MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU – 1ª Parte
CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA
Crónica 3268 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 10.10.2022 no AlGharb do M´Puto
Por T'Chingange – Na Pajuçara de Maceió
Algures no Buco-Zau -- De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo.
De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos com o soba Mateus à frente, barafustando com o ar e cortando capim à catanada, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade corria como se a vida fosse um jogo de poker, num azar de tomar pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada que havia.
Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito com um comprimido vermelho de mataratos. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste mais uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse.
Atrás uns dos outros na forma de pirilau, ouvíamos os gritos da floresta, o piar dos pássaros e o grasnar de fantasmosas, sombras que se moviam como olharapos entre o ripado verde com troncos disformes e veias salientes segurando esguios troncos sequiosos de luz, outros disformes esfarelando-se na velhice como abatises para alimentar bichezas rastejantes; a mente medrosa fazia-se ali num jardim de cânticos surdinando mugidos e muxoxos numa raiva sossegada.
O barulho do helicóptero chega zunindo e na forma de parafuso baixa suave até ao centro da mata, uma clareira junto ao rio Luáli, um afluente do Chiloango. Buco-Zau era um lugar rodeado de um escandalosamente verde variado e húmido, um conjunto de casas e armazéns rodeados de árvores majestosamente nobres e, mais além um conjunto de cubatas unidas por um terreiro, uma quase colina rodeada de cacaueiros e um ou outro pé de cafeeiro aonde já se podiam distinguir bagas vermelhas.
As casas grandes como as do M´Puto, umas com beira outras sem ela, pertença de administradores e capatazes T´chinderes, dispunham-se alinhadas com cobertura de zinco já na cor de um castanho enferrujado. Enquanto a casa principal da roça era coberta a quatro águas em telha de canudo luso ou marselha e sacadas a quase todo o seu redor, as outras, mais modestas, eram cobertas só a zinco mas, e também com folhas de palmeira ripada e entrelaçada na forma de loando.
Pretos em tronco nu cruzam-se com bikwatas ou ferramentas pendendo dos ombros enquanto as mulheres envoltas em panos com a esfinge de Mobutu, Mugabe ou do Idi Amim, levam quindas na cabeça, acanguladas de grãos. Dos corpos musculosos daqueles Fiotes (Imbindas), a catinga suada escorre-lhes como brilhantina escura e luzidia como pele de mamba brilhante, pegando-se ao cacimbo intensamente chovediço.
Depois de um gim com água tónica, numa daquelas paragens de soberania no Necuto, tirei uma foto com a Charlotte, uma negra que fugida do Congo Zaire pediu boleia ate ao sítio do primo, com quem tinha promessa de alambamento. A foto com aquela negra de feições árabes crê-se ter ficado em uma caixa de sapatos na guerra posterior do tundamunjila. Isso! A guerra do setentaecinco-pkp! Subindo o rio Inhuca, chegamos ao Sanga Mongo, um lugar para lá das traseiras do tempo, mais longínquo do que as Bitinas e a antiga Serração do Aníbal Afonso que naquele agora só existia no nome.
(Continua…)
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