TEMPOS PARA ESQUECER – 27.01.2018
Já se passaram quase 43 anos depois da independência. Muxoxos de lusofodiaste com fricção dum Monstro Imortal…
Por
T´Chingange
Aquele Tenente-Coronel fardado com um pijama às riscas sentado num sofá de orelhas, era preto. Era alto em sua juventude mas agora curvado com o peso da vida e das traquinices tornou-se em um espeto seco, desmilinguido, invulgarmente marreco e bexigoso fruto de tantas ruindades frutificadas na violência da vicissitude da política.
Em um momento de lucidez perguntei por seu nome e veio de lá a resposta: Monstro Imortal! Fiquei de boca aberta pois que este figurão tinha sido morto na guerra dos fraccionistas no ano de 1977, ano em que meu pai Manel veio para o M´Puto com uma bala no corpo. Só pode ser um matumbola (morto vivo) pensei cá para mim e até me belisquei para ter a certeza de que isto não era um sonho. Eu sabia bem que João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, tinha morrido com um garrote do n´guelelo.
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Isto, há coisas que só acontecem comigo! Constava-se que o tinham cegado mas nada lhe perguntei porque o delírio da velhice pode bem dar para estas divagações; ele via mal, mas via! Sendo assim deixei-o a falar entre dentes; -Aquele cabrão do Pedalé (Pedro Tonha) nem teve coragem para me fazer perguntas. Deixaram-me ali a gemer para um gravador, enquanto apertavam o garrote - Iam e vinham; iam e vinham. Atiraram-me ao mar de um avião mas sobrevivi! Será?
A história coincidia com os muxoxos mas aqui no mato, num lugar do cú de Judas da Zâmbia já ninguém lhe dava ouvidos. Todos sabiam que tinha chegado em uma avioneta trazido por um homem loiro, cor de cenoura que pagou a preço d´oiro seu salvamento a um grupo de gente que por ali estava. Talvez uma ONG! Pensei eu. Deve ter sido salvo por um submarino soviético, só pode!
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Agora que diz coisa sem coisa, todos os desculpam de coitado, nem sabe o que diz, nem sabe o que fala! Muito cheio de catolotolo a dado momento fica apontando a miragem do mato referindo-se ao porto da Luua; que dinamizava a paralisação dos homens que deveriam fazer estiva, carregar as bikwatas dos colonos brancos e mazombos. E, isto de dinamizar a paralisação é um contra censo mas é mesmo assim, dinamizar o nada-fazer para parar a economia dos brancos.
Hoje vai haver maka! Repetia a todo o instante. E, punha-se a rir no canto do beiço contando centenas de mortos e ordens de carrega nos unimogues dos Tugas do MFA - leva na vala. Nosso Coronel, fazemos como com os feridos? - Leva tudo junto e, bota neles cokteil molotov! Ordens são ordens e, rapidamente dali e acolá saiam frotas de carros goteando sangue nas ruas da Luua.
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E li algures de que «As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.» - Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»
Você não colabora - vejo-me obrigado a entregá-lo aos militares. «Os detidos passavam para os militares, e para as torturas.» Foi assim mesmo, dizia isto para mim com duas lágrimas estancadas no rosto, que secavam ao vento da chana, uma anhara sem fim. E continuou: - «Presos atirados pelas escadas e, no pátio, espancados só átoa. Berravam e pediam por amor de Deus, não fiz nada. Quase sem vida eram atirados para dentro de viaturas. Até um mercenário norte-americano, lembro bem, comentou: -Vi muita coisa na minha vida mas nunca uma coisa assim.
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«Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteiam o Costa Martins, batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Também o puseram numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Só cheirava a carne queimada.» Este Tenente-Coronel estava mesmo nas últimas; nem sei se estes nomes existem mesmo.
Junto com o ranho e as excrescências tossicadas pude ver grossas pastas de sangue. Os cuidados esmerados daquele grupo de gente já não alcançariam êxito de vida para aquele imortal. Saí daquele lugar de Chokola num jeep willis até Catima Mulillo aonde apanhei um voo até Lusaka. Ainda estou em crer que aquele velho senhor não era esse tal de Monstro Imortal do MPLA mandado matar por Agostinho Neto. Seja como for, para mim o Tenente-Coronel fardado de pijama às riscas deixou de ser Imortal. Defuntou-se imortalizado…
O Soba T´Chingange
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