UM CACTO CHAMADO XHOBA . XIII – 19.09.2019
TEMPOS DE DIPANDA NO OKAVANGO - Boligrafando estórias e Missossos uuabuama da Dipanda* – Ainda no século XX. Nossas vidas têm muitos kitukus…
Por
T´Chingange - No Alentejo do M´Puto
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No decurso da guerra civil que se seguiu após os gritos de Agostinho Neto em Luanda, MPLA é o POVO, o POVO é o MPLA e, a LUTA…CONTINUA, assim foi por demasiado tempo. “Durante esses longos anos, quantidades indefinidas de pedras preciosas, milhares de animais liquidados, elefantes e rinocerontes, milhões de toneladas de madeira foram traficadas de Angola desde a Floresta do Maiombe até às chanas do Moxico e Cuando-Cubango, Em troncos ou serradas em tábuas seguiram rumos para Oriente e Ocidente…
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Também nas áreas controladas pela UNITA este tráfico de património natural, se fazia sentir por via de se custear a guerra. Milhões de árvores foram derrubadas nas savanas do Cuando Cubango para traficar madeira, uma catástrofe ambiental com os mesmos tristes requisitos do desbaste de nobres madeiras de Cabinda. Os carros com toros faziam fila por quilómetros entre Lândana e Buco-Zau. Pode ter havido precedentes em outras partes do Mundo mas aqui, tudo ficou sem castigo para os infractores e há revelia do povo.
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Em uma serração pertencente à InterFrama, em Bwabwata que se estende pela Coutadas Públicas do Mucussu Luengué, Luiana e Longa Mavinga, também saíram milhares de toros; árvores milenares. Parte dos diamantes viajavam no avião de Joaquim da Silva Augusto, considerado um dos homens mais ricos da África do Sul a residir na Namíbia. O mesmo que pilotava a avioneta em que João Soares sofreu um grave desastre. Augusto tinha uma cadeia de supermercados e um grande armazém no Rundu, cidade fronteiriça com Angola na margem do rio Okavango.
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Era aqui o ponto de partida para os abastecimentos logísticos à UNITA. Sendo de um e outro lado o mesmo povo Ovambo, autoridades e ordens religiosas, faziam vista grossa ao grande movimento que por ali se fazia num regime de candonga institucionalizada e, por ambos os lados do rio Cubango. Miranda foi por algum tempo um funcionário de Joaquim da Silva Augusto até que se estabeleceu com várias lojas do mato ao longo do Cubango, comércio com padaria, casa de forragem e alfaias, materiais de construção -“Bottle shop, Bottle Store and Liquor Store”; um super mercado, estilo venda boteco com tudo o necessário.
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No rasto das memórias lembra-se que “foram liquidados 100.000 elefantes para ajudar a financiar a guerra”. As presas dos elefantes e os chifres dos rinocerontes foram armazenados na Jamba. As máfias, colocavam o marfim em Hong Kong, os diamantes em Pretória e na Europa e a madeira preciosa na Namíbia. Os turistas da Jamba, entre os quais a família Soares do M´puto, moviam-se de maravilha entre “embaixadores”. Entre este, havia um comerciante português, Arlindo Manuel Maia, dono de uma empresa de transportes em Joanesburgo com “filial” no Rundu. Nunca Miranda me disse o que aqui digo porque sempre nos distanciamos de suspeições incómodas. Cada qual com sua vida! Mas, foi peremptório em dizer que a queda da avioneta foi motivada por um susto de Augusto; o que dizem acerca dos dentes de elefante é invenção.
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Outro comerciante nestas lides de contrabando se assim se pode dizer, era José Francisco Lopes, com escritórios no Rundu, tido como multimilionário. Isto que já se tornou público, poderia até ser falado com meu amigo João Miranda do Mukwé mas, a propósito, não quis penetrar em periclitantes caminhos respeitando a ética de quem sempre me recebeu de braços abertos, um homem do mato que me merece todo o respeito; em suma direi que simplesmente não quis bulir com antigos constrangedores fantasmas. Tem mais, sempre me disse mal da Unita mas, estou em crer ser uma deslavada mentira. A dado momento, a mentira, é uma forma de coçar a flor do kongo – aparece e desaparece num mistério muito africano.
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A Environmentand Animal Welfare explicou que o contrabando de marfim se fazia através da Faixa de Caprivi. O coronel Breytenbach teria denunciado isto: “descobri uma máfia que contrabandeava dentes de elefante e chifres de rinoceronte, diamantes, madeira e droga”. Uma catástrofe ambiental sem precedentes nesta zona" disse ele. Ninguém agora pode mudar o rumo àquilo porque se passou, dizia eu a Miranda naquele fim do mundo, palco da acção montada pela África do Sul à que foi dado o nome de “Operação Savannah”.
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Esta operação, que estava destinada a apoiar uma frente entre a FNLA e a UNITA com quadros da extinta PIDE/DGS, não logrou seus fins; Também estes búfalos foram traídos por outras forças e, do qual saíram acordos secretos que mudaram o rumo à historia, origem de outra politicas. O capitão américa já tinha o nosso rumo traçado. Sobressaíram uns quantos na luta medonha a quem deram de espólio aquilo que eles bem quiseram roubar a começar pelo presidente de Angola JES que com seus capangas do MPLA, usaram de farta vilanagem. Nós, naquele então, não entendíamos o que estava a acontecer sem nunca podermos conceber que estava a ser forjada a maior traição de portugueses contra portugueses. Foi assim que tudo começou.
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Muita gente dita liberal, historiadores mancomunados à esquerda, afirmam a todo o momento que isso é para ser arquivadodo, uns porque estão mancomunados com os governos de agora, outros porque são nitidamente engraxadores no sentido mais degradante da palavra e, outros que querem ideologicamente tapar o sol com a peneira; também tapar nossos olhos com a desfaçatez de, o quanto baste. Nem a própria oposição em Angola a fim de tranquilizar os homens de bem, com sede de justiça, teve a coragem de fazer valer seus apregoados trejeitos de verdade.
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Todos sem excepção, se tornaram em uns trastes corruptos, corja ou bando de larápios que enrijaram suas organizações de criar inveja aos cartéis do mal! Uma cambada de ambiciosos sem escrúpulos que engana ainda o povo tanto do lado português como do angolano, sem tibiezas ou despudor! Competia a Portugal assegurar tranquilidade a todos os patriotas mas, em verdade foram os brancos militares e líderes portugueses que proporcionaram tudo o que se verificou! Gente do PREC, militares de aviário do MFA, irresponsáveis imberbes ou incompetentes políticos que nos entregaram ao diabo. No correr dos tempos nenhum político de nomeada se dignou dizer a merda que fizeram e pedir desculpas! Atitudes que não serviram nem aos portugueses nem aos angolanos.
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Nota: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
GLOSSÁRIO:
Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Uuabuama - maravilhoso; Oshakati – Nome de terra ao Norte da Namíbia; Lodge – Hotel de superfície, conjunto de casas para turistas; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Grootfontein- Cidade da Namíbia que acolheu os refugiados de Angola, Xirikwata – pássaro que come jindungo…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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