UM CACTO CHAMADO XHOBA . XIV – 21.09.2019
TEMPOS DE DIPANDA NO OKAVANGO - Boligrafando estórias e Missossos uuabuama da Dipanda* – Recordando o início da Tundamunjila (tunda a mujila). Nossas vidas têm muitos kitukus…
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
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TEMPOS PARA ESQUECER – Sentados no alpendre da casa do Mukwé, totalmente feita com madeira de primeira das matas do Cubango, e ainda no século XX, olhando o rio Cubango (Okavango), ao sabor de um café colhido, secado, torrado e moído no local, eu e João Miranda conversávamos sobre a terra de que fomos obrigados a abandonar. Eramos ambos da mesma opinião: Muitos dos “libertadores de 75” os mwangolés de hoje, sonhavam com a casa, o lugar de director, o carro, os privilégios e as posições dos colonos que vendiam peixe frito ou carne seca lá no mato.
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Por vezes em muxoxos, referiam também ficar com a mulher do colono – um desvario alimentado pela midia do M´Puto, pelo MFA e seus generais da mututa. Em Angola “conquistaram” isso, a independência e, tornaram-se piores do que os colonos…Em Kampala, o presidente da OUA, Idi Amim Dada, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP- MFA de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça.
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Em Pereira D´Eça (a actual Onjiva) o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta por ser esta região afecta à UNITA - um povo Ovambo ou Ovibundo. Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas ali sediadas e uma declarada provocação ao Movimento da UNITA. Manuel Resende Ferreira disse neste então: -Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam (uma população maioritariamente branca e assimilados).
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Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito criaram ali uma zona de segurança à revelia de seus comandantes do MFA. O comportamento da UNITA teve forçosamente de mudar de táctica e, seu posterior comportamento no Lubango e áreas do Sul que, levaram a desconsiderar tanto o Movimento como o seu Presidente Jonas Savimbi que por ali esteve em tempos de estudante.
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São aqueles os heróis esquecidos, soldados de Portugal que abandonam o exército comunista Português para protegerem cidadãos e, lutar contra a anarquia comunista. Eu e Miranda ressaltamos bem esta nossa postura; mas, quem éramos nós para vaticinar e politicar a enviesada saída do M´Puto pelos homens que antes tinham sido heróis, como esse do Spínola da banga desmedidamente parva e até caricata, usando luva, monóculo tipo Eça de Queirós, botas de montar lustradas e um pingalim – fetiches de túji que também por vaidade o levou a escrever isso de “Portugal e o Futuro”.
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E, que foi feito do Tenente Fernando Paulo? Pensando nele demo-nos conta que era o fim do império colonial. E isso, nós (Eu e João Miranda) queríamos que acontecesse sim! Mas, e mais mas, tão seguidos mostraram de forma paulatina as feras sendo largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! Tarde piaste! Momentos de muita inocente incerteza; abandonar tudo, entregar a chave do carro ao jardineiro da casa, o cão pastor alemão à Mariana, uma exemplar serviçal ao nosso serviço, na Caála, no Kuito, um qualquer lugar com picada de acesso. E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? Talvez Brasil!? Quem sabe – Austrália ou Argentina!
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As NT - Nossas Tropas, já não eram nossas, davam cunhetes, canhões, paióis inteiros e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina, Nakuru… Mostravam ao MPLA abertamente as fotos aéreas em progressão do “inimigo”; davam-lhe as coordenadas, organizavam planos de voo com dados de meteorologia e até furtavam casas aos colonos e afins em apoio ao MPLA: Isso! Saque dos haveres de colonos que saíam desordenadamente de suas casas, abandonando tudo.
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Uma frieza ímpar na história de Portugal. O MPLA da Luua inventava a maka! E, eram makas sobre makas, paralisações descabidas. Inventavam os pioneiros que eram trabalhados em marcha no esquerdo e direita por jovens estudantes do M´Puto! Estudantes que regressados à Metrópole tinham passagem administrativa garantida; o tal de PREC. Depois o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a vitória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito… Tudo era planificadamente certíssimo! Melo Antunes, Rosa Coutinho e uns quantos mais que ainda não deram à sola pró álem.
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As makas organizadas com o objectivo de criar o caos, originar pancadaria e depois a vitimização com características de sofisticada mentira; meter tudo no barulho, pressionar psicologicamente e criar condições de favorecimento por parte dos militares do MFA, as NT, o CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário. Às tantas, já se fazia tudo às claras. Até o Idi Amim Dada se dava conta de tudo isto! Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Neto (era só mesmo para agradar àquele diplomata da USA…).
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Esse cérebro guia dos demais, chamado de Melo Antunes, foi dizendo a Kissinger que era difícil de classificar politicamente Agostinho Neto como um comunista ortodoxo! Agostinho Neto, à coisa dada (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Mas, que grandes mentirosos! Neto, com laivos de poeta (diga-se de baixo coturno…), dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto, quando em verdade, tudo teve destes (traidores…) Mas que pulha! Bem feito, cambada! Alguns não gostaram, diga-se… Assim e com João Miranda do Mukwé, algures no Shitemo, acabamos as falas da tarde com uns goles de gim com água tónica para espantar mosquitos…
Nota: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
GLOSSÁRIO:
Banga – estilo, vaidade excessiva; Tuji – excremento, merda; Mwangolés – os donos de angola, os generais que se apossaram da Nação Angola por via de seu poder libertário; Muxoxo- expressão com som de língua com palato em forma de estalo em desdém pelo dito; Mututa – da bosta, de ralé; Maka – confusão, rixa, alvoroço; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Kapooto – Vinho bolunga feito a martelo, de fermentação rápida com pilhas de lanterna; Uuabuama - maravilhoso; Oshakati – Nome de terra ao Norte da Namíbia; Lodge – Hotel de superfície, conjunto de casas para turistas; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Grootfontein- Cidade da Namíbia que acolheu os refugiados de Angola, Xirikwata – pássaro que come jindungo…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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