclusivo agrado e, porque agora estás virado às coisas terrenas de beira-mar, venho em tua ajuda. Conferenciaremos sobre esse tal de Zé Peixe e suas ancestrais gerações em conjunto com tuas amigas Roxo e Oxor que tu tanto referes quando te espraias nas reflexões de arco-íris, as cores de roxo.
Nunca antes, Januário Pieter, figura recriada por mim, se referiu assim tão directamente como um especial meu assessor. Enquanto isto, as notas de Dó a Si do espanta espíritos da varanda N´jila do pátio andaluz, saudavam-nos mas, creio que mais propriamente à kianda ilustre vinda do álem com os ventos de primavera. Sorrindo, indiquei-lhe o lugar da rede a meu lado, contente com sua desejada visita, dizendo-lhe que a minha principal procuração, era tentar ser útil, sentir a gratidão vendo sorrisos em olhares tranquilos, viver com dignidade e saber contribuir para alguém também ficar bem. Fabricando a felicidade com pouco mais que nada, ali estávamos prontos a desfrisar estórias de inventação, sem menosprezar a vontade de fazer ao querer fazer, sem sugar energias alheias.
É bom visitar-te, disse Januário Pieter, sentir que dás bom uso às migalhas que te dou, que me orgulhas como um rebuçado de doce vontade. Aqui ficarei até mastigares por inteiro esta estória que vinda do Brasil paira agora entre Portugal e Angola, teu triângulo de afinidades! Num até amanha deixou-me liberto para outras tarefas largando seu prefácio de hoje como um resquício de sua sabedoria perfumada: “- Não podemos fintar as leis que nos regem e, uma delas é “fazermos a nós, o que fazemos aos outros”. Irónico, talvez, Pieter fintador despediu-se num mungweno. Espanto meu! Pieter já fala em Kimbundo….
KIANDA: - Espírito das águas na forma de sereia, ritos de Angola, fantasma, holograma; ONGWEVA: saudade em português; Pambu N´jila: - Espaço místico, agente de ligação entre o espaço físico e místico, encruzilhada elo que liga os seres aos Minkisi, os elementos fogo, água, ar e terra; Kalunga: - divindade abstracta podendo ter a forma humana que preside ao reino dos mortos, em Umbundo é um Deus, em Kimbundo é o mar, sereia na forma de homem musculoso tipo o Adamastor dos Lusíadas, quando alguém é levado pelo mar ou pela Kalunga faz Uafu (morreu nas águas), é uma jura de última instância apelando a kalunga
Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos. Tem no seu ADN a picardia cutucada até a exaustão, Cruz credo!
Ilustrações de Costa araujo e Assunção Roxo
Capa de Costa Araujo
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