LUANDA . 1953 … NUVENS DE AÇUCAR NA FEIRA DS VICENTINAS…Nª Sra DO CARMO…
Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.
Por
Juka Kibiala sozinhado frente a frente com um copo de kimbombo falava filosofias baratas entremeadas de bordoadas de aduelas de barril anilhadas no seu cerebelo e cabelo e, duma vez eu escutei o resmungo, que no desemprego crónico dele nunca que ninguém lhe pisou os calos; nas falas dele dizia que essa era mesmomesmo a sua grande dignidade! Com seu chapéu de papelão aba larga, com serpentinas coloridas e uma pena de jacó de Cabinda fazia umas horas extras enrolando açúcar num pauzinho; rola que rola, despejava sua alegria de simplicidade no riso da criançada. Rosado e leve que nem nuvem, o algodãozinho de açúcar lambuzava a gulodice dos catraios, candengues e pivetes em troca de uma quinhenta de macuta. Neste tempo de medos ainda agarrados no cu das calças, meu tio Manel Topeto do M´Puto ensinou Kibiala a enrolar o pau de bambu afiado a naifa, na nuvem.
Naquela feira das Vicentinas e no largo da Nossa Senhora do Carmo entre a Mutamba e o Maculussu, meu tio Manel Topeto botava uma massa espremida dum pano branco com um funil na ponta que no seu jeito sódele enrolava no tacho assim-assim sempre pra direita formando uma ravianga de curvas em óleo fervente. Meu tio tornou-se um perito nessa arte de fazer farturas e as velhotas benfeitoras só o queriam a ele para fazer aquela tarefa. Corria o ano de 1953 na cidade de Luanda; eu, candengue gozava de uns trocados para rodar nas cadeiras do carrossel mais aviões, chupar uns pirolitos ou beber mission dos coqueiros. Naquela semana de feira de Nª Senhora do Carmo minha felicidade suplantava todos os caminhos corridos com carro de arame, do visgo da mulembeira, do alçapão de apanhar celestes, Januários e rabos-de-junco, com painço da venda do Hernâni do Rio Seco.
Juka Kibiala, com seu grande coração, berridando gotinhas de cacimbo nos olhos dele, puro-sangue do Catambor, quase meu vizinho do salvo seja, ria com a boca cheia de dentes brancos e esfregados na mateba com carvão; ria mesmo de boca cheia com o menino branco que era eu, o Tonito, branco do musseque, sobrinho do Siô Manel Topeto seu capataz, vou-lhe agradar. Ele só fingia que recebia uma quinhenta e dava-me a nuvem branca de açúcar e, eu só fingia que lhe dava. De agradecido, um dia dei-lhe um bico-de-lacre numa gaiola e ele chorou de agradecimento!
Obrigado menino Tonito! Auá, nunca que ninguém me deu nada assim! Pegou na gaiola, abriu a porta e deu liberdade nele e sorriu só! É melhor assim: -Pássaro não quer prisão! E, nem sei como, mas percebi! Dei-lhe mesmo uma grande alegria. Ensinou-me nesse um dia que a certeza não nasce feita!
O Soba T´Chingange
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