SONS CUSPILHADOS – Os sentimentos mais genuinamente humanos sucumbem nas cidades … IV
Por
T´Chingange
Os sentimentos mais genuinamente humanos sucumbem nas cidades; nelas existem milhares, milhões de seres que se tumultuam num sempre desejar sem nunca se fartarem, padecendo incessantemente de desilusão, de desesperança ou derrota. Enredos de uma sociedade de tradições, preceitos, preconceitos, etiquetas, cerimonias, praxes, ritos e um sem fim de serviços a cumprir onde a tranquilidade se some na batalha pelo pão. Redobrando famílias, o homem vê na cidade a base de toda a sua grandeza e, em verdade, só nela tem a fonte de toda a sua miséria.
Oh vida maldita! São apenas expressões saciadas num gesto de repelir com rancor a importância das coisas; infecção sentimental com bocejos arrastados de inércia. De corpo afogado em unto de ossos moles, que se ressaca escanifrado nos nervos trémulos como cangalhas de arames, chinós e dentaduras de titânio, sem viço, sem febra nem fibra, torto e corcunda. As sublimes edificações, caixotes dos tempos, galinheiros amontoados, das bibliotecas atulhadas com sabor de séculos depois de um bombardeamento, um abalo, um tremor, nada mais fica do que um silêncio monstro de espessura e cor do pó final.
Onde estarão as mesquitas, os sunitas, os curdos, os da mossad, da jihad e da intifada, os da ISIL após as nuvens assentarem num lugar do jeito de Cobani da Síria a relembrar uma Guernica da guerra civil espanhola, como Leninegrado na segunda guerra mundial, um cerco que durou 900 dias obrigando-os a comer cães, ratos e gatos tal como na guerra de angola no kuito sem falarmos de práticas canibalescas; um relembrar do hotel Girão do kuito aonde estive por vários dias em 1971, ou ainda Hiroshima ou Nagazaki, de estórias lidas e ouvidas . No meio de clamores lançados com afável malícia, penso que talvez o ser humano espicaçado, não vai ter o suficiente tempo para fundir suas nódoas, seus pecúlios. Em cada manhã, a cidade impõe uma, duas, muitas necessidades e, cada necessidade arrastando uma outra dependência.
E, é o imposto municipal sobre imóveis, as taxas de salubridade, sanidade, contra os ácidos tóxicos, do carbono, da taxa do audiovisual, das águas negras e das saponáceas mais as pluviais, e não sei que mais. Pobre e subalterno cidadão num constante adular, solicitar, pedinchar, vergar, aturar, rastejar, corromper e ceder à corruptela, o técnico mafioso, o arranjinho e a cunha mais o politico manhoso e malicioso.
Uma guerrilha sem guerra! Como detesto a cidade, esse montão de tão angustioso esforço! Em verdade também cresci ali, na Luua, uma cidade dum lugar de quando aquilo era uma mulola com muita areia e aonde nós kandengues nos esponjávamos sem nada temer de doenças, da matacanha, bicho do pé.... Nessa universidade aonde aprendi com outros as primeiras lições de tremunos e berridas, uma linguagem quase extinta mas que nos marcou. Num tempo já muito antigo, lá naquele sitio que era meu, não havia muros e só era mesmo rio quando chovia; agora infelizmente naquela Luua têem muitas fontes de miséria... muita batalha para se ter pão. Tambem ali e agora, muitas famílias vêem na Luua a base de toda a sua grandeza e, em verdade por descuido, nela têem a fonte de muita miséria. E, no final, o que será aos olhos de Deus!
Glossário: Kandengue: - moço, rapaz; Luua: - Luanda, capital de Angola; tremunos: - jogar a bola de trapos na areia; berrida: - corrida, o esconde-esconde, afugentar; mulola:- linha de água aonde corre água quando chove; kuito: - Cidade de Angola, epicentro da guerra civil angolana; ISIL: - auto estado intitulado islâmico da Síria e Iraque que sucedem a al.qaeda...
Nota: Escrita inspirada em parte, nos dias que correm e, num mais antigo cenário Parisiense da Cidade e as Serras de Eça de Queiroz.
O Soba T´Chingange
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