NAS FRINCHA DO TEMPO – KIANDA COM ONGWEVA - 11ª de várias partes…
AS TÁGIDES DE TOLEDO – O encontro com Zachaf Pigafetta Roxo, a kianda tetravó de Roxo e Oxor.
Ongweva é saudade
Por
Com a sensação de começar a penetrar na minha própria inconsciência, enrolando dedos e retesando músculos, cruzei o bairro mouro Albayzin bem cedo; de forma aleatória como um senhor dos caminhos minkisi cruzei ruelas estreitas com aromas de churros; podia ver do outro lado as muralhas e torres de Alhambra envoltas em um manto de verdura. O rio Darro corria na depressão à semelhança dos meus pensamentos que rolavam entre mulheres gitanas, guapas bailando o flamengo em companhia de Aladino e N´si, o guardião negro da terra.
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Januário Pieter, a kianda itinerante da Globália, natural de Cabo Ledo, sítio distante da kalunga ali estava olhando com ar patético, angústias feitas estátuas que só ele sabia decifrar. O Pambu N´jila, ponto de encontro era ali, vendo o cenário das antigas muralhas mouras. Porque era ali que aqueles espaços físicos e místicos se juntavam. Espaços simbis com gente de suko ou alucinados como eu!
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Depois de um grande abraço com os comprimentos habituais, afagando seu muito velho esqueleto, deslizando minhas mãos naquele piano de costelas salientes, lá fomos até a la "Calle Bodegoncillo". Já um pouco encalorado num desce e sobe, entramos ambos em "El Pátio Riconcillo" e, buscamos acento apropriado; o lugar era arejado dando para la "Plaza Nueva" podendo ver mais acima la "Plaza de Santa Ana".
As paredes estavam cobertas de cartazes anunciando espaços de "Flamenco" de cores amarelecidas com datas ultrapassadas de eventos tauromáquicos; bestas de bois cornudos e esbeltos toureiros enfiados em apertados fatos vistosos de lantejoulas zurzindo farpas ou bandarilhas coloridas; estavam encaixilhados em madeira sarapintada de minúsculos furos de térmitas, resquícios das pestes de Guernica.
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Surgiu num repentemente uma estranha figura de mustafá carregado de espanta espíritos, um homem de olho azul, talvez tuaregue a vender ternuras na forma de raminhos de alecrim e farrapos enternecidos de recordações. Uma figura muito parecida com aqueles aguadeiros da praça Jemaa el-fnaa de Marraquexe. Fiquei na dúvida se não seria aquela uma miragem e, sem ninguém se aperceber belisquei-me e, era eu mesmo a ver a miragem verdadeira.
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Está na hora de me apresentares Zachaf Pigafetta Roxo disse eu neste entretanto do pré antes do ressurgimento de tal figura, assim um misto de Aladino vestido com um matrafona de capulana e panos de Mobutu, esfinge misturada com mugabe e mandela meio imperceptíveis na confusão de sombras feiticeiras. Mais admirado fiquei quando Januário a Kianda o mandou sentar, o mustafá; Afinal não era ele, era ela, uma mulher radiante de beleza, assim estonteante que se ondulava em imagem, ora era, ora não era nem deixava de o ser, quasequase um holograma falante.
Era agradável estar ali confraternizando com o passado que, nem sempre foi risonho mas quando Pieter me disse apontando afigura: Apresento-te essa kianda que tanto queres ver Zachaf Pigafetta Roxo…. Eu dei um pulo no meu desassombro, larguei os poemas de Garcia Lorca referentes à guerra de 1937 a 1939 com quadros dantescos no bombardeamento de Guernica e devo ter dado um grito espantado porque num repentemente, todos olhavam a nossa mesa! Melhor…minha mesa!
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Pedi um “café solo” e una tortilha de “manzana” ao empregado que se aproximou depois de oferecer o que quer que fosse aos meus dois parceiros; parceiros que parece que mais ninguém via, só eu! Seria desajustado pedir mais que uma coisa quando afinal eles só me viam a mim! A sala espaçosa estava recheada de quadros sobre esses acontecidos passados como uma galeria de horrores de Granada. Neste recanto em uma cadeira em madeira talhada com motivos da terra, envolto em atrocidades de uma disputa civil entre Nacionalistas de Franco e Republicanos, o instinto perfurou-me de medo.
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Sentia-se desprender da tela o odor fétido da morte. Meu olhar não se desprendia dos corpos desmembrados em destroços retorcidos, gente e animais espalhados pelos campos; um treino de preparação à grande guerra que viria a acontecer em 1940, Alemães ajudando Franco a tomar o poder. Mas, e agora, tinha de dar a máxima atenção àquela figura tão ansiosamente esperada; aquela kianda tão aguardada e, que me deu um “Buenos Dias” vibrados de suavidade longínqua. Juro que meu corpo abanou do cocuruto às unhas carunchosas como uma folha-de-flandres feita espinha ou coluna…
Entre o desejo de saber a verdade e o pavor que lhe tinha, zuniam na minha cabeça legionários às ordens de Franco gritando “viva la muerte” mutilando o meu medo envidraçado de repugnância a todas as guerras. Foi neste então de pensamento e depois de agradecer com “um muito prazer”, consegui balbuciar de mansinho: Estou muito grato por a conhecer, ando ansioso em saber depois de tantos imprecisos episódios e se efectivamente, você é quem é, a tetravó de Assunção Roxo? A kianda fez um ligeiro pestanejar reluzindo comoção, quasequase como um vaga-lume comovido de pirilampo outonal em noite de lua cheia…
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O espanto maior estava por chegar! És tu, o T´Chingange que socorreu minha trineta lá na praia do Guaxuma do Brasil, assim e assado com todos os pormenores de barbatana mais o Zé Peixe num lugar mais a sul de Sergipe, assim com mais edecéteras e virgulas e, curiosamente com um profundo conhecimento de mangues e siris de Aracaju e mais coisas que nem o Mandacaru por certo saberia. Espantado disse-lhe que sim! Era eu inteirinho da Costa, nascido e desfalecido num vapor chamado Niassa.
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Ainda não refeito do espanto comecei a fazer-lhe uma série de perguntas como essa do seu nome ser conhecido hoje como sendo o lago Nyassa e também se ela sabia do desenrolar de toda a estória que nos apanhou em vida numa terra de nome N´Gola e, foram muitas as perguntas e interjeições com muxoxos de parte a parte! Vamos pôr um ponto nos is! Assim, de rompante!
Com o tempo dir-te-ei o que houver para dizer mas não permito que graves nada do que te irei dizer porque não quero de forma alguma alterar o rumo da verdade! O rumo do vosso futuro! Okei disse eu. Okei, rematou ela também como dando por terminada a sessão do dia! Perfeito, vamos aguardar! Disse eu… e assim ficamos naquele dia estival … Sabes! Esta vai ser uma longa estória, disse ele, ou ela… Vou tentar conciliar o sono com o sonho e destringir no tempo, este espaço de fumarada…
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Glossário:
Pambu N´jila: - Agente de ligação entre o espaço físico e o místico; lugar de veneração ou peregrinação; Lugar predilecto; kalunga: - espírito forte, divindade ou espírito das águas, iemanjá, mar, água no geral; Kamundongo: camundongo, natural de Luanda
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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