UM CACTO CHAMADO XHOBA . XIX – 11.10.2019
TEMPOS DE DIPANDA NO OKAVANGO - Boligrafando estórias com a Kianda Januário Pieter e missossos - Na Dipanda*, nossas vidas têm muitos kitukus (mistérios)
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
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A verdade é como o azeite, vem à tona de água com o tempo; as memórias que antes eram mugimbos, tornam-se agora verdadeiras. Já a tarde se fazia noite quando eu e Januário Pieter nos voltamos a encontrar na beirada do Okavango e desta feita com João Miranda do Mukwé, o branco quase lenda que também sabe falar com estalidos como os khoisans. Foi este o homem que chefiou esses especialistas do arco e flecha na invasão dos Sul-Africanos do Batalhão Búfalo- 32 tendo chegado às margens do rio Cuvo - Keve junto às quedas da Binda, entre a Gabela e o Sumbe… Após um pequeno estampido, um fumo feito holograma faz-se gente, e nós, num surpreendido susto, demos cada qual seu salto entornando os copos de cerveja Windhoek em nossos zuartes. Este inesperado susto deu lugar aos comprimentos perante a admiração espacial de Miranda. Tive de, muito na calma dizer-lhe ser este velho senhor uma Kianda que me acompanha desde nosso primeiro encontro em Jablines de Paris de França e quando pela primeira vez fui ao famoso parque da Disneylândia com minha neta!
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Surgindo de quando em vez, ali está ele a clarear coisas obscuras que ocorrem em nossas cabeças, coisas ainda por falar entre nós mas que ele desbravou em sua lanterna fosfórica do tempo. E sem mais nem porquê ali está ele pronto a falar connosco por via de pensamentos dúbios que normalmente vociferamos nas conversas banais. Essas coisas da arca-da-velha a fazer de vírgula nos acontecimentos. Só direi que este kota Kianda, seco de carcomidas carnes tem a bela idade de 394 anos. Como o tempo não nos rugia, recordei depois dum abraço longo e largo do tempo em que sentados em uma esplanada “Plaza Mayor” de Burgos de Espanha, ouvi Pieter descrever as descobertas feitas na sacristia do “Monastério de la Cartuja”.
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Recordo dez anos trás teres-me dito que um teu tio seguindo as pisadas de seu pai Lestienne não sei das quantas, francês, poderia escrever em um livro sobre as judiarias ainda não reveladas da estória difusa e confusa do início da reviravolta em Angola. Não me esclareceste isto nessa altura porque estavas com pressa. Também afirmaste ser isso tarefa para mercenários da escrita ou fazedores de mambos, recordas? Miranda assistia à nossa conversa sem vislumbrar peva de qual era o objectivo desta longa introdução assim sem capítulos nos preâmbulos mas, logo espevitou as orelhas quando se falou na alteração do rumo à história da guerra daquele tempo no lugar de Cabo Ledo e na praia de Sangano. Pois disse eu abrindo as duas mãos solicitando atenção Pieter! Em verdade tu (ele) falaste das meias verdades contadas por Pepetela e um tal de Tchiweka, o homem segredo conhecido por Lúcio Lara, o grande ajudante em campo do Vermelho Rosa Coutinho, o Almirante.
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Não! Não é bem assim como dizes, disse abanando seu templo reluzente de sapiência: Esse meu tio de há quatrocentos e dez anos atrás, rumou até Cádis e no Puerto de Santa Maria no Sul de Espanha embarcou à descoberta das Américas. Ele nunca esteve em África! Agora essa estória de Cabo Ledo, minha terra natal, é só minha! Fui eu que a vivi! Diz peremtóriamente para ficar claro na minha debilidade. Pois é, fiz confusão pela certa, disse eu fazendo um trejeito de muxoxo mal disfarçado para Miranda do Mukwé inclinando a cabeça na forma de dizer aconteceu… Pude ler seu pensamento: - Aguenta parceiro!
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Mas, o que é que esta Kianda de trezentos e noventa e quatro anos sabia das artimanhas do glorioso PREC - Processo de Revolução em Curso, do MFA – Movimento das Forças Armadas do M´Puto, combinado unha com carne com o glorioso MPLA? Isso! Das coisas que desconhecíamos ao pormenor por tão bem escondido de todos. A verdade é como o azeite! Rosa Coutinho marinheiro, foi o oficial de aviário mais verdadeiro na história recente dos Tugas pois que teve o seu início numa gaiola. Em verdade, foi Holden Roberto como patrulheiro da fronteira do Zaire que fez passear em jaula como um macaco, o Vermelho General. Bem! Isto já era do nosso conhecimento, meu e de Miranda…
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Como já disse, as aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim, são uma permanente descoberta de novos pedaços de infinito. E, Pieter descreve: - Por entre os cactos das barrocas, entre a bruma da maresia e clareando, vi centenas de militares percorrer o areal, reunir apetrechos de guerra, subir para carros do tipo unimog e galgarem a montanha da costa a caminho do quartel, uns galpões construídos lado a lado e que seriam as primeiras casernas daquela gente que vim a saber pouco depois serem Cubanos. Estávamos em fins de Julho do ano de mil novecentos e setenta e cinco.
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Mas, interrompo: - Os Cubanos, pelo que consta, só a cinco de Outubro desse ano, é que chegam a Angola. Foi o que sempre disseram quanto à ajuda pela União Soviética através de Cuba - Pois, (...) vocês souberam o que Rosa Coutinho queria que soubessem. Foi na praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”; os instrutores deste equipamento sofisticado estava a ser coordenado pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville eram enviados numa primeira fase em aviões mais pequenos para a pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
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Andrei Tokarev afirmou que o seu comando enviou oficiais e sargentos que se aquartelaram em instalações abandonadas pelos Tugas: estes quarteis contornavam Luanda que em sequência das orientações do agente vermelho Rosa estavam ao abandono. Por esta altura desde Kifangondo passando por Katete, Colomboloca, Kassoalála, Kassoneca, Dondo, Massangano, Muxima, e descendo o rio até a foz do Kwanza e Cabo Ledo já estava tudo queimado: Ficaram algumas estruturas de pé para assegurar bivaque aos novos guerrilheiros e instrutores do MPLA.
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- Tudo o descrito só é possível a partir da chegada a Luanda do Vermelhão Rosa como Presidente da Junta Governativa de Angola precisamente em Julho de 1975 -Estava tudo traçado, continua Januário Peter. Rosa Coutinho, tempos antes como Alto-comissário escreve uma carta timbrada do antigo Gabinete do Governo Geral de Angola a Agostinho Neto, presidente do MPLA nos seguintes termos: “ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do processo: Aterrorizar por todos os meios os brancos, matando, pilhando, e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos,...” A Carta é datada a 22 de Dezembro de 1974, terminando com saudações revolucionárias, a vitória é certa, seguindo-se a assinatura, Alves Rosa Coutinho, Vice-Almirante.
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Recorde-se que a tropa Tuga, foi proibida de entrar nos musseques a fim de proporcionar “O poder popular”, simultaneamente retirando as armas em posse dos brancos. Há muitos buracos por preencher. Lúcio Lara, o “Tchiweka”, já pode desvendá-los, antes que se deturpem. Isso é verdade sim! Mas, nessa altura o assunto tinha explodido as veles de ignição de nossos medos, nossas preocupações; nossas cabeças eram uma revoada de coisas ruins…Vivi esta estória amigo Januário, disse. E, acrescentei: - O medo tomou conta de todos com ajuda da FUA, liderada por um tal chamado de Falcão, acrescento eu para a Kianda do Cabo Ledo. Falcão ou falsão? Disse João Miranda do Mukwé. Neste início de noite ficamos assim sem mais falar dos Khoisan…
Nota: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise Angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional. Corresponde à diáspora de angolanos e afins espalhados por esse mundo.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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