SONS CUSPILHADOS – Naquela aldeia havia grilos e ralos cantadores … VIII
Por
T´Chingange
Naquela aldeia de minha mãe, minha também, havia grilos e ralos cantadores ao cair do dia; mais logo, eram sapos e rãs com coaxares de noivado e, lá para a noite escura o piar de mochos e corujas que me soletravam medos com os uivos de cães vadios. Diluído na negrura da noite, a névoa resvalava-se-me em uma sonolência doce; uivos latidos ou gritos na noite de escuros vales e montes cercados de brutalidade agreste, silvando-me melancolias de como quem penetra nas terras do seu desterro. Metido em meu roupão de flanela amarelo e de face arrepiada, ouvia o murmurejar duma chuva miudinha com uma natural moleza de humidade.
Molemente, um espesso céu de algodão diluía-se-me em sonho dormido e eu, ainda pequenote, conduzia um jumento á trela até à manjedoura do chafariz bem ao lado da capela tendo como companheiro meu fiel podengo. Um homem sem barba, sem colete, sem jaleco, sem samarra nem dentes, acalmava seus cães que se encarniçavam contra o meu podengo. Havia um brasão de armas com cabras encavalitadas comendo parras de granito secular emoldurado com musgo enverdecido.
Do adro daquela capela podia ver-se na lonjura os contrafortes da Serra da estrela sem se distinguir com clareza as manchas de Mangualde, de Ceia, de Folgozinho. Daquela terra, minha e de minha mãe Arminda e, pela janela do sótão na casa do beco dos cabeças, via-se os telhados e a fumaça densa subindo para Deus tapando-o tal como dissera meu pai Manel quando cortava a côdea da broa; apontando as telhas, sempre dizia que aquela era para ele que padecia de fome. Eu, espreitava, espreitava mas, nunca o cheguei a ver!
Dali daquele janelo, podia ver-se lá longe na encosta da grande serra, a terra de meu pai de nome Nesprido, freguesia de Povelide, terra de bruxas como ele dizia quando falava de suas namoradas e lobisomens mais os ventos falantes. Podia ver-se também as ruazinhas da aldeia muito cheias de tojos, giestas e rosmaninho para fazer estrume e com sorte, ver o senhor Fragoso, botar penicadas para o beco; também se podia ver as muitas casas descascadas de onde também se esgarçavam pelas telhas vãs o fumo branco cheirando a pinhais.
Nos dias mais claros podia até ver-se um ponto branco na encosta, a ermida da senhora do castelo de Mangualde. O ar puro e fresco entrava na alegria da alma; lembro-me muito bem dos chocalhos e guizos a tilintar, as chibitas entre os muros enegrecidos pelo tempo ou abandono; Século seculorum, de densas negruras de fuligem, algures na Beira Alta.
O Soba T´Chingange
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