EU E O FALA KALADO – APONTAMENTOS RELAXADOS
NA ILHA DO CARLITOS – 9ª de Várias Partes – 01.12.2019
Por
T´Chingange - (No Algarve do M´Puto)
Naquele outro dia e de saída da ilha de Carlitos, Imaginando um jogo de xadrez, zarpamos aos esses pelas nove ilhas tropicais… Recordo que falávamos de Elias Salupeto Pena, irmão de “Ben-Ben” e outro proeminente dirigente da UNITA igualmente falecido e, que também estudou com João Lourenço, exactamente na mesma escola e época. As famílias eram amigas e professavam a mesma confissão religiosa protestante. Sequeira João Lourenço, pai do Presidente da República de Angola, era amigo pessoal de Loth Malheiro, pai de Jonas Savimbi e avô dos irmãos “Ben-Ben” e Salupeto Pena, o causador da reviravolta de Fala Kalado o Coronel com orelha de plástico.
De novo neste lugar quase secreto e, no meio de várias ilhas, repúnhamos novas e velhas falas para mantermos suficientemente activos nossos labirintos do cerebelo. Assim descontraídos e curtindo o calor e a água morna vinda das águas baixas da lagoa de Manguaba quis saber da razão de um quase enigmático telefonema de Agualusa quando me encontrava no Deserto do Naukluft da Namíbia, no outro lado do Atlântico. Sendo assim perguntei-lhe: - Tu andas desavindo com a escrita de Agualusa; que se passa ou passou? Porque me fazes essa pergunta? Replicou Fala Kalado.
Vi no semblante dele FK, que ali, havia coisa. De relance reparei que sua orelha biónica de plástico vibrou com uma intensidade do tipo vaga-lume o que me levou a ter cuidado mas, arrisquei: É que quando eu estava a entrar no balão para ver as dunas lá no Park de Sossusvlei e por via de falar em ti, ele, Agualusa enigmaticamente para mim, disse para ter cuidado. Até referiu a seguinte frase: “ Nenhum homem vale uma barata”. Claro que isto tem-me atormentado desde esse então!
Esse gajo escritor anda a aproveitar-se da minha lenda para escrever exactamente aquilo que andei a fazer até há bem pouco tempo, vender armas para os guerrilheiros do morro para reviver o Zumbi dos Palmares. Isso, já era! Acabou! Agora quero ficar de fora dessas trapalhadas, para além do mais os meus antigos fornecedores de armas da guerra de Angola estão-se borrifando para mim. Pois! Entrei no diálogo - o negócio do petróleo veio alterar todo esse sistema de enriquecimento rápido…
Nós estávamos aqui para curtir o tempo na companhia de gente gira e como tal entre as muitas falas com os demais amigalhaços e suas baronas, garinas empapoiladas de fio dental, divergíamos as conversas contando anedotas do burgo e das politicas bem periclitantes saindo do tubo ladrão do Supremo Tribunal e outras Câmaras muito enfeudadas no trambique cazucuta deste belo país tropical – O Brasil.
Entrelaçados na estória, esticamos as pernas na água e entre coisas pedidas ou mal contadas, coisas de Angola, fiquei inteirado por FK que numa reacção a dados de inteligência que alertavam para planos do regime angolano que levariam ao assassinato de Jonas Savimbi, Salupeto Pena o militar de quem temos falado ficou conhecido como o autor da frase “se tocarem no nosso mais velho isto vai ficar feio”. O destino dado aos restos mortais de Salupeto Pena foram objecto de versões díspares – vou-te falar; uma outra lenda.
Pópilas! Angola está repleta de lendas. Já nem si se tu mesmo eras aquele Nelito Soares que em 1969, numa quarta-feira de Cacimbo, protagonizaste, com mais dois compatriotas do BC 11 dos Gorilas do Maiombe, o desvio, para o Congo Brazzaville, de um avião comercial!? Era um Dakota que seguia de Luanda para Cabinda, com passageiros a bordo. Esse Nelito de que me falas e dizes ser, só pode se uma inventação tua, replicou Fala Kalado. Estás a ficar como esse tal de Agualusa que fala com osgas e, que me tem metido em sarilhos diplomáticos! Nem confirmo nem desconfirmo o que dizes porque euzinho, também não sei!
- Tudo isso se varreu da minha cuca, sabes! FK, disse isto com tanta convicção que fiquei disparando sinais de confusão feitos rolos de fumo invisível. Será que não é? Tal como Salupeto Pena vais ficar nas nuvens da incerteza. A versão do Salupeto que mais se realçou em círculos restritos alegava que na qualidade de familiar direito de Savimbi, teriam reencaminhado o seu corpo para fins tradicionais, num ritual que teria contado com o envio, a Luanda, de um mago oriundo da Índia, razão pela qual diz-se que o corpo do mesmo já não existe.
O desvio do Dakota da DTA, Divisão dos Transportes de Angola, antecessora da TAAG, ganhou proporções tais, que nem a censura feroz do regime colonial em vigor em Angola, como nos restantes territórios, incluindo Portugal, subjugados à ditadura, conseguiu sufocar. Soube disto quando estava num lugar chamado de Tando Zinze, bem perto da fronteira do Congo Zaire álem Catata do enclave.
Lembro: - Poucas horas depois de o aparelho aterrar em Ponta Negra, era tema de conversas sussurradas em tudo o que era sítio, principalmente, em Luanda e Cabinda. Mais tarde, a “nova” chegou a toda a Angola, por via do programa radiofónico do MPLA, “Angola Combatente”, transmitido a partir de Brazzaville. No M´Puto a Dona Isabel, proprietária de um pequeno café na pequena cidade de Lagoa, que foi locutora dessa rádio durante algum tempo, confidenciou-me isto mesmo (mas, em verdade eu, já o sabia!)... Patrinichi, o empregado de origem kosovar, desta feita andava demasiado ocupado para cuscar nossas conversas…
Glossário: Bem-te-Vi – pássaro parecido com o melro; Cuscar – bisbilhotar; Dakota – Tipo de avião; Kalacata - militar da Unita; Baronas - Mulheres papudas; Garinas – miúdas, catorzinhas; Euzinho – Terminação de Eu, uma forma de dize “eu” em gíria…
(Continua… )
O Soba T´Chingange
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