UM HINO Á KALUNGA – II
Crónica 3212 de 07.11.2021 e, outras datas se Deus o quiser…
A estória do Zé Peixe de Aracajú - Prelúdio da estória das Kiandas Roxo e Oxor
Por T´Chingange, no AlGharb do M´Puto
Para que o corpo seja saudável é forçoso que a mente esteja com saúde, que esteja alegre e em harmonia. Se a mente estiver irritada ou aborrecida, este estado aparecerá inevitavelmente no corpo e, manifestar-se á na pele, no coração, nos pulmões. O estado latente de infortúnio e de mal-estar nas pessoas, não é mais do que o reflexo da mente manifestando-se em atrito ou choque.
Em contraste com esta ocorrência e o estar na vida, algures no Brasil, fui agraciado com uma notícia que corroborou com a inspiração dum senhor chamado de Hicari no Izumi. De tão esquisito nome nem sei direito como chegou até mim mas, o relevante do mistério é o de que em Aracajú de Sergipe havia um homem de setenta anos de idade conhecido pelo Zé Peixe que espantava toda a gente.
Este senhor Zé peixe, designado por “prático” por conhecer os baixios da baía e seus canais de navegação, ao fim de muitos anos de mar, sabia por onde os barcos de grande calado podiam navegar até à zona portuária sem ficar encalhados na areia ou recifes.
A tarefa que normalmente é feita ou atribuída a um patrão de costa ou piloto da barra que conduz o navio até ao cais, aqui, tem o senhor Zé como o principal personagem. Entra num rebocador que o leva até lá longe, ao navio em águas de oceano mais profundas, sobe ao mesmo, conduz o monstro com perícia substituindo instrumentos de tecnologia de ponta, sistemas de posição geográfica de satélite, bussolas especiais e sonares.
Quando o navio abandona o porto é Zé Peixe que de novo dirige as operações até ao local Xis que ele, o prático da barra, sabe como o de “o fazer sem perigo”. O curioso deste curto prelúdio é a de que, da haste saliente do vapor com uma altura superior a mais de cinco andares de um prédio citadino, o senhor Zé, benze-se, salta para o espaço indo perfurar as águas tépidas do Atlântico.
O pessoal de bordo sempre atento a esta odisseia de um velho com 70 anos saúda-o com uma gritaria e, em uníssono ouve-se o apito grave troando um adeus, até à próxima amigo Zé... O regresso a nado ao cais, bem perto de onde se situa a sua humilde casa, pode demorar até um pouco mais de duas horas. Sua modesta casa denota não ter rendimentos que façam dele um homem remediado, aliás o aspecto raia a tacanhez da sobrevivência; é aqui que podemos realçar a sua alegria no fazer por tostão uma tarefa de milhão.
O Senhor Zé Peixe, na sua casa, tem um frigorífico aonde conserva frutas e, a uma pergunta do jornalista Hicari no Izumi, o tal senhor, responde que sua alimentação é essencialmente de fruta. Só bebe água de coco e não se lembra de quando tomou banho de água doce.
É ou não um hino à vida, esta singela postura dum homem que quase, ou mesmo analfabeto, nos transmite o poder e querer ao invés de quem se desloca com meia mala cheia de medicamentos. Isto, confunde os piegas dando-nos esperanças no estímulo de gozar a plenitude da natureza a quem verdadeiramente tem força de vontade. E, o mundo fala agora, ano de 2021, ao redor da crise. Feliz do senhor Zé Peixe! E assim foi, até que faleceu a 26 de Abril de 2012 por Insuficiência respiratória; tinha a idade de 75 anos.
Zé peixe foi agraciado com diversos prémios e homenagens, sendo lembrado como um dos sergipanos mais notórios de todos os tempos. Seu nome era de José Martins Ribeiro Nunes. Os folhetins/crónicas agora a serem reeditados das Kiandas Roxo e Oxor da Kalunga de Guaxuma surgem com uma nova roupagem de nostalgia mantendo este senhor como o timoneiro ou patrono das promovidas kiandas. Roxo é uma, Oxor, é uma outra, o espelho gémeo desta mana, algures…
Na Kalunga e, a bombordo do meu barco Niassa (uma ilusão antiga), a costa da N´Gola sempre são visíveis, um milagre de “nem sei como” surgem na lógica das kwangiadas, musas do Chiloango, Bengo, Dange e ninfas do Cuvo, Giraul ou do Kunene dando lugar a estas mordomias de deixar a saudade lamber-nos também na água doce, límpida ou turva, também em terras do Brasil, com todos esses rios tendo o Amazonas num lugar cimeiro com seus golfinhos chamados de “botos” e até as vacas nadadoras chamadas de “peixe-boi” que deram origem ao teatro, carnaval de rua “bumba meu boi”, entre outras cenas tão desconhecidas do cidadão comum. Ao lago Niassa ou Malawi, ao Okavango e às terras encharcadas do Delta; lá chegaremos com tempo no caminho do rio Zambeze no encontro com o Cubango…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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