África profunda - Nas terras do fim do mundo
Por
Quando criança, ainda ouvi várias histórias passadas nessa Angola inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada. Os comerciantes do mato, viviam absolutamente isolados, e mais do que eles, alguns chefes do posto administrativo, às vezes em locais situados fora dos normais circuitos utilizados pelos fubeiros, pelas carreiras mistas de passageiros e de carga que começavam timidamente a surgir; Havia as ligações, a partir de Sá da Bandeira para o Huambo, Benguela e Humbe mas, lá para as terras do fim do mundo, só havia transportes de longe em longe para entrega de produtos necessários ao comercio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole ou ainda novas sementes. O negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia seus dialectos. Os postos administrativos com seus cipaios, tinham por tarefa coordenar as várias actividades e cobrar imposto de cubata entre outros, subsistindo assim, sem sobrecarregar o M´puto longínquo.
O resto de todo o movimento lá mais para o interior, era feito através do "carro bóer", com grandes tropas de Ambaquistas, macotas, mondongos e monandengues numa relação directa na troca de produtos. Nessas terras onde o calor aperta e, a doença do paludismo chega sem aviso tal como a tzé-tzé; Ao entardecer não se podia abandonar o interior das casas, porque os leões, hienas e outros predadores podiam surgir a qualquer momento; naquele seu habitat, era natural circulavam por perto dos povoados com cabeças de boi. Quando o chefe do posto necessitava de alguma coisa ou ajuda, enviava um cipaio de mensageiro aos comerciantes próximos mas, isso no geral demorava uns quantos dias.
Baseado numa das muitas histórias que ouvi, que presumo ser verdadeira, em um posto isolado, aconteceu, que um dia a esposa de um destes chefes, adoeceu; parecendo não ser nada de grave, no correr do tempo seu estado de saúde foi-se deteriorando, até que seu marido já em desespero envia um cipaio a buscar ajuda ao fubeiro mais próximo. Os dias passaram-se sem chegar o tão desejado apoio e a senhora faleceu. Seu marido, o chefe de Posto, teve de tirar as portas de sua casa para fazer o caixão sepultando-a desta forma. Esta abnegação tem forçosamente de ser lembrada aos vindouros para que não se deturpe essa nobre missão de gente pioneira, sem honra nem glória.
Viajando com meu pai, conheci muitos comerciantes que viviam num isolamento de completo desespero; seu contacto somente se fazia quando passavam as caravanas de tropeiros á semelhança do Brasil. Eram estes os chamados " Funantes ou Ambaquistas", que não sendo comerciantes na verdadeira acepção da palavra, estabeleciam aquilo a que se poderá chamar hoje de rede primária de escoamento de produtos, cobrando seus serviços em libongos ou makutas, iam desde a costa, Benguela, Sumbe (Novo Redondo) ou Namibe para o interior correndo riscos de ataque de feras ou meliantes, como o tão falado Kaprandanda. Angola era e continua ser diversificada em seus profundos contrastes, com seus sobas, kimbos e toda uma panóplia de feiticeiros, curandeiros, kimbandas misturado crenças de misticismo de vivências díspares.
(Continua…)
Nota: Tzé-tzé – mosca portadora da doença do sono; Kaprandanda – tempos antigos , quando do uso de arcabuzes; Ambaquistas - naturais da Ambaca, pioneiros cafuses dados ao trambique.
As escolhas do Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA