CINZAS NO TEMPO - Andamos com o credo na boca, por causas alheias e à revelia da nossa vontade …
Cazumbi é feitiço ou mau-olhado em Kimbundu
Por
T´Chingange
Gosto de fazer turismo integral; isto quer dizer que me apraz fazer o que qualquer um, cidadão, faz em seu quotidiano, aonde quer que seja. Isso não foi possível fazer em Cuba há uns bons dezasseis anos atrás. Tinhamos um guia de nome Mercedes, uma funcionária que nos dava indicações e uma outra funcionária governamental que vigiava esta. Em verdade, ambas andavam controladas por outros e pelo medo delas mesmo!
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Ficamos instalados no Malecon, marginal da baia de Cuba, lugar aonde os namorados iam passear em velhos galáxias, chevrolletes rabos de peixe prometendo coisas sonhadas ao ritmo de um bolero ou um merengue mambo caribeño. Carros que arrancavam a gasolina e depois rodando um botão passavam a consumir querosene e mistelas de graxa com biodiesel ou óleo queimado de fritar batatas!
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O cheiro era intenso e nauseabundo! O tal de “ El mujito” com hortelã era só nos sonhos escritos de Hemingway, esquinas roçadas de preguiça, casas despintadas, calles apiertadas e, umas silhuetas de “Ché el comandante”. El olor a mierda por entre los muros sim color, tambiem se hacia sentir! La Cuba romântica de los sonhadores… E, la mujer rindo com alguns dientes amarillos convidando nosotros a gozar la vida del amor. Pópilas!
Percorremos a Ilha em um autocarro conduzido por um antigo combatente em Angola; tinha feito seu serviço militar naquele paraíso, palavras que ele calcou dando a entender ser lá muito melhor que aquella isla aonde agora estávamos. A várias perguntas minhas, ele respondeu, nada! Somente que aquella era el paraíso en la tierra. Foi para mim muito confrangedor dar de regalo, oferta de coisas que sendo insignificantes para nós, para eles, Cubanos, tinham alto valor.
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Esse alto valor eram simples esferográficas bic, chinelos de dedão, roupas geans e outras insignificâncias como bonés de marca e futilidades ocidentais. Muitos dos turistas em grupo nem se apercebiam ou não o queriam ver que ali em Varadero havia um apertado controlo aos naturais de Cuba! Em verdade era um território controlado por fronteiras apertadas e aonde só entravam para além dos turistas os trabalhadores dos hotéis e outros equipamentos de captação de divisas.
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Ao turista davam uma fita colorida que era posta no pulso e, esse era sinonimo de pedir o que quer que fosse tanto de bebida como comida. Claro que isto só se verificava nesta península cheia de belas praias, passeios pelas rias em barco com visão submarina, festivais de golfinhos e outros entretenimentos para agradar os Ocidentais vindos da tapurbana europeia.
Deu para perceber que o controlo aos empregados era apertado pelas mensagens indirectas que nos transmitiam; tudo faziam para agradar e, daí advir uma gasosa extra, uma limosna, um agrado em dinheiro, sapatos ou roupa. Elas e eles enfeitavam nossas camas como se fossemos os príncipes das arábias; faziam arranjos com as roupas chamando a atenção do agrado! Sempre correria umas suplementares moedas.
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Estando agora no Brasil posso garantir estar este país a alguns anos em avanço social! Vivendo como um qualquer residente uso habitualmente o ónibus, os táxis de lotação e ando muito a pé por onde quer que seja e na maior liberdade! Em Cuba tinhamos disfarçadamente uns quantos policias à perna, cobrindo nosso itinerário e revezando-se no trajecto de forma dissimulada. Tudo parecia ser um gueto!
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O Brasil social, já nesse então estava muito para além daquela terra de Cuba aonde funcionam os comités de bairro, de trabalhadores e outros que tudo controlam. Falando com um engenheiro que nos conduzia em um ovomobile (uma moto com arranjos feito ovo e, com dois assentos para alem do condutor) a perguntas minhas foi-nos dizendo o grau de carências que vivenciavam!
Este sim! Longe dos olhos fiscalizadores disse tudo o que já sabíamos ser de ruim! Ele engenheiro de máquinas tinha de usar aquele escape para ganhar um pouco mais do que os míseros dez dólares que recebia de vencimento base por mês. Nem quis acreditar mas vim a confirmar que assim o era! Eu disse dez dólares! Minha nossa!
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Pelo que sei agora o Raul, irmão de Fidel está alugando médicos ao exterior. Há muitos no Brasil residindo com regras apertadas; a família fica lá em Cuba, uma forma de garantir o retorno e também manter-se em silêncio; ele não está autorizado a falar de sua terra e, sabe-se que aquele estado Isla Caribeña leva-lhe metade do seu vencimento senão mais. O preço daquela liberdade é bem alto! É certo que anda muita gentinha a dizer que ali sim é uma terra boa; gente que gosta de viver com agrados de servidão…Só pode! Tenho amigos que vêm aquilo como coisa de outra galáxia! E, é! Só que do lado do purgatório.
Aquele mecânico do Ovomobile foi nos dizendo que os comités de trabalhadores rurais têm de fazer permanentes relatórios dando indicação de quantos animais as famílias têm e, se porventura abaterem um boi ou carneiro sem autorização são chamados à pedra respondendo em juízo como se um crime se tratasse. Ninguém está autorizado a apanhar fruta do chão; tudo é do estado; tudo tem de ser autorizado.
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A melhor carne, o melhor marisco como lagosta e camarão é todo para a exportação! Eles ficam com as patas pró mocotó, os rins, fígado e por aí! Não admira o tal chofer que fez serviço militar em Angola ter dito que aquilo sim; era um paraíso! Ainda insinuou dúvidas do porquê de termos deixado aquela terra mas ele, nada era naquela nomenclatura comunista; o pensamento é ali uma coisa muito perigosa…
Entrei em uma loja do povo e só vi imundice entre sacos de farinha, arroz e algum feijão! As prateleiras das vendas assim parecidas como as do m´Puto lá dos anos de 1880 estavam apetrechadas com aquelas mesmas bancadas, medidas de quartilho e instrumentos de museu para ensacar farinha e grãos. Cheirava a mijo de ratos e bagulho de baratas! Estive com uma caderneta sebenta de uso em minhas mãos e, é ali que eles apontam tudo do cabaz básico a que todo o cidadão tem direito. Não deu para ficar com pena deles porque não sou galinha! Talvez mereçam viver nessa tacanha maneira de ver tudo ao jeito bucólico! Viva Cuba, pois claro!
O Soba T´Chingange
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