MOKANDA DO DIA – 16.12.2017 – Tukya. III - Peixe da chana
- Apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo. É o nosso pensamento que cria a nossa realidade…
Por
T´Chingange
E, por fim o Niassa desapareceu no horizonte com suas bocas de fumo deixando rasto nos meus sonho de kaluanda, perdido nas terras do fim do mundo, subindo e descendo dunas dum deserto chamado dos esqueletos. Sua sirene de voz grave engravidou-se em meu íntimo assim em rolos de fumo. E neste viver de quase sonho, fiquei com aquele amigo de faz de conta chamado de Sexta-feira. Foi ele que me ensinou a fazer lagosta suada, e polvo espancado para depois ser cozinhado com arroz.
Sexta-Feira adorava comer o pirão com conduto de carapau seco e assado na brasa. Retirava-o das brasas com as mãos nodosas, depois partia-o em iscas pequenas, uma de cada vez para depois o saborear com salpicos de vinagre embebido com ervas aromáticas, jindungo, azeite de dendém, cebola picada e tomate no pirão de milho adocicado, agridoce. E, naquela vastidão de nada o chupar do dedo dava uma sensação inebriante de fazer uiui como o vento.
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Eu e ele fazíamos bolinhas de pirão, tecidos e embolados com os dedos lambuzados. Disse-me que aprendeu a fazer isto no Longojo, terra aonde nasceu; era uma sexta-feira e, por isso ter-se chamado assim. Mais tarde mudou-se para Kaluquembe lá no Huambo onde o mestre Zacarias Bikwatas lhe domesticou na arte de preparar corvina fresca, quersedizer seca dos fardos mala que o senhor Albano Paixão lhes levava da estação da Caála.
E, eram cachucho, corvina, carapau, sardinha, atum ou pungo. Mas às vezes era sómesmo peixe sem cabeça para identificar. Dizem que até mesmo de vez em quando tinham rabo de kianda. Perante a minha reticência, duvida mesmo, ele falou então: -juro, tem os pessoa quié peixe! Mulher mesmo!
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Mais tarde um velho contratado na pescaria do Senhor Rufino de Baia Farta confirmar-lhe ia que sim! Havia um peixe-mulher. Bom! Não era fantasia não! Era o manatim chamado de peixe- boi ou vaca marinha ou ainda mulher peixe. Ainda há destes peixes no Brasil mas aqui, parece terem sido extintos, disse eu a Sexta-Feira. Ele só deu de ombros assim-assim como que um talvez seja! Patrão tem sempre razão, nuué…
Aquele peixe-boi, mulher marinha ou sereia, nada de costas segurando com carinho a sua cria no peito; dando gritos de lamento, muxoxos de mãe, levou os marinheiros com sua misticidade e fascínio a dizer ser aquela a kianda, sereia dos rios e mares. Esta postura quase humana deu origem ao mito das sereias da kalunga e do iemanjá. Do outro lado do mar o Bumba-meu-boi do rio Amazonas.
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Vim a encontrar esta, feita estátua num recife em Guaxuma do Brasil, que derivou numa longa estória com um homem do mar chamado de Zé-peixe de Aracaju. Mas esta é uma estória sempre inacabada, ao calhas, que talvez reapareça por aqui a completar a odisseia da Kianda Roxo. Dizem que o manatim africano ainda existe e até que a fundação do Parque da Quiçama empenha-se em preservar estes espécimes nos sistemas fluviais do Bengo e Kwanza por repovoamento, talvez.
Mas mesmo que isto não aconteça aparecerão em minhas estórias de lendas com a Kianda Roxo assim que esteja impregnado da veia de inventação e, por forma a dar continuidade a um conto fascinante com as kwangiades no tempo em que os marinheiros usavam bordões e folhas de palmeira para e, beneficiando do movimento de vaivém das marés, fazerem o cerco e apanharem na vazante os peixes ali aprisionados.
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Presos nestas precárias redes, podiam apanhar o peixe à mão. Do mesmo modo que faziam na lagoas do planalto, chanas de Angola com o peixe voador ou do capim. Ainda não será hoje que falarei desse peixe do lodo que saltava para os capins das anharas. Fica para a próxima… Só posso acrescentar que o peixe saltador do lodo se baseia em um ecossistema, como existe nos manguezais, lagos ou lagoas rasas que secam no verão.
Nota: Alguns dados, foram retirados das Crónicas de Kandimba de Sebastião Coelho
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