CINZAS DO TEMPO - 19.01.2018
NO TEMPO DAS CARTAS DE CHAMADA PARA A LUUA - ANGOLA DEVE TER SIDO UM SONHO!
- O vapor Mouzinho levou meu pai para Angola; ele levava uma mala caixão de lata com bolinhas verdes e tiras de madeira pregadas com taxas douradas…
MALAMBA: É a palavra.
Por
T´Chingange
Há dias e dias! Há dias de um irritado pessimismo e outros de tão naturalmente optimistas que como um carneiro jogamos orgulhos contra obstáculos de repetidas coisas, eternas repetições de males antigos, males de imaginações insatisfeitas, amargas desilusões sem fermento na tristeza. Sem vontade de tormentos, certo!
O certo é o de que quanto mais se sabe mais se sofre. Há fastio de inteligência! Há tédio! Há vontade de mandar tudo fora e partir vidraças, emudecer brilhos, despedaçar bocejos. Mas, desde quando um carneiro tem orgulho?
Tão abarrotado de civilização espreito os meses farejando raças sob o abrigo de suas telhas vãs no calor da lareira, panela atestada de couves tronxas, frigideiras com unto branco de porco, uns chouriços de pendão, panelas tisnadas, trempes de ferro sempre aquecidas entre troncos de oliveira e borralho esparramado:
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Uns traços de números esgravatados na cinza. É meu pai fazendo contas de feira passando os dedos papudos e peludos ora nas frieiras, ora sobre a face pendida, apalpando a testa e aludindo ganhos minguados. Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão gasto, enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, lembranças do M´puto, da guerra.
Embebido, travado e suspirando baixinho, revia sua miúda indecisão de viver recordando-se dum dia. De repente, com um trejeito de esforço endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou (é ele a recordar): - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me! -Vou para Angola! Corria o ano de mil novecentos e troca o passo. E, o tempo passou...
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Falo de meu pai que esgadanhando a vida retirava volfrâmio nos granitos da beira no lugar do Cornelho, freguesia de Rio-de-Loba, terras altas e frias nos arrabaldes de Viseu - terras de Viriato e Sertório...
Os gases da segunda guerra ainda lhe amedrontavam os pensamentos. E, até eu sonhei dias depois que ainda pequeno, nos interregnos da brincadeira, guardava as chibitas, cabras que forneciam leite à família com aquele maluco carneiro que se encavalitava para marrar no farrusco, meu cachorro também guardador. Cabrão do animal!
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A Dona Micas barafustava a gritos a cada investida das cabras aos rebentos de suas videiras; eram os meus grandes problemas de vigília com arremesso de pedras e o busca-busca de farrusco. Meus sonhos transladavam-me para as frias terras aonde meu pai em tempos lá no M´Puto disse ter namorado com uma bruxa. Eu até me arrepiava quando falava de lobisomens de um tal de Nesprido... Eu candengue e aquilo a meter medo aos putos, que nem as recentes Urais soviéticas da guerra e, também depois do tundamunjila branco! As guerras aqui ou lá são sempre de kwata-kwata...
Sentado no muro de pedra solta e no lugar da Maianga da Luua, um dia, vi meu pai seguir na carreira via Cais de Alcântara em Lisboa (de novo aquele sonho duma terra ainda desconhecida); levava uma mala de lata, um caixão de esperança sarapintada de bolinhas verdes sobre um xadrez de riscas pretas reforçada com umas tiras de ripas de madeira pregadas com taxas douradas.
O velho vapor de guerra Mouzinho de Albuquerque esperava-o ancorado no rio Tejo. Vendo agora a foto amarelada desse velho barco com meus dedos curtos e papudos, afago a caveira através da face também sarapintada nos anos. Essa mala de bolinhas verdes nunca voltou; lá ficou com outras muitas fotos numa Angola que ele tanto queria. Foi quando decidi ser Niassalês; nascido num barco que agora só é ferrugem...
O Soba T´Chingange
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