N`ZINGA E O FALA KALADO
– 6ª de Várias Partes – 20.04.2019
Por
T´Chingange - (No Nordeste brasileiro)
Ele, Fala Kalado, quis sabe de mim, do porquê de eu ter saído da Caála de forma quase abrupta. Reporta-se aos últimos dias do mês de Julho do ano de 1975. Tive de lhe explicar que tendo eu nesse então levado minha sogra a Luanda a fim de seguir para Lisboa com seu filho Honório Mestre, por pouco, não éramos fuzilados. Como assim!? Exclamou FC. Pois foi! Fomos em um autocarro da EVA - Empresa de Viação de Angola e no lugar de Muquitixe, a terra dos abacaxis, um controle de estrada mandou-nos parar.
:::::
Era um desses aleatórios controles que surgiram por toda a Angola e, normalmente feito por militares ou ex-guerrilheiros do movimento que era influente em essa zona. Não vou aqui dar todos os pormenores porque tu, sabes bem o que isso foi, o que isso era! Aquele, tratava-se de uma barragem montado por pseudo soldados impreparados para tal função; era um afecto ao MPLA mas, até podia ser da UNITA ou FNLA - todos se comportavam de uma forma despropositada. Era o poder a chegar impreparado e, a quem nunca o poderia vir a ter .
Estes controles eram já feitos à revelia de qualquer fiscalização por parte das autoridades portuguesas. Por vezes pediam os crachás do movimento a que pertenciam e isto era bem perigoso! Mesmo que o tivessem ninguém o mostrava por medo de reacções adversas assim fosse de quem ia connosco, ou deles. Um imbróglio de todo o tamanho e da qual nenhum de nós poderia ultrapassar por si só! Não existia legislação para isto, nem bom censo.
:::::
Era um "seja o que Deus quiser"! Era perigoso insinuar-se e, ou dar indicações de camarada, de irmão ou mostrar qualquer trejeito de desconformidade. Um cigarro por vezes, era uma boa oferta e, porque todos fumavam, assim se abria uma porta de boa vontade. Parece pouco mas, um cigarro poderia valer uma vida!
Foi assim que interpretei na altura porque aqueles militares de faz-de-conta estavam cheios de droga; via-se isso nos olhos, no cheiro, nas atitudes e, qualquer fagulha poderia fazer fogo. Com o autocarro estacionado na berma, mandaram descer todos os passageiros e que ficassem ali encostados na parede de uma casa recentemente incendiada. Iam fazer uma revista minuciosa às nossas bagagens!
:::::
Felizmente que ia ali um Furriel Negro, fardado ao jeito de um qualquer tropa de então em exercício no exército, talvez saído da Escola de Aplicação Militar de Angola (EAMA) aonde também eu tinha andado e, este apresentou-se como sendo do MPLA, mostrou seu crachá-cartão do movimento ou algo semelhante o que resultou em reunião.
Fosse como fossem as falas deles resultaram em deixar-nos ir via Luanda sem revistar nada. Num toca a subir de mim para comigo e todos num aijesus, Deus nos acuda - Foi um Milagre! Mas, a partir dali, foi um choque de arrasar: Casas e carros queimados ou desventrados, tudo parecendo abandonado sem gente a mexer-se; nenhum lugar para se comer o que quer que fosse.
:::::
A cidade do Dondo parecia abandonada - um holocausto! Seguiu-se-lhe todas as outras terreolas com idêntico aspecto,: Zenza do Itombe, Maria Teresa, Cassoalála, Cassoneca, Calomboloca, Catete, Viana e arredores de Luanda. Ver isto, foi o princípio do fim! Dali para a frente podíamos adivinhar: iríamos ficar sem médicos, enfermeiros, veterinários, gasolina para o carro, e técnicos nas várias áreas.
Sem escolas a funcionar, sem géneros para subsistir, tudo era muito arriscado e, havendo outra saída plausível seria o mais indicado - ponderar pela segurança! E havia: O Quadro Geral de Adidos para funcionários. Foi quando o pensamento como ao sabor do ar quente, rumou para nuvens menos escuras - Largar tudo e ir para o M´Puto, a metrópole, Lisboa, aonde quer que fosse, mesmo que começando tudo de novo e como órfãos da terra.
:::::
Por muito que amasse Angola, este amor não seria nunca comparável ao da família, mulher e dois filhos. Como eu, estavam bem mais de meio-milhão. Um cunhado mais ligado às instâncias politicas do M´Puto pois que era natural da mesma região, o Ribatejo com os oficiais de Abril, tais como Otelo saraiva de Carvalho entre outros: Metalúrgicos de pensamento de esquerda, organizados por Karl Marx ou Lenine via PCP. Avisado, o Branco de nome e tez, disse-me que saísse de Angola enquanto era tempo. Só que eu queria ficar! Mas, ele estava com a razão...
(Continua...)
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA