Sábado, 30 de Dezembro de 2017
FRATERNIDADES . CXVIII

METÁFORA DA VIDA – 30.12.2017

- FOTOS AMARELECIDAS DA E.I.L. DA LUUA – Se, em um aleatório lugar vires um oprimido, não te surpreendas - tem outro mais alto que o vigia…

Por

soba0.jpegT´Chingange

Ontem revi fotos de antigamente, de quando terminei meu Curso de Montador Electricista da E.I.L. - Escola Industrial de Luanda. Quando sucedeu a guerra do “tundamunjila” nada trouxe para o M´Puto, nem mesmo essas fotos que documentaram nossas vidas; isto que descrevo foi da viagem final de curso à barragem de Cambambe - fotos capiangadas da página dos antigos alunos e professores da EIL. Nesta alegria de rever candengues de então noto, foram tempos que nos marcaram.

cambambe02.jpg Coincidiu neste agora e no M´Puto rever no livro dum meu cota amigo e meu vizinho da maianga, rua Dr. Oliveira Barbosa perpendicular à minha com o nome de Dr. José Maria Antunes; trata-se nem mais nem menos de José Luandino Vieira! Tinha nesse então mais dez anos do que eu. Este cidadão, meu camba mais velho, porque teve participação no movimento de libertação do MPLA, deram-lhe cidadania angolana ao invés de mim que sempre andei em outros lados na estória e da guerra de kwata-kwata.

cambambe8.jpg Luandino Vieira foi preso tendo passado oito anos no Tarrafal, sendo libertado em 1972 em regime de residência vigiada na Lisboa do M´Puto. Foi membro fundador da União de Escritores Angolanos até 1992. Enquanto preso descreveu vivências de suas passagens num discurso directo sem rever gerúndios ou particípios e formas gramaticais. Estive com ele há uns bons cinco nos atrás na cidade de Portimão e, foi dele que depois de um fraterno abraço ouvi dizer que nós em Angola tinhamos a cultura do cinema e praia; no resto, eramos inocentemente analfabetos.

cambambe1.jpg E, é bem verdade que assim era! Ele seguiu o rumo da contestação e, é assim que ele descreve em um recente livro, lugares que coincidem com nossa visita àquela barragem de Cambambe. Em seu livro fala a vida verdadeira de Domingos Xavier, um livro só com 97 folhas e aonde revejo o que diz, o fundo do trovão da estória que fez tremer a Luua na forma de chuva de soterrar carros e, aonde uma foto nossa infra colocada, descreve o tubo de descarga por nós visitado.

:::::

Domingos Xavier, nem sei se é uma inventação dele, mas, é em realidade um estereótipo de gente que como muitos, morreu de porrada nos interrogatórios das polícias política e normal, quando e ainda no tempo do Administrador Poeira no lugar de Belas, bem por detrás do então Aeroporto Craveiro Lopes. Com sua pena de rabo-de-junco, escreve que as águas falavam também suas fúrias lá em baixo do paredão, garganta de forma 

cambambe2.jpg Num cotovelo do Kwanza as águas indomáveis doutro tempo agora retidas, de novo ali saíam contando as outroras fúrias de montante e a partir do planalto do Huambo aonde nascia. Lá em cima, nos morros, casas pré-fabricadas e de cimento firme, escritórios e barracões-casamatas para trabalhadores, aonde nós alunos finalistas da EIL, pernoitamos. Vimos os alternadores, as grande máquinas diesel e, os tractores; um deles, o manobrado pelo Domingos Xavier esperava por ele.

:::::

É ali que o Kwanza lança os últimos gritos suicidando-se, subindo muitos metros e deixando-se abater lá nas pedras ainda mais abaixo desfazendo a espuma nos contrafortes, muros de defesa que aqueles tractores construíram. Dali, pequenos fios de água enternecem de novo o velho rio. Desde o verde planalto do Huambo trazia rugido que agora reaparece ressoando ecos nas falésias. Zunidos das bolhas turbinadas chispando sua bravura.

cambambe01.jpg Depois a calmaria a passar por Cambambe e Muxima até se insuflar com o sal da barra, lugar de sereias, kiandas e kwangiades a saudar maiores calungas. Recordo nesse tempo ouvir o vento que só gargalhava nos morros na sua força de medrar trovões do céu. Um ressoar de eco a ficar moribundo. Neste muito tempo de descrição Domingos Xavier sentia seu sangue correr muito depressa nas veias, formigueiro nos pés e na mãos no chão da prisão.

:::::

Suas pálpebras iam-se fechando ramelosas nas porradas com xaxualhos estranhos. Tudo assim ficou noite na vida de Domingos Xavier que corria rápido nas cacetadas do cipaio. As ordens de seu chefe, o agente supra das secretas, lhe faziam ver que tudo ficaria mesmo calmo, dentro da noite.

cambambe3.jpg Xavier morre assim mesmo com a própria estória alumiado numa lanterna de óleo-de-palma. Foi então quando as kiandas tomaram conta de si, sua alma de guerrilheiro, chefe dos rios. Eu, juro que não ouvi mas, um candengue seu amigo começou cantar sua tristeza: Uexile kamba diami, Una uolobita. Uafu, Mukonda kajímbuidiê – Era meu amigo, aquele que ali vai. Morreu, porque só ficou calado…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:15
LINK DO POST | COMENTAR | ADICIONAR AOS FAVORITOS

Maio 2023
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9

19
20


30
31


MAIS SOBRE NÓS
QUEM SOMOS
Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
Facebook
Kimbolagoa Lagoa

Criar seu atalho
ARQUIVOS

Maio 2023

Abril 2023

Março 2023

Fevereiro 2023

Janeiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Agosto 2022

Julho 2022

Junho 2022

Novembro 2021

Outubro 2021

Setembro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Maio 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Novembro 2020

Outubro 2020

Setembro 2020

Agosto 2020

Julho 2020

Junho 2020

Maio 2020

Abril 2020

Março 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Dezembro 2019

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Agosto 2019

Julho 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Janeiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Junho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Março 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

TAGS

todas as tags

LINKS
PESQUISE NESTE BLOG
 
blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub