UM HINO Á KALUNGA – VI
Crónica 3219 de 20.12.2021 em KIZOMBA - NAS FRINCHAS DO TEMPO
- KIANDA COM ONGWEVA … às margens do Tejo em Toledo…
– Com as kiandas Roxo e Oxor, algures na ânfora da nau do tempo …
Por
T´Chingange –
No AlGharb do M´Puto Já era tarde naquele outro dia, Januário kianda fazia-se acompanhar com um personagem vestido de árabe bem ao jeito de Alibabá. Depois dos salamaleques ao jeito de confrades, logo após emborcar sua chávena de café Delta importado do M´Puto continuou: - Foi ela Isabel “la Católica”, que concedeu apoio a Cristóvão Colombo na busca das tão cobiçadas Índias ocidentais e, que o levou a descobrir as Américas, acontecimento que teve consequências na conquista dessas novas terras e a criação do Império Espanhol.
Estávamos noutras vidas, é verdade, mas desejosos que o rumo da conversa versasse coisas mais recentes e, por isso perguntei a Pieter o que é que ele pensava da nossa ida a Toledo a redescobrirmo-nos porque sei que pelos anais, também me formaram à sucapa “engenheiro espiritual” num lugar de Pambu N´jila da Fundação da Ordem da Imaculada Concepción, Palácio de Galiana. Neste mundo de Kalungas e Kiandas há coisas que sucedem sem haver previsão; esta minha ficha de espiritualidade caíu do nada... Enquanto isso e lá no palácio do Pambu N´jila, Costa Araújo I, seguiu as pisadas de um pintor Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido como El Greco, pintor, escultor e arquitecto grego que desenvolveu a maior parte da sua carreira por ali.
- TChingange meu amigo, falou Pieter: agora que nos reconhecemos avondo, pois que ambos o somos "engenheiros da kalunga" dir-te-ei que não será tão rápido que chegaremos à nossa N´Gola com a banga fekula, disse assim mesmo incluindo-se nesta pretensão. E, continuou: Teremos de esperar até jorrar todo o petróleo pelo tubo ladrão. Falou assim para nós dois, ao qual nem dei relevo na análise pensando referir-se ao seu assistente com nome de Petróleo (um aladino), e não àquele terra rica em alcatrão; era normal ele falar assim de coisas plasmosas com sofisticadas superstições, complicando-nos a veia pensadora! Nós, só ouvíamos! Ele, a kianda, seguia para Cádiz com aquele coisa, seu adjunto Petróleo, mas decerto nos iria visitar a Toledo ou Alhambra de Granada para dias mais tarde. Assim falou sem definir datas com horas e minuto, se deste século ou qualquer outro como é vulgar nas kiandas ambulantes do espaço; Com dúvidas persistentes talvez aí pudéssemos pôr os assuntos em dia e saber dos nossos antepassados feitos em pó. Taciturnos, com um peso nos latifúndios, despedimo-nos de Pieter e seu adjunto Petróleo (O Alibabá aladino)… Nem sei como é que aquela coisa cheia de turbantes conseguia andar com aqueles sapatos kilométricos.
Sapatos do aladino Petróleio
As tágides, conciliavam-se aqui na vida espiritual íntima, trocando-nos resquícios, experiências com as novas tendências da Globália e, reciclando-se em congressos de cristandade, concílio, ouvindo Simbi e N´kuuyu. Aquele lugar ficava um Pambu N´jila como se estivessem na Mazenga, a ilha do descanso dos Muxiloandas, nas sombras de casuarinas e coqueiros. O exotismo dos trópicos espalmava-se ali, na Mancha de Cervantes.
O maneta Manuel de Cervantes y Saavedra autor da obra “Dom Quixote” desencantado com a guerra e as gentes, lutava com moinhos na vasta planície de “La Mancha” com muito Suko* e, associando-se a esta espiritualidade, retemperava os mudos intervalos divertindo a tertúlia com contos de ridículos cavaleiros e paródias de entretimento…
Eram momentos retemperadores recuperando Mutalos* desavindos recorrendo por vezes à Kianda Koxo, uma verdadeira arte escangalhada por “El Grego” com mistura de Miró, eles também impregnados de muito Suko de cor - a Kianda do mestre Mano Corvo Araújo, o magnifico grego de nome Doménikos Theotokópoulos que nesta rota peregrina, cruzava também o caminho de Alicante. Imaginamos por isso Sancho Pança apaziguando seu amo dum ímpeto destemperado com moinhos de vento ridicularizando heróis da fancaria. Foi a partir daqui que se organizaram cursos de deformação (algumas grotescas), fantasias de mordaz parodia e ironia na escrita e cores com longos rostos na pintura, contrapondo aquilo que se passou a designar de burlesco.
Petóleo - O Aladino
Pude admirar nesta terra de Aragão um quadro de “El Greco”, em que as Tágides ou Kiandas se contorcem em risos aéreos, vendo-se em fundo a cidade de Toledo, a “la puente de San Martin” sobre o rio “Tajo” e, um arco iris assinalando o local daquela reunião de espíritos. E ali andava eu T´Chingange um feiticeiro acomodado a novas tarefas de alforriado "engenheiro espiritual tirocinado", partilhando e recebendo conhecimentos avondo.
Mas, naquele dia de Maio estando eu na Igreja-Mosteiro de São João de los Reis católicos em pleno bairro Judio, parei o tempo para ler o que Santo António de Lisboa e Pádua escreveu lá para trás: “O grande perigo do cristão é predicar e não praticar; crer, mas não viver de acordo com o que se crê. Um cristão fiel, iluminado pelos raios da graça, é igual a um cristal; deverá iluminar aos demais com suas palavras e acções, com a luz de seu bom exemplo.”
Lá em cima, nesse momento exacto a máquina do tempo solta um som metálico de bronze dando as doze badaladas do meio-dia. Um espírito bate num ferro que há lá dentro, fazendo-o ressoar. Noutro tempo as pessoas ajoelhar-se-iam; benzendo-se rezariam uma Ave-maria dando graças de agradecimento. Aqueles momentos não poderiam ser analisados e vividos na primeira pessoa com as Kiandas Roxo e Oxor porque estavam em uma ânfora na nau da Kianda Pieter para retemperar reflexão pois que, iriam participar de um grande Concilio na tal Imaculada Concepción - Palácio de Galiana…
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Personagens da estória: A Sereia Roxo, (uma em duas - reflexo do espelho - Oxor que só vi em holograma); Mano Corvo - T´Chingange (O próprio); Mano Corvo I - Costa Araújo na 1ª encarnação; Januário Pieter - Uma kianda assombração dos mares, um velho amigo com mais de 500 anos de Cruz-Credo (criação do Soba); Petróleo Alibabá, assistente do Januário
GLOSSÁRIO:
KIANDA: - Espírito das águas na forma de sereia, ritos de Angola, fantasma, holograma; ONGWEVA: saudade em português; Pambu N´jila: - Espaço místico, agente de ligação entre o espaço físico e místico, encruzilhada elo que liga os seres aos Minkisi, os elementos fogo, água, ar e terra; Kalunga: - divindade abstracta podendo ter a forma humana que preside ao reino dos mortos, em Umbundo é um Deus, em Kimbundo é o mar, sereia na forma de homem musculoso tipo o Adamastor dos Lusíadas, quando alguém é levado pelo mar ou pela Kalunga faz Uafu (morreu nas águas), é uma jura de última instância apelando a kalunga; Banga fecula: Um especial estilo, de cunho próprio...
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* Mutalo: - É o espírito das pessoas que são mortas pelos feiticeiros sem que N´Zambi mande. Este ordena-lhes que regressem aos seus corpos nas sepulturas, mas à noite dá-lhes a faculdade de matar quem eles bem entenderem.
* Suko: - de Sukuama, de muita admiração e surpresa…
Nota: nesta publicação a 27.06.2022 há pequenas alterações ao texto original publicado em Facebook de Kizomba...
O Soba T´chingange