ANGOLA – No Rio Seco da Maianga - Um amor impossível com um Louva-a-deus fêmea
Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.
Por
T´Chingange
Efectivamente isto aconteceu no Rio-seco da Maianga. De coração batucando dores dentro da alma, cara enrugada e desfeita, refiz a cena dum periclitante amor defuntado no tempo certo. A Louva-a-deus segurou minha foto nas mãos-tenazes e comeu-me como se fosse um pirolito de caramelo crocante. Eu, espreitando entre um monte de tijolos no quintal da Dona Arminda, minha mãe, pude ver naquela cena de quintal, o quanto a minha vida de macho corria perigo. Esta Sangamonga feita Louva-a-deus, vagabundou minha vida tornando-a em cinza e, sem estrebuchar meteu-me em sua boca deglutindo-me por inteiro. Mulata danada! Eu, grande amor da sua vida fui engolido sem enterro. Aquele amor, nascido duma impertinente flôr-do-kongo, ela, a Sangamonga, botou-me uns pozes curadores nas matubas e, de esfraganços ajindungados de maleitas e kanastem, transladou minha quentura ao coração, esta foi a puríssima verdade verdadeira!
O louva-a-deus é um insecto. Seu nome popular decorre do facto de que, quando está pousado, lembra uma pessoa orando. Caçam por emboscada facilitada pelas capacidades de camuflagem. Seu ritual de acasalamento, que decorre por volta do Outono, é uma época de perigo para os machos da espécie, uma vez que a fêmea quase sempre os mata e come durante ou depois do acto. A fêmea põe entre 10 a 400 ovos numa cápsula endurecida; após a eclosão, o louva-a-deus nasce como ninfa, que é em tudo igual ao adulto excepto no tamanho que é menor.
Batendo as palmas de seu coração justificou seu grande amor por mim, falando ao vento que farfalhava o tamarindo; talvez a acidez deste estivesse a ser aproveitada naquelas gesticuladas mezinhas de macumbas e alfinetadas. Contando isto a meu amigo kalacata, este retorquiu-me: - Meu amigo, tiveste muita sorte! Vejo-te mudado, cagunfa mesmo, mas deixa que te diga que nunca tiveste juízo pá!... P´ra pior antes assim, vivinho da costa; meteste-te com uma trituradora canibal de machos e, pois…aconteceu! E, acrescentou: - essa Sangamonga queria mesmo devorar-te e defecar-te no mato dela para engordar suas piteiras de tabaibos, matipa-tipas e xá caxinde da horta dela. Desde aquele então, o amor fechou-se-me na frustração, impregnando-se de pílulas até os anos as roerem. É perigoso namorar com uma Louva-a-deus; é como que voluntariamente, metermo-nos na boca do inferno sem passar no purgatório.
Prometi-me que nunca mais me iria deixar hipnotizar pelos olhos xicululu rodopiados duma louva-a-deus; menos-mal que na fúria deglutiu minha t´xipala e soeu, pude ver-me mastigado em meus linfáticos salientes; na gula dela, parecia palha de chinguiços velhos, espumados com ranho de babado, vomitado de cachorro rafeiro. Minha nossa senhora da Muxima, quando me lembro até os pelos do mataco se me arrepiam. Esta observância, salvou-me! Foi meu tio, Nosso Senhor, também conhecido por Zé da Fisga, que me advertiu: - Tonito, olha que essa moça, tem feitiço cum ela, mira-lhe bem no seu escuro das costas, ela tem mancha de macambira, mesmo de munhungueira e, isso não é não; não é bom sinal! Obrigado meu Nosso senhor.
O Soba T´Chingange
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