LUBANGO – Na cordilheira da Chela
A África da minha vida
Por
O sentimento
O que vale o sentimento?
Pergunta que me transcende
Será como uma luz que se ascende
Cá dentro do nosso ser?
Ou é um fogo que arde
Sem nenhum de nós saber?
O sentimento é um valor
Que se sente e se conhece
E quase sempre aparece
Deixando algum sabor
Pode aparecer amargo ou doce
É assim como se fosse
Uma estrela no céu a brilhar
Por vezes como ela, distante
Mas que se aproxima num instante
Para nos fazer sonhar.
Hoje, ao consultar a minha página do facebook, deparei-me com documentos fotográficos, quanto a mim, de inquestionável valor, que ajudam a entender Angola, e as grandes dificuldades porque passaram os seus colonizadores, porque os colonialistas, já nessa época, viviam bem instalados, no que por norma se chamava Metrópole. Fotografias, a rondar o ano de 1927, curiosamente, tempo muito semelhante ao que geralmente escrevo quando me refiro a episódios da minha infância. Numa década, Angola não sofreu um desenvolvimento que a transformasse tão repentinamente numa outra muito diferente, tanto mais que se encontrava afastada do mundo civilizado, esquecida, colónia que garantia benefícios e riqueza, mas pouco ou nada usufruía deles.
Tal com na fotografia, ainda muito criança, lembro-me de um carro de marca Nash, propriedade do meu pai, mais moderno, com capota, mas de linhas semelhantes, com cromados, bancos corridos em cabedal, e que era o meu encanto. As mesmas estradas e picadas por onde se circulava, em condições muito difíceis, especialmente na época das chuvas, as mesmas jangadas utilizadas para serem atravessados rios, como o Cunene, pontões de Madeira, muitos deles de precária segurança, e estou a escrever já dos anos trinta e oito, quarenta, porque os que se seguiram continuaram a ser em tudo muito semelhantes.
Dr. Roy B. Parsons e sua esposa
Só a partir de 1961, é que houve uma explosão de desenvolvimento, forçada pelas circunstâncias. Até essa altura, foi sempre uma "roça", explorada até ao tutano pelo país colonizador. Recordo- me da minha mãe, ter sido operada na Catabola, a uma vista, pelo Dr. Strangwey, o meu avô no Bundjei(?) e a minha irmã e irmão no Bongo (Lépi) pelo Dr. Parson, porque em casos mais graves de saúde as pessoas recorriam aos missionários americanos, que proporcionavam outras garantias, num tempo em que não havia antibióticos, garantias que os hospitais portugueses não ofereciam, por falta de meios, independentemente da boa vontade dos médicos que tratavam os doentes.
Contudo, muito miúdo ainda, lembro-me de a minha mãe ter sido hospitalizada na Chibia, porque havia um médico de reconhecido valor, se não me engano, de nome Menezes, e percorrer frequentemente quarenta quilómetros de má estrada, com o meu pai, para ir visita-la. E ao escrever sobre Angola, nestes termos, estou a referir-me a todas as outras colónias portuguesas que eram tratadas de modo igual. Talvez por essas dificuldades, de se ter de ir buscar água ao chafariz, de se ter velas, candeeiros de petróleo e petromax, xipefo, para se obter luz, mas saber que em cada dia poder sentir uma liberdade completa para poder correr pelos campos, poder pedalar a bicicleta pela estrada sem correr riscos com os automóveis, respirar ar puro em lugar de respira-lo poluído, descobrir espaço livre até ao horizonte, sem casario ou grandes prédios a atrapalhar, ter galináceos, patos, gansos, cães gatos e bambis domesticados que me vinham comer à mão.
Nash
Apanhar, mangas, pêssegos, laranjas, morangos, passar cada Natal com todos os familiares na Humpata, com os meus avós, e o Ano Novo na minha casa, da mesma maneira, ver a doçaria ser confeccionada em casa e comer os restos da massa dos bolos que ficavam nas panelas os nos tachos depois dos bolos colocados nas formas ou tabuleiros para irem ao forno, previamente aquecido a lenha, e limpo de toda a cinza, se isto não era vida, o que era realmente viver? Como posso esquecer Angola, a minha terra no planalto da Chela, onde pude ter uma vida diferente, porque graças a Deus, sempre tive uma vida feliz em qualquer lugar onde viesse a viver depois. Mas a infância, em que Angola era realmente a África, que não volta nunca mais a ser igual, foi um marco diferente na minha vida, que jamais poderei olvidar. África estava tão longe do mundo civilizado, que só a segunda grande guerra a conseguiu aproximar da Europa.
(Continua...)
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