TEMPO DE CINZAS. 12.03.2022 na Pajuçara – Republicação a 24.09.2022 em AlGharb do M´Puto
Crónica 3254 - Lendo a “TEORIA DA INCERTEZA” no 7º dia da guerra em Ucrânia
MALAMBA: É a palavra.
Por T´Chingange, na Pajuçara de Alagoas e Lagoa do M´Puto
Alain Delon, o donatário de dez paços de areia na praia Pajuçara chega por volta das sete horas da manhã fazendo um grande alarido em minha direcção, eleva as duas mãos, diz bom dia patrão e finca os dois polegares no ar abanados e virados ao céu para me desejar saúde. Estando eu a fazer movimentos de talassoterapia respondo do mesmo modo, com água até o pescoço, de óculos e chapéu quico branco do Palmeiras. Entrei na água pelas 5,45 horas, tépida, serena e espelhada como é normal na maré baixa. As calemas esbatem-se lá atrás nos recifes na forma de espuma branca; pode ouvir-se o barulho.
O Alain ganhou comigo o sobrenome de Delon em memória ao artista de cinema que me transmitiu alegrias na juventude Luandina, no antigo cine do bairro Maianga, meu clube, ou em uma outra qualquer das muitas salas ou esplanadas existentes na Luua de Angola tai como o Miramar, Império ou Avis. Aqui as sesmarias de posse d´areia são contadas em dez passos segundo uma direcção já estipulada e segundo duas referências como se fossem faróis ou bandeirolas, um poste alinhado com uma equina e, bem vertical à língua de praia.
Como chego muito cedo, a vastidão é só minha mas, porque conheço as balizas destes donatários sempre faço os possíveis para aqui ficar, sentar-me depois da hidroginástica, dizer umas larachas de soberania, comer uma peça de fruta à sombra do meu sombreiro com gravuras de peixe-agulha e flores, pegar no livro do dia para fazer a leitura hodierna; ainda ando mastigando o livro Veredas de Guimarães Rosa, triturando lentamente as falas intrincadas, parar e fazer-me entender envolto na riqueza de tantos vocábulos estranhos e, inusuais na literatura de hoje.
Sendo assim Alain deu paz à minha ideia congeminada entre o bracejar, rodar, remar e saltar abstraindo-me do olhar co contorno das cérceas que em curva se dispõem ao longo da marginal, calçadão, passeio e pista de ciclovia que ondula a marginal desta orla. Hotéis e edifícios residenciais que bordeiam esta grande piscina natural na forma de uma pequena baía. Estou bem em frente ao pavilhão de artesanato; posso vê-lo por entre os coqueiros e amendoeiras de um frondoso verde. É o lugar de Sete Coqueiros mas, em realidade são muitos mais.
Tenho agendado fazer compra de prendas neste artesanato, oiro de capim das chapadas de Tocantins; pequenas lembranças a levar para o M´puto. Por via da guerra da Ucrânia, embora longínqua, terrível, estupida e medonha, tudo me perfaz num quanto baste provocando-me desagasalhadas alegrias. O Alain passa e, mete-se comigo enquanto acaba de espetar seus grandes chapéus quadrados e vermelhos, num total de nove na sua sesmaria, dizendo:- Hoje é dia de escrita, patrão!? Sem esperar resposta, que nem era para isso, num entretanto acode a dois casais acomodando-os bem ao lado preenchendo assim a frontaria da maré…
Ver a praia desnuda e, do nada virar coisas, chapéus de múltiplas cores, cadeiras, mesas e arrepios de vida, se o quiserem resiliência também. Assim vi! Num repente veio um relance que também me arrepiou ideias. Minha rasa opinião sucumbe no braço d´armas da guerra que mata gente como quem mata coelhos. Putin, o dono da caça, ele tem olhos muito incertos e vesga-os sem sair qualquer suor pestanejado, cara de cera, sem lágrimas nas beiradas de sua testa, o filho da puta! Vou dizer mais o quê, apetece-me chamar-lhe nomes.
Cada um com a casa atrás da parede, tijolos desfeitos, atrás do nada, um zumbido, muitos mais, um estrondo e muitos mais, fragmentando mortes, o crepitar de labaredas, caibros que caem, muitos e mais muitos rebentamentos só átoa com cheiros, com fumos – ninguém tinha esperado – ninguém tinha pensado. E, depois, um silêncio tremido de medo com choro abafado e de novo, um segundo que vira século, aquele outro silêncio pior que um alarido, que dói…
No buraco escuro, escutando a rádio, opiniões, muitas até em que não me assopro, hipocrisia. Que crime? O homem veio guerrear com todo o mundo. Guerra! Crime que sei, de fazer traição; não cumprir a palavra, não a ter: Uma arte de intrujice, nunca vista, nunca sentida, nunca cheirada. E o resto do mundo? O resto do mundo ficando agachados, molengados, por nivelar sem diferir. Na ponta dos olhos da gente sai uma raiva, outra e mais outra, feitas lágrimas. Ideias que vão e vêm – a gente empurra para trás, mas a todo o momento elas voltam a rodear-nos nos lados. E o mundo, no mundo a gente que pode, tem muitos mais lados! E, não há lá no sítio da URSS, um filho da mãe que lhe ofereça um como de cicuta…
O Soba T´Chingange
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