NAS FRINCHA DO TEMPO – KIANDA COM ONGWEVA - 10ª de várias partes…
AS TÁGIDES DE TOLEDO - Continuamos em terras de “Castilla La Mancha” – Um possível encontro com Zachaf Pigafetta Roxo a kianda tetravó de Roxo e Oxor a mesmíssima Assunção que ora é Maria ora só é Assunção.
Ongweva é saudade
Por
A conversa a três, eu o T´Chingange mais o Januário Pieter e Costa Araújo Primeiro, auxiliar de El Greco o pintor, continuou da forma descrita com pormenores de verrugas e coisas de arte, segredos de tintas feitas com sangue de besouro, vísceras de moluscos, seiva de plantas e ovos galados! Esta dos ovos galados, não entendi na perfeição, mas o interesse foi tanto que resolvemos fazer visita guiada pelo futuro mestre auxiliar do El Greco, Costa Araújo Primeiro. Saindo da “plaza del ayuntamiento” o candidato a pintor, levou-nos por travessas empedradas, escorrendo borras de uva com mijo de burra prenha e palha de estrebarias.
Passamos a taverna Cuatro tempos, cruzando à direita em direcção a Alcázer andamos pela Calle Del Locum e, seguimos por outra tão apertada que até duvido que fosse possível por ali passar um camelo com um fardo de palha que fosse. Paramos em um pátio muito cheio de trastes, um cheiro acre e agressivo com montículos de alvaiade e potes com produtos variados, cheirando a óleos indistintos. E havia numa das paredes mais ou menos arrumadas, paletes, pinceis, trinchas, espátulas e até serrotes e martelos.
Era naquela calle de la Calavera, um lugar lúgubre e não muito longe do Palácio Alcazar que ficavam os grandes galpões do pintor El Greco Doménikos Theotokópoulos e, em uma dependência lateral entramos em um outro cubículo. Era aqui que o ainda auxiliar de pintura Araújo, um galego fora de portas, da Bracara Augusta, mantinha o seu mukifo de coisas encantadoras encostadas ou penduradas entre cacos antropológicos e, numa placa encastrada na rustica parede podia ler-se “Pátio Andaluz Del Toro”.
E, como que fazendo um friso de museu ali estavam colgados cornos retorcidos e caveiras com paletes borradas de muitas cores; percorrendo a vista pelas telas, pranchas e cavaletes, mais ossadas de indistintos animais fiquei assim meio recolhido num soluço medroso sem saber que a arte neste tempo era algo de muita pesquiza pelas cores e formas bizarronas de gente esguia, orelhudas e olhos de meter medo ao diabo!
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Ainda me atrevi a fazer uma pergunta: - Para que pintam vocês e, para que servem estes painéis esguios e, … mesmo antes de acabar as perguntas meio amedrontadas O Araújo, meu Mano Corvo por divina indigitação disse-me: - São para colocar nas sacristias das igrejas. Vês aqui este, e apontou um quadro que mostrava um homem feio, horrível mesmo, desdentado, dedos longos e unhas de garras açambarcando um montão de moedas em oiro que escorriam para debaixo da cama.
- Isto, disse ele, simboliza a avareza e, este aqui meio diluído por detrás destas barricas é o diabo; tem este aspecto para amedrontar. Os bispos através destas gravuras impõem o respeito ao povo e, sempre querem que nós façamos o que mandam as regras de não roubarás, não matarás, não cobiçarás a mulher do vizinho e, por ai! Os medos, as lendas aqui, têm de ficar sempre presentes.
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– Faço isto nas horas vagas para ganhar uns trocos, umas patacas extras. O Mestre não nos paga e somos nós, eu e uns mais, que pintamos os mantos, as nuvens, as árvores mais os rios, os montes, o pôr do sol raiado de incertezas, da chuva ou trovoada e, sempre após os traços dele, o El Greco. Houve uma cor em especial que me chamou a atenção e porque mostrei interesse ali fique especado a ouvir o meu Mano Corvo Primeiro a descrever que aquela cor purpura era só usada para determinadas figuras.
Era o Roxo que ia dos matizes entre o vermelho e o azul. Esta cor ainda é obtida através de algumas espécies de moluscos nativos do Mar Mediterrâneo! Pela dificuldade na sua obtenção e seu alto preço, esta cor era um dos mais importantes e mais caros pigmentos naturais da Antiguidade, disse ele. Em Roma só os imperadores a podiam usar em vestes e, quem ousasse usa-las pagava com a morte ou ficava no cadafalso a apodrecer!
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Neste entretém, deu para meditar sem nada falar da estória que estava obrigado a descrever sobre as kiandas Roxo e Oxor. Uma preocupação trazida do futuro, lá da América do Sul, um lugar chamado de Brasil e duma praia chamada de Guaxuma! As coisas não são assim tão fáceis de explicar porque neste retroceder do tempo esqueci-me de muitos pormenores. Por isso recorro à kianda Januário Pieter que me aviva a mente e, curiosamente mostrando-me meus próprios escritos do século XXI. Mas, nem sei porquê, só me dá a ver! Também, se não fosse assim, quereria voltar rápido para junto da minha TV e ver o futebol, o Portugal com a Polónia, o golo do Renato, o outro do pé pelo Ronaldo e mais o da cabeça de Quaresma.
Sentado no meu silêncio mastigando perguntas e respostas caladas, Pieter deu dois passos calçados no meu sobreconsciente. Num cadavez mais eufórico, Pieter falava todas as suas razões, falava de seus muitos tios e edecéteras. Eu só fingia que entendia e ele, sabi-o, subentendia-o, mas também ficava moita-carrasco!
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Eu só disse, simplesmente: - Tá bem! Ele via o meu desespero em saber das coisas vindouras mas, só pude obter dele a promessa de que ele levaria no final do Concílio de Alcázer a tal antiga progenitora, tetravó de Roxo, a tal kianda Zachaf Pigafetta Roxo vinda do lago Niassa, (Zachaf) bem nos caminhos que levavam às terras de Prestes João.
- Teremos de ir primeiro a Albayzin de Alhambra um Pambu N´jila especial, porque só lá, ela pode aparecer a gente do futuro como tu e eu que sou um aleatório andante nestes caminhos do senhor, dos caminhos minkisi! Na minha ideia, já cruzava os ares, as ruelas estreitas de aroma de mijo com tapetes molhados; misturas de cheiros de churros, las tapas de argolas de lulas e vendo do outro lado do vale as muralhas e torres de Alhambra. E, o rio Darro ali ao pé. Teria de esperar! O que não tem remédio remediado está! São as percepções que trago do futuro que me suportam as angustias simbis… Tenhamos paciência, pouco a pouco lá chegaremos.
N´zimbo: - concha, dinheiro antigo do reino de N´gola da ilha Mazenga; Pambu N´jila: - Agente de ligação entre o espaço físico e o místico; lugar de veneração ou peregrinação; Lugar predilecto; kalunga: - espírito forte, divindade ou espírito das águas, iemanjá, mar, água no geral; Mukifo: espaço de trabalho, lugar recolhido com coisas espalhadas ao acaso; Minkisi: - Agente de ligação entre seres humanos e o físico, elementos de fogo, água, ar e terra; N´si: - Terra, o feiticeiro pintado com farinha vermelha (maiaca kianguim) que guarda os pórticos e permanece até o toque do medo, adrenalina, guardador de caminhos com saber do ontem, do hoje e do amanhã; Kianda: - Fantasma, assombração das águas das lagoas, rios e mares ou Kalungas; Globália. - O Mundo. Simbis: - Espírito ancestral de origem do Kikongo e África central; Albayzin: - Bairro Mouro de Granada…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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