TEMPOS DE ESPERA - Johannesburg – (16.09.2018 dia do apagão) - 18.09.2018
- Nos intervalos da vida, durmo! - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…
Por
T´Chingange
A chaleira fumega por cima do fogão eléctrico. O sol entra pela janela da kitchenette que liga à sala aonde estou sentado, melhor, afundado numa poltrona cuja tábua deve ter fundeado no acostamento de matacos de um quilómetro quadrado. Aqui há muita gente gorda e o melhor mesmo é nem repararmos porque, senão os contratempos surgem de soslaio vindos dum desconhecido lugar cheio de biltong, boerewors e coldrinks de cocacola…
:::::
Os vapores do meu chá trazido do M´Puto serpenteiam até ao tecto de pinho em desenhos enrolados e fazendo uma cortina com raios digitalizados. Trata-se de uma velha cura legada pelo meu tio avó de nome Guerra e composto de barbas de milho, pés de cereja e ipé-roxo, também conhecido como pau de arco.
Num espaço etéreo de virtual roxismo, o fumo enlaça visões de índios sioux, astecas ou apaches. O termo roxismo derivada de Roxo, o nome de uma senhora que pinta seus sonhos no computador metendo as pestanas verdes fazendo de óculos e, com madeixas de cabelo ruivos como se todos fossemos assim, uma forma espantada de arco-íris a condizer com a ideia de que efectivamente, somos uma ilusão.
:::::
Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto. Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendo a aprender a ser grande graças a esta aguda perspectiva de também ver e ler as coisas da frente para trás e tal como o camaleão, ter um olho aqui e outro mais longe para poder fazer selfies de mim mesmo, bem ao jeito de Picasso.
Esmiúço os tempos para saber a verdadeira razão dos paradoxos e dos fúteis caprichos duma vida cheia de gente, uma multidão que grita, que gasta o que não tem simulando normalidades e carregando um vazio dentro de si. Sim! Neste mato de capim tombado pelo vento tiro aqui e ali umas fotos sem pau de selfie tendo como companhia aqueles cheiros e sabores do boerewors, uma salsicha fresca tradicional da culinária da África do Sul.
:::::
E, porque estou aqui, averiguo o saber na deriva dos vocábulos boere e wors, oriundos do africânder, significando respectivamente "agricultor" e "salsicha". Vi-me na foto do meu android e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo, nem sempre alegre, nem sempre triste. Naquele chá pus umas três gotas de canábis para encurtar pesadelos e restituir-me a lucides, enfim, para equilibrar meu físico e mantê-lo ligado aos espirito.
Aqui há plantas de canábis-liamba pelos jardins e o comércio de sementes é livre. Há pouco deitei água numa situada na varanda e, que aparenta ir morrer se o esquecimento não lhe der água. Neste compasso de espera a fim de rumar ao tal de Kariba, embarque em M´bibizi, um lago no meio dum altiplanalto, sonho que parto para outro e, mais outro e outro lugar, sem encontrar o meu poiso certo, juntando a praia, o rio, o deserto e tudo o resto; uma impossibilidade. Iremos juntos na companha de Vissapa para o calor do Limpopo, rever os baobás ou árvore garrafa que nas nossas angústias, tem o nome de imbondeiro…
:::::
Ontem comi frango frito esfarelado com arroz integral e aquecido no forno e, para variar, gelado com amarula. Comi biltong de kudu, de boi ou vaca e olongo, e bebi suco de goiaba e massala de Moçambique. Percorro assim um caminho com gente chegando e partindo dizendo good morning mesmo sem muito mais dizer, sem muito mais saber; missangas de vida com malas atafulhadas de coisas: coisas que podem ser úteis tais como o canivete, a lanterna junto com as cuecas e, os cremes de amaciar as peles mais o pincel de amaciar as carunchosas unhas …
Fui ao computador ocupar o tempo, li poemas, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas, grilos e gafanhotos. E, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a perguntar-me se este senhor “sou eu”? Estou feito ao bife – de novo!
:::::
Outra vez! Sempre sucede isso quando mudo de continente e telefone. Acho que ando demasiado vigiado; deve haver um anjo da guarda que me persegue mas, em qualquer momento falha sua visão e entro nos cadafalsos da penumbra. Estou assim a pensar como irei restituir-me. Lá terei de largar isto e fazer meu brai com o boerewors com carne de bovino e especiarias, sementes de coentro torradas, pimenta preta, noz-moscada e cravinho. Depois disto veio um vazio, estavam a estudar meu problema pois que mandaram o código de seis números para um telefone que nem era meu embora tivesse o mesmo nome. Creio que era um bafana muzungu destas lonjuras e eu, esperei dois dias soprando ventanias.
Com este elevado teor de gordura, estou feito ao mataco de afundear sofás e lá tenho de o conservar com sal e vinagre na forma enrolada numa espiral contínua. Estou a falar da salsicha bóher que após ser temperada no invólucro comestível e já torriscada no brai, é servida com pap, uma papa de milho típica daqui - África do Sul. No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, com Windhoek premium lager! Obrigado a mim, a ti e a tu também (o ti é um, o tu é um outro)…
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA