DONGUENA – UM CONTO ANTIGO – Nas terras altas do Lubango--- 3ª de 3 partes
Por
Dy - Dionísio de Sousa (Reis Vissapa) - Um Chicoronho de 2ª geração… Autor de “Ninguém é Santo” escrito para todos os Angolanos que amaram e amam a terra que os viu nascer ou crescer.
A noite de Natal finalmente chegou com toda a família e não só reunida na casa do meu avô. Homem hospitaleiro que convidava e recebia toda a gente indiscriminadamente, não esquecendo aqueles que vindos do Portugal longínquo em busca da terra prometida haviam deixado para trás mulher e filhos até conseguirem a estabilidade financeira necessária para os mandar vir. Foi uma azáfama na cozinha, onde eu fiquei pespegado à espera dos alguidares onde se batiam os bolos, para lhes rapar o fundo à dedada. A missa do galo foi rezada na recente sé catedral, com cânticos e ladainha e durou aproximadamente duas horas, o que foi um martírio para os meus pés enfiados em horrorosos sapatos de verniz.
Acabada a liturgia, houve lugar a uma passeata ao maravilhoso presépio edificado pelos mais devotos junto ao altar, onde o menino Jesus de louça foi osculado na anca roliça por todos os crentes. Em casa a mesa estava posta com tudo o que era bom para dar lugar à tradicional ceia. Depois de me empanturrar com pingos de tocha, castanhas de ovos e demais iguarias foi-me sugerida colocação de um sapato ao canto da sala e a retirada para o quarto devido ao avançado da hora.
Foi uma noite curta, em que dormi à pressa na ânsia de ver os presentes pela manhã. O sol já havia despontado quando me levantei e corri para o lugar onde tinha deixado o sapato. Meia dúzia de carros de lata coloridos, carros de corda como eram conhecidos, onde sobressaía uma chave igual à que abria as latas de sardinhas, um cinturão negro com uma enorme fivela de latão e apliques em metal prateado, dois magníficos revolveres e uma estrela de Xerife e mais umas tantas bugigangas deixaram-me extasiado. O Menino Jesus afinal não se esquecera de mim e atendera a quase todos os meus pedidos.
Sem querer acordar toda a família, peguei no cinturão e nos revólveres e abri a porta que dava para o pátio interior da casa do avô. Foi então que as patas dela assentaram no meu peito fazendo-me recuar dois passos para o interior da sala e a língua áspera percorreu-me o rosto e as orelhas provocando-me arrepios de prazer e deixando-me todo lambuzado. A minha Donguena ali estava escanzelada e suja, havia percorrido cerca de quatrocentos quilómetros até ao Lubango e agora latia de contentamento, sem rancores nem queixas. Larguei as prendas e chorei de contentamento com a cabeça encostada ao seu pelo fulvo, eriçado no dorso num remoinho de dedicação e ternura. Desde esse dia nunca mais duvidei da existência do Menino Jesus e do Pai Natal.
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