NA BEACH DO FRANCÊS – 2ª Parte
No tempo da vitrola…– 15.02.2020
Por
T´Chingange - No Nordeste brasileiro
Estávamos em Março de 2007, dia da Mulher. Os barulhos de terra e as ondas do mar a desfazer-se em espuma no recife conjugavam-se numa sinfonia única. Era a música da vida, num dia que começava para a Malu, com seu acarajé quentinho e, enquanto isso, uma leva de gente embarcava no Massunim I, barco de recreio e passeio; iriam até às piscinas, uma lagoas naturais de mar raso e corais aonde os peixes confraternizavam comendo pedaços de pão que os turistas ofereciam.
O ladrar de um cão, não condizia com o lugar mas este, indiferente, lambuzava-se na água, de rabo a dar a dar, gania para o dono peneirando o corpo, salpicando o ar. Chapéus, mesas e cadeiras de plástico de todas as cores surgem preenchendo a faixa de areia loira; a vista fica multicolor com salpicos de tralhas e trecos, caixas de isopor, esferovite com coco frio e também outras rolantes com ananás balouçando.
Mas também discotecas ambulantes em forma de longas caixas com rodas e o sempre presente “picolé caseiro caicó”. Mais lá à frente um pescador atento ao movimento das águas a imitar um albatroz ou uma águia pesqueira, lançava à água a rede que depois de fazer um circulo gracioso e penetrava na água trazendo quase sempre peixes pequenos, um ou outro um tudo-nada maior que pareciam roncar.
As sete mulheres deitadas ou sentadas, iam-se rebolando em suas toalhas no trabalho de ficarem no bronze ideal; lambuzando-se até com movimentos demasiado provocatórios ao sol escaldante; uma delas já dentro de água adorava o céu de mãos espalmadas, impregnada de Iemanjá da kalunga que reluzia suas suaves ondas.
O capitão “Tanguinha do Mar e Céu” descrevia como um raizeiro, perito kimbanda procedia em suas virtudes do chá doutorzinho e mais uma catrefada de técnicas de embelezamento com unguentos de tradição dos índios Caetés; falava também dos seu inventos voadores, pois um dia, lá no sítio, observou uma folha de amendoeira caindo assim e daquele jeito que ele tenta mimicar e que o levou a inventar um pássaro que movia as asas e subia, subia como só ele sabia fazer – tanga da treta, pois!
Vendeu a patente a um português que surgiu na praia e que após uns entretantos e, alguns reais, levou o seu “isopor voador” para Lisboa. Estava na cara que esta conversa de facilidades e tão brejeira só podia se uma peta das mal inventadas e dai a concordar por inteiro com seu nome de capitão Tanguinha – outro nome não lhe iria condizer tão ao jeito, pois!
Nesta praia funcionam as regras “de entre amigos” alugando os barcos em rodízio a fim de todos ficarem com algum miseré. Parados no curto horizonte da Praia do Francês estavam os barcos Corais Bar, O Maiorca e o Masunim II. O capitão Tangas ainda ventilou a hipótese de eu lhe comprar o Corais Bar mas, retirei-lhe ousadias com um encolher de ombros… Se tinha duvidas ficou agora com a noção de que o "je" estava ali para curtir a vida com três peixinhos ao dia-a-dia!
As sete mulheres entrelaçadas em suspiros de entre ai-ais voadores, juntaram suas vestes translucidamente voluptuosas nos rendados e lá se foram ao restaurante “O Pato” da Massagueira a festeja seu dia - dia da mulher, pois então. Neste momento surgiu a simpática Elisabete a vender-me a taluda da sorte, uma tal de mega-sena e, porque me fiou parcialmente lá acedi a ficar com tamanho desejo; Não se admirem de na praia até venderem sortes pois! Aqui a praia é um grande e longo bazar. Aonde se vendem vestidos, panos de cozinha e o escambau. Aqui nesta praia do Nordeste – Marechal Deodoro, até sinos em bronze já vi vender – parece mentira mas não o é…
O Soba T´Chingange
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